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Eurípedes
Kühl
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O homem e a religião
Parte 1
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Trarei para os leitores
neste texto alguns
respingos históricos
sobre o Espiritismo.
Antes, farei uma rápida
reflexão sobre como e
quando se iniciou o
sentimento religioso na
humanidade, até
chegarmos à Codificação
da Doutrina dos
Espíritos, por Allan
Kardec, no século XIX.
8.000 a.C. –
Supõem os historiadores,
sem condições de
confirmá-lo, que a
crença no poder
celestial teria surgido
por volta do ano 8.000
a.C. A cada fenômeno da
natureza criava-se um
deus – via de regra
autoritário (poder
absoluto...), exigente
(holocaustos...) e
vingativo (causador até
de mortes...).
Igualmente, a cada
atividade humana;
depois, até mesmo os
animais passaram a ser
endeusados, sempre em
linguagem simbólica.
Por séculos e séculos a
humanidade viveu sob o
politeísmo original,
comandada por aqueles
“deuses”, os quais
seriam os responsáveis
por tudo o que acontecia
no mundo de então:
Deuses da natureza, um
para cada um dos
fenômenos geológicos,
tais como:
– o raio, o relâmpago, o
trovão, a chuva, o
vento, o vulcão,
inundações, terremotos
etc.
Deuses dos atos humanos,
de ação individualizada
também, para:
– a caça, a pesca, a
plantação, a colheita, a
guerra, a cura de
doenças, o nascimento, a
morte etc.
Mais deuses, sempre
individuais, para os
animais:
– a íbis, o crocodilo, o
gato, o boi etc.
Com o tempo, acoplando a
data e a hora do
nascimento à posição das
estrelas, estabeleceu-se
o horóscopo,
dividindo-se a
trajetória aparente do
Sol em doze partes, cada
uma com 30°. No
horóscopo, o interesse
pelo futuro era (como
ainda é) estritamente
individual.
Os Profetas –
Depois, vieram os
Profetas... Sobrepuseram
eles, às diversas
crenças, a comunicação
direta com Deus, segundo
acreditavam. As
profecias, todas,
visavam ao bem coletivo.
A seguir, Espíritos
missionários aportaram
no planeta, com a
incumbência de fundarem
as religiões, que se
reportariam (como se
reportaram) ao estágio
evolutivo de cada época.
Todos esses Espíritos,
sem exceção, trouxeram
luzes para o futuro dos
povos de então.
Focalizando agora nosso
olhar na história das
religiões, iremos sempre
encontrar uma hierarquia
social, induzindo os
adeptos (promovidos a
fiéis) – o povo, a rigor
– à disciplina e
submissão às classes
dominantes. Isso, desde
os imemoriais tempos do
Egito, da Babilônia
(país da Ásia antiga),
Assíria e Roma. Assim,
unindo equivocadamente o
Céu à Terra, muitos
fiéis, desde há muito
tempo, creem poder
alcançar bens
individuais em troca de
sacrifícios, oferendas
ou promessas outras.
Jesus –
O Cristo (ungido) de
Deus, inegavelmente o
maior de todos os
missionários, legou à
Humanidade o tesouro da
Fé, por ter sido aquele
que mais concedeu o
Amor, de todos os
tempos. Falou ao mundo
do Reino de Deus,
intangível e intocável
na crença dos povos de
então, arrastando
milhões e milhões de
Espíritos ao patamar em
que reside a Esperança.
Suas palavras, de
duração eterna, tiveram,
têm e terão o
inigualável efeito de
iluminar trevas externas
e internas da mente.
Necessário, apenas, ter
“olhos para ver” e
“ouvidos para ouvir”.
Não criou nenhuma
religião. Não deixou
dogmas. A moral cristã,
da primeira à última
instância, fundamenta-se
na Lei do Amor – amor a
Deus e ao próximo. Por
isso, acredito que Jesus
é a maior de todas as
incontáveis benesses que
Deus, desde sempre,
dispensa à humanidade
inteira.
Darei agora rápido
mergulho no passado da
civilização, com o olhar
voltado para o
surgimento das
religiões. Meu objetivo
é chegar ao Espiritismo,
caracterizando-o e às
suas não poucas
diferenças com o
Candomblé e a Umbanda.
Respeitáveis os três.
Mas diferentes entre
si!
