Coronavírus (Covid-19)
Estamos
em quarentena por conta de um ser minúsculo, que não bate em nossa porta, mas
entra, não pede licença e não se apresenta, apenas toma conta e nos submete
impiedosamente se formos idosos, se temos alguma deficiência cardíaca,
pulmonar ou uma fraqueza imunológica, não há comiseração, arrasa. Na sua voragem
também abala crianças, jovens e adultos saudáveis.
As
informações vindas através da imprensa são importantes e ajudam a salvar muitas
vidas, no entanto, os excessos também causam o seu mal, são um martelamento
insistente, como uma tortura globalizada, oferecendo perturbação de etiologias
diversas.
Para
as pessoas que não têm um nível de entendimento mais amplo da vida, aquele
transcendente dos limites da vida no corpo, que têm plena consciência que o seu
instrumento de carne é finito em qualquer circunstância, porque a sua morte
independe de doença, esta ou aquela, pode se dar a qualquer momento, mas que se
trata apenas da morte do equipamento e não de si mesmo, o sofrimento, o pavor, a angústia, a apreensão, o desespero e a ideia de solidão são insuportáveis.
Temos
o dever de conservar o equipamento carnal que possuímos, sob todos os aspectos,
arregimentando meios e recursos, colaborando com quem tem menos força ou
conhecimento; preocupar-nos com os nossos familiares, é natural, pois, quem ama
cuida, são as responsabilidades de um para com o outro, trata-se da
solidariedade que é lei que rege os indivíduos e os mundos.
Há
um movimento mundial que altera o modo de vida das sociedades, dos mais
diferentes comportamentos, obrigando o retorno para casa, ficar aquartelado, ao mesmo tempo que prevenindo-se contra um inimigo que não se vê, com risco iminente,
sem prever de que direção surgirá, e se surgirá, no entanto, com o tempo
disponível para pensar, principalmente em si mesmo, pois não adianta pensar em
nenhuma outra coisa material, que por hora não servirá de nada, não importando
que valor tem, ou para que servia até ontem.
O
pensar em si mesmo não elimina o pensar nos outros, pois, eles podem trazer o
vírus que não vemos, mas também podemos levar o micróbio devastador, tal como
os demais, sem sabermos que estamos contaminados, sendo contaminadores.
Precisamos
pensar, é hora do exercício de uma educação diferente, cuidar do próximo
indistintamente, cuidando-se.
A doença provocada pelo Covid-19 tem sua gradação desde o pequeno incômodo até o
desfecho com a morte do padecente. Nesse périplo, deixa um rastro de sofrimento que
se irradia. Por onde passa e se estaciona, deixa disseminados miasmas atormentadores.
A
escola, o comércio, o shopping, o
templo, a festa, o ajuntamento de gente estão suspensos, agora somos nós, dois ou três de nossas casas, ou sozinhos, que mais nos resta? A fé? Qual fé? Publicação de frases e textos
bonitos? Rezas inumeráveis? O que, verdadeiramente, nos consola,
encoraja, dá alento e esperança no momento em que tudo ao redor está suspenso?
Existe
uma ferramenta, a mais importante do ser humano, que é o pensamento, pouco
conhecido dos indivíduos, embora sem ele não existiríamos. Esse atributo da alma
é capaz de percorrer todos os pontos do Universo e através dele se fala com
Deus, com Jesus, com os Santos, com os Espíritos de Escol, com qualquer nome
que queiram denominá-los.
Não
se faz necessário que estejamos num templo, igreja, centro espírita, isso não
importa, sendo que estamos chegando num momento em que o templo, a igreja, a
casa espírita precisará transladar-se para o nosso coração, onde alcemos ao
Criador a partir de nossa vontade através do pensamento que como um raio
contata as forças superiores diretamente.
É o momento do reencontro.
Estar
num corpo ou sem ele não importa, quem pensa é o Espírito, não é o corpo, a
vontade é do Espírito, e o que permanece para sempre é o Espírito; então, é uma
questão de entendimento.
Jesus
Cristo, na sua passagem pelo Mundo, deixou essas questões enunciadas:
·
Respondendo a
Pilatos: “O meu reino não é deste mundo; se o meu
reino fosse deste mundo, certo que os meus ministros haviam de pelejar para que
eu não fosse entregue aos judeus; mas por agora o meu reino não é daqui.” (João,
cap. XVIII, 33-37)
O reino de Jesus é o do Espírito, a conquista é moral,
não precisa de peleja como no mundo da matéria, portanto, o corpo material
nesse reino não terá nenhuma importância.
·
“Há muitas moradas na
casa de meu Pai. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos
o lugar. (...).” (João, cap. XIV: 1/3)
“A Casa do Pai é o
Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito,
oferecendo aos Espíritos desencarnados estações apropriadas ao seu
adiantamento.”
“Independentemente da
diversidade dos mundos, essas palavras podem também ser interpretadas pelo
estado feliz ou infeliz dos Espíritos na erraticidade¹.”
(Evangelho Segundo o Espiritismo,
capítulo III, 1 e 2)
·
“E havia um homem
dentre os Fariseus, por nome Nicodemos, senador dos Judeus. Este, uma noite,
veio buscar a Jesus, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és mestre, vindo da parte
de Deus, porque ninguém pode fazer estes milagres, que tu fazes, se Deus não
estiver com ele. Jesus respondeu e lhe disse: Na verdade, na verdade te digo
que não pode ver o Reino de Deus, senão aquele que renascer de novo. Nicodemos
lhe disse: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode entrar no ventre de sua mãe e
nascer outra vez? (...)” (João,
cap. III: 1:12)
Neste ponto Jesus anota para os habitantes da Terra o
ensinamento sobre a reencarnação², que mais tarde com a Doutrina Espírita
estendeu explicação modificando grandemente a relação entre a vida do plano
material e espiritual.
¹) Erraticidade [do francês erraticité] - Estado dos Espíritos
desencarnados, durante os intervalos de suas existências corporais. Deixando o
corpo físico, a alma reentra no Mundo dos Espíritos, permanecendo um lapso de
tempo mais ou menos longo na situação de Espírito errante, até retomar uma nova
existência material.
²) Reencarnação [do latim re + incarnatione] - 1. Retorno do
Espírito à vida corpórea, em um novo corpo especialmente formado para ele. É
progressiva ou estacionária, nunca é retrógrada. 2. Uma das personalidades do
Espírito dentro da pluralidade das suas existências.
www.portalkardec.com.br/Livros/Dicionario%20Espirita.htm
A pandemia
do Coronavírus que está sufocando o Mundo neste momento, demonstra uma grande
virtude, está conseguindo fazer o homem moderno, cheio de conhecimentos e de
tecnologias, olhar para o mais essencial para todos os seres humanos: a vida,
aquela que permanecerá.
Até
agora a multidão da era moderna teve os seus olhares voltados para o que está
fora ao seu redor ou até mesmo distante no Mundo, ou, ainda, fora dele. Com o
aparecimento do vírus atormentador desses dias, os indivíduos de todas as
classes sociais, raças, credos e continentes estão voltando para casa,
preocupados com o que é de maior importância, a sua vida, o que corresponde à
vida de seu corpo, instrumento de sua manifestação nessa sociedade da Terra.
Certamente,
o ser humano iniciará uma viagem introspectiva com avaliação de si mesmo,
buscando uma razão maior para os seus dias, entendendo que a sua existência é a
eternidade.
O
nosso corpo de carne é um companheiro que deixaremos pelo caminho, como tantos
outros que ficaram, para que espiritualmente pudéssemos chegar até o presente estágio
evolutivo.
A
Lei de Progresso através de algo tão pequeno e invisível nos faz meditar sobre
a nossa própria insignificância diante de uma infinidade de coisas que nem
fazemos ideia.
Por
que tanto orgulho e egoísmo?
Tenhamos
coragem. Que Deus e Jesus nos abençoem.
Dorival da Silva