domingo, 18 de agosto de 2019

O vazio existencial

O vazio existencial

Quando Sigmund Freud iniciou as suas pesquisas com pacientes histéricos especialmente, tornou-se o começo de uma das mais belas e oportunas interpretações da psique humana, dando lugar a uma verdadeira revolução cultural, desmistificando o sexo, suas funções e libertando-o da hipocrisia vitoriana que vigia triunfante.
Foi um período de inesperadas interpretações de transtornos emocionais e somatizações perturbadoras, que puderam ser tratados com cuidado, proporcionando existências menos turbulentas e desastrosas.
Embora a descoberta da libido sexual causasse surpresa e recebesse exagerado significado facultou mais amplas percepções e entendimento a respeito dos conflitos humanos.
Inevitavelmente, ocorreu um exagero na sua interpretação, principalmente por negar a realidade espiritual da humanidade.
Logo depois, Alfred Adler, discordando do mestre, iniciou as investigações nos conflitos da inferioridade humana, que culminaram na Psicologia individual e, com a cooperação de Karen Horney, formaram a Escola Neo-Freudiana.
Horney, ademais, discrepou das diferenças da psicologia de mulheres e de homens, afirmada por Freud e demonstrou que as mesmas resultam mais de fenômenos sociais e culturais do que da biologia.
Relativamente, ao mesmo tempo, Carl Gustav Jung afirmou que a libido, essa energia psíquica extraordinária, representa todas as forças da vida e não somente aquelas de natureza sexual. Procurou analisar as marcas antigas impressas no inconsciente e adotou a doutrina dos arquétipos, propiciando vida exuberante a todos aqueles que se encontram em conflitos desnorteantes.
Cada época da humanidade é assinalada pelas circunstâncias psicologicamente castradoras que respondem por enfermidades somatizadas perversas.
A ciência atual e a tecnologia de ponta proporcionam uma visão quase ilimitada sobre a existência do ser humano e enseja-lhe uma gama de informações que se multiplicam a cada momento, atormentando a cultura hodierna.
O conhecimento rápido e extremamente volumoso quão variado, não tem sido digerido de forma adequada e eis que surgem inquietadores a insatisfação, a frustração, ao lado do medo, da incerteza, do vazio existencial.
Vive-se a época do ter e do poder, do exibir-se e do desfrutar, sem a consequência da harmonia interior e do enriquecimento espiritual.
A aparência substitui a realidade e o importante não é o ser interior, porém o ego exaltado, que provoca inveja e competição no palco da ilusão.
De certo modo, foram perdidos o sentido existencial, o objetivo da vida, o foco transcendente da autorrealização. Em consequência, aumentam as patologias do comportamento e o banquete dos mascarados toma aspecto sombrio quando o álcool, a drogadição e o sexo desvairado passam a enlouquecer os grupos em depressão...
O avanço na direção do abismo na queda pelo suicídio, o abandono de si mesmo ou a violência desgovernada passam a ser a realidade indiscutível do processo de evolução social.
Tudo isso, como decorrência do vazio existencial que se apodera do indivíduo, porque não encontra apoio no sentimento de amor que vem desaparecendo a pouco e pouco do seu desenvolvimento moral.
*
A ambição pelas coisas de imediato significado tem substituído os valores realmente legítimos da emoção, quais sejam: a prece, a meditação, a solidariedade e o afeto.
Torna-se urgente o impositivo de uma alteração de conduta, buscando-se novos focos de interesse existencial, tais como: a conquista da paz, do trabalho de beneficência, da imortalidade.
O ser humano, graças ao seu instinto gregário, necessita de outrem, que contribui com recursos grandiosos, especialmente na área emocional da afetividade para a identificação de realizações em prol do progresso e do equilíbrio social, econômico, moral e ético.
A fraternidade, substituída pelo individualismo deve ceder o seu direcionamento para o conjunto, o todo, a convivência geral, incluindo a Natureza.
O desrespeito às forças vivas do Universo trabalha a favor da destruição do ser humano mais cedo ou tarde.
É imperioso que se trabalhe através da educação, por todos os meios ao alcance, em favor de objetivos sérios e bem estruturados para a existência.
Uma vida sem um sentido bem delineado, estimulador e doador de energias, torna-se apenas um fenômeno vegetativo que deve ser alterado para a dinâmica da autoconscientização.
Todos anelam e mantêm o desejo de liberdade, que somente adquire significado quando acompanhada pela responsabilidade em relação ao comportamento vivenciado, para que se não converta em libertinagem, conforme sucede neste momento em toda parte da civilização.
Esse desregramento, a leviandade com que são tratadas as questões de alto significado, quando atingem o fundo do poço, abrem espaço para governos arbitrários e cruéis que crucificam os países e os mantém sob injunções penosas, degradantes.
Desse modo, uma revisão de conceito em torno do existir é fundamental para preencher-se o íntimo de estímulos, mediante labores significativos e que produzam desafios contínuos.
Assim, o amor ao próximo, como decorrência do autoamor, faz-se terapia preventiva e curadora para quaisquer existências vazias, que se consomem na angústia, em sofrimentos indescritíveis.
Buscando-se a compreensão do sentido existencial que não se constitui de divertimentos ou fanfarronices, constata-se que os ideais do Bem são impostergáveis e ao entregar-se à sua conquista, mediante relacionamentos edificantes, nos quais a fraternidade se responsabilize pela construção do dever, consegue-se a vitória íntima.
Repentinamente, assim procedendo, cada qual que se dedique ao amor, à amizade sem jaça, descobrirá que essa é a meta a ser alcançada e o serviço de auxílio recíproco é o objetivo a que todos se devem dedicar.
A sociedade moderna tem necessidade de compreender que se renasce no corpo carnal para que seja alcançada a plenitude e não exclusivamente para as necessidades inferiores, as biológicas, conforme os estudos de Maslow em muito boa elaborada reflexão.
Assim sendo, a educação da libido freudiana, a superação do conflito de inferioridade adleriano, a compreensão profunda das neuroses, conforme Horney e a iluminação da sombra junguiana, ressurgem no conceito kardequiano, quando afirma que Fora da caridade não há salvação.
Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco,
na sessão mediúnica da noite de 5 de setembro de 2018,
no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
Em 13.5.2019.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Bendize


