domingo, 1 de março de 2020

Higiene da Alma

Higiene da Alma  

 

A Humanidade avançou significativamente em ciências e tecnologias. Conquistou muito conforto com a comunicação instantânea, locomoção em veículos dos mais variados com demanda de poucos esforços, os sistemas de saúde têm muitas alternativas no socorro das deficiências orgânicas, as vacinas acautelam das investidas de variadas moléstias, a produção de alimentos suplanta constantemente seus próprios limites...  

 
Tudo isso é de grande importância e representa conquista do homem, dos esforços das gerações, das experiências bem estudadas, é ponto evolutivo de reconhecimento incontestável. Entretanto, a sociedade se renova constantemente, com a existência de extremos, sendo que uns usufruem dos avanços que proporcionam vantagens e comodidades para a vida e outros lutam contra a escassez de toda ordem, desde a alimentação insuficiente, falta de acesso à cultura, desemprego, desassistência da saúde, precariedade de moradia e tantas outras necessidades que não alcançam atendimento, não pela inexistência de meios, mas pela centralização de riquezas nas mãos de poucos.  

 

No entanto, a opulência de uma parte da sociedade e a carência da outra, fenômeno que se distribui gradativamente nas várias faixas da organização social, fazendo com que todos sofram. Sendo que o constante ressurgimento das gerações novas que substituem as que se envelhecem, pelo processo denominado pela Doutrina Espírita de reencarnação, ou seja, o retorno do Espírito, que viveu em geração anterior, para um novo corpo.  

 

Esse processo, que nos dias atuais já se entende bem, é a Justiça Divina, que se cumpre através das oportunidades, quantas forem necessárias, para que a Humanidade caminhe para o grande objetivo da vida, que é a desmaterialização da Alma. Existe o desinteresse da posse pela posse, mas também existe a compreensão dos objetivos dos elementos materiais, suas construções e descobertas nas várias latitudes da vida, que deverão servir à evolução do Espírito, que deve estar ciente da responsabilidade individual com as coletividades atuais e futuras. Sendo que o reencarnado de agora retornará após findar esta experiência, nas gerações de amanhã. Assim, sempre encontraremos a vida na Terra com a qualidade que ajudamos construir e individualmente encontraremos as consequências de nossas ações boas ou ruins.  

 
A Higiene da Alma se dá naturalmente em andamento lento na ida e vinda do Espírito para a vida num corpo material. Nesse transcurso, ora se encontra no meio das facilidades e colhe experiências, em outro momento se acha no meio da escassez e conhece os efeitos das carências, vive a crueza das necessidades que no futuro reconhecerá que foi vítima de si mesmo, em conta os desperdícios no tempo da opulência e a indiferença com aqueles que seus olhos não alcançavam, mas que existiam.   

 
A Doutrina Espírita, que está à disposição do mundo há mais de 160 anos, veio abrir os horizontes da Humanidade em relação à vida do espírito na eternidade. Ela evidencia a necessidade do espírito de transitar por inúmeras vivências em um corpo material, seja na terra ou em outro planeta, para alcançar a conscientização da busca pela higienização da alma, em um esforço para um avanço mais rápido.   

 

O que fazer? Como fazer? Se houvesse uma receita pronta, seria maravilhoso. No entanto, cada indivíduo é um mundo, com necessidades específicas, consciência e vontade próprias, decide por si e tem o livre-arbítrio.  O Evangelho de Jesus Cristo é um guia, quando bem compreendido, pois com as meditações de seus ensinamentos, com a interiorização de seus valores abstraídos dessa busca, com a moralização do Espírito, faz-se a luz. Já não se caminhará na escuridão dos interesses mundanos, mas terá clareza pela compreensão dos objetivos da vida, a meta a ser atingida, e a percepção dos consertos que nos cabem realizar em nós mesmos.   

 
 

É preciso nos percebermos, “conhece-te a ti mesmo”. Não somos apenas um nome que marca a personalidade desse tempo de vida: José, Maria... Somos um mundo exclusivo, obra de nós mesmos, somos a própria construção que escorre numa duração de tempo sem conta, num rumo que jamais terá fim, pois caminhamos pela eternidade. Tivemos um começo e não teremos fim. O que buscamos, àqueles que estamos mais conscientes dos objetivos da nossa existência, é alcançar a essência da vida, o amor, a paz e a felicidade. O que Jesus enunciou? “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá.” 

 
A paz que todos buscamos não pode vir de fora, pois a paz é sentimento, é um estado de espírito, é conquista interior. Ela não será colhida no ambiente externo, até porque poderemos estar em paz mesmo em um lugar onde haja tumulto.  

