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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita 3



O HOMEM DURANTE A VIDA TERRENA

116. Como e em que momento se opera a união da alma ao corpo?
Desde a concepção, o Espírito, ainda que errante, está, por um cordão fluídico, preso ao corpo com o qual se deve unir. Este laço se estreita cada vez mais, à medida que o corpo se vai desenvolvendo. Desde esse momento, o Espírito sente uma perturbação que cresce sempre; ao aproximar-se do nascimento, ocasião em que ela se torna completa, o Espírito perde a consciência de si e não recobra as ideias senão gradualmente, a partir do momento em que a criança começa a respirar; a união então é completa e definitiva.
117. Qual o estado intelectual da alma da criança no momento de nascer?
Seu estado intelectual e moral é o que tinha antes da união ao corpo, isto é, a alma possui todas as ideias anteriormente adquiridas; mas, em razão da perturbação que acompanha a mudança de estado, suas ideias se acham momentaneamente em estado latente. Elas se vão esclarecendo aos poucos, mas não se podem manifestar senão proporcionalmente ao desenvolvimento dos órgãos.
118. Qual a origem das ideias inatas, das disposições precoces, das aptidões instintivas para uma arte ou ciência, abstração feita da instrução?
As ideias inatas não podem ter senão duas fontes: a criação das almas mais perfeitas umas que as outras, no caso de serem criadas ao mesmo tempo que o corpo, ou um progresso por elas adquirido anteriormente à encarnação. Sendo a primeira hipótese incompatível com a justiça de Deus, só fica de pé a segunda.
As ideias inatas são o resultado dos conhecimentos adquiridos nas existências anteriores, são ideias que se conservaram no estado de intuição, para servirem de base à aquisição de outras novas.
119. Como se podem revelar gênios nas classes da sociedade inteiramente privadas de cultura intelectual?
É um fato que prova serem as ideias inatas independentes do meio em que o homem foi educado. O ambiente e a educação desenvolvem as ideias inatas, mas não no-las podem dar. O homem de gênio é a encarnação de um Espírito adiantado que muito houvera já progredido. A educação pode fornecer a instrução que falta, mas não o gênio, quando este não exista.
120. Por que encontramos crianças instintivamente boas em um meio perverso, apesar dos maus exemplos que colhem, ao passo que outras são instintivamente viciosas em um meio bom, apesar dos bons conselhos que recebem?
É o resultado do progresso moral adquirido, como as ideias inatas são o resultado do progresso intelectual.
121. Por que de dois filhos do mesmo pai, educados nas mesmas condições, um é às vezes inteligente e o outro estúpido, um bom e o outro mau? Por que o filho de um homem de gênio é, algumas vezes, um tolo, e o de um tolo, um homem de gênio?
É um fato esse que vem em abono da origem das ideias inatas; prova, além disso, que a alma do filho não procede, de sorte alguma, da dos pais; se assim não fosse, em virtude do axioma que a parte é da mesma natureza que o todo, os pais transmitiriam aos filhos as suas qualidades e defeitos próprios, como lhes transmitem o princípio das qualidades corporais. Na geração, somente o corpo procede do corpo, mas as almas são independentes umas das outras.
122. Se as almas são independentes umas das outras, donde vem o amor dos pais pelos filhos e o destes por aqueles?
Os Espíritos se ligam por simpatia, e o nascimento em tal ou tal família não é um efeito do acaso, mas depende muitas vezes da escolha feita pelo Espírito, que vem juntar-se àqueles a quem amou no mundo espiritual ou em suas precedentes existências. Por outro lado, os pais têm por missão ajudar o progresso dos Espíritos que encarnam como seus filhos, e, para excitá-los a isso, Deus lhes inspira uma afeição mútua; muitos, porém, faltam a essa missão, sendo por isso punidos. (O Livro dos Espíritos, no 379, “Da Infância”.)
123. Por que há maus pais e maus filhos?
São Espíritos que não se ligaram na mesma família por simpatia, mas com o fim de servirem de instrumentos de provas uns aos outros e, muitas vezes, para punição do que foram em existência anterior; a um é dado um mau filho, porque também ele o foi; a outro, um mau pai, pelo mesmo motivo, a fim de que sofram a pena de talião. (Revue Spirite, 1861, pág. 270: “La Peine du talion”.)
124. Por que encontramos em certas pessoas, nascidas em condição servil, instintos de dignidade e grandeza, enquanto outras, nascidas nas classes superiores, só apresentam instintos de baixeza?
