Mostrando postagens com marcador supérfluo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador supérfluo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A CONDESSA PAULA

A CONDESSA PAULA

Bela, jovem, rica e de estirpe ilustre, esta era também perfeito modelo de qualidades intelectuais e morais. Faleceu com 36 anos de idade, em 1851. Seu necrológio é daqueles que podem resumir-se nestas palavras por mil bocas repetidas: — “Por que tão cedo retira Deus tais pessoas da Terra?” Felizes os que assim fazem abençoada a sua memória. Ela era boa, meiga e indulgente, sempre pronta a desculpar ou atenuar o mal, em lugar de aumentá-lo. Jamais a maledicência lhe conspurcara os lábios. Sem arrogância nem austeridade, era, ao contrário, com benevolência e delicada familiaridade que tratava os fâmulos, despercebida, ao demais, de quaisquer aparências de superioridade ou de humilhante proteção. Compreendendo que pessoas que vivem do trabalho não são rendeiros e que, conseguintemente, têm precisão do que se lhes deve, já pela sua condição, já para se manterem, jamais reteve o pagamento de um salário. A simples ideia de que alguém pudesse experimentar uma privação, por sua causa, ser-lhe-ia um remorso de consciência. Ela não pertencia ao número dos que sempre encontram dinheiro para satisfazer os seus caprichos, sem pagarem as próprias dívidas; não podia compreender que houvesse prazer para o rico em ter dívidas, e humilhada se julgaria se lhe dissessem que os seus fornecedores eram constrangidos a fazer-lhe adiantamentos. Também por ocasião da sua morte só houve pesares, nem uma reclamação.

A sua beneficência era inesgotável, mas não essa beneficência ostentosa à luz meridiana; e assim exercia a caridade de coração, que não por amor de vanglórias. Só Deus sabe as lágrimas que ela enxugou, os desesperos que acalmou, pois tais virtudes só tinham por testemunhas os infelizes que assistia. Ela timbrava, além disso, em descobrir os mais pungentes infortúnios, os secretos, socorrendo-os com aquela delicadeza que eleva o moral em vez de o rebaixar.

Da sua estirpe e das altas funções do marido decorriam-lhe onerosos encargos domésticos, aos quais não podia eximir-se; satisfazendo plenamente às exigências de sua posição, sem avareza, ela o fazia, contudo, com tal método, evitando desperdícios e superfluidades, que metade lhe bastava do que a outrem fora preciso para tanto.

E desse modo se permitia facultar da sua fortuna maior quinhão aos necessitados. Destinando a renda de uma parte dessa fortuna exclusivamente a tal fim, considerava-a sagrada e como de menos a despender no serviço da sua casa. E assim encontrara meios de conciliar os seus deveres para com a sociedade e para com os infortúnios [1]. Um dos seus parentes, iniciado no Espiritismo, evocou-a doze anos depois de falecida, e obteve, em resposta a diversas perguntas, a seguinte comunicação [2]:

“Tendes razão, amigo, em pensar que sou feliz. Assim é, efetivamente, e mais ainda do que a linguagem pode exprimir, conquanto longe do seu último grau. Mas eu estive na Terra entre os felizes, pois não me lembro de haver aí experimentado um só desgosto real. Juventude, homenagens, saúde, fortuna, tudo o que entre vós outros constitui felicidade eu possuía! O que é, no entanto, essa felicidade comparada à que desfruto aqui? Esplêndidas festas terrenas em que se ostentam os mais ricos paramentos, o que são elas comparadas a estas assembleias de Espíritos resplendentes de brilho que as vossas vistas não suportariam, brilho que é o apanágio da sua pureza? Os vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a estas moradas aéreas, vastas regiões do Espaço matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris? Os vossos passeios, a contados passos nos parques, a que se reduzem, comparados aos percursos da imensidade, mais céleres que o raio?

“Horizontes nebulosos e limitados, que são, comparados ao espetáculo de mundos a moverem-se no Universo infinito ao influxo do Altíssimo? E como são monótonos os vossos concertos mais harmoniosos em relação à suave melodia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras d’alma! E como são tristes e insípidas as vossas maiores alegrias comparadas à sensação inefável de felicidade que nos satura todo o ser como um eflúvio benéfico, sem mescla de inquietação, de apreensão, de sofrimento?! Aqui, tudo ressumbra amor, confiança, sinceridade: por toda parte corações amantes, amigos por toda parte!