 

A higiene da alma é uma depuração consciente de cada um de nós, um esforço enorme, já que os atrativos materialistas são como visgo que prende ao receptáculo de nossa predileção.  Precisamos buscar novos conhecimentos motivadores que inflamem o nosso espírito para uma modificação que proporcione melhoria. Assim, as predileções anteriores perdem força, tornando mais fácil a sua renúncia e permitindo-nos dar um passo adiante no crescimento espiritual. A prática do bem é ferramenta motivadora por excelência.   

 
É missão de cada um de nós a evangelização de nosso espírito, para que nos tornemos leves, para que soframos menos a atração das coisas materiais que tanto apreciamos. Elas nos trazem satisfação, prazer, alimentam nosso orgulho e o egoísmo, fazendo-nos sentir ilusoriamente poderosos. É preciso empobrecer a materialidade que nos trouxe até aqui, num crescimento horizontalizado. É hora de verticalizar nossa antena espiritual, conhecer novos valores e nos prepararmos para novas responsabilidades.   

 
 

Esse esforço de limpeza da alma, uma busca consciente, representa um passo adiante que nos permite alargar os horizontes e ampliar o entendimento sobre a vida, a qual ultrapassa os limites entre o berço e o túmulo.   

 
A inspiração para esta página veio da leitura da obra 'Depois da Morte', de Léon Denis, especificamente da quinta parte, 'O Caminho Reto' - A Vida Moral', da qual transcrevemos o trecho: “O Espiritismo dá-nos a chave do Evangelho e explica seu sentido obscuro ou oculto. Mais ainda: traz-nos a moral superior, a moral definitiva, cuja grandeza e beleza revelam sua origem sobre-humana.” 

 
È necessário ampliar o entendimento das mensagens deixadas por Jesus, precisamos esgarçar as letras e macerar as frases para encontrar o espírito da letra. Fazer com que essa essência de verdade interiorize em nossa alma, de forma que tenhamos condições de varar os limites materiais que tolhem a percepção da vida espiritual. Circunstância que não impede de vivermos uma vida regular na atmosfera da Terra, enquanto encarnados, mas sim uma vivência com a consciência expandida, com a compreensão diante dos fatos cotidianos, mesmos os mais dolorosos, consequências necessárias no processo evolutivo que nos alçará a patamar de maior expressão após vencida a batalha empreendida, mesmo com a sucumbência do organismo carnal.   

 
O Mestre e Guia maior da humanidade da Terra veio ao mundo para revolucionar o entendimento sobre a vida espiritual, implementou esforços gigantes nos ensinamentos, lançou sementes em todos os terrenos, preparou prepostos, sofreu as imposições da justiça do mundo de seu tempo, grafou em tintas fortes a sua mensagem nos corações dos humildes.  As suas verdades sobressaíram às forças bélicas de todos os tempos, às forças cléricais, as forças políticas e econômicas, as forças obscuras dos planos da espiritualidade inferior, sendo que toda deturpação é por conta do deturpador. A essência dos ensinamentos do Cristo é a verdade, transcendente aos limites da Terra, porque é colhida da fonte imutável do próprio Criador de Todas as Coisas.  

 
É uma ilusão o ser acreditar que está atendido simplesmente por assistir a prédicas, participar de cerimônias ou cumprir certos deveres sugeridos. Isso não satisfaz o homem inteligente, que possui um senso de responsabilidade, busca a verdade e se afasta de preconceitos. Reconhece que existe uma vida ampla além da vida do corpo, que não se deve confundir o ser espiritual que somos com a constituição orgânica que ora utilizamos para uma experiência bem curta, embora as várias décadas de existência.  

 
Jesus espera a higiene da alma de todos os que estão vinculados ao seu redil, cumprindo Sua promessa ao Pai de que nenhuma das ovelhas sob Sua condução se perderá. Para alcançar esse objetivo, Ele emprega todas as ferramentas que têm o poder de transformar a alma humana. No entanto, essa transformação nunca causará mal a nenhum ser humano em sua jornada evolutiva, pois a bandeira de Jesus é o amor e a caridade.


Dorival da Silva


                                          

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Outra vez o amor...

Outra vez o amor... 

Quantas vezes vamos falar de amor? 

Existe uma carência muito grande de amor. Certamente porque ainda não se compreendeu o que é o amor, confunde-se com sensação. A sensação é algo limitado, passageiro, que a intervalos pode-se repetir, não exatamente igual como se deu de outra vez, tal como sentir frio ou calor, sede ou fome... O amor é sentimento, flui da alma.  