Bendize

A Divindade dotou-te de tesouros inapreciáveis, que ainda não te permitiste valorizar em suas profundas significações, tão naturais se te apresentam no dia a dia existencial.

Dons e recursos no instrumento orgânico de que dispões constituem bênçãos de elevada significação que deves aproveitar com esmero, a fim de lograres êxito no empreendimento enobrecedor da tua reencarnação.

Pequenas ocorrências existenciais desagradáveis muitas vezes aturdem-te e levam-te a inquietações e transtornos que não se justificam, mas a que te entregas facilmente.

Se os utilizares, no entanto, com equilíbrio, serás compensado no esforço com lucros extraordinários que te seguirão por todo o período carnal, lançando bases de segurança para o futuro.

Observa modesta raiz de uma planta que penetra o solo pútrido e dele retira perfume na flor e alimento no fruto.

Que extraordinário Químico esse que desenvolveu o primeiro programa vegetar, presente em todo o globo, nas mais variadas expressões, seja no pantanal ou na aridez de terras desérticas.

Examina em ti o milagre da digestão, por exemplo, e não poderás negar a sabedoria dAquele que elaborou o delicado aparelho digestivo,a fim de manter a harmonia entre bilhões de indivíduos – as células – operando em conjunto em favor das substâncias nutrientes.

Reflexiona um pouco na extraordinária função do pensamento que é captado pelos neurônios e transformado na exuberância da arte, da Ciência, dos encantos e maravilhas do Universo.

Pensa como todo esse manancial sanguíneo se renova e autorreproduz-se em vitalidade num circuito especializado.

Considera a bomba cardíaca pulsando sem cessar, graças a uma fagulha elétrica inicial, a fim de que a corrente sanguínea atenda a finalidade que mantém a vida orgânica.

Tudo que consigas examinar produz admiração e surpresa, desafiando a inteligência para que compreenda o milagre da vida.