“Nem invejosos, nem ciumentos! É este o mundo em que me encontro, meu amigo, e ao qual chegareis infalivelmente, se seguirdes o reto caminho da vida.

“A felicidade uniforme fatigaria, no entanto, e assim não acrediteis que a nossa seja extreme de peripécias: nem concerto perene, nem festa interminável, nem beatífica contemplação por toda a eternidade, porém o movimento, a atividade, a vida.

“As ocupações, posto que isentas de fadiga, revestem-se de perspectivas e emoções variáveis e incessantes, pelos mil incidentes que se lhes filiam. Tem cada qual sua missão a cumprir, seus protegidos a velar, amigos terrenos a visitar, mecanismos na Natureza a dirigir, almas sofredoras a consolar; e é o vaivém, não de uma rua a outra, porém, de um a outro mundo; reunindo-nos, separando-nos para novamente nos juntarmos; e, reunidos em certo ponto, comunicamo-nos o trabalho realizado, felicitando-nos pelos êxitos obtidos; ajustamo-nos, mutuamente nos assistimos nos casos difíceis. Finalmente, asseguro-vos que ninguém tem tempo para enfadar-se, por um segundo que seja. Presentemente, a Terra é o magno assunto das nossas cogitações. Que movimento entre os Espíritos! Que numerosas falanges aí afluem, a fim de lhe auxiliarem o progresso e a evolução! Dir-se-ia uma nuvem de trabalhadores a destrinçarem uma floresta, sob as ordens de chefes experimentados; abatem uns os troncos seculares, arrancam-lhes as raízes profundas, desbastam outros o terreno; amanham estes a terra, semeando; edificam aqueles a nova cidade sobre as ruínas carunchosas de um velho mundo. Neste comenos reúnem-se os chefes em conferência e transmitem suas ordens por mensageiros, em todas as direções. A Terra deve regenerar-se, em dado tempo — pois importa que os desígnios da Providência se realizem, e, assim, tem cada qual o seu papel. Não me julgueis simples expectadora desta grande empresa, o que me envergonharia, uma vez que todos nela trabalham. Importante missão me é afeta, e grandemente me esforço por cumpri-la, o melhor possível. Não foi sem luta que alcancei a posição que ora ocupo na vida espiritual; e ficai certo de que a minha última existência, por mais meritória que porventura vos pareça, não era por si só e a tanto suficiente. Em várias existências passei por provas de trabalho e miséria que voluntariamente havia escolhido para fortalecer e depurar o meu Espírito; dessas provas tive a dita de triunfar, vindo a faltar no entanto uma, porventura de todas a mais perigosa: a da fortuna e bem-estar materiais, um bem-estar sem sombras de desgosto. Nessa consistia o perigo. E antes de o tentar, eu quis sentir-me assaz forte para não sucumbir. Deus, tendo em vista as minhas boas intenções, concedeu-me a graça do seu auxílio. Muitos Espíritos há que, seduzidos por aparências, pressurosos escolhem essa prova, mas, fracos para afrontar-lhe os perigos, deixam que as seduções do mundo triunfem da sua inexperiência.

“Trabalhadores! estou nas vossas fileiras: eu, a dama nobre, ganhei como vós o pão com o suor do meu rosto; saturei-me de privações, sofri reveses e foi isso que me retemperou as forças da alma; do contrário eu teria falido na última prova, o que me teria deixado para trás, na minha carreira.

“Como eu, também vós tereis a vossa prova da riqueza, mas não vos apresseis em pedi-la muito cedo. E vós outros, ricos, tende sempre em mente que a verdadeira fortuna, a fortuna imorredoura, não existe na Terra; procurai antes saber o preço pelo qual podeis alcançar os benefícios do Todo-Poderoso.

Paula, na Terra Condessa de ***.”

[1] Pode dizer-se que essa senhora era a encarnação viva da mulher caridosa, ideada em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII.

[2] Desta comunicação, cujo original é em alemão, extraímos os tópicos que interessam ao assunto de que nos ocupamos, suprimindo os de natureza exclusivamente familiar.