É uma reminiscência intuitiva da posição social que o Espírito já ocupou, e do seu caráter na existência precedente.
125. Qual a causa das simpatias e antipatias que se manifestam entre pessoas que se veem pela primeira vez?
São quase sempre entes que se conheceram e, algumas vezes, se amaram em uma existência anterior, e que, encontrando-se nesta, são atraídos um para o outro. As antipatias instintivas provêm também, muitas vezes, de relações anteriores.
Esses dois sentimentos podem ainda ter uma outra causa. O perispírito irradia ao redor do corpo, formando uma espécie de atmosfera impregnada das qualidades boas ou más do Espírito encarnado. Duas pessoas que se encontram, experimentam, pelo contato desses fluidos, a impressão sensitiva, impressão que pode ser agradável ou desagradável; os fluidos tendem a confundir-se ou a repelir-se, segundo sua natureza semelhante ou dessemelhante. É assim que se pode explicar o fenômeno da transmissão de pensamento. Pelo contato desses fluidos, duas almas, de algum modo, leem uma na outra; elas se adivinham e compreendem, sem se falarem.
126. Por que não conserva o homem a lembrança de suas anteriores existências? Não será ela necessária ao seu progresso futuro?
(Vede a parte que trata do Esquecimento do passado, pág. 141.)
127. Qual a origem do sentimento a que chamamos consciência?
É uma recordação intuitiva do progresso feito nas precedentes existências e das resoluções tomadas pelo Espírito antes de encarnar, resoluções que ele, muitas vezes, esquece como homem.
128. Tem o homem o livre-arbítrio, ou está sujeito à fatalidade?
Se a conduta do homem fosse sujeita à fatalidade, não haveria para ele nem responsabilidade do mal, nem mérito do bem que pratica. Toda punição seria uma injustiça, toda recompensa um contrassenso. O livre-arbítrio do homem é uma consequência da justiça de Deus, é o atributo que a divindade imprime àquele e o eleva acima de todas as outras criaturas.
É isto tão real que a estima dos homens, uns pelos outros, baseia-se na admissão desse livre-arbítrio; quem, por uma enfermidade, loucura, embriaguez ou idiotismo, perde acidentalmente essa faculdade, é lastimado ou desprezado.
O materialista que faz todas as faculdades morais e intelectuais dependerem do organismo, reduz o homem ao estado de máquina, sem livre-arbítrio e, por consequência, sem responsabilidade do mal e sem mérito do bem que pratica. (Revue Spirite, 1861, pág. 76: “La tête de Garibaldi”. — Idem, 1862, pág. 97: “Phrénologie spiritualiste”.)
129. Será Deus o criador do mal?
Deus não criou o mal; Ele estabeleceu leis, e estas são sempre boas, porque Ele é soberanamente bom; aquele que as observasse fielmente, seria perfeitamente feliz; porém, os Espíritos, tendo seu livre-arbítrio, nem sempre as observam, e é dessa infração que provém o mal.
130. O homem já nasce bom ou mau?
É preciso fazermos uma distinção entre a alma e o homem. A alma é criada simples e ignorante, isto é, nem boa nem má, porém suscetível, em razão do seu livre-arbítrio, de seguir o bom ou o mau caminho, ou, por outra, de observar ou infringir as leis de Deus. O homem nasce bom ou mau, segundo seja ele a encarnação de um Espírito adiantado ou atrasado.
131. Qual a origem do bem e do mal na Terra e por que este predomina?
A imperfeição dos Espíritos que aqui se encarnam, é a origem do mal na Terra; quanto à predominância deste, provém da inferioridade do planeta, cujos habitantes são, na maioria, Espíritos inferiores ou que pouco têm progredido. Em mundos mais adiantados, onde só encarnam Espíritos depurados, o mal não existe ou está em minoria.
132. Qual a causa dos males que afligem a humanidade?
O nosso mundo pode ser considerado, ao mesmo tempo, como escola de Espíritos pouco adiantados e cárcere de Espíritos criminosos. Os males da nossa humanidade são a consequência da inferioridade moral da maioria dos Espíritos que a formam. Pelo contato de seus vícios, eles se infelicitam reciprocamente e punem-se uns aos outros.
133. Por que vemos tantas vezes o mau prosperar, enquanto o homem de bem vive em aflição?
Para aquele cujo pensamento não transpõe as raias da vida presente, para quem a acredita única, isto deve parecer clamorosa injustiça. Não se dá, porém, o mesmo com quem admite a pluralidade das existências e pensa na brevidade de cada uma delas, em relação à eternidade.
O estudo do Espiritismo prova que a prosperidade do mau tem terríveis consequências em suas seguintes existências; que as aflições do homem de bem são, pelo contrário, seguidas de uma felicidade, tanto maior e duradoura, quanto mais resignadamente ele soube suportá-las; não lhe será mais que um dia mau em uma existência próspera.