Quando harmônico ou distônico provém da tua conduta mental, que se faz imprimir no corpo sutil, o perispírito, que aciona mecanismos energéticos, eletromagnéticos e vitais para que pulsem incontáveis órgãos.

Nenhum incidente, ocorrência alguma tem lugar por ação do acaso, por automatismo da Natureza.
Os que assim denominam os fenômenos da vida apenas alteram a denominação da Inteligência Suprema e Causal do Cosmo.
Há uma Lei de Causa e Efeito que responde por todas interrogações que a mente elaborou.
Deus é o Artista gerador da Vida.
Bendize-O em todos os momentos através de ações saudáveis e de pensamentos edificantes.
Dele vieste e para Ele, com o sentimento e o conhecimento ampliados, retornarás.
*
É certo que não consegues tudo quanto anelas, não atinges o alvo ao qual te direcionas, não fruis as alegrias a que aspiras...

Não te permitas, por isso, a rebeldia aparentemente justificável. Há razões poderosas que trabalharam para que assim ocorra, em razão da programação do teu futuro, que nem sequer imaginas.

Impede-te o desespero, em qualquer situação, especialmente quando ignores a causa do aparente insucesso de hoje, que se poderá transformar em bênção no futuro.

Sob determinado aspecto, estás recolhendo aquilo que mereces, semeado no ontem.

Outras vezes, há razões ponderáveis que postergaram os resultados opimos, porque ainda não tens condições para fruir aquilo a que aspiras. Tem paciência e permanece bendizendo a Vida que cuida da tua existência...

Por fim, esses aparentes insucessos constituem recursos preciosos para evitar amargas situações no futuro, que já não necessitas experienciar, portanto, a negativa de agora representa bênção para depois.

Não poucas vezes,o licor de hoje se torna o vinagre desagradável de amanhã, no entanto necessário e útil.

De igual maneira, para  o desencanto deste momento será o deslumbramento do futuro que alcançarás.

Leon Tolstoi, o grande escritor russo, narra um diálogo mantido quando conde e rico com um lavrador de sua propriedade, que era muito pobre.

Em síntese, o camponês buscou-o para pedir-lhe uma ajuda financeira, expressando a sua miséria.

Sabiamente o senhor respondeu-lhe:
-Dou-lhe a importância tal, desde que me permita amputar-lhe o braço direito.

Surpreso, o mujique respondeu-lhe:
-Senhor, o dinheiro será de muita utilidade, mas o meu braço direito é de importância capital.

O amo então lhe propôs aumentar o valor, desde que lhe pudesse amputar os dois braços, causando imediata negativa.

A pouco e pouco, ampliou o recurso, desde que ele anuísse em perder uma vista, as duas vistas... E a negativa era imediata.

Então, falou-lhe o conde:
-Não digas que és pobre e miserável porque todo aquele que possui valores que não troca nem vende por dinheiro algum é portador de uma fortuna que deve bendizer em todos os dias da sua existência.

Indispensável saber aplicar os valores inestimáveis com que a vida te honra e sempre bendizer a oportunidade de crescer e adquirir a sabedoria da paz.

Não te desencantes nem te entristeças nunca.

Aprende a transformar em sucesso aquilo que consideras fracasso somente porque não lograste o que almejavas.

A vida física é incomparável fortuna para o Espírito no seu processo de evolução. E um corpo, mesmo quando mutilado ou enfermiço, débil ou atormentado, é uma sublime dádiva dos Céus para a glória da imortalidade.

*

Diante dos valores de rápida permanência e aqueles que fazem parte da vida eterna, não vaciles quando os tiveres de eleger.

Bendize, desse modo, as tuas horas, dádivas e, se possível, reparte as tuas alegrias e valores morais e espirituais com outros que espiam com inveja ou com necessidade de uma parcela de amor.