Grande parte da humanidade não sabe ser amada porque não sabe amar.  Sendo o amor um sentimento, não poderá ser colhido em nenhum outro lugar que não na intimidade da alma humana. Exala tal como o perfume da flor, está presente, existe.  

Esse sentimento surgiu com o próprio Espírito humano, é latente, se desenvolve no caminhar da existência do ser, transitando os milênios de experiências. É conquista tão importante como a inteligência, pois o resultado dessa comunhão é a lucidez, a plenitude do ser, a felicidade real.  

O perfume da flor não é aquisição exterior, está na origem; na alma é a mesma coisa, a alma que ama se ama primeiro, a virtude está intrínseca.  
Quem ama contagia os que a cerca, assim como a flor perfuma quem se aproxima.  

Almas que amam interligam-se num halo imperceptível, vivem um estado indizível, pois somente os que alcançam este estágio fruem da conquista, incompreensível aos que estão à margem. 

Amar amando-se é a meta.  Não é meta material.  Não é feminino e nem masculino. Não é sensual. É sentimento. É meta celestial. 

                                                         Dorival da Silva

domingo, 8 de dezembro de 2019

Educação no Lar


Educação no Lar

Cada dia a violência torna-se mais constante e perversa, atingindo índices insuportáveis. Todo o sentido ético da existência humana vem desaparecendo para dar lugar à agressividade, ao desrespeito aos códigos do dever e do respeito que nos devemos todos uns aos outros. As estatísticas sobre o comportamento primitivo são alarmantes, inclusive, na intimidade doméstica, na qual não vigem a consideração nem a compreensão entre pais e filhos, irmãos e demais membros da família.

O feminicídio covarde assusta e a cada dia aumenta na razão direta em que se avolumam os desequilíbrios de toda ordem, inclusive, de natureza sexual, que se fazem naturais na sociedade. A mulher, quase sempre desrespeitada, vem sofrendo tratamento incompatível com os princípios da cultura e da civilização.

Nas escolas confundem-se as más condutas de alguns mestres despreparados para o mister, assim como de alunos deseducados e cínicos que se agridem reciprocamente, assim como aos professores, especialmente femininos.

A desordem reina de maneira assustadora e as pessoas estão praticamente armadas umas contra as outras, demonstrando nas feições carrancudas os tormentos íntimos que as afligem e descaracterizam.

Sem dúvida, vivemos momentos muito graves na infeliz civilização dos nossos dias, nos quais o amor e a honra perderam o significado, estimulando os valores insensatos do aventureirismo.

Há uma necessidade urgente de reorganizar-se o lar, de voltar-se para os costumes retos e as famílias equilibradas, reconstruindo-se o ninho doméstico e tornando-o essencial para uma existência feliz.

Narra-se que oportunamente o jovem Edison entregou à genitora uma carta que o seu professor encaminhara-lhe. Indagada sobre o conteúdo, ela explicou ao filho que se tratava de uma informação na qual o professor explicava-lhe ser necessário que ela mesma educasse e instruísse o filho, por ser ele portador de inteligência brilhante e de muitos valores morais que necessitavam ser trabalhados.

Edison, o criador da lâmpada elétrica entre outros notáveis descobrimentos, sensibilizou o mundo e o deslumbrou com as suas conquistas. Após a desencarnação da mãezinha, dispôs-se a arrumar papéis e outros objetos, havendo reencontrado a carta em uma gaveta. Abriu-a e leu-a.

Tomado de surpresa, constatou que a carta dizia exatamente o contrário do que a sua mãe lera: Seu filho é um doente mental e não tem condições de frequentar a escola. Assim cancelamos sua matrícula.

A nobreza dessa senhora incomum transformara o diamante bruto em estrela luminosa que clareia o mundo até hoje.

Ninguém mais nem melhor do que os pais para serem os primeiros educadores, porque o lar é a primeira escola, no qual se corrigem as heranças morais negativas, as tendências nefastas, as paixões primitivas e mediante os exemplos de amor e de treinamento para o bem são desenvolvidos os sentimentos morais que jazem adormecidos.

O ser humano está fadado a conquistar as estrelas, mas necessita muito antes de autoiluminar-se, conhecendo as imensas possibilidades espirituais e morais que lhe jazem adormecidas no imo do ser.

Na convivência doméstica caldeiam-se as paixões que se transformam em fontes de bênçãos e de plenitude.
Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, de 28.11.2019.
Em 29.11.2019.