_______________________________________________________________________________
Texto extraído da obra “O Céu e o Inferno”, segunda parte, capítulo II – Espíritos Felizes – Allan Kardec - FEB
_______________________________________________________________________________

Por oportuno, registramos abaixo a mensagem do capítulo XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, da qual Allan Kardec fez referência na observação [1] acima.
_______________________________________________________________________________

16. A mulher rica, venturosa, que não precisa empregar o tempo nos trabalhos de sua casa, não poderá consagrar algumas horas a trabalhos úteis aos seus semelhantes? Compre, com o que lhe sobre dos prazeres, agasalhos para o desgraçado que tirita de frio; confeccione, com suas mãos delicadas, roupas grosseiras, mas quentes; auxilie uma mãe a cobrir o filho que vai nascer. Se por isso seu filho ficar com algumas rendas de menos, o do pobre terá mais com que se aqueça. Trabalhar para os pobres é trabalhar na vinha do Senhor.

E tu, pobre operária, que não tens supérfluo, mas que, cheia de amor aos teus irmãos, também queres dar do pouco com que contas, dá algumas horas do teu dia, do teu tempo, único tesouro que possuis; faze alguns desses trabalhos elegantes que tentam os felizes; vende o produto dos teus serões e poderás igualmente oferecer aos teus irmãos a tua parte de auxílios. Terás, talvez, algumas fitas de menos; darás, porém, calçado a um que anda descalço.

E vós, mulheres que vos votastes a Deus, trabalhai também na sua obra; mas que os vossos trabalhos não sejam unicamente para adornar as vossas capelas, para chamar a atenção sobre a vossa habilidade e paciência. Trabalhai, minhas filhas, e que o produto de vossas obras se destine a socorrer os vossos irmãos em Deus. Os pobres são seus filhos bem-amados; trabalhar para eles é glorificá-lo. Sede-lhes a providência que diz: “Aos pássaros do céu dá Deus o alimento.” Mudem-se o ouro e a prata que se tecem nas vossas mãos em roupas e alimentos para os que não os têm. Fazei isto e abençoado será o vosso trabalho.

Todos vós, que podeis produzir, dai; dai o vosso gênio, dai as vossas inspirações, dai o vosso coração, que Deus vos abençoará. Poetas, literatos, que só pela gente mundana sois lidos!... satisfazei-lhe aos lazeres, mas consagrai o produto de algumas de vossas obras a socorros aos desgraçados. Pintores, escultores, artistas de todos os gêneros!... venha também a vossa inteligência em auxílio dos vossos irmãos; não será por isso menor a vossa glória e alguns sofrimentos haverá de menos.

Todos vós podeis dar. Qualquer que seja a classe a que pertençais, de alguma coisa dispondes que podeis dividir. Seja o que for que Deus vos haja outorgado, uma parte do que Ele vos deu deveis àquele que carece do necessário, porquanto, em seu lugar, muito gostaríeis que outro dividisse convosco. Os vossos tesouros da Terra serão um pouco menores; contudo, os vossos tesouros do céu ficarão acrescidos. Lá colhereis pelo cêntuplo o que houverdes semeado em benefícios neste mundo.

João. (Bordeaux, 1861.)


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A caridade material e a caridade moral



“Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos nos fizessem eles.” Toda a religião, toda a moral se acham encerradas nestes dois preceitos. Se fossem observados nesse mundo, todos seríeis felizes: não mais aí ódios, nem ressentimentos. Direi ainda: não mais pobreza, porquanto, do supérfluo da mesa de cada rico, muitos pobres se alimentariam e não mais veríeis, nos quarteirões sombrios onde habitei durante a minha última encarnação, pobres mulheres arrastando consigo miseráveis crianças a quem tudo faltava.

Ricos! pensai nisto um pouco. Auxiliai os infelizes o melhor que puderdes. Dai, para que Deus, um dia, vos retribua o bem que houverdes feito, para que tenhais, ao sairdes do vosso invólucro terreno, um cortejo de Espíritos agradecidos, a receber-vos no limiar de um mundo mais ditoso.

Se pudésseis saber da alegria que experimentei ao encontrar no Além aqueles a quem, na minha última existência, me fora dado servir! ...

Amai, portanto, o vosso próximo; amai-o como a vós mesmos, pois já sabeis, agora, que, repelindo um desgraçado, estareis, quiçá, afastando de vós um irmão, um pai, um amigo vosso de outrora. Se assim for, de que desespero não vos sentireis presa, ao reconhecê-lo no mundo dos Espíritos!

Desejo compreendais bem o que seja a caridade moral, que todos podem praticar, que nada custa, materialmente falando, porém, que é a mais difícil de exercer-se.

A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral.

Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra. Tende, porém, cuidado, principalmente em não tratar com desprezo o vosso semelhante.