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 16
de janeiro de 2019, no Centro Espírita Caminho da Redenção,
em Salvador, Bahia.
Em 21.6.2019.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Caso de consciência


Caso de consciência

Declara-se você, meu amigo, extremamente fatigado na luta pela vitória do bem e acrescenta em sua carta: “Que fazer, irmão X? Não aguento mais injúrias, incompreensões, sarcasmos, críticas... Só penso em retiro, sossego, e, à noite, quando consigo dormir, se sonho, a única coisa de que não me recordo é de uma rede de embalo, que passou a viver em minha memória, incessantemente.”
De fato, meu amigo, cansaço é sofrimento e dos maiores; no entanto, já que você nos pede opinião, rogo licença para narrar-lhe ocorrência ligeira no domínio das sombras.
Denodado legionário de obra salvacionista contou-nos que em tenebroso recanto da Espiritualidade Inferior, quase que numa cópia perfeita de antiga parábola, atribuída a Lutero, reuniu-se graduado empreiteiro do mal com diversos cooperadores.
Propunha-se a ouvi-los sobre alguma ideia nova, quanto a vampirizar os amigos encarnados na Terra. Encontro de quadrilheiros, como acontece, aliás, em muitos lugares do plano físico.
Exposto o objetivo da assembleia pelo diretor da crueldade organizada, anotou um dos assessores:
– No mês passado, açulei um cão hidrófobo contra dois seareiros do bem, que estudavam o Evangelho, e consegui que a morte os pusesse fora de ação...
– Trabalho inútil – enunciou o sombrio dirigente –, ambos, a estas horas, estarão, em espírito, apoiando obras de maior importância, na Terra mesmo. Terão saído da desencarnação com amparo dos Céus.
– Eu – confidenciou o segundo – entreteci uma rede de intrigas contra uma senhora, dedicada a Jesus, e tão eficientemente me conduzi, que o marido já a abandonou, arrancando-lhe os filhos...
– Esforço improdutivo – zombou o chefe. – Você nada mais fez que endeusar determinada mulher... Ela acabará vencendo pela abnegação...
– No meu setor – proclamou estranho assalariado da delinquência –, provoquei o ódio gratuito de um louco sobre um seguidor fiel do Cristo, que foi morto, na semana passada, por espessa carga de balas.
– De nada valeu – comunicou o mentor. – A vítima foi guindada à condição de mártir e, fora do corpo terrestre, se dedicará mais intensamente em favor da Humanidade...
– Quanto a mim – expressou-se outro cooperador –, logrei confundir todo um agrupamento de aprendizes da Boa Nova e, agora, cinco dos melhores elementos jazem afastados pela imposição da calúnia, urdida com segurança...
– Empreendimento frustrado – revidou o comandante –, os injuriados saberão aproveitar a oportunidade, a fim de trabalharem com Jesus, através do exemplo...
Silenciou a pequena junta, algo desencantada, quando um dos auxiliares acentuou com sorriso irônico:
– Chefe, parece mentira o que vou contar, mas, desde muito tempo, percebi que perseguição só serve para promover os perseguidos. Imaginei, assim, que o melhor meio de anular os colaboradores de Jesus é exagerar-lhes as pequeninas depressões e pô-los a dormir. Em seis meses, já coloquei oitenta servidores do Evangelho, fora de ação, em casas de repouso, leitos, redes e acolchoados... A receita não falha. A pessoa experimenta ligeiro abatimento e entro em cena com as nossas velhas hipnoses. O resultado é tiro e queda. Sono que não acaba mais. Desse modo, os melhores dessa gente do Cristo não mais trabalham, nem na Terra, nem nos Céus...
O maioral aplaudiu, freneticamente, o comunicado e dispensou a presença de todos os demais participantes do grupo, a fim de se entender mais profundamente com o sagaz companheiro.
Como é fácil de anotar, meu amigo, depressão é um problema.
Para rematar, digo a você que, há tempos, eu mesmo, pobre cronista desencarnado há bons trinta e cinco anos, também me senti, certa feita, sob enorme abatimento. Procurei, para logo, um orientador amigo, solicitando conselho. Ele me ouviu carinhosamente, bateu de leve nos meus ombros, e observou, afinal:
– Meu caro, se você sofre algum desgaste nas próprias forças, procure melhorar-se, refazer-se. Guarde, porém, muito cuidado com semelhante assunto.
A fadiga existe mesmo, entretanto é sempre um caso de consciência, porquanto, ao que saibamos, ninguém, até hoje, conseguiu verificar realmente onde termina o cansaço e começa a preguiça.

Irmão X

Do livro Relatos da Vida, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

A mensagem foi extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano13/625/correiomediunico.html




quinta-feira, 20 de junho de 2019

Por que pensar em suicídio?

Por que pensar em suicídio? 

Com frequência temos visto na imprensa notícia de suicídio de pessoas comuns, de artista, modelo, criança, jovens e idosos... Pessoas, ainda, que matam para depois se matarem. Qual a razão para uma atitude definitiva em relação a vida do corpo? 

O Evangelho, em Mateus 6:21, recita: “Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”   Podemos entender, onde estiver o seu interesse, aí também estará a sua emoção. O interesse é fruto da vontade, por consequência qualifica a emoção. Tanto a vontade como a emoção são departamentos da consciência, a consciência é atributo da Alma, esta como um “Iceberg”quando atrelada a um corpo de carne mostra parte pequena de um continente interior enorme, no entanto, age e reage com todos os valores que possui, aqueles adquiridos na presente existência, tanto quando recebe a influência do patrimônio acumulado em todas as existências anteriores. Certamente que os pontos fortes são imperativos.  

A composição do patrimônio da Alma precisa iniciar-se deste a mais tenra idade, com os valores nobres cultivados pelos pais e com os pais, a religiosidade desenvolvida dentro do lar, a capacidade de dialogar nas diversas fases da vida, de forma útil e educada, o desenvolvimento da capacidade de reflexão, a busca do autoconhecimento, modificando os ímpetos negativos, os pensamentos escapistas, o temor para o enfrentamento de dificuldades, o medo de aceitar frustrações e impedimentos que se apresentam, às vezes ilusoriamente. 

A impulsividade e a ação extremada perturbam o discernimento. Não permite tempo para a reflexão, deixa que um estado perturbador tome conta de sua razão, dando vazão cega a forças destrutivas, que como uma avalanche arrasa corpos e almas. 

Sendo a presente vida uma oportunidade nova para a criatura, a religiosidade implementada em primeiro lugar na infância exerce com grandeza ação como a de um escudo intelectual e moral diante das circunstâncias que se apresentam danosas à sua existência, dando-lhe o ensejo de discernir as consequências daquilo que se apresenta.  É a Alma utilizando ferramenta de aquisição recente para  melhor decisão, tem tempo para decidir se “devo ou não devo”, “convém ou não convém”, quais são os desdobramentos disto?  É o tempo da reflexão, quando se mede a responsabilidade da atitude que deverá ser tomada ou não. Pensa em si, pensa nos outros. É ação do amor a si mesmo e  ao próximo.  

A evangelização, a religiosidade pode ser buscada a qualquer idade, quando adulto o pretendente precisa de decisão forte, pois terá de vencer barreiras criadas por si mesmo, pela educação que recebeu, pelos preconceitos e hábitos que cultiva.  Agora não se trata de educação inicial, será preciso ressignificar os valores morais que detêm, quase sempre em dissonância com os princípios evangélicos, o que exigirá esforço para superar as emoções antagônicas ao estado existente no indivíduo; no entanto, assim é o sacrifício de salvação. Muitos pretenderão que as verdades oferecidas pelo Evangelho de Jesus se adequem às suas canhestras concepções e atendam e justifiquem os seus interesses mesquinhos. Terão que entender que é preciso investir-se de humildade e permitir-se encharcar das verdades divinizadoras oferecidas pelo Divino Mestre, sendo que estas permanecerão eternidade afora.  

Todos morreremos e se fosse somente isto, se fosse puramente essa a constatação estaria tudo resolvido, não seria justo sentir dores, nem física nem emocional, nem aflições, seria o caso de fazer com que a máquina carnal cessasse e tudo estaria resolvido. Assim é o pensamento materialista, muito pobre! O corpo não é a vida, é instrumento de manifestação da vida. Quem sofre não é o corpo é a Alma que detém a consciência.  Os sofrimentos, as dificuldades que passa são inerentes ao seu estado evolutivo, às suas experiências desastrosas de outras reencarnações.  Os erros que cometeu, os malefícios que engendrou, comportamentos inconsequentes, deslealdades, traições e outros refletem no presente, em conta a consciência comprometida, porque distanciada da harmonia com a Lei Divina.  É certo que algum bem a Alma realizou na trajetória de milênios; no entanto, o saldo negativo diante da contabilidade universal ainda é muito grande. Somos devedores inveterados, sendo que o bem que realizamos ainda não é suficiente para anular as consequências de ações danosas empreendidas no passado.  

O suicídio não resolve, na verdade agrava substancialmente a situação do indivíduo (sua consciência), é uma rebeldia, uma inconformação à Lei de Deus, um desamor consigo mesmo, um desrespeito com os que o amam (pai, mãe, filhos...).  Muita vez o fato desencadeador é de pequena monta, sem significado para quem detém um princípio de evangelização na sua alma, para aqueles sem interesse pela espiritualidade torna-se a faísca que dá início ao incêndio devastador, extinguindo o corpo.  Logo após, encontrará uma grande frustração, quando perceber que não morreu, que tudo está presente e mais vivo ainda, o agravamento da perturbação é inevitável, as dores exacerbam. Até quer dar passo atrás, retornar à vida do corpo, impossível, a porta se trancou definitivamente, restam as lágrimas, as lamentações... 

Um dia chegará o remorso, o arrependimento, o socorro, quanto tempo transcorreu, serão dias, anos, décadas, quem poderá avaliar, cada caso é um caso e depende do próprio padecente.  

Para dar melhor ideia sobre o suicídio, vamos acrescer uma entrevista com o Espírito de um suicida, que se encontra na obra O Céu e o Inferno, 2ª parte, capítulo V,  que compõe o conjunto das obras básicas da Doutrina Espírita, que foi publicada em 1865, por Allan Kardec, quando acrescenta outras informações sobre mortes violentas, como segue: 

O SUICIDA DA SAMARITANA 

A 7 de abril de 1858, pelas 7 horas da noite, um homem de cerca de 50 anos e decentemente trajado apresentou-se no estabelecimento da Samaritana, de Paris, e mandou que lhe preparassem um banho. Decorridas cerca de 2 horas, o criado de serviço, admirado pelo silêncio do freguês, resolveu entrar no seu gabinete, a fim de verificar o que ocorria. 
Deparou-se-lhe então um quadro horroroso: o infeliz degolara-se com uma navalha e todo o seu sangue misturava-se à água da banheira. E como a identidade do suicida não pôde ser averiguada, foi o cadáver removido para o necrotério. 
1. Evocação. (Resposta do guia do médium.) — Esperai, ele aí está. 
2. Onde vos achais hoje? — R. Não sei... dizei-mo. 
3. Estais numa reunião de pessoas que estudam o Espiritismo e que são benévolas para convosco. — R. Dizei-me se vivo, pois este ambiente me sufoca. 
“Sua alma, posto que separada do corpo, está ainda completamente imersa no que poderia chamar-se o turbilhão da matéria corporal; vivazes lhe são as ideias terrenas, a ponto de se acreditar encarnado.” 
4. Quem vos impeliu a vir aqui? — R. Sinto-me aliviado. 
5. Qual o motivo que vos arrastou ao suicídio? — R. Morto? 
Eu? Não... que habito o meu corpo... Não sabeis como sofro!... 
Sufoco-me... Oxalá que mão compassiva me aniquilasse de vez! 
6. Por que não deixastes indícios que pudessem tornar-vos reconhecível? — R. Estou abandonado; fugi ao sofrimento para entregar-me à tortura. 
7. Tendes ainda os mesmos motivos para ficar incógnito? 
— R. Sim; não revolvais com ferro candente a ferida que sangra. 
8. Podereis dar-nos o vosso nome, idade, profissão e domicílio?  
— R. Absolutamente não. 
9. Tínheis família, mulher, filhos? — R. Era um desprezado, ninguém me amava. 
10. E que fizestes para ser assim repudiado? — R. Quantos o são como eu!... Um homem pode viver abandonado no seio da família, quando ninguém o preza. 
11. No momento de vos suicidardes não experimentastes qualquer hesitação? — R. Ansiava pela morte... Esperava repousar. 
12. Como é que a ideia do futuro não vos fez renunciar a um tal projeto? — R. Não acreditava nele, absolutamente. 
Era um desiludido. O futuro é a esperança. 
13. Que reflexões vos ocorreram ao sentirdes a extinção da vida? — R. Não refleti, senti... Mas a vida não se me extinguiu... minha alma está ligada ao corpo... Sinto os vermes a corroerem-me. 
14. Que sensação experimentastes no momento decisivo da morte? — R. Pois ela se completou? 
15. Foi doloroso o momento em que a vida se vos extinguiu? 
— R. Menos doloroso que depois. Só o corpo sofreu. 
16. (Ao Espírito S. Luís.) — Que quer dizer o Espírito afirmando que o momento da morte foi menos doloroso que depois? — R. O Espírito descarregou o fardo que o oprimia; ele ressentia a volúpia da dor.  (Para ampliar entendimento, acrescentamos: O Espírito percebia o reflexo da dor) 
17. Tal estado sobrevém sempre ao suicídio? — R. Sim. O Espírito do suicida fica ligado ao corpo até o termo dessa vida. A morte natural é a libertação da vida: o suicídio a rompe por completo. 
18. Dar-se-á o mesmo nas mortes acidentais, embora involuntárias, mas que abreviam a existência? — R. Não. 
Que entendeis por suicídio? O Espírito só responde pelos seus atos.” 