134. Por que nascem alguns na indigência e outros na opulência? Por que vemos tantas pessoas nascerem cegas, surdas, mudas ou afetadas de moléstias incuráveis, enquanto outras possuem todas as vantagens físicas? Será um efeito do acaso, ou um ato da Providência?
Se fosse do acaso, a Providência não existiria. Admitida, porém, a Providência, perguntamos como se conciliam esses fatos com a sua bondade e justiça? É por falta de compreensão da causa de tais males que muitos se arrojam a acusar Deus.
Compreende-se que quem se torna miserável ou enfermo, por suas imprudências ou por excessos, seja punido por onde pecou: porém, se a alma é criada ao mesmo tempo que o corpo, que fez ela para merecer tais aflições, desde o seu nascimento, ou para ficar isenta delas?
Se admitimos a justiça de Deus, não podemos deixar de admitir que esse efeito tem uma causa; e se esta causa não se encontra na vida presente, deve achar-se antes desta, porque em todas as coisas a causa deve preceder ao efeito; há, pois, necessidade de a alma já ter vivido, para que possa merecer uma expiação.
Os estudos espíritas nos mostram, de fato, que mais de um homem, nascido na miséria, foi rico e considerado em uma existência anterior, na qual fez mau uso da fortuna que Deus o encarregara de gerir; que mais de um, nascido na abjeção, foi anteriormente orgulhoso e prepotente, abusou do poder para oprimir os fracos. Esses estudos no-los fazem ver, muitas vezes, sujeitos àqueles a quem trataram com dureza, entregues aos maus-tratos e à humilhação a que submeteram os outros.
Nem sempre uma vida penosa é expiação; muitas vezes é prova escolhida pelo Espírito, que vê um meio de avançar mais rapidamente, conforme a coragem com que saiba suportá-la.
A riqueza é também uma prova, mas muito mais perigosa que a miséria, pelas tentações que dá e pelos abusos que enseja; também o exemplo dos que viveram, demonstra ser ela uma prova em que a vitória é mais difícil. A diferença das posições sociais seria a maior das injustiças — quando não seja o resultado da conduta atual — se ela não tivesse uma compensação. A convicção que dessa verdade adquirimos, pelo Espiritismo, nos dá força para suportarmos as vicissitudes da vida e aceitarmos a nossa sorte, sem invejar a dos outros.
135. Por que há homens idiotas e imbecis?
A posição dos idiotas e dos imbecis seria a menos conciliável com a justiça de Deus, na hipótese da unicidade da existência. Por miserável que seja a condição em que o homem nasça, ele poderá sair dela por sua inteligência e trabalho; o idiota e o imbecil, porém, são votados, desde o nascimento até a morte, ao embrutecimento e ao desprezo; para eles não há compensação possível. Por que foi, então, sua alma criada idiota?
Os estudos espíritas, feitos acerca dos imbecis e idiotas, provam que suas almas são tão inteligentes como as dos outros homens; que essa enfermidade é uma expiação infligida a Espíritos que abusaram da inteligência, e sofrem cruelmente por se sentirem presos, em laços que não podem quebrar, e pelo desprezo de que se veem objeto, quando, talvez, tenham sido tão considerados em encarnação precedente. (Revue Spirite, 1860, pág. 173: “L’Esprit d’un idiot”. Idem, 1861, pág. 311: “Les crétins”.)
136. Qual o estado da alma durante o sono?
No sono é só o corpo que repousa, mas o Espírito não dorme. As observações práticas provam que, nessas condições, o Espírito goza de toda a liberdade e da plenitude das suas faculdades; aproveita-se do repouso do corpo, dos momentos em que este lhe dispensa a presença, para agir separadamente e ir aonde quer. Durante a vida, qualquer que seja a distância a que se transporte, o Espírito fica sempre preso ao corpo por um cordão fluídico, que serve para chamá-lo, quando a sua presença se torna necessária. Só a morte rompe esse laço.
137. Qual a causa dos sonhos?
Os sonhos são o resultado da liberdade do Espírito durante o sono; às vezes, são a recordação dos lugares e das pessoas que o Espírito viu ou visitou nesse estado. (O Livro dos Espíritos: “Emancipação da alma, sono, sonhos, sonambulismo, vista dupla, letargia”, etc., nº 400 e seguintes. — O Livro dos Médiuns: “Evocação das pessoas vivas”, no 284. — Revue Spirite, 1860, pág. 11: “L’Esprit d’un côté et le corps de l’autre”. — Idem, 1860, pág. 81: “Étude sur l’Esprit des personnes vivantes”.)
138. Donde vêm os pressentimentos?
São recordações vagas e intuitivas do que o Espírito aprendeu em seus momentos de liberdade e algumas vezes avisos ocultos dados por Espíritos benévolos.