Lembrai-vos de tudo o que já vos tenho dito: Tende presente sempre que, repelindo um pobre, talvez repilais um Espírito que vos foi caro e que, no momento, se encontra em posição inferior à vossa. Encontrei aqui um dos pobres da Terra, a quem, por felicidade, eu pudera auxiliar algumas vezes, e ao qual, a meu turno, tenho agora de implorar auxílio.


Lembrai-vos de que Jesus disse que todos somos irmãos e pensai sempre nisso, antes de repelirdes o leproso ou o mendigo. Adeus: pensai nos que sofrem e orai.”  – Irmã Rosália. (Paris, 1860.)

Mensagem extraída de O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XIII, item 9.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O que ensina o Espiritismo


ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)




O que ensina o Espiritismo 
O Espiritismo nos abre o santuário do conhecimento

“A finalidade essencial do Espiritismo é o melhoramento das criaturas.”-
Allan Kardec.  
 
Sem falarmos nos notáveis ensinamentos morais oferecidos pelo Espiritismo, ele nos leva, ainda, a consideráveis resultados. Por tudo que faz pela Humanidade não é exagero dizer que a Doutrina Espírita constitui-se na maior bênção dos Céus vertida para a Terra, pela bondade de Deus. Portanto, não é sem motivo que Jesus o profetizou, mencionando o advento do Consoladorpara o futuro. Pois bem, em agosto de 1865, no ano VIII da Revue Spirite,Allan Kardec trouxe a lume uma publicação 
[1], que realça muito bem nossa assertiva, na qual relatava: “Há criaturas que perguntam quais são as conquistas novas que devemos ao Espiritismo. Desde que não dotou o mundo com uma nova indústria produtiva, como o vapor, concluem que nada produziu... Já numa outra ordem de ideias, alguns acham a marcha do Espiritismo muito lenta para o grau de sua impaciência. Admiram-se de que ainda não tenha sondado todos os mistérios da Natureza, nem abordado todas as questões que parecem ser de sua alçada; queriam vê-lo diariamente ensinar coisas novas, ou enriquecer-se com alguma descoberta. E, desde que ainda não resolveu a questão da origem dos seres, do princípio e do fim das coisas, da essência divina e quejandos, concluem que não saiu do a, b, c e que ainda não entrou na verdadeira via filosófica, e se arrasta nos lugares comuns, porque prega incessantemente a humildade e a caridade. Dizem eles: ‘Até hoje nada de novo nos ensinaram, porque a reencarnação, a negação das penas eternas, a imortalidade da Alma, a gradação através de períodos da vitalidade intelectual, o perispírito não são descobertas espíritas propriamente ditas; então, é preciso marchar para descobertas mais verdadeiras e sólidas’.”
“A tal respeito julgamos dever apresentar algumas observações, que também não serão novidades; mas há coisas que devem ser repetidas por formas diversas: É verdade que o Espiritismo nada inventou de tudo isto, porque não há verdades senão as que são eternas e que, por isso mesmo, devem ter germinado em todas as épocas. Mas não é alguma coisa havê-las tirado, senão do nada, ao menos do esquecimento; de um germe ter feito uma planta vivaz; de uma ideia individual, perdida na noite dos tempos, ou abafada pelos preconceitos, ter feito uma crença geral; ter provado o que estava em estado de hipótese; ter demonstrado a existência de uma lei no que parecia excepcional e fortuito; de uma teoria vaga ter feito uma coisa prática; de uma ideia improdutiva ter tirado aplicações úteis? Realmente é verdadeiro o provérbio: ‘Nada de novo debaixo do Sol’. Assim, não há descoberta da qual não se encontrem, nalguma parte, vestígios e o princípio. Por conta disto, Copérnico não teria o mérito de seu sistema, porque o movimento da Terra tinha sido suspeitado antes da era cristã. Se era coisa tão simples, então, era preciso encontrá-la. A história do ovo de Colombo será sempre uma eterna verdade. Além disso, é incontestável que o Espiritismo ainda tem muito a nos ensinar. É o que incessantemente temos repetido, pois jamais pretendemos que ele tenha dito a última palavra. Mas, do que ainda resta a fazer, segue-se que ainda não tenha saído do a, b, c? Seu a, b, c foram as mesas girantes; e, desde então, ao que nos parece, tem dado alguns passos; parece mesmo que tais passos foram grandes em alguns anos, se o compararmos às outras ciências que levaram séculos para chegar ao ponto em que estão. Mas, em falta de novas descobertas, os homens de ciência nada terão a fazer? A química não será mais química se diariamente não descobrir novos corpos? Os astrônomos serão condenados a cruzar os braços por não encontrarem novos planetas? E assim em todos os ramos das ciências e das indústrias.  
Cabe a Deus dirigir o ensino de seus mensageiros 
“Antes de procurar coisas novas, não se tem que fazer aplicação daquilo que se sabe? É precisamente para dar aos homens tempo de assimilar, aplicar e difundir o que sabem, que a Providência põe um compasso de espera na marcha para a frente. Aí está a História para nos mostrar que as ciências não seguem uma marcha ascendente contínua, ao menos ostensivamente. Os grandes movimentos que revolucionam uma ideia só se operam em intervalos mais ou menos distanciados. Por isto não há estagnação, mas elaboração, aplicação e frutificação daquilo que se sabe, o que sempre é progresso...  
“Poderia o Espírito humano absorver incessantemente novas ideias? A própria terra não necessita de um tempo de repouso antes de produzir? Que diriam de um professor que diariamente ensinasse novas regras aos seus alunos, sem lhes dar tempo para se exercitar nas que aprenderam, de com elas se identificar e de aplicá-las? Em todas as coisas as ideias novas devem encaixar-se nas ideias adquiridas. Se estas não forem suficientemente elaboradas e consolidadas no cérebro, se o Espírito não as assimilou, as que aí se querem implantar não criam raízes: semeia-se no vazio. Pois bem! Dá-se o mesmo com relação ao Espiritismo. Os adeptos de tal modo aproveitaram o que ele ensinou que nada mais tenham a fazer? São de tal modo caridosos, desprovidos de orgulho, desinteressados, benevolentes para os seus semelhantes; moderaram tanto as suas paixões, abjuraram o ódio, a inveja e o ciúme; enfim, são tão perfeitos que de agora em diante seja supérfluo pregar-lhes a caridade, a humildade, a abnegação, numa palavra, a moral? Essa pretensão, por si só, provaria quanto ainda necessitam dessas lições elementares, que alguns consideram fastidiosas e pueris.
“O Espiritismo tende para a regeneração da Humanidade: isto é um fato positivo. Ora, não podendo essa regeneração operar-se senão pelo progresso moral, daí resulta que seu objetivo essencial, providencial, é o melhoramento de cada um. Os mistérios que nos pode revelar são o acessório, porque nos abre o santuário de todos os conhecimentos. Adiantamos à medida que nos melhoramos. É, pois, no seu melhoramento individual que todo espírita sincero deve trabalhar, antes de tudo. Só aquele que dominou suas más inclinações aproveitou realmente o Espiritismo e receberá a sua recompensa. É por isto que os bons Espíritos, por ordem expressa de Deus, multiplicam suas instruções e as repetem à saciedade. Só Deus sabe quando aquelas serão úteis e só a Ele cabe dirigir o ensino de Seus mensageiros e de proporcioná-lo ao nosso adiantamento.  
São notáveis os resultados do Espiritismo 
“Mas, fora do ensinamento puramente moral, os resultados do Espiritismo são notáveis:
1º. – Ele dá a prova patente da existência e da imortalidade da Alma. É verdade que não é uma descoberta, mas é por falta de provas sobre este ponto que há tantos incrédulos ou indiferentes quanto ao futuro; é provando o que não passava de teoria que nele triunfa sobre o materialismo e evita as funestas consequências deste sobre a sociedade;
2º. - Pela firme crença que desenvolve, exerce uma ação poderosa sobre o moral do homem; leva-o ao bem, consola-o nas aflições, dá-lhe força e coragem nas provações da vida e o desvia do pensamento do suicídio;
3º. - Retifica todas as ideias falsas que se tivessem sobre o futuro da Alma, sobre o Céu, o Inferno, as penas e recompensas; destrói radicalmente, pela irresistível lógica dos fatos, os dogmas das penas eternas e dos demônios; numa palavra, desvela-nos a vida Futura e no-la mostra racional e conforme a justiça e misericórdia de Deus;
4º. - Dá a conhecer o que se passa no momento da morte; este fenômeno, até hoje insondável, não mais tem mistérios; as menores particularidades dessa tão temida passagem são hoje conhecidas. Ora, como todo mundo morre, tal conhecimento interessa a todo mundo;