As Religiões
– Vejamos o que a
História registrou e o
mundo de hoje nos
mostra, quanto à relação
criatura-Criador,
filho-Pai, homem-Deus:
Judaísmo:
Fundado no Oriente Médio
pelo patriarca Abraão,
por volta do séc. XVII
a.C. O legislador de
Israel foi Moisés. Para
os judeus a Bíblia é
formada unicamente pelos
livros hebraicos e
corresponde
essencialmente ao Antigo
Testamento dos cristãos.
O judaísmo se fortaleceu
ainda mais com a criação
do Estado de Israel, em
1948. Possui fortes
características étnicas,
nas quais nação e
religião se mesclam. O
judaísmo é reconhecido
como a primeira religião
monoteísta da humanidade
e cronologicamente a
primeira das três
religiões oriundas de
Abraão, com o
cristianismo e o
islamismo. Adeptos:
cerca de 14,8 milhões.
Hinduísmo (Bramanismo):
Principal religião da
Índia. Caracteriza-se
pelo sistema de castas.
Sucedeu ao vedismo
(religião primitiva
conhecida por quatro
coleções de hinos – os
Vedas –, entre 1.400
a.C. e o séc. VII a.C.).
Reconhece a autoridade
dos Vedas. O ser humano
está sujeito ao sansara
(sucessão de vidas e
renascimento), regido
pela lei do karma (ação
e reação de toda ação,
boa ou má).
Posteriormente,
incorporou o ideal de
renúncia do budismo.
Adeptos: 949 milhões.
Confucionismo:
Data do séc. V a.C. Foi
uma tentativa de
estabelecer regras de
comportamento, numa
agitada época do mundo
chinês, onde vários
principados se destruíam
mutuamente. Respeito aos
mais velhos, amor ao
trabalho bem executado,
moral severa – eis os
traços do Confucionismo.
Adeptos: cerca de 8,1
milhões.
Budismo:
Religião nascida na
Ásia, fundada pelo
príncipe hindu Sidarta
Gautama, o Buda (560 e
480 a.C.).
Ensinamentos: tudo é
transitório; a realidade
é mutável; não existe
nada em nós de realidade
metafísica, nada de
indestrutível. O ser
está submetido ao ciclo
de nascimentos e mortes,
enquanto a consequência
da ação (karma) não for
interrompida. A
existência está sujeita
ao infortúnio, que se
manifesta pelo
sofrimento, doença e
morte. Tem por ideal a
renúncia. É na Ásia que
se concentra a maioria
dos seus adeptos (cerca
de 494,9 milhões).
Xintoísmo:
Religião do Japão, na
qual os deuses são a
personificação das
forças naturais e os
espíritos dos
antepassados são
igualmente considerados
como deuses. A partir do
séc. VI os budistas
anexaram as divindades
xintoístas ao seu
panteão e pouco a pouco
se formou um
sincretismo. No séc.
XVII novas seitas
xintoístas recusaram
qualquer compromisso com
religiões estrangeiras.
No séc. XIX tornou-se
uma espécie de religião
do Estado (adoração do
imperador-deus).
Adeptos: 2,7 milhões.
Cristianismo:
Conjunto das religiões
organizadas com base na
pessoa de Jesus Cristo e
nos escritos que relatam
suas palavras e seus
pensamentos. O
Cristianismo, nascido na
Judeia e difundido
inicialmente no Oriente,
foi pregado no mundo
mediterrâneo pelos
Apóstolos, depois da
morte de Jesus. O
Cristianismo, em sua
origem uma seita surgida
do judaísmo, afirma-se
como religião revelada,
isto é, de origem
divina, mas com a
particularidade de que
Jesus, seu fundador, não
era um simples
intermediário entre Deus
e a humanidade, mas o
próprio Deus.
São 2,3 bilhões de
cristãos no planeta.
Assim, o Cristianismo é
a religião que conta com
o maior número de fiéis
no mundo. No decorrer da
história, o Cristianismo
dividiu-se em três
correntes principais:
Igreja Católica,
Protestantismo e Igreja
Ortodoxa, além de outras
linhas como a Igreja
Anglicana e os credos
chamados de
“cristianismo de
fronteira” (grupos que
estão na intersecção
entre o Cristianismo e
outra doutrina, como por
exemplo, a Igreja
Adventista, Mórmons e
Testemunhas de Jeová).
Islamismo:
Religião e civilização
dos mulçumanos, fundada
por Maomé, tendo surgido
no séc. VII, na
península arábica, é a
última das religiões
monoteístas. Maomé
recebeu de Deus a
revelação corânica [O
Corão ou Alcorão e o
hadith (tradição do
Profeta) formam a
tradição, verdadeira
constituição que serve
de modelo imperativo
para os mulçumanos]. Não
existe um clero
mulçumano. Dogma
principal do Islã: a
existência de Deus
(Alá), ser supremo
único, infinitamente
perfeito, criador do
universo e juiz soberano
dos homens. Para os
mulçumanos, Maomé é o
enviado de Alá. Adeptos:
1,5 bilhão.
Religiões populares
chinesas:
Crenças e práticas que
podem incluir divindades
locais e elementos
budistas, confucionistas
e taoistas. Adeptos:
434,6 milhões.
Animismo e Xamanismo:
Crença de que tudo o que
existe – seres vivos,
objetos inanimados,
lugares e até fenômenos
naturais – tem alma.
Adeptos: 242,5 milhões.
Siquismo:
Religião monoteísta
criada no século XV, na
Índia. Surge como uma
dissidência do
Hinduísmo. Adeptos: 24
milhões.
Há no mundo os que não
seguem nenhuma religião:
perfazem eles cerca de
813 milhões de pessoas.
Quanto ao ateísmo –
doutrina que nega a
existência de qualquer
divindade e dispensa a
ideia de uma
justificativa divina
para a vida – seus
adeptos somam 136,6
milhões. Um dos
argumentos utilizados
pelos ateus para
sustentar sua posição é
a suposta
incompatibilidade da
coexistência de Deus e
do sofrimento humano.(1)
Organização da Terra
– Como assinalei
anteriormente nestes
meus comentários, de
tempos em tempos aportam
no planeta Espíritos
missionários, com a
tarefa específica de
erigir colunas mestras
da religação do homem a
Deus. Todos, sem
exceção, esclarecem que
o comportamento humano –
bom ou mau – terá sempre
como resultante,
respectivamente,
aproximação ou
afastamento da
felicidade.
Invariavelmente esses
tarefeiros do Bem,
prepostos de Jesus –
tanto os que vieram
antes quanto depois d’Ele
– empunharam a bandeira
do amor a Deus e ao
próximo como principal
via de acesso ao Reino
Celestial.
Jesus, falando a um povo
seguidor da religião
dogmática da recuada
época em que o Império
Romano era o “dono do
mundo”, não poderia
dizer a esse povo coisas
que naquele tempo não
fariam sentido.
Exemplos? Vejamos
alguns. Antes,
lembremo-nos do registro
sobre o Mestre dos
mestres feito pelo
Espírito Emmanuel em “A
Caminho da Luz”, Cap. I,
p.17/18, 13ª Ed., 1985,
FEB, RJ/RJ: Jesus
participou da
organização da Terra,
desde quando o planeta
ainda não existia. Com
efeito, a Terra, há
cerca de 4,5 bilhões de
anos, nasceu de uma
nuvem solar. De início
não tinha forma regular.
À proporção que atraiu
maior quantidade de
matéria, começou a tomar
a forma esférica.
Isto posto, é de se
perguntar:
– Será que Jesus, quando
aqui esteve, encarnado,
desconhecia a existência
do continente americano,
que só seria descoberto
dali a 15 séculos,
passando a ser lar de
milhões de Espíritos?
(2)
– A imprensa, a
eletricidade, a
aeronáutica, a
eletrônica, a energia
atômica, a informática,
a biogenética e tantos
outros avanços
científicos: eram ou
seriam desconhecidos de
Jesus?...
De forma alguma! Todas
essas questões,
necessariamente, eram do
conhecimento do Cristo.
Mas como anunciá-las
àquela época e àquele
povo? Como? E quanto ao
Espiritismo?
Com a previsibilidade
própria de quem, do
alto, descortina a
paisagem à sua frente (o
futuro), Jesus noticiou
sim sobre o Espiritismo,
por ele pedagogicamente
denominado e avalizado
como o futuro
“consolador”, segundo
João registrou
(14:15,16,17 e 26).
No tempo (século XIX) e
lugar (França)
adequados, surge Allan
Kardec, pseudônimo
adotado por Hippolyte
Léon Denizard Rivail,
eminente pedagogo que
não desejava fazer
prevalecer a força de
seu nome sobre o
conteúdo da obra que
lançava a público, fruto
de uma meticulosa
codificação das
informações vindas dos
Espíritos: sendo o
primeiro, “O Livro dos
Espíritos”, pedra
fundamental da Doutrina
dos Espíritos – seguido
das outras obras.
O Espiritismo demonstra
o Amor de Deus com a
lógica irretorquível da
reencarnação e da Lei
Divina de Ação e Reação:
sofrimentos, hoje, são
frutos amargos de
equivocada plantação,
ontem. Aí, o sofredor
compreende a razão do
sofrer. E mais:
sabendo-se em temporário
resgate, consola-se e
parte para reconstrução
moral. Tal o aspecto
consolador da Doutrina
dos Espíritos!
Com Kardec cumpriu-se a
previsão-promessa do
Cristo! “O Consolador”
aportou no plano
terreno. Com efeito, em
“O Evangelho segundo o
Espiritismo”, no sexto
capítulo – O Cristo
Consolador –, item 3,
encontramos: “O
Espiritismo vem, no
tempo previsto, realizar
a promessa do Cristo e o
Espírito da Verdade
preside ao seu
estabelecimento”.
Em “O Que é o
Espiritismo” (no
“Preâmbulo”) Allan
Kardec definiu o
Espiritismo e comentou:
– O Espiritismo é uma
ciência que trata da
natureza, origem e
destino dos Espíritos,
bem como de suas
relações com o mundo
corporal;
– (...) o Espiritismo é,
ao mesmo tempo, ciência
de observação e doutrina
filosófica. Como ciência
prática, tem a sua
essência nas relações
que se podem estabelecer
com os Espíritos; como
filosofia, compreende
todas as consequências
morais decorrentes
dessas relações;
Na “Revista Espírita” de
dezembro/1868, num longo
discurso de abertura
sobre o tema “O
Espiritismo é uma
religião?”, Allan Kardec
explanou sua opinião, da
qual pinçamos pequenas
notas, extraídas das
páginas 358 e 359:
– o Espiritismo não pode
ser considerado
“religião”, por não ter
culto, casta sacerdotal,
cerimônias e
privilégios; todavia há
nele o sentido
nitidamente religioso
quando estabelece um
laço moral entre os
homens, quando os une,
como consequência da
comunidade de vistas e
de sentimentos, a
fraternidade e a
solidariedade, a
indulgência e a
benevolência mútuas.
Em “Obras Póstumas” (no
capítulo “Ligeira
Resposta aos Detratores
do Espiritismo”) anotou:
– o Espiritismo é uma
doutrina filosófica de
efeitos religiosos (...)
vai às bases de todas as
religiões: Deus, a alma
e a vida futura. Mas não
é uma religião
constituída, visto que
não tem culto, nem rito,
nem templos e que, entre
seus adeptos, nenhum
tomou, nem recebeu o
título de sacerdote ou
de sumo sacerdote.
Apenas por essas
premissas já se vê como
o Espiritismo não pode
ser confundido com
quaisquer outras
correntes religiosas,
conquanto todas as
religiões (Judaísmo,
Catolicismo,
Confucionismo,
Protestantismo,
Teosofismo, Esoterismo,
Budismo, Bramanismo
etc.) sejam
espiritualistas, isto é,
aceitam a imortalidade
do Espírito e a
existência de Deus.
Também não pode ser
confundido nem mesmo
entre aquelas que: a.)
aceitam a reencarnação;
b.) em suas práticas,
marcadas pelo
sincretismo, exercitam o
mediunismo.
Tão logo o Brasil foi
descoberto iniciou-se
sua colonização. No
caso, “colonizar”
significou a vinda de
portugueses,
mandatários. E como quem
manda precisa de quem
obedeça, Portugal sequer
pensou duas vezes: por
três séculos
providenciou a criminosa
importação de
“obedientes” criaturas,
buscadas à força, na
África. Está em
“Estatísticas Históricas
do Brasil”/IBGE: vieram
para o Brasil 4.009.400
escravos, entre 1531 a
1855. Estarrecedor!
(Continua na próxima
edição desta revista.)
Notas:
(1)
Os números de adeptos
das diferentes
religiões, com dados de
2010, foram extraídos do
ALMANAQUE ABRIL-2013,
p.130, Ano 39, Editora
Abril, SP/SP; à p. 132
consta o número de
espíritas no Brasil:
3.848.876, segundo o
Censo Demográfico
2010/IBGE.
(2)
Nas Américas, hoje,
estão cerca de 948,3
milhões de Espíritos
encarnados (dados à p.
344 do ALMANAQUE ABRIL,
já citado).
Extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano7/354/especial.html
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EURÍPEDES
KUHL
euripedes.kuhl@terra.com.br
Ribeirão Preto, SP
(Brasil)
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Eurípedes
Kühl
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O homem e a religião
Parte
2 e final
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Em face do poder da
Igreja Católica,
representantes das suas
várias ordens religiosas
vieram de Portugal, com
a missão “oficial” de
dar assistência
religiosa aos
colonizadores, além de
catequizar e “salvar” os
índios. Mas,
aventureiros europeus,
por vezes também em
caráter oficial, para
aqui vieram, com
interesses...
Não é difícil depreender
que no Brasil-criança
passaram a conviver
criaturas de costumes e
sentimentos religiosos
diferentes. E não só
diferentes:
conflitantes... O
caldeamento de raças foi
inevitável...
Assim, durante e por
cerca dos três primeiros
séculos da nossa
história, conviveram
aqui no Brasil:
- colonizadores europeus
(não apenas portugueses,
mas também franceses,
holandeses, espanhóis);
- padres (de várias
ordens religiosas);
- indígenas (de várias
tribos) e
- escravos africanos (de
várias partes do grande
continente).
Detentores do poder, os
europeus impuseram sua
religião (o Catolicismo)
e isso explica porque o
Brasil ainda hoje é
majoritariamente um país
católico.
Lendo sobre o Censo 2002
na Internet, no item
“Religiões”, deparei-me
com a informação de que
nos censos do
Brasil-colônia, todos os
escravos africanos eram
tidos como “católicos”.
Os escravos (bantos,
sudaneses, nagôs e
iorubanos) que mais
tempo conviveram com
seus senhores, à força
assistiam e participavam
dos cultos católicos,
imposição gerando
obediência... Mas tal
obediência era por
obrigação, não
professavam aquela
crença por devoção, já
que na intimidade da
senzala, às ocultas, é
que extravasavam sua
fé... E ali, o
mediunismo, entre eles,
era um antigo e singelo
exercício espiritual
aprendido e praticado
desde os tempos na
terra-mãe, agora lhes
aliviando a cruel
realidade — a
escravidão.
O Brasil-candomblé
– Por acomodação
parcial, a pouco e pouco
os rituais, sacramentos,
paramentos, imagens,
altares etc. do
Catolicismo foram
agregados ao seu culto,
porém sob roupagem
própria, adequada, isto
é, africana. Essa, a
origem do chamado
Brasil-candomblé.
Com a abolição da
escravatura e com a
liberdade constitucional
de credo religioso,
parte das pessoas que se
identificavam com o
Candomblé, no início do
séc. XX, sem deixar
parte dos seus
fundamentos, a ele
incorporaram novas
práticas. Muitas dessas
pessoas, tomando
conhecimento da obra de
Allan Kardec, passaram a
frequentar Centros
Espíritas, então
emergentes no Brasil.
Dentre esses, logo
porém, houve quem se
desligasse, indo fundar
uma religião, agora,
genuinamente brasileira:
a Umbanda. E em 1941, no
Rio de Janeiro,
realizou-se o Primeiro
Congresso Umbandista,
visando estruturar uma
prática religiosa já de
trinta anos. Ali foram
delimitados os elementos
de cujo sincretismo
surgiu a Umbanda nas
suas diversas
apresentações, sendo o
imediatismo (a
possibilidade do crente
resolver seus problemas
em curto prazo) uma
delas.
O desligamento que citei
talvez tenha decorrido
da dificuldade ou
desinteresse em seguir
as recomendações
espíritas de estudo
permanente, mudança de
comportamento (melhoria
moral), ausência de
quaisquer rituais,
adereços, hierarquia,
promessas etc. Mas,
principalmente, porque o
Espiritismo não se
aplica a resolver
problemas materiais,
senão sim, educar,
esclarecer e fortalecer
ao Espírito, para que
ele se renove e, apoiado
na fé em Deus, cujo
amparo é permanente,
encontre, ele próprio, a
buscada solução.
Práticas estranhas ao
Espiritismo
– Fiel a Kardec, a
Federação Espírita
Brasileira, em reunião
do Conselho Federativo
Nacional de 02/05/1953
(Espiritismo Prático,
Pedro F.Barbosa, p. 13 e
14, 4ª Ed., 1995, FEB,
RJ/RJ), recomenda aos
Centros Espíritas, para
a prática espírita e em
suas reuniões, a total
ausência de:
- paramentos, ou
quaisquer vestes
especiais;
- vinho, ou qualquer
bebida alcoólica;
- incenso, mirra, fumo,
ou substâncias outras
que produzam fumaça;
- altares, imagens,
andores, velas e
quaisquer objetos
materiais como
auxiliares de atração do
público;
- hinos ou cantos em
línguas mortas ou
exóticas, só os
admitindo, na língua do
país, exclusivamente em
reuniões festivas
realizadas pela infância
e pela juventude e em
sessões ditas de efeitos
físicos;
- danças, procissões e
atos análogos;
- atender a interesses
materiais terra-a-terra,
rasteiros ou mundanos;
- pagamento por toda e
qualquer graça
conseguida para o
próximo;
- talismãs, amuletos,
orações miraculosas,
bentinhos, escapulários
ou quaisquer objetos e
coisas semelhantes;
- administração de
sacramentos, concessão
de indulgências,
distribuição de títulos
nobiliárquicos;
- confeccionar
horóscopos, exercer a
cartomancia, a
quiromancia, a
astromancia e outras “mancias”;
- rituais e encenações
extravagantes de modo a
impressionar o público;
- termos exóticos ou
excêntricos para a
designação de seres e
coisas;
- fazer promessas e
despachos, riscar cruzes
e pontos, praticar,
enfim, a longa série de
atos materiais oriundos
das velhas e primitivas
concepções religiosas.
A partir dessas
recomendações, que nos
reportam a práticas
contrárias à Doutrina
Espírita, entendemos
quanto a Umbanda e o
Candomblé – religiões
espiritualistas e
praticantes do
mediunismo – diferem
substancialmente do
Espiritismo.
E mais: no Candomblé há
sacrifício de animais.
Na Umbanda, não: ela
contempla os banhos de
ervas e orações. Por
tudo isso bem se vê que,
embora espiritualistas,
Candomblé e Umbanda não
podem ser consideradas
espíritas. E isso sem
qualquer demérito, pois
o Espiritismo – doutrina
dos Espíritos – enaltece
o livre-arbítrio,
respeita e considera a
autonomia de todas as
religiões, jamais se
julgando superior a
qualquer delas.
Metapsíquica e
Parapsicologia
– Estabelecidas as bases
fundamentais que
diferenciam o
Espiritismo das sempre
respeitáveis religiões
do Candomblé e da
Umbanda (como
assinalei), passarei de
agora em diante a
caracterizar a Doutrina
dos Espíritos. Antes,
porém, permitam-me os
leitores, se faz
necessária uma pequena
exposição sobre outras
duas correntes “quase”
religiosas do pensamento
humano, as quais, de
alguma forma, se
aproximam do
Espiritismo. Refiro-me à
Metapsíquica e à
Parapsicologia. Os
leitores certamente hão
de compreender que o
espaço me induz à
síntese, motivo pelo
qual, em linhas gerais,
referentes a ambas,
apenas registro que:
a. Metapsíquica
- fundada por Charles
Robert Richet
(1850-1935), notável
cientista francês,
ganhador do Prêmio Nobel
de Medicina/1913
(Fisiologia). Visava à
pesquisa e análise
científica dos fenômenos
mecânicos ou
psicológicos de todos os
tempos, ditos
paranormais
(mediunidade), devidos a
forças que parecem ser
inteligentes ou a
poderes desconhecidos
latentes na inteligência
humana;
- assim, metapsíquica
não é Espiritismo — é
ciência puramente
investigativa;
- o termo metapsíquica
não foi bem aceito pelos
pesquisadores; hoje,
quase não é mais usado.
b. Parapsicologia
- impulsionada por
Joseph Banks Rhine
(1895-1980), teólogo e
cientista
norte-americano, que a
atrelou ao campo das
ciências e
particularmente à
Psicologia;
- dedicou-se Rhine, em
particular, ao estudo do
transe anímico na
telepatia e na
clarividência; pesquisou
a “ESP” (extra sensory
perception = percepção
extrassensorial), termo
que criou em 1935 e que
é mundialmente empregado
nos tratados sobre
Parapsicologia;
- o termo parapsicologia
é mais usado nos países
anglo-saxônicos e
germânicos;
- talvez seja possível
dizer que a
Parapsicologia procede
como a Metapsíquica,
sendo-lhe herdeira em
vários aspectos.
c. Considerações gerais
sobre a Metapsíquica e a
Parapsicologia
- tanto uma quanto a
outra, enquanto Ciência,
seguiram os mesmos
passos de todas as
demais ciências, isto é,
buscaram pelo método
experimental definir
leis de acontecimentos
que observaram na
natureza;
- deixaram de ser
exponenciais porque o
cientista só aceita um
fenômeno como verdadeiro
se puder explicá-lo e
reproduzi-lo, desde que
ofertadas as mesmas
condições ambientais em
que ele se deu — não
conseguiram...
- surgiu-lhes
intransponível barreira
pelo fato de que a
maioria dos fenômenos
analisados
caracterizam-se como
mediúnicos, isto é, têm
origem no Plano
Espiritual (ação de
Espíritos
desencarnados), com
manifestação no plano
material, por meio da
intermediação de médiuns
(Espíritos encarnados).
Ora, ação espiritual é
algo que a ciência não
consegue manipular numa
proveta...
A mim, espírita, o que
me causa pena é
verificar que tais
pesquisadores (poucos,
hoje em dia) não se
deram ou não se dão
conta de que, na
verdade, apenas se
apropriaram de termos
científicos para
substituir a
nomenclatura tão bem
delineada,
pioneiramente, por Allan
Kardec. E mais: somente
encontrarão o que
procuram quando, com bom
senso, se convencerem da
impotência humana para
explicar in vitro
aquelas ocorrências que
se originam in
spiritus. Aí, sem
abandonar seus cuidados,
irão ao humilde Centro
Espírita, onde poderão
verificar que ali há
outra espécie de
laboratório, ofertando
novos aprendizados,
àqueles que têm olhos
para ver e ouvidos para
ouvir.
O Espiritismo
– Passo agora a falar
plenamente do
Espiritismo, cujos
códigos de moral, de
ciência e de filosofia
foram tão bem
estruturados por Allan
Kardec, em cinco obras:
“O Livro dos
Espíritos”/1857, “O
Livro dos Médiuns”/1861,
“O Evangelho segundo o
Espiritismo”/1864, “O
Céu e o Inferno”/1865 e
“A Gênese”/1868.
Nós, espíritas,
certamente devemos
gratidão ao fenomenal
trabalho kardequiano em
estabelecer contato com
médiuns de vários
países, para deles
receber as lições do
Plano Espiritual, as
quais eram
meticulosamente
filtradas e
selecionadas, gerando a
Codificação. Por isso é
que se diz que Kardec
codificou o Espiritismo.
Tais mensagens foram os
tijolos, com os quais o
“grande edifício”
Espiritismo foi erguido,
qual farol, para
permanentemente clarear
caminhos.
Kardec era pedagogo por
excelência,
comprovando-se que o
acaso não existe, eis
que tão importante
cometimento teria mesmo
que aportar no plano
material via uma
inteligência invulgar,
fluindo de inspiração
celestial. E apenas com
cinco livros!
(Atualmente, a
Literatura Espírita já
editou cerca de dez mil
títulos – sendo cerca de
412 via Chico Xavier e
202, por intermédio de
Divaldo Pereira Franco,
além de vários outros
médiuns e escritores.)
Para melhor entendermos
o conteúdo moral
(revelações e ensinos)
da Doutrina dos
Espíritos — o
Espiritismo —, nada
melhor do que alinhavar
suas premissas e
abrangência. Em primeiro
lugar, não como
definição, mas apenas
conceituando-o, podemos
dizer que:
“O Espiritismo é o
conjunto de princípios e
leis, revelados pelos
Espíritos Superiores,
contidos nas obras de
Allan Kardec,
constituindo tais obras
o que se denomina
Codificação Espírita”.
Uma vez conceituado,
genericamente, vejamos
suas particularidades
morais:
Revelação
– Revela o que somos, de
onde viemos, para onde
vamos, qual o objetivo
da nossa existência e
qual a justificada razão
da dor e do sofrimento.
E oferta à análise e
reflexão, expondo
consequências, conceitos
novos e mais
aprofundados a respeito
de Deus, do Universo,
dos Homens, dos
Espíritos e das Leis que
regem a vida.
Ensinamentos
– Deus (em primeiríssimo
lugar das considerações)
é a inteligência
suprema, causa primeira
de todas as coisas. É
eterno, imutável,
imaterial, único,
onipotente,
soberanamente justo e
bom.
E mais:
- o Universo: é criação
de Deus. Abrange todos
os seres racionais e
irracionais, animados e
inanimados, materiais e
imateriais;
- Leis Divinas: todas as
leis da Natureza são
leis divinas, pois que
Deus é o seu autor.
Abrangem tanto as leis
físicas como as leis
morais; são
inalteráveis, perfeitas,
imutáveis no Universo
todo;
- os mundos: além do
mundo corporal,
habitação dos Espíritos
encarnados, que são os
homens, existe o mundo
espiritual, habitação
dos Espíritos
desencarnados;
- Jesus: é o guia e
modelo para toda a
Humanidade — a Doutrina
que ensinou e
exemplificou é a
expressão mais pura da
Lei de Deus;
- a moral do Cristo,
contida no Evangelho, é
o roteiro para a
evolução segura de todos
os homens, e a sua
prática a solução para
todos os problemas
humanos e o objetivo a
ser atingido pela
Humanidade;
- evolução: no Universo
há outros mundos
habitados, com seres de
diferentes graus de
evolução: iguais, mais
evoluídos e menos
evoluídos que os homens;
- os Espíritos: são os
seres inteligentes da
criação. Constituem o
mundo dos Espíritos, que
preexiste e sobrevive a
tudo:
a. são criados simples e
ignorantes, como já
citei (questão 115 de “O
Livro dos Espíritos).
Evoluem intelectual e
moralmente, passando de
uma ordem inferior para
outra mais elevada, até
a perfeição, onde gozam
de inalterável
felicidade;
b. preservam sua
individualidade, antes,
durante e depois de cada
encarnação;
c. reencarnam tantas
vezes quantas forem
necessárias ao seu
próprio aprimoramento;
d. evoluem sempre: em
suas múltiplas
existências corpóreas
(reencarnações) podem
estacionar, mas nunca
regridem; a rapidez do
seu progresso
intelectual e moral
depende dos esforços que
façam para chegar à
perfeição;
e. os bons Espíritos nos
atraem para o bem,
sustentam-nos nas provas
da vida e nos ajudam a
suportá-las com coragem
e resignação; os
imperfeitos nos induzem
ao erro;
- o perispírito: é o
corpo semimaterial que
reveste o Espírito e
une-o ao corpo material;
- o homem: é um Espírito
(revestido de
perispírito) encarnado
em um corpo material:
a. tem o livre-arbítrio
para agir, mas responde
pelas consequências de
suas ações;
b. a vida lhe reserva
penas e gozos
compatíveis com o
procedimento de respeito
ou não à Lei de Deus
(Lei de Justiça, nesse
caso caracterizando
causa e efeito, ação e
reação);
- a prece: é um ato de
adoração a Deus. Torna
melhor o homem. Está na
lei natural e é o
resultado de um
sentimento inato no
homem, assim como é
inata a ideia da
existência do Criador.
Ao pedido feito com
sinceridade Deus envia
sempre a assistência dos
bons Espíritos;
- mediunidade: o
intercâmbio dos
Espíritos com os homens
sempre existiu.
Apenas por essas
revelações e
ensinamentos já se deduz
que o Espiritismo abre
uma nova era para a
regeneração, primeiro,
de uma minoria, mas, a
seguir, da Humanidade
inteira.
Há muito mais. O estudo
das obras de Allan
Kardec é fundamental
para o correto
conhecimento e a prática
da Doutrina Espírita,
dentro do princípio
cristão de que Deus deve
ser adorado em espírito
e verdade.
Conclusão
– O Espiritismo não
impõe os seus princípios
e respeita,
incondicionalmente,
todas as religiões e
seus adeptos.
Convida os interessados
em conhecê-lo a
submeterem os seus
ensinos ao crivo da
razão, antes de
aceitá-los. Aí,
entendendo o porquê de
tudo que o cerca, em
todas as suas
atividades, o indivíduo
se capacita a
administrar com bom
senso, compreensão e
resignação as naturais
dificuldades que se lhe
apresentam
–
as provações ou
expiações que o visitam
na presente existência
terrena.
Extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano7/355/especial.html
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