Esclarecimentos de Allan Kardec: 
Esta dúvida da morte é muito comum nas pessoas recentemente desencarnadas, e principalmente naquelas que, durante a vida, não elevam a alma acima da matéria. É um fenômeno que parece singular à primeira vista, mas que se explica naturalmente. 
Se a um indivíduo, pela primeira vez sonambulizado, perguntarmos se dorme, ele responderá quase sempre que não, e essa resposta é lógica: o interlocutor é que faz mal a pergunta, servindo-se de um termo impróprio. Na linguagem comum, a ideia do sono prende-se à suspensão de todas as faculdades sensitivas; ora, o sonâmbulo que pensa, que vê e sente, que tem consciência da sua liberdade, não se crê adormecido, e de fato não dorme, na acepção vulgar do vocábulo. Eis a razão por que responde não, até que se familiariza com essa maneira de apreender o fato. O mesmo acontece com o homem que acaba de desencarnar; para ele a morte era o aniquilamento do ser, e, tal como o sonâmbulo, ele vê, sente e fala, e assim não se considera morto, e isto afirmando até que adquira a intuição do seu novo estado. Essa ilusão é sempre mais ou menos dolorosa, uma vez que nunca é completa e dá ao Espírito uma tal ou qual ansiedade. No exemplo supra ela constitui verdadeiro suplício pela sensação dos vermes que corroem o corpo, sem falarmos da sua duração, que deverá equivaler ao tempo de vida abreviada. Este estado é comum nos suicidas, posto que nem sempre se apresente em idênticas condições, variando de duração e intensidade conforme as circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta. A sensação dos vermes e da decomposição do corpo não é privativa dos suicidas: sobrevém igualmente aos que viveram mais da matéria que do espírito. Em tese, não há falta isenta de penalidades, mas também não há regra absoluta e uniforme nos meios de punição.”

Observação:  grafamos na cor verde o que é argumentação de Allan Kardec e azul o diálogo entre Allan Kardec e o Espírito S. Luís”.    São Luís foi o mentor de Allan Kardec. 

No capítulo V da Obra acima citada existem mais oito casos analisados de suicídios, onde fica bem caracterizado as dificuldades para o Espírito nessa condição, mostrando porque esse ato extremo é um grande erro, que somente a ignorância sobre a vida espiritual pode levar uma pessoa a tal fatalidade, que ainda trará a necessidade de resgate e provação nas vidas futuras, sofrendo todos os percalços que desse ato derivar. 

Por que pensar em suicídio? Seria buscar o desespero, a dor, o comprometimento com a restauração demorada da consciência em várias existências, causando sofrimentos aos que amam, ingratidão que também precisa ser recomposta junto aos que sofrerem em consequência do ato extremado. 

Suicídio nunca!


                                                           Dorival da Silva