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quarta-feira, 13 de maio de 2015

Escravidão física... Escravidão moral

Entrevista
Ano 1 - N° 5 - 16 de Maio de 2007
MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
Princesa Isabel com a faixa de imperatriz e, à direita, no juramento da Constituição perante o Senado imperial
J. Raul Teixeira:
"Saímos de um contexto de escravidão física dos homens de epiderme negra, para
 vermos toda a Terra chafurdada
 na escravidão moral"
 
Há exatamente 119 anos, no dia 13 de maio de 1888, Princesa Isabel assinava a Lei Áurea: estava decretada a Abolição da Escravatura no Brasil, evento que teve contra si grandes e poderosos interesses, sobretudo dos fazendeiros de café de Minas Gerais e São Paulo e dos latifundiários do Nordeste, mas que resultou de uma nova ordem de idéias, iniciada na Europa e frutificada nas Américas.
Homens ilustres, como Nabuco, Patrocínio e Bezerra de Menezes, lutaram pela abolição, cuja importância, pouco mais de um século depois, não pode ser desprezada a pretexto
de que as dificuldades econômicas e sociais ainda persistem no país e atingem, em maior profundidade, os descendentes dos antigos escravos.
Nesta entrevista, o conhecido orador espírita professor J. Raul Teixeira, de Niterói, RJ, analisa a questão do racismo e da escravidão em nosso País, reconhecendo que a Lei Áurea, apesar dos muitos e graves problemas sociais que promoveu, constituiu o primeiro passo, a fim de que "outros passos viessem depois, mais importantes".
A seguir, a entrevista concedida por Raul Teixeira:
"Todos os movimentos de libertação
das almas têm sempre relevantes
ascendentes espirituais"
– Muitos Centros Espíritas repelem as comunicações mediúnicas dos chamados "pretos velhos", por medo de que isso os confunda com a prática umbandista. Você é favorável a essa discriminação?
Raul – Os Centros Espíritas, comprometidos com a Doutrina Espírita, não costumam nutrir preconceitos em relação a quaisquer Espíritos, em suas sessões mediúnicas, que têm por escopo, exatamente, o atendimento e o entendimento fraterno a todos os desencarnados que se comuniquem. O que não deveremos esquecer é que a reunião mediúnica, orientada pelo Espiritismo, obedece a uma "nobre e suave disciplina evangélica", iniciando-se com a maturidade e equilíbrio dos médiuns e passando pela não permissão de excessos dispensáveis. Assim, não sou favorável a discriminações, mas, sim, à lucidez espírita diante de quaisquer Entidades.
– Pesquisa divulgada pela revista Veja aponta a existência de racismo em nosso país. Existe racismo também no movimento espírita?
Raul – Considerando-se que o problema do racismo é um problema de mentalidade obtusa e de pequenez interior, não entendo que haja racismo em nosso movimento espírita, mas admito a sua existência em indivíduos que, de fato, não representam o Movimento.
– Os escravos podiam andar bem vestidos, mas andavam sem sapatos: andar calçado era, no Império, privilégio dos alforriados. Estabelecida a Abolição, a ascensão dos ex-escravos à cidadania foi freada em toda a parte. Ambos os fatos demonstram que o racismo era o elemento central da ordem sócio-econômica que conduziu a transição da escravidão ao trabalho livre. O mundo melhorou desde então? Somos menos racistas atualmente?
Raul – É perceptível que o mundo melhorou. Somos menos racistas, pelos próprios fenômenos sócio-educacionais, pela imposição da vida moderna, pelos progressos das leis que, sendo frutos dos caracteres, influem, igualmente, sobre eles.
– Recente estatística informa que 38% de todos os africanos deportados da África, em três séculos e meio de escravidão nas Américas, vieram para o Brasil. Quem eram esses Espíritos?
Raul – Informam-nos os Benfeitores da Vida Maior que esses Espíritos eram indivíduos que portavam débitos graves perante a Consciência Cósmica, carecendo, assim, de se submeterem a processos reeducacionais de profundidade. Deveriam se reajustar no árduo labor do amanho da terra e da geração do progresso, exercitando paciência e amor, resignação e fé ardente. Os abusos dos senhores escravos, embora estivessem nas faixas de possibilidades de que ocorressem, correm por conta do livre-arbítrio mal aplicado, pelo que são responsáveis.
– Qual o significado espiritual da escravatura no Brasil? Sua abolição, a última registrada no planeta, teve ascendentes espirituais relevantes?
Raul – Os africanos que para o Brasil vieram, desde o século XVI, arrancados da velha África, deveriam, em razão de velhos comprometimentos sócio-morais, contraídos por diversas partes do Velho Mundo, resgatar por meio de árduo trabalho a liberação das suas consciências, sob o amparo do Cristo. Entretanto, o livre-arbítrio dos dominadores, que poderiam ter sido rígidos instrutores, empreiteiros do progresso, fê-los tornarem-se cruéis exploradores, instigadores de revoltas indescritíveis. É todo um largo processo histórico, político, espiritual, merecendo mais acurados estudos e análises mais arejadas. Todos os movimentos de libertação das almas e dos processos planetários, significando conquistas evolutivas de realce, têm sempre relevantes ascendentes espirituais, em razão de toda uma programação dos Guias do Orbe, que, em nome de Jesus, trabalham pelo mais intenso desenvolvimento do mundo.
"A verdadeira data comemorativa das lutas
dos negros, no Brasil, deveria ser o dia 20 de
novembro, dia do Zumbi dos Palmares"
– Os negros brasileiros que se destacam nos diversos setores das artes, da literatura e da política consideram o Dia Nacional do Negro no Brasil não o dia 13 de maio, mas, sim, aquele em que morreu Zumbi, o líder do Quilombo dos Palmares, cuja organização e funcionamento são destacados por documentos holandeses e por Humberto de Campos na obra "Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho". Qual é a sua avaliação dessa escolha?
Raul – Sendo a existência do Quilombo dos Palmares, àquela época, o mais audacioso e importante esforço pela libertação, e tendo em Zumbi, que era sobrinho de Ganga Zumba e de Gana Zola, o substituto do primeiro tio à frente do Quilombo, na condição de seu último chefe, penso que a verdadeira data comemorativa das lutas dos negros, no Brasil, de fato, deveria ser o dia 20 de novembro, dia do Zumbi dos Palmares, símbolo de intrepidez nessa luta que prossegue, em outros níveis, até o presente.
– Em 18 de abril de 1857, 31 anos antes da assinatura da Lei Áurea, "O Livro dos Espíritos" já ensinava que a escravidão é contrária à natureza e um abuso da força. Para os Espíritos, o homem que se vale da escravidão é sempre culpado. Só os ignorantes, aqueles que desconhecem o Cristianismo – dizem os Espíritos – é que podem contar com fatores atenuantes diante da prática desse abuso. Estará aí, nessa exploração abusiva, injusta e cruel, a fonte dos males morais e materiais que se têm abatido com todo o vigor sobre a nação brasileira? A culpa por tantos desmandos, pelo arbítrio, pelo tratamento desumano, que caracterizaram o sistema escravista, é uma dívida do País ou apenas de alguns brasileiros que se envolveram diretamente com o tráfico e o uso de escravos?
Raul – Não podemos olvidar que múltiplos senhores e senhoras de escravos, além de tantos que tiraram proveito dessa prática espúria, acham-se reencarnados de novo sobre o solo do Brasil, a fim de quitarem, por meios diversos, os pesados ônus da lesa-fraternidade e da lesa-humanidade dos períodos escravagistas do nosso País. Tendo sido parte da legislação do País aceita pelos governos e pelo povo, em geral, é notório o comprometimento com o escravismo, que, sem dúvida, repercute hoje sobre a consciência da vida nacional, até que se hajam transformado, com amor e trabalho, as energias viciadas que ainda marcam o psiquismo do Brasil.
– Como conciliar a existência da escravidão no Brasil com o fato de este país ter sido colonizado sob a égide do Cristianismo e com o título, que Humberto de Campos (Espírito) lhe atribui, de coração do mundo e pátria do Evangelho?
Raul – O Cristianismo do Cristo muito se distingue do cristianismo dos cristãos. Assim é que tantos abusivos atos foram e são cometidos em nome do Cristianismo, sem que se especificasse tratar-se do segundo. Na alusão de Humberto de Campos encontramos a mesma gravidade da previsão de Jesus, ao afirmar que a Terra seria o mundo renovado do porvir, quando no mundo encontramos, ainda, toda sorte de loucuras, guerras e materialismo, e que, como o Brasil, espera no tempo as possibilidades de alcançar o seu destino traçado no Mais Além.
"A Lei Áurea terá promovido muitos e graves
problemas sociais, mas representou o primeiro passo, a
fim de que outros viessem depois, mais importantes"
– Qual tem sido o papel da raça negra na construção da nacionalidade?
Raul – Representa, nos alicerces culturais do Brasil, abençoada contribuição para a elaboração dos fatores étnicos das gentes brasileiras, além de ter contribuído para o espalhamento das crenças espirituais, em suas ligações com a Natureza, o que bem demarca o sentimento espiritualista do povo.
– Como é a atuação do negro no movimento espírita brasileiro?
Raul – Como a de qualquer outro indivíduo, uma vez que no Movimento Espírita não há lugar para isolamentos ou participações especiais de quaisquer raças. Somos todos espíritas e, por isso, devemos trabalhar pela própria redenção, negros, brancos, vermelhos ou amarelos.
– Discute-se ainda hoje este problema: a Lei Áurea, ao lançar no mercado um contingente enorme de criaturas desacostumadas a viver em liberdade e sem qualificação profissional, não teria a importância que as comemorações de seu centenário pretendem dar-lhe. Qual a sua opinião a respeito?
Raul – Pensando historicamente, a Lei Áurea terá promovido muitos e graves problemas sociais, em razão dos elementos apontados na sua pergunta, e outros vários. Porém, mesmo com os dramas que aturdiram a tantos ex-escravos, agora libertos, tais como o drama da desqualificação profissional da maioria, das represálias de ex-senhores que não os aceitavam mais em seus latifúndios, ainda que fosse até se arrumarem melhor, etc., entendemos que o primeiro passo estava dado, a fim de que outros passos viessem depois, mais importantes. Deveremos, assim, valer-nos dessa conquista legal, para a legitimação, ampliação e conscientização das liberdades do ser humano, a fim de que se torne útil, no cumprimento dos seus deveres de criatura realmente livre.
– Que é que falta para que os descendentes da raça negra possam ter os mesmos direitos e a mesma participação que os brancos desfrutam em nossa sociedade atual?
Raul – Creio que, enquanto estivermos dando um excessivo valor às diferenças raciais, a tendência será a perpetuação dos desregramentos emocionais vigentes, à semelhança das violências entre estouvados que torcem por times diferentes, admitindo que o seu seja sempre o melhor. Os descendentes da raça negra, devidamente conscientizados pelo lar, pela escola, de que no Brasil a legislação não sustenta qualquer tipo de racismo, e aprendendo que não deverá valorizar qualquer racismo individualista ou grupal, mas que deverá pautar sua vida na dignidade, no trabalho nobre, na participação consciente e ativa nos variados episódios e segmentos da sociedade, estará laborando para que seja respeitado como ser humano, independente da sua raça.
O entendimento e respeito às Leis de Deus, que regem a vida das criaturas da Terra, em muito clarificará entendimentos para que não nos atropelemos, gerando ou mantendo qualquer nível de preconceito. A educação cristã, o entendimento espírita, acerca da reencarnação, a firmeza de propósitos no bem, enquanto na convivência social, certamente é o de que carecemos para desmantelar as edificações extra-oficiais do racismo, do preconceito e seus sequazes.
Hoje, infelizmente, saímos de um contexto de escravidão física dos homens de epiderme negra, para vermos toda a Terra, brancos, negros e outras raças, chafurdada no mais tremendo processo de escravidão que podemos conhecer: a escravidão da alma aos vícios e desequilíbrios, o que constitui a escravidão moral. Unamo-nos, todos, de todas as raças, para conjurar esse flagelo terrível, sob a luz das lições do nosso Mestre Jesus, com a bússola que nos enseja a Doutrina Espírita.

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Coluna extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço:  http://www.oconsolador.com.br/5/entrevista.html

quinta-feira, 9 de abril de 2015

É suficiente crermos em Jesus para sermos salvos?, ...

– É suficiente crermos em Jesus para sermos salvos, como professam algumas religiões?  
Raul Teixeira: Esses mesmos irmãos que pregam que basta crermos em Jesus para sermos salvos não se dão conta de que estão desdizendo a Sua própria fala. Se Jesus Cristo disse: Meu pai trabalha sempre e eu trabalho também, bastaria ao rebanho dEle apenas acreditar? Essa é uma panaceia criada na Idade Média pela Igreja para agradar os nobres, que a partir disso não trabalharam mais; o trabalho era para mulheres e escravos.
Foi Jesus que nos disse que a cada um será dado conforme suas obras. Veja lá: Thiago diz que a fé sem obras está morta em si mesma e Jesus nos disse que a cada um será dado conforme suas obras e não conforme suas crenças.
É muito fácil a criatura ler no texto, memorizá-lo e repeti-lo, sem digerir intelectualmente o que leu. Fica repetindo frases prontas, palavras de ordem que não são verdades segundo o Evangelho de Cristo.
A salvação é um trabalho que realizamos dentro de nós próprios quando entendemos as leis divinas e temos a disposição de vivenciá-las. Aí estabelecemos uma sintonia com o bem, de tal ordem que nos salvamos da ignorância, nos libertamos de todo mal. Conhecereis a verdade e essa verdade vos libertará. Essa libertação é a redenção, é a salvação.
 
  José Raul Teixeira
(Revista Eletrônica: O Consolador) http://www.oconsolador.com.br
Extraído de entrevista publicada no jornal espírita Libertador, de junho/julho de 2010.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O homem e a religião


EURÍPEDES KUHL
euripedes.kuhl@terra.com.br
Ribeirão Preto, SP (Brasil)

 


 
Eurípedes Kühl

O homem e a religião
Parte 1

 
 
Trarei para os leitores neste texto alguns respingos históricos sobre o Espiritismo. Antes, farei uma rápida reflexão sobre como e quando se iniciou o sentimento religioso na humanidade, até chegarmos à Codificação da Doutrina dos Espíritos, por Allan Kardec, no século XIX. 
8.000 a.C. – Supõem os historiadores, sem condições de confirmá-lo, que a crença no poder celestial teria surgido por volta do ano 8.000 a.C. A cada fenômeno da natureza criava-se um deus – via de regra autoritário (poder absoluto...), exigente (holocaustos...) e vingativo (causador até de mortes...). Igualmente, a cada atividade humana; depois, até mesmo os animais passaram a ser endeusados, sempre em linguagem simbólica.
Por séculos e séculos a humanidade viveu sob o politeísmo original, comandada por aqueles “deuses”, os quais seriam os responsáveis por tudo o que acontecia no mundo de então:
Deuses da natureza, um para cada um dos fenômenos geológicos, tais como:
– o raio, o relâmpago, o trovão, a chuva, o vento, o vulcão, inundações, terremotos etc.
Deuses dos atos humanos, de ação individualizada também, para:
– a caça, a pesca, a plantação, a colheita, a guerra, a cura de doenças, o nascimento, a morte etc.
Mais deuses, sempre individuais, para os animais:
– a íbis, o crocodilo, o gato, o boi etc.
Com o tempo, acoplando a data e a hora do nascimento à posição das estrelas, estabeleceu-se o horóscopo, dividindo-se a trajetória aparente do Sol em doze partes, cada uma com 30°. No horóscopo, o interesse pelo futuro era (como ainda é) estritamente individual. 
Os Profetas – Depois, vieram os Profetas... Sobrepuseram eles, às diversas crenças, a comunicação direta com Deus, segundo acreditavam. As profecias, todas, visavam ao bem coletivo.
A seguir, Espíritos missionários aportaram no planeta, com a incumbência de fundarem as religiões, que se reportariam (como se reportaram) ao estágio evolutivo de cada época. Todos esses Espíritos, sem exceção, trouxeram luzes para o futuro dos povos de então.
Focalizando agora nosso olhar na história das religiões, iremos sempre encontrar uma hierarquia social, induzindo os adeptos (promovidos a fiéis) – o povo, a rigor – à disciplina e submissão às classes dominantes. Isso, desde os imemoriais tempos do Egito, da Babilônia (país da Ásia antiga), Assíria e Roma.  Assim, unindo equivocadamente o Céu à Terra, muitos fiéis, desde há muito tempo, creem poder alcançar bens individuais em troca de sacrifícios, oferendas ou promessas outras. 
Jesus – O Cristo (ungido) de Deus, inegavelmente o maior de todos os missionários, legou à Humanidade o tesouro da Fé, por ter sido aquele que mais concedeu o Amor, de todos os tempos. Falou ao mundo do Reino de Deus, intangível e intocável na crença dos povos de então, arrastando milhões e milhões de Espíritos ao patamar em que reside a Esperança. Suas palavras, de duração eterna, tiveram, têm e terão o inigualável efeito de iluminar trevas externas e internas da mente. Necessário, apenas, ter “olhos para ver” e “ouvidos para ouvir”. Não criou nenhuma religião. Não deixou dogmas. A moral cristã, da primeira à última instância, fundamenta-se na Lei do Amor – amor a Deus e ao próximo. Por isso, acredito que Jesus é a maior de todas as incontáveis benesses que Deus, desde sempre, dispensa à humanidade inteira.
Darei agora rápido mergulho no passado da civilização, com o olhar voltado para o surgimento das religiões. Meu objetivo é chegar ao Espiritismo, caracterizando-o e às suas não poucas diferenças com o Candomblé e a Umbanda. Respeitáveis os três. Mas diferentes entre si! 
As Religiões – Vejamos o que a História registrou e o mundo de hoje nos mostra, quanto à relação criatura-Criador, filho-Pai, homem-Deus:
Judaísmo: Fundado no Oriente Médio pelo patriarca Abraão, por volta do séc. XVII a.C. O legislador de Israel foi Moisés. Para os judeus a Bíblia é formada unicamente pelos livros hebraicos e corresponde essencialmente ao Antigo Testamento dos cristãos. O judaísmo se fortaleceu ainda mais com a criação do Estado de Israel, em 1948. Possui fortes características étnicas, nas quais nação e religião se mesclam. O judaísmo é reconhecido como a primeira religião monoteísta da humanidade e cronologicamente a primeira das três religiões oriundas de Abraão, com o cristianismo e o islamismo. Adeptos: cerca de 14,8 milhões.
Hinduísmo (Bramanismo): Principal religião da Índia. Caracteriza-se pelo sistema de castas. Sucedeu ao vedismo (religião primitiva conhecida por quatro coleções de hinos – os Vedas –, entre 1.400 a.C. e o séc. VII a.C.). Reconhece a autoridade dos Vedas. O ser humano está sujeito ao sansara (sucessão de vidas e renascimento), regido pela lei do karma (ação e reação de toda ação, boa ou má). Posteriormente, incorporou o ideal de renúncia do budismo. Adeptos: 949 milhões.
Confucionismo: Data do séc. V a.C. Foi uma tentativa de estabelecer regras de comportamento, numa agitada época do mundo chinês, onde vários principados se destruíam mutuamente. Respeito aos mais velhos, amor ao trabalho bem executado, moral severa – eis os traços do Confucionismo. Adeptos: cerca de 8,1 milhões.
Budismo: Religião nascida na Ásia, fundada pelo príncipe hindu Sidarta Gautama, o Buda (560 e 480 a.C.).  Ensinamentos: tudo é transitório; a realidade é mutável; não existe nada em nós de realidade metafísica, nada de indestrutível. O ser está submetido ao ciclo de nascimentos e mortes, enquanto a consequência da ação (karma) não for interrompida. A existência está sujeita ao infortúnio, que se manifesta pelo sofrimento, doença e morte. Tem por ideal a renúncia. É na Ásia que se concentra a maioria dos seus adeptos (cerca de 494,9 milhões).
Xintoísmo: Religião do Japão, na qual os deuses são a personificação das forças naturais e os espíritos dos antepassados são igualmente considerados como deuses. A partir do séc. VI os budistas anexaram as divindades xintoístas ao seu panteão e pouco a pouco se formou um sincretismo. No séc. XVII novas seitas xintoístas recusaram qualquer compromisso com religiões estrangeiras. No séc. XIX tornou-se uma espécie de religião do Estado (adoração do imperador-deus). Adeptos: 2,7 milhões.
Cristianismo: Conjunto das religiões organizadas com base na pessoa de Jesus Cristo e nos escritos que relatam suas palavras e seus pensamentos. O Cristianismo, nascido na Judeia e difundido inicialmente no Oriente, foi pregado no mundo mediterrâneo pelos Apóstolos, depois da morte de Jesus. O Cristianismo, em sua origem uma seita surgida do judaísmo, afirma-se como religião revelada,  isto é, de origem divina, mas com a particularidade de que Jesus, seu fundador, não era um simples intermediário entre Deus e a humanidade, mas o próprio Deus.
São 2,3 bilhões de cristãos no planeta. Assim, o Cristianismo é a religião que conta com o maior número de fiéis no mundo. No decorrer da história, o Cristianismo dividiu-se em três correntes principais: Igreja Católica, Protestantismo e Igreja Ortodoxa, além de outras linhas como a Igreja Anglicana e os credos chamados de “cristianismo de fronteira” (grupos que estão na intersecção entre o Cristianismo e outra doutrina, como por exemplo, a Igreja Adventista, Mórmons e Testemunhas de Jeová).
Islamismo: Religião e civilização dos mulçumanos, fundada por Maomé, tendo surgido no séc. VII, na península arábica, é a última das religiões monoteístas. Maomé recebeu de Deus a revelação corânica [O Corão ou Alcorão e o hadith (tradição do Profeta) formam a tradição, verdadeira constituição que serve de modelo imperativo para os mulçumanos]. Não existe um clero mulçumano. Dogma principal do Islã: a existência de Deus (Alá), ser supremo único, infinitamente perfeito, criador do universo e juiz soberano dos homens. Para os mulçumanos, Maomé é o enviado de Alá. Adeptos: 1,5 bilhão.
Religiões populares chinesas: Crenças e práticas que podem incluir divindades locais e elementos budistas, confucionistas e taoistas. Adeptos: 434,6 milhões.
Animismo e Xamanismo: Crença de que tudo o que existe – seres vivos, objetos inanimados, lugares e até fenômenos naturais – tem alma. Adeptos: 242,5 milhões.
Siquismo: Religião monoteísta criada no século XV, na Índia. Surge como uma dissidência do Hinduísmo. Adeptos: 24 milhões.
Há no mundo os que não seguem nenhuma religião: perfazem eles cerca de 813 milhões de pessoas. Quanto ao ateísmo – doutrina que nega a existência de qualquer divindade e dispensa a ideia de uma justificativa divina para a vida – seus adeptos somam 136,6 milhões. Um dos argumentos utilizados pelos ateus para sustentar sua posição é a suposta incompatibilidade da coexistência de Deus e do sofrimento humano.(1) 
Organização da Terra – Como assinalei anteriormente nestes meus comentários, de tempos em tempos aportam no planeta Espíritos missionários, com a tarefa específica de erigir colunas mestras da religação do homem a Deus. Todos, sem exceção, esclarecem que o comportamento humano – bom ou mau – terá sempre como resultante, respectivamente, aproximação ou afastamento da felicidade. Invariavelmente esses tarefeiros do Bem, prepostos de Jesus – tanto os que vieram antes quanto depois d’Ele – empunharam a bandeira do amor a Deus e ao próximo como principal via de acesso ao Reino Celestial.
Jesus, falando a um povo seguidor da religião dogmática da recuada época em que o Império Romano era o “dono do mundo”, não poderia dizer a esse povo coisas que naquele tempo não fariam sentido. Exemplos? Vejamos alguns. Antes, lembremo-nos do registro sobre o Mestre dos mestres feito pelo Espírito Emmanuel em “A Caminho da Luz”, Cap. I, p.17/18, 13ª Ed., 1985, FEB, RJ/RJ: Jesus participou da organização da Terra, desde quando o planeta ainda não existia. Com efeito, a Terra, há cerca de 4,5 bilhões de anos, nasceu de uma nuvem solar. De início não tinha forma regular. À proporção que atraiu maior quantidade de matéria, começou a tomar a forma esférica.
Isto posto, é de se perguntar:
– Será que Jesus, quando aqui esteve, encarnado, desconhecia a existência do continente americano, que só seria descoberto dali a 15 séculos, passando a ser lar de milhões de Espíritos? (2)
– A imprensa, a eletricidade, a aeronáutica, a eletrônica, a energia atômica, a informática, a biogenética e tantos outros avanços científicos: eram ou seriam desconhecidos de Jesus?...
De forma alguma! Todas essas questões, necessariamente, eram do conhecimento do Cristo. Mas como anunciá-las àquela época e àquele povo? Como? E quanto ao Espiritismo?
Com a previsibilidade própria de quem, do alto, descortina a paisagem à sua frente (o futuro), Jesus noticiou sim sobre o Espiritismo, por ele pedagogicamente denominado e avalizado como o futuro “consolador”, segundo João registrou (14:15,16,17 e 26).
No tempo (século XIX) e lugar (França) adequados, surge Allan Kardec, pseudônimo adotado por Hippolyte Léon Denizard Rivail, eminente pedagogo que não desejava fazer prevalecer a força de seu nome sobre o conteúdo da obra que lançava a público, fruto de uma meticulosa codificação das informações vindas dos Espíritos: sendo o primeiro, “O Livro dos Espíritos”, pedra fundamental da Doutrina dos Espíritos – seguido das outras obras.
O Espiritismo demonstra o Amor de Deus com a lógica irretorquível da reencarnação e da Lei Divina de Ação e Reação: sofrimentos, hoje, são frutos amargos de equivocada plantação, ontem. Aí, o sofredor compreende a razão do sofrer. E mais: sabendo-se em temporário resgate, consola-se e parte para reconstrução moral. Tal o aspecto consolador da Doutrina dos Espíritos!
Com Kardec cumpriu-se a previsão-promessa do Cristo! “O Consolador” aportou no plano terreno. Com efeito, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no sexto capítulo – O Cristo Consolador –, item 3, encontramos: “O Espiritismo vem, no tempo previsto, realizar a promessa do Cristo e o Espírito da Verdade preside ao seu estabelecimento”.
 Em “O Que é o Espiritismo” (no “Preâmbulo”) Allan Kardec definiu o Espiritismo e comentou:
– O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal;
– (...) o Espiritismo é, ao mesmo tempo, ciência de observação e doutrina filosófica. Como ciência prática, tem a sua essência nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações;
Na “Revista Espírita” de dezembro/1868, num longo discurso de abertura sobre o tema “O Espiritismo é uma religião?”, Allan Kardec explanou sua opinião, da qual pinçamos pequenas notas, extraídas das páginas 358 e 359:
– o Espiritismo não pode ser considerado “religião”, por não ter culto, casta sacerdotal, cerimônias e privilégios; todavia há nele o sentido nitidamente religioso quando estabelece um laço moral entre os homens, quando os une, como consequência da comunidade de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas.
Em “Obras Póstumas” (no capítulo “Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo”) anotou:
– o Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos (...) vai às bases de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo sacerdote.
Apenas por essas premissas já se vê como o Espiritismo não pode ser confundido com quaisquer outras correntes religiosas, conquanto todas as religiões (Judaísmo, Catolicismo, Confucionismo, Protestantismo, Teosofismo, Esoterismo, Budismo, Bramanismo etc.) sejam espiritualistas, isto é, aceitam a imortalidade do Espírito e a existência de Deus. Também não pode ser confundido nem mesmo entre aquelas que: a.) aceitam a reencarnação; b.) em suas práticas, marcadas pelo sincretismo, exercitam o mediunismo.
Tão logo o Brasil foi descoberto iniciou-se sua colonização. No caso, “colonizar” significou a vinda de portugueses, mandatários. E como quem manda precisa de quem obedeça, Portugal sequer pensou duas vezes: por três séculos providenciou a criminosa importação de “obedientes” criaturas, buscadas à força, na África.  Está em “Estatísticas Históricas do Brasil”/IBGE: vieram para o Brasil 4.009.400 escravos, entre 1531 a 1855.  Estarrecedor! (Continua na próxima edição desta revista.)
              Notas: 

(1) Os números de adeptos das diferentes religiões, com dados de 2010, foram extraídos do ALMANAQUE ABRIL-2013, p.130, Ano 39, Editora Abril, SP/SP; à p. 132 consta o número de espíritas no Brasil: 3.848.876, segundo o Censo Demográfico 2010/IBGE. 

(2) Nas Américas, hoje, estão cerca de 948,3 milhões de Espíritos encarnados (dados à p. 344 do ALMANAQUE ABRIL, já citado).
 
Extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço:
              http://www.oconsolador.com.br/ano7/354/especial.html

 

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EURÍPEDES KUHL
euripedes.kuhl@terra.com.br
Ribeirão Preto, SP (Brasil)

 


 
Eurípedes Kühl

O homem e a religião
Parte 2 e final

 
 
Em face do poder da Igreja Católica, representantes das suas várias ordens religiosas vieram de Portugal, com a missão “oficial” de dar assistência religiosa aos colonizadores, além de catequizar e “salvar” os índios. Mas, aventureiros europeus, por vezes também em caráter oficial, para aqui vieram, com interesses...
Não é difícil depreender que no Brasil-criança passaram a conviver criaturas de costumes e sentimentos religiosos diferentes. E não só diferentes: conflitantes...  O caldeamento de raças foi inevitável...
Assim, durante e por cerca dos três primeiros séculos da nossa história, conviveram aqui no Brasil:
- colonizadores europeus (não apenas portugueses, mas também franceses, holandeses, espanhóis);
- padres (de várias ordens religiosas);
- indígenas (de várias tribos) e
- escravos africanos (de várias partes do grande continente).
Detentores do poder, os europeus impuseram sua religião (o Catolicismo) e isso explica porque o Brasil ainda hoje é majoritariamente um país católico.
Lendo sobre o Censo 2002 na Internet, no item “Religiões”, deparei-me com a informação de que nos censos do Brasil-colônia, todos os escravos africanos eram tidos como “católicos”.
Os escravos (bantos, sudaneses, nagôs e iorubanos) que mais tempo conviveram com seus senhores, à força assistiam e participavam dos cultos católicos, imposição gerando obediência... Mas tal obediência era por obrigação, não professavam aquela crença por devoção, já que na intimidade da senzala, às ocultas, é que extravasavam sua fé... E ali, o mediunismo, entre eles, era um antigo e singelo exercício espiritual aprendido e praticado desde os tempos na terra-mãe, agora lhes aliviando a cruel realidade — a escravidão. 
O Brasil-candomblé – Por acomodação parcial, a pouco e pouco os rituais, sacramentos, paramentos, imagens, altares etc. do Catolicismo foram agregados ao seu culto, porém sob roupagem própria, adequada, isto é, africana. Essa, a origem do chamado Brasil-candomblé.
Com a abolição da escravatura e com a liberdade constitucional de credo religioso, parte das pessoas que se identificavam com o Candomblé, no início do séc. XX, sem deixar parte dos seus fundamentos, a ele incorporaram novas práticas. Muitas dessas pessoas, tomando conhecimento da obra de Allan Kardec, passaram a frequentar Centros Espíritas, então emergentes no Brasil. Dentre esses, logo porém, houve quem se desligasse, indo fundar uma religião, agora, genuinamente brasileira: a Umbanda. E em 1941, no Rio de Janeiro, realizou-se o Primeiro Congresso Umbandista, visando estruturar uma prática religiosa já de trinta anos. Ali foram delimitados os elementos de cujo sincretismo surgiu a Umbanda nas suas diversas apresentações, sendo o imediatismo (a possibilidade do crente resolver seus problemas em curto prazo) uma delas.
O desligamento que citei talvez tenha decorrido da dificuldade ou desinteresse em seguir as recomendações espíritas de estudo permanente, mudança de comportamento (melhoria moral), ausência de quaisquer rituais, adereços, hierarquia, promessas etc. Mas, principalmente, porque o Espiritismo não se aplica a resolver problemas materiais, senão sim, educar, esclarecer e fortalecer ao Espírito, para que ele se renove e, apoiado na fé em Deus, cujo amparo é permanente, encontre, ele próprio, a buscada solução. 
Práticas estranhas ao Espiritismo – Fiel a Kardec, a Federação Espírita Brasileira, em reunião do Conselho Federativo Nacional de 02/05/1953 (Espiritismo Prático, Pedro F.Barbosa, p. 13 e 14, 4ª Ed., 1995, FEB, RJ/RJ), recomenda aos Centros Espíritas, para a prática espírita e em suas reuniões, a total ausência de:
- paramentos, ou quaisquer vestes especiais;
- vinho, ou qualquer bebida alcoólica;
- incenso, mirra, fumo, ou substâncias outras que produzam fumaça;
- altares, imagens, andores, velas e quaisquer objetos materiais como auxiliares de atração do público;
- hinos ou cantos em línguas mortas ou exóticas, só os admitindo, na língua do país, exclusivamente em reuniões festivas realizadas pela infância e pela juventude e em sessões ditas de efeitos físicos;
- danças, procissões e atos análogos;
- atender a interesses materiais terra-a-terra, rasteiros ou mundanos;
- pagamento por toda e qualquer graça conseguida para o próximo;
- talismãs, amuletos, orações miraculosas, bentinhos, escapulários ou quaisquer objetos e coisas semelhantes;
- administração de sacramentos, concessão de indulgências, distribuição de títulos nobiliárquicos;
- confeccionar horóscopos, exercer a cartomancia, a quiromancia, a astromancia e outras “mancias”;
- rituais e encenações extravagantes de modo a impressionar o público;
- termos exóticos ou excêntricos para a designação de seres e coisas;
- fazer promessas e despachos, riscar cruzes e pontos, praticar, enfim, a longa série de atos materiais oriundos das velhas e primitivas concepções religiosas.
A partir dessas recomendações, que nos reportam a práticas contrárias à Doutrina Espírita, entendemos quanto a Umbanda e o Candomblé – religiões espiritualistas e praticantes do mediunismo – diferem substancialmente do Espiritismo.
E mais: no Candomblé há sacrifício de animais. Na Umbanda, não: ela contempla os banhos de ervas e orações. Por tudo isso bem se vê que, embora espiritualistas, Candomblé e Umbanda não podem ser consideradas espíritas. E isso sem qualquer demérito, pois o Espiritismo – doutrina dos Espíritos – enaltece o livre-arbítrio, respeita e considera a autonomia de todas as religiões, jamais se julgando superior a qualquer delas. 
Metapsíquica e Parapsicologia – Estabelecidas as bases fundamentais que diferenciam o Espiritismo das sempre respeitáveis religiões do Candomblé e da Umbanda (como assinalei), passarei de agora em diante a caracterizar a Doutrina dos Espíritos. Antes, porém, permitam-me os leitores, se faz necessária uma pequena exposição sobre outras duas correntes “quase” religiosas do pensamento humano, as quais, de alguma forma, se aproximam do Espiritismo. Refiro-me à Metapsíquica e à Parapsicologia. Os leitores certamente hão de compreender que o espaço me induz à síntese, motivo pelo qual, em linhas gerais, referentes a ambas, apenas registro que:
a. Metapsíquica
- fundada por Charles Robert Richet (1850-1935), notável cientista francês, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina/1913 (Fisiologia). Visava à pesquisa e análise científica dos fenômenos mecânicos ou psicológicos de todos os tempos, ditos paranormais (mediunidade), devidos a forças que parecem ser inteligentes ou a poderes desconhecidos latentes na inteligência humana;
- assim, metapsíquica não é Espiritismo — é ciência puramente investigativa;
- o termo metapsíquica não foi bem aceito pelos pesquisadores; hoje, quase não é mais usado.
b. Parapsicologia
- impulsionada por Joseph Banks Rhine (1895-1980), teólogo e cientista norte-americano, que a atrelou ao campo das ciências e particularmente à Psicologia;
- dedicou-se Rhine, em particular, ao estudo do transe anímico na telepatia e na clarividência; pesquisou a “ESP” (extra sensory perception = percepção extrassensorial), termo que criou em 1935 e que é mundialmente empregado nos tratados sobre Parapsicologia;
- o termo parapsicologia é mais usado nos países anglo-saxônicos e germânicos;
- talvez seja possível dizer que a Parapsicologia procede como a Metapsíquica, sendo-lhe herdeira em vários aspectos.
c. Considerações gerais sobre a Metapsíquica e a Parapsicologia
- tanto uma quanto a outra, enquanto Ciência, seguiram os mesmos passos de todas as demais ciências, isto é, buscaram pelo método experimental definir leis de acontecimentos que observaram na natureza;
- deixaram de ser exponenciais porque o cientista só aceita um fenômeno como verdadeiro se puder explicá-lo e reproduzi-lo, desde que ofertadas as mesmas condições ambientais em que ele se deu — não conseguiram...
- surgiu-lhes intransponível barreira pelo fato de que a maioria dos fenômenos analisados caracterizam-se como mediúnicos, isto é, têm origem no Plano Espiritual (ação de Espíritos desencarnados), com manifestação no plano material, por meio da intermediação de médiuns (Espíritos encarnados). Ora, ação espiritual é algo que a ciência não consegue manipular numa proveta...
A mim, espírita, o que me causa pena é verificar que tais pesquisadores (poucos, hoje em dia) não se deram ou não se dão conta de que, na verdade, apenas se apropriaram de termos científicos para substituir a nomenclatura tão bem delineada, pioneiramente, por Allan Kardec. E mais: somente encontrarão o que procuram quando, com bom senso, se convencerem da impotência humana para explicar in vitro aquelas ocorrências que se originam in spiritus.  Aí, sem abandonar seus cuidados, irão ao humilde Centro Espírita, onde poderão verificar que ali há outra espécie de laboratório, ofertando novos aprendizados, àqueles que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir. 
O Espiritismo – Passo agora a falar plenamente do Espiritismo, cujos códigos de moral, de ciência e de filosofia foram tão bem estruturados por Allan Kardec, em cinco obras: “O Livro dos Espíritos”/1857, “O Livro dos Médiuns”/1861, “O Evangelho segundo o Espiritismo”/1864, “O Céu e o Inferno”/1865 e “A Gênese”/1868.
Nós, espíritas, certamente devemos gratidão ao fenomenal trabalho kardequiano em estabelecer contato com médiuns de vários países, para deles receber as lições do Plano Espiritual, as quais eram meticulosamente filtradas e selecionadas, gerando a Codificação. Por isso é que se diz que Kardec codificou o Espiritismo. Tais mensagens foram os tijolos, com os quais o “grande edifício” Espiritismo foi erguido, qual farol, para permanentemente clarear caminhos.
Kardec era pedagogo por excelência, comprovando-se que o acaso não existe, eis que tão importante cometimento teria mesmo que aportar no plano material via uma inteligência invulgar, fluindo de inspiração celestial. E apenas com cinco livros! (Atualmente, a Literatura Espírita já editou cerca de dez mil títulos – sendo cerca de 412 via Chico Xavier e 202, por intermédio de Divaldo Pereira Franco, além de vários outros médiuns e escritores.)
Para melhor entendermos o conteúdo moral (revelações e ensinos) da Doutrina dos Espíritos — o Espiritismo —, nada melhor do que alinhavar suas premissas e abrangência. Em primeiro lugar, não como definição, mas apenas conceituando-o, podemos dizer que:
“O Espiritismo é o conjunto de princípios e leis, revelados pelos Espíritos Superiores, contidos nas obras de Allan Kardec, constituindo tais obras o que se denomina Codificação Espírita”.
Uma vez conceituado, genericamente, vejamos suas particularidades morais:
Revelação – Revela o que somos, de onde viemos, para onde vamos, qual o objetivo da nossa existência e qual a justificada razão da dor e do sofrimento. E oferta à análise e reflexão, expondo consequências, conceitos novos e mais aprofundados a respeito de Deus, do Universo, dos Homens, dos Espíritos e das Leis que regem a vida. 
Ensinamentos – Deus (em primeiríssimo lugar das considerações) é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. É eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
E mais:
- o Universo: é criação de Deus. Abrange todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais;
- Leis Divinas: todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o seu autor. Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais; são inalteráveis, perfeitas, imutáveis no Universo todo;
- os mundos: além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados;
- Jesus: é o guia e modelo para toda a Humanidade — a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus;
- a moral do Cristo, contida no Evangelho, é o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela Humanidade;
- evolução: no Universo há outros mundos habitados, com seres de diferentes graus de evolução: iguais, mais evoluídos e menos evoluídos que os homens;
- os Espíritos: são os seres inteligentes da criação. Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo:
a. são criados simples e ignorantes, como já citei (questão 115 de “O Livro dos Espíritos). Evoluem intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade;
b. preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada encarnação;
c. reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento;
d. evoluem sempre: em suas múltiplas existências corpóreas (reencarnações) podem estacionar, mas nunca regridem; a rapidez do seu progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição;
e. os bons Espíritos nos atraem para o bem, sustentam-nos nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os imperfeitos nos induzem ao erro;
- o perispírito: é o corpo semimaterial que reveste o Espírito e une-o ao corpo material;
- o homem: é um Espírito (revestido de perispírito) encarnado em um corpo material:
a. tem o livre-arbítrio para agir, mas responde pelas consequências de suas ações;
b. a vida lhe reserva penas e gozos compatíveis com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus (Lei de Justiça, nesse caso caracterizando causa e efeito, ação e reação);
- a prece: é um ato de adoração a Deus. Torna melhor o homem. Está na lei natural e é o resultado de um sentimento inato no homem, assim como é inata a ideia da existência do Criador. Ao pedido feito com sinceridade Deus envia sempre a assistência dos bons Espíritos;
- mediunidade: o intercâmbio dos Espíritos com os homens sempre existiu.
Apenas por essas revelações e ensinamentos já se deduz que o Espiritismo abre uma nova era para a regeneração, primeiro, de uma minoria, mas, a seguir, da Humanidade inteira.
Há muito mais. O estudo das obras de Allan Kardec é fundamental para o correto conhecimento e a prática da Doutrina Espírita, dentro do princípio cristão de que Deus deve ser adorado em espírito e verdade. 
Conclusão – O Espiritismo não impõe os seus princípios e respeita, incondicionalmente, todas as religiões e seus adeptos.
Convida os interessados em conhecê-lo a submeterem os seus ensinos ao crivo da razão, antes de aceitá-los. Aí, entendendo o porquê de tudo que o cerca, em todas as suas atividades, o indivíduo se capacita a administrar com bom senso, compreensão e resignação as naturais dificuldades que se lhe apresentam – as provações ou expiações que o visitam na presente existência terrena. 

Extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano7/355/especial.html