5º. - Pela lei da pluralidade das existências, abre um novo campo à filosofia; o homem sabe donde vem, com que objetivo está na Terra, para onde vai após o decesso corporal.   Explica a causa de todas as misérias humanas, de todas as desigualdades sociais. Enfim, lança a luz sobre as questões mais árduas da metafísica, da psicologia e da moral;
6º. - Pela teoria dos fluidos perispirituais, dá a conhecer o mecanismo das sensações e das percepções da Alma; explica os fenômenos da dupla vista, da visão a distância, do sonambulismo, do êxtase, dos sonhos, das visões, das aparições etc.;
7º. - Provando as relações existentes entre os mundos corporal e espiritual, mostra neste último uma das forças ativas da Natureza, um poder inteligente, e dá a razão de uma porção de efeitos atribuídos a causas sobrenaturais, e que alimentavam a maioria das ideias supersticiosas;
8º. - Revelando o fato das obsessões, faz conhecer a causa até aqui desconhecida de numerosas afecções, sobre as quais a ciência se havia equivocado, em detrimento dos doentes, e dá os meios de curá-los;
9º.  - Dando-nos a conhecer as verdadeiras condições da prece e seu modo de ação; revelando-nos a influência recíproca dos Espíritos encarnados e desencarnados, ensina-nos o poder do homem sobre os Espíritos imperfeitos, para moralizá-los e livrá-los dos sofrimentos inerentes à sua inferioridade;
10º.  - Levando-nos a conhecer a magnetização espiritual, que era desconhecida, abre ao magnetismo uma nova via e lhe traz um novo e poderoso elemento de cura.” 
O Espiritismo lapida o diamante bruto 
O mérito de uma invenção não está na descoberta de um princípio, quase sempre anteriormente conhecido, mas na aplicação desse princípio. A reencarnação não é uma ideia nova, como também não o é o perispírito, descrito por Paulo sob o nome de “corpo espiritual”, nem mesmo a comunicação dos Espíritos, de que a própria Bíblia é pródiga em exemplos. O Espiritismo, que não se gaba de haver descoberto a Natureza, procura cuidadosamente todos os traços que pode encontrar da anterioridade de suas ideias, e, quando os encontra, apressa-se em proclamá-lo, como prova em apoio ao que afirma.  Aqueles, pois, que invocam essa anterioridade visando depreciar o que ele faz, vão contra o seu objetivo e agem incorretamente.
A descoberta da reencarnação e do perispírito não pertence, pois, ao Espiritismo. É uma coisa sabida.  Mas, até ele, que proveito a ciência, a moral, a religião haviam tirado desses dois princípios, ignorados pelas massas, em estado de letra morta? O Espiritismo não só os pôs à luz, mas provou-os e os fez reconhecer como lei da Natureza, desenvolveu-os e os fez frutificar. Desde que esses dois princípios eram conhecidos, por que ficaram tanto tempo improdutivos? Por que, durante séculos, todas as filosofias se chocaram contra tantos problemas insolúveis?  É que eram diamantes brutos, que deviam ser lapidados: É o que faz o Espiritismo. Ele abriu uma nova via à filosofia, ou, por outras palavras, criou uma nova filosofia que, diariamente, ocupa o seu lugar no mundo.  
(...) Dizem que os espíritas só sabem o “a, b, c” do Espiritismo. Seja. Para começar, então aprendamos a soletrar esse alfabeto, o que não é problema de um dia, porque, reduzido mesmo a só estas proporções, passará muito tempo antes de haverem esgotado todas as combinações e recolhido todos os frutos. Não restam mais fatos a explicar? Aliás, os espíritas não têm que ensinar esse alfabeto aos que o ignoram? Já lançaram a semente em toda a parte onde poderiam fazê-lo? Não restam mais incrédulos a converter, obsidiados a curar, consolações a prodigalizar, lágrimas a enxugar?  Há razão para dizer que se não tem mais nada a fazer, quando ainda não se terminou a tarefa, quando ainda restam tantas chagas a fechar?  
Saibamos, pois, soletrar o nosso alfabeto antes de querer ler corretamente o grande livro da Natureza. Deus saberá bem no-lo abrir, à medida que avançarmos, mas não depende de nenhum mortal forçar a Sua Vontade, antecipando o tempo para cada coisa.  
Se a árvore da ciência é muito alta para que possamos atingi-la, esperemos para voar sobre ela, que as nossas asas estejam crescidas e solidamente pregadas, para não termos a mesma triste sina de Ícaro. 




[1] - KARDEC, Allan. Revue Spirite. Agosto de 1865. 2a. ed. Araras: IDE, 2000.

Página extraída da revista eletrônica o Consolador, no endereço abaixo: