Manifestações de familiares
(Chico Xavier)
As nossas tarefas da noite foram
precedidas de solicitações e alegações de vários amigos visitantes que
desejavam obter mensagens de familiares queridos, recentemente desencarnados – diversas
famílias a pedirem manifestações de ordem particular.
Feita a oração de início, O
Livro dos Espíritos nos
deu para estudo a questão 155, que suscitou em nosso agrupamento muitos
comentários sobre o fenômeno da desencarnação e sobre as dificuldades naturais
do intercâmbio entre os Espíritos recém desenfaixados do campo físico e os
irmãos que ficaram em nosso plano de ação.
Ao termino das tarefas doutrinarias,
Emmanuel ofereceu a nossa reflexão a página “Ante o mais Além”.
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Ante o mais Além
(Emmanuel)
Anseias pela manifestação dos entes
amados que te antecederam na grande viagem da desencarnação.
Pondera, entretanto, relativamente a
presença deles no plano físico, onde te encontras ainda, e remonta os cuidados
que te recebiam nos instantes de luta e sofrimento: medicação para a enfermidade
e entendimento nas horas de crise.
Aqueles que se afiguram mortos estão
vivos. E todos os teus pensamentos, com respeito a eles, alcançam-lhes o
espírito com endereço exato.
* * *
Imagina uma pessoa em desequilíbrio
emocional que gritasse em lágrimas ao telefone, rogando consolo e coragem ao
ente amado na outra ponta do fio, hospitalizado para tratamento de reajuste, a
exigir bastas vezes socorro mais intensivo.
Decerto que os responsáveis pelo
doente, de um lado, e pelo outro, o enfermo, a distância, tudo fariam para
adiar o encontro solicitado, considerando que aflição mais aflição somariam apenas
desespero maior.
* * *
Diante dos seres queridos
domiciliados no Mais Além, reflete, acima de tudo, na infinita bondade de Deus,
que nos empresta as afeições uns dos outros por tempo determinado, a fim de
aprendermos, através de comunhões e separações temporárias, a entesourar o amor
indestrutível que nos reunirá, um dia, na felicidade sem adeus.
E enquanto perdure a distância, do
ponto de vista físico, cultiva a saudade nas leiras do serviço ao próximo, qual
se estivesses amparando e auxiliando a eles mesmos, tanto quanto efetuando em
lugar deles tudo quanto desejariam fazer. Assim construirás, gradativamente, a
ponte de intercambio pela qual virão ter espontaneamente contigo, de modo a
compreenderes que berço e túmulo, existência e morte, são caminhos da evolução
para a vida imortal.
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Telefone mediúnico
(J. Herculano Pires)
Uns não acreditam nas comunicações
dos Espíritos, outros acreditam demais e querem obtê-las com a facilidade de
uma ligação telefônica. Nem tanto ao céu, nem tanto a terra! Se as comunicações
entre as criaturas terrenas nem sempre são fáceis, que dizer das que se
processam entre os espíritos e os homens?
Muita gente procura o médium como se
ele fosse uma espécie de cabina telefônica. Mas nem sempre o circuito está
livre e muitas vezes o espírito chamado não pode atender.
Não há dúvida que estamos na época
profetizada por Joel, em que as manifestações se intensificam por toda parte.
Nem todos os Espíritos, porém, estão em condições de comunicar-se com facilidade.
Além disso, a manifestação solicitada pode ser inconveniente no momento, tanto
para o espírito quanto para o encarnado.
A morte é um fenômeno psicobiológico
que ocorre de várias maneiras de acordo com as condições ideoemotivas de cada caso,
envolvendo o que parte e os que ficam. A questão 155 de O
Livro dos Espíritos explica
de maneira clara a complexidade do processo de desencarnação. Alguns espíritos
se libertam rapidamente do corpo, outros demoram a fazê-lo e isso retarda a sua
possibilidade de comunicar-se.
Devemos lembrar ainda que os espíritos
são criaturas livres e conscientes. Não estão ao sabor dos nossos caprichos e
nenhum médium ou diretor de sessões tem o poder de fazê-los atender aos nossos
chamados. Quando querem manifestar-se, eles o fazem espontaneamente, e não raro
de maneira inesperada. Enganam-se os que pensam que podem dominá-los. Já
ensinava Jesus, como vemos nos Evangelhos: o espírito sopra onde quer e ninguém
sabe de onde vem nem para onde vai.
É natural que os familiares aflitos
procurem obter a comunicação de um ente querido. Mas convém que se lembrem da
necessidade de respeitar as leis que regem as condições do Espírito na vida e
na morte. O intercâmbio mediúnico é um ato de amor que só deve realizar-se
quando conveniente para os dois lados. O Espiritismo nos ensina a respeitar a
morte como respeitamos a vida, confiando nos desígnios de Deus. Só a misericórdia
divina pode regular o diálogo entre os vivos da Terra e os vivos do Além. Façamos
nossas preces em favor dos que partiram e esperemos em Deus a graça do
reencontro que só Ele nos pode conceder.
Muitos religiosos condenam as comunicações
mediúnicas, alegando que elas violam o mistério da morte e perturbam o repouso
dos mortos. Esquecem-se de que os próprios Espíritos de pessoas falecidas
procuram comunicar-se com os vivos. Foi dessa procura de comunicação dos
mortos, tão insistente no mundo inteiro, que se iniciaram de maneira natural as
relações mediúnicas entre o mundo visível e o invisível. O conceito errôneo da
morte, como aniquilamento ou transformação total da criatura humana, gera e
sustenta essas formas de superstição. O Espiritismo, revivendo os fundamentos
esquecidos do Cristianismo puro, mostra-nos que a comunicação mediúnica é lei
da vida a nos libertar de erros e temores supersticiosos do passado.
O conteúdo acima foi
extraído do livro Diálogo dos Vivos, capítulo 2.
Incluímos integralmente as questões 155 e 155-a de O
Livro dos Espíritos, em virtude da referência feita no início do estudo do tema
em análise.
155.
Como se opera a separação da alma e do corpo?
“Rotos
os laços que a retinham, ela se desprende.”
155-a - A separação se
dá instantaneamente por brusca transição? Haverá
alguma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?
“Não;
a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se
restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de
sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes
laços se desatam, não se quebram.”
Complementação
de Allan Kardec, como segue:
Durante a vida, o Espírito se acha
preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é a
destruição do corpo somente, não a desse outro invólucro, que do corpo se
separa quando cessa neste a vida orgânica. A observação demonstra que, no
instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente;
que, ao contrário, se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável
conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo dizer-se que o momento
da morte é mais ou menos o da libertação. Em outros, naqueles sobretudo cuja
vida foi toda material e sensual,
o desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e
até meses, o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a
possibilidade de volver à vida, mas uma simples afinidade com o Espírito,
afinidade que guarda sempre proporção com a preponderância que, durante a vida,
o Espírito deu à matéria. É, com efeito, racional conceber-se que, quanto mais
o Espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja
separar-se dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos
pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo,
de modo que, em chegando a morte, ele é quase instantâneo. Tal o resultado dos
estudos feitos em todos os indivíduos que se têm podido observar por ocasião da
morte. Essas observações ainda provam que a afinidade, persistente entre a alma
e o corpo, em certos indivíduos, é, às vezes, muito penosa, porquanto o
Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso, porém, é excepcional
e peculiar a certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte. Verifica-se
com alguns, suicidas.