139. Por que há na Terra selvagens e homens civilizados?
Sem a preexistência da alma, esta questão é insolúvel, a menos que admitamos tenha Deus criado almas selvagens e almas civilizadas, o que seria a negação da sua justiça. Além disso, a razão recusa admitir que, depois da morte, a alma do selvagem fique perpetuamente em estado de inferioridade, bem como se ache na mesma elevação que a do homem esclarecido.
Admitindo para as almas um mesmo ponto de partida — única doutrina compatível com a justiça de Deus —, a presença simultânea da selvageria e da civilização, na Terra, é um fato material que prova o progresso que uns já fizeram e que os outros têm de fazer.
A alma do selvagem atingirá, pois, com o tempo, o mesmo grau da alma esclarecida; mas, como todos os dias morrem selvagens, essa alma não pode atingir esse grau senão em encarnações sucessivas, cada vez mais aperfeiçoadas e apropriadas ao seu adiantamento, seguindo todos os graus intermediários a esses dois extremos.
140. Não será admissível, segundo pensam algumas pessoas, que a alma, não encarnando mais que uma vez, faça o seu progresso no estado de Espírito ou em outras esferas?
Esta proposição seria admissível, se todos os habitantes da Terra se achassem no mesmo nível moral e intelectual; caso em que se poderia dizer ser a Terra destinada a determinado grau; ora, quantas vezes temos diante de nós a prova do contrário!
Com efeito, não é compreensível que o selvagem não pudesse conseguir civilizar-se aqui na Terra, quando vemos almas mais adiantadas encarnadas ao lado dele; do que resulta a possibilidade da pluralidade das existências terrenas, demonstrada por exemplos que temos à vista.
Se fosse de outro modo, era preciso explicar: 1º, por que só a Terra teria o monopólio das encarnações; 2º, por que, tendo esse monopólio, nela se apresentam almas encarnadas de todos os graus.
141. Por que, no meio das sociedades civilizadas, se mostram seres de ferocidade comparável à dos mais bárbaros selvagens?
São Espíritos muito inferiores, saídos das raças bárbaras, que experimentam reencarnar em meio que não é o seu, e onde estão deslocados, como estaria um rústico colocado de repente numa cidade adiantada.
OBSERVAÇÃO — Não é possível admitir-se, sem negar a Deus os atributos de bondade e justiça, que a alma do criminoso endurecido tenha, na vida atual, o mesmo ponto de partida que a de um homem cheio de virtudes.
Se a alma não é anterior ao corpo, a do criminoso e a do homem de bem são tão novas uma como a outra; por que razão, então, uma delas é boa e a outra má?
142. Donde vem o caráter distintivo dos povos?
São Espíritos que têm mais ou menos os mesmos gostos e inclinações, que encarnam em um meio simpático e, muitas vezes, no mesmo meio em que podem satisfazer as suas inclinações.
143. Como progridem e como degeneram os povos? Se a alma é criada juntamente com o corpo, as dos homens de hoje são tão novas, tão primitivas, como a dos homens da Idade Média, e, desde então, pergunta-se por que têm elas costumes mais brandos e inteligência mais desenvolvida? Se na morte do corpo a alma deixa definitivamente a Terra, pergunta-se, ainda, qual seria o fruto do trabalho feito para melhoramento de um povo, se este tivesse de ser recomeçado com as almas novas que diariamente chegam?
Os Espíritos encarnam em um meio simpático e em relação com o grau do seu adiantamento. Um chinês, por exemplo, que progredisse suficientemente e não encontrasse mais na sua raça um meio correspondente ao grau que atingiu, encarnará entre um povo mais adiantado. À medida que uma geração dá um passo para frente, atrai por simpatia Espíritos mais avançados, os quais são, talvez, os mesmos que já haviam vivido no mesmo país e que, por seu progresso, dele se tinham afastado; é assim que, passo a passo, uma nação avança. Se a maioria dos seus novos habitantes fosse de natureza inferior e os antigos emigrassem diariamente e não mais descessem a um meio inferior, o povo acabaria por degenerar, e, afinal, por extinguir-se.
OBSERVAÇÃO — Essas questões provocam outras que encontram solução no mesmo princípio; por exemplo, donde vem a diversidade de raças, na Terra? — Há raças rebeldes ao progresso? — A raça negra é suscetível de subir ao nível das raças européias? — A escravidão é útil ao progresso das raças inferiores? — Como se pode operar a transformação da Humanidade? — (O Livro dos Espíritos: “Lei de progresso”, nos 776 e seguintes. — Revue Spirite, 1862, pág. 1: “Doctrine des anges déchus”. — Idem, 1862, pág. 97: “Perfectibilité de la race nègre”.)

- continua na próxima semana - 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Vida inextinguível


Vida inextinguível

O objetivo essencial da existência humana é a conquista da plenitude. Mediante continuado esforço, o Espírito desenvolve as aptidões que se lhe encontram em latência, de modo que se conheça a si mesmo, enriquecendo-se de instrumentação para os enfrentamentos naturais no processo evolutivo.

Atravessando as experiências do instinto ao longo do tempo, passa a compreender as emoções que acompanham as sensações, libertando-se das amarras dos automatismos orgânicos para a administração saudável dos sentimentos.

Envolto na tecelagem complexa da matéria, trabalha-a, a fim de bem conduzir o carro orgânico enquanto aspira às delícias da imortalidade.

Etapa a etapa, deve aprimorar-se, sublimando as paixões primitivas e transformando-as em beleza e alegria indispensáveis ao êxito do empreendimento.

Reencarnando-se por necessidade de crescimento íntimo, dá sentido à existência física, aformoseando o planeta e a existência em esforço contínuo e enriquecedor.

O conhecimento do sentido de viver favorece-o com a lucidez para superar as tendências primárias, que permanecem em largo período agrilhoando-o ao passado.

Essas injunções, às vezes, penosas, impulsionam-no à autoiluminação, de modo que se operem as transformações morais no íntimo para a vitória sobre a ignorância, a dor, o desequilíbrio.

É todo um processo de crescimento, no qual todas as conquistas de enobrecimento ampliam-lhe os horizontes para a espiritualização.

Impulsos e reações dos instintos básicos que lhe serviram de suporte para vencer as fases iniciais, são transformados em métodos seguros para as experiências libertadoras através das quais o sentido existencial supera todos os outros.

Autor dos conhecimentos que defronta, cabe-lhe recuperar-se, agindo corretamente, de modo que a paz que deflui da consciência dignificada constitua-lhe a razão primordial da jornada evolutiva.

Enquanto a ignorância das Divinas Leis predomina, o ser permanece mergulhado no primarismo, necessitado do buril do sofrimento para romper o envoltório grosseiro que abafa as aspirações e impede-lhe a ruptura de dentro para fora, mediante o conhecimento da verdade.

A dor, desse modo, é instrumento do Bem para despertar todos aqueles que se encontram submetidos ao sono do desconhecimento.

Bendize, pois, esses fatores-sofrimento que te induzem à reflexão e ao encontro da liberdade.

*
Nasceste ou renasceste para morrer no momento quando concluíres o trâmite carnal. Isso é inevitável, pois que é fatalidade da vida.

O fenômeno da morte é parte fundamental do programa da existência.

Tudo que nasce tem o seu período próprio de existir no invólucro material, para logo depois experimentar a consumpção orgânica através da desencarnação.

Em razão da afetividade e da imensa necessidade de união e de comunhão de uns Espíritos com os outros, a morte representa uma dor moral quase que insuperável.

Embora todos os seres humanos tenham conhecimento de que acontecerá em momento determinado, quando ocorre em algum lar, também despedaça os sentimentos daqueles que permanecerão na roupagem física.

Importante considerar como despertará esse viajante de retorno ao Grande Lar, quando terá que contabilizar os resultados da experiência vivenciada.

Por outro lado, aqueles que lhe perderam a presença padecem a dor da ausência material, da convivência abençoada dos sonhos e anelos programados para o que se denomina como felicidade.

A morte, em consequência, é detestada; no entanto, é a grande libertadora, porque propicia o encontro com a paz, desencarcerando o ser da prisão sem grades das doenças degenerativas, daquelas incuráveis e de muitas situações penosas.

A certeza de que o reencontro é inevitável, porque o amor jamais separa aqueles que se vinculam, constitui um bálsamo, uma esperança anunciada para depois.

A imortalidade é a expressão da sábia misericórdia de Deus, propiciando vida exuberante, quando o corpo de constituição transitória consome-se.

Não te desesperes ante a morte do ser amado. Ele vive e logo readquire a lucidez, passado o período de ajustamento, volve a visitar-te, a estar contigo, inspirando-te nas injunções da carne.

Por tua vez, envolve-o em lembranças afetuosas e gratulatórias que eles captam e sentem-se bem pelas evocações amadas.

Não te permitas revoltar ou sucumbir pela dor da sua viagem. Se as lágrimas da saudade visitarem-te, verte-as com ternura e amor, e eles se sentirão queridos, também emocionados.

Em situação nenhuma te permitas a rebeldia, considerando que também desencarnarás.

Vive de tal forma que, ao chegar o teu momento de retorno, exultantes, os seres queridos que te anteciparam venham receber-te cantando um hino de alegria inefável, homenageando-te.

Como jamais te esqueceram, no Além-túmulo trabalham para a continuação da afetividade, preparando-te o lar, novas realizações que ignoras, de forma que vivas o banquete de luz e de paz que está prometido a todos aqueles que são fiéis ao Bem e à Verdade.

*

À dor da separação do Mestre Jesus na crucificação, aqueles que O amavam reativaram as alegrias ante a Sua ressurreição luminosa.

Aquela madrugada de bênçãos foi a resposta de Deus à tarde-noite de sombras e morte.

Tem paciência quando desencarne um ser querido, considerando os júbilos que te tomarão oportunamente, por ocasião do reencontro, quando fores recebido por quem agora choras...


Joanna de Ângelis.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite
de 2 de setembro de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, 
em Salvador, Bahia.
Em 28.12.2015.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A Ciência em Kardec - Parte 2 e final

NUBOR ORLANDO FACURE                                              
lfacure@uol.com.br                                            
Campinas, SP ( Brasil)

Nubor Orlando Facure

A Ciência em
Kardec
Parte 2 e final

 

Percepção da dor e visão

Nós já sabemos desde o século passado quais são os neurônios envolvidos na percepção da dor e das imagens visuais. O neurologista conhece todo o trajeto percorrido pela sensação de uma espetada na pele e que provoca dor. A mesma coisa para os objetos registrados pela retina e que o cérebro codifica em imagem. O que nós já sabemos, também, é que todo esse trajeto de vias nervosas representa apenas uma pequena percentagem nos dois fenômenos, a percepção de dor e a visão dos objetos.
Nos dois casos, o mais importante é o processo mental que interpreta a dor e que dá significado às imagens. Dizem os neurologistas que esse fenômeno mental depende de uma série de fatores. A maneira como expressamos a nossa dor e damos significado ao que estamos vendo está fortemente ligada à nossa cultura, à personalidade, às experiências anteriores, às memórias, ao ambiente. Na verdade, tanto a dor como a visão são processos mentais interpretativos, ou, como dizem neurologistas mais liberais, tudo não passa de “uma opinião pessoal”.
É surpreendente o que podemos aprender n´O Livro dos Espíritos, que nos ensina como esses dois fenômenos afetam o espírito: “A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa”. “A dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo... porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores” (O Livro dos Espíritos, pergunta 257).
Quanto à visão (perguntas 245, 246 e 247), “ela reside em todo ele. Veem por si mesmos, sem precisarem de luz exterior. Como o Espírito se transporta aonde queira, com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parte ao mesmo tempo”.
A Neurologia deverá confirmar no futuro essas duas informações que Kardec nos legou para estudo. Precisará, inicialmente, considerar a mente como sinônimo de alma. 
O tempo 
Na teoria mecanicista de Newton, o tempo era considerado uma grandeza absoluta, caso contrário, os cálculos que mediam as distâncias entre os planetas dariam errados. Einstein, entretanto, perverteu essa relação, propôs a relatividade do tempo, aumentando a precisão dessas medidas.
Independente das proposições científicas, os filósofos sempre conjeturaram sobre a natureza do tempo. Henri Bergson deu-nos a afirmação poética de que “o Tempo da consciência não é o mesmo Tempo da Ciência”. Para o senso comum, todos nós já constatamos que o passar do tempo é circunstancial. Basta esperar o ano para os alunos da escola, os meses para a mulher grávida, os dias para quem paga o aluguel, as horas para quem marcou um encontro, os minutos para o trem passar e os milésimos de segundos para a Fórmula 1.
A Neurologia vê a noção de tempo como uma experiência nitidamente mental, ocupando diversas áreas do cérebro ao mesmo tempo.
Kardec recebeu dos Espíritos a informação de que “o tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias; a eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo, nem fim: tudo é presente” (A Gênese, cap. VI, item 2). Precisamos destacar esta afirmação de consequências e complexidade extraordinárias: para o Espírito tudo é presente. 
As propriedades da matéria 
Em O Livro dos Espíritos (perguntas 29 a 34) ficamos sabendo sobre a existência de um só elemento primitivo que dá origem a todas as propriedades da matéria. Estando presos à realidade material do nosso mundo, conseguimos identificar as propriedades químicas e físicas da matéria grosseira que compõe nossa dimensão física. Entretanto, o elemento primitivo (fluido cósmico), que se expande por todo universo, tem propriedades especiais que ainda não conhecemos e que dão à matéria a capacidade de experimentar todas as modificações e adquirir todas as propriedades. Dizem então os Espíritos “que tudo está em tudo”.
Só assim poderemos entender as expressões extraordinárias dos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos, quando as leis de ponderabilidade são pervertidas. Uma pedra, tão sólida como a conhecemos, pode atravessar um telhado e se acomodar dentro de um armário fechado. São essas mudanças nas propriedades da matéria que o fluido cósmico realiza e que a Ciência ainda não conhece, por ignorar os princípios de sua atuação.
Ainda não temos alcance, também, para compreendermos a extensão da ligação espiritual que esse fluido universal permite à matéria submeter-se ao pensamento de Deus. Em A Gênese (capítulo II) dizem os Espíritos que “cada átomo desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude”. “A natureza inteira está mergulhada no fluido divino.” 
O pensamento criativo e as ideias fixas 
O imaterialismo de Berkeley (Donald George Berkeley, filósofo irlandês, 1685-1753) propunha que o “existir não é mais do que ser percebido”. “A matéria só existe quando percebida.” “As percepções visuais não são de coisas externas, mas simplesmente ideias na mente.” Sócrates afirmava que “as coisas existem em virtude de como as percebemos”. Em O Livro dos Espíritos (pergunta 32) os Espíritos ensinam que as qualidades dos corpos (“os sabores, os odores, as cores, as qualidades venenosas ou salutares”) só existem devido à disposição dos órgãos destinados a percebê-las. É bem assim que a Neurologia de hoje compreende a percepção que fazemos de um objeto que atinge nossos sentidos.
Propostas da atualidade estão afirmando que a matéria só se manifesta como interação mental. Entretanto, os neurologistas ainda não conseguem compreender a natureza da criação mental, a não ser quando um comportamento expressa uma resposta a um estímulo sensorial. O pensamento intuitivo ou o pensamento abstrato estão longe de qualquer experimento laboratorial.
Na doutrina espírita aprendemos que o pensamento procede do Espírito, fonte de energia criadora que usa o cérebro como instrumento de suas ideias.
No campo do pensamento os Espíritos acrescentaram conhecimento inédito e tão extraordinário que até hoje a Ciência sequer tem instrumentos para estudá-lo. Dizem os Espíritos que o pensamento atua sobre o fluido universal criando nele “imagens fluídicas”, o pensamento se reflete no nosso envoltório perispirítico, como num espelho, e aí de certo modo se fotografa.
“Esse fluido (perispirítico) não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido” (A Gênese, capítulo II, item 23).
Daí a gravidade de nos escravizar a pensamentos persistentes que nos aprisionam; a desejos que nos perturbam; a vinganças que não se justificam; a ódios que não se apagam; a paixões que nos desequilibram; a projetos que não temos alcance. São todas elas “ideias fixas” que se “materializam” em nossa esfera mental, criando “ideias-formas”, “imagens fluídicas”, “miasmas mentais” que justificam as inúmeras expressões de neuroses e psicoses comuns na psicopatologia humana. 
Vitalismo 
Para Cláudio Galeno, médico do século II, existiriam forças de atração e repulsão para manterem os órgãos em funcionamento. Para ele, a vida seria mantida por um elemento imaterial denominado pneuma vital, situado no coração, difundindo-se pelo sangue existente nas veias. No cérebro, ele é transformado em pneuma animal, permitindo reagirmos aos estímulos dos sentidos e, no fígado, em pneuma natural com a propriedade de assimilar os alimentos. As teorias de Galeno foram aceitas por mais de 12 séculos.
No início do século XVI Georg Stahl reviveu o vitalismo defendendo a existência de uma “alma sensitiva” necessária para a manutenção da vida. Nessa ocasião Stahl sofreu uma ferrenha oposição das teorias mecanicistas defendidas principalmente por Frederich Hoffman. Excluindo a existência da alma, Hoffman via nos processos vitais apenas fenômenos de fermentação de substâncias e combustão de gases, explicando, assim, a digestão e a respiração.
A doutrina espírita revive com força o vitalismo. Ensina que existe um elemento imaterial que mantém a vida na matéria orgânica (O Livro dos Espíritos, perguntas 60 a 67) e, “sem falar do princípio inteligente, que é questão à parte, há na matéria orgânica um princípio especial, inapreensível e que ainda não pode ser definido: o princípio vital” (A Gênese, capítulo X, item 16). 

O sonambulismo 

Na atualidade o sonambulismo já não desperta o mesmo interesse e prestígio que desfrutava no tempo de Kardec. Tratados com casuística volumosa foram escritos por Ambrose-August Liébeaut, Abade Faria e Charles Richet. A escola de Charcot em Paris o acolhia como forma de terapia em suas pacientes histéricas.
Kardec dá notícia de ter estudado o sonambulismo em todas as suas fases durante 35 anos (O Livro dos Espíritos, Introdução). Nessa mesma obra ele escreve várias páginas fazendo um “resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da dupla vista”. Deixa claro que “para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno psicológico, é uma luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta se mostra a descoberto”.
Nesse resumo Kardec discorre sobre o sonambulismo natural e o magnético e destaca a clarividência como um atributo da alma, permitindo ao sonâmbulo ver em todos os lugares aonde sua alma possa transportar-se. Nessa visão a distância, “o sonâmbulo não vê as coisas de onde está o seu corpo, como por meio de um telescópio. Vê-as presentes, como se achasse no lugar onde elas existem, porque sua alma, em realidade, lá está” (O Livro dos Espíritos, questão 455). 

O sono e os sonhos 

Já conhecemos muito da fisiologia do sono. Ele ocorre em ritmos com determinados padrões que são identificados pelo eletroencefalograma. A idade, o sexo, o ambiente, a alimentação, a profissão são parte dos inúmeros fatores que interferem na quantidade e na qualidade do sono. Já sabemos quanto ele nos faz falta, mas ainda não podemos dizer tudo sobre o motivo por que realmente precisamos dormir. Os sonhos estão nitidamente ligados às experiências vividas no decorrer do dia, têm relação íntima com a aquisição de memórias, mas, também, desconhecemos o seu real significado.
Freud afirmava ter percebido que seus pacientes o procuravam não só para fazerem suas queixas, mas, também, para lhes relatar seus sonhos. Isso lhe despertou a ideia de que os sonhos teriam algum sentido oculto. Seu livro “A interpretação dos sonhos”, de 1900,  desencadeou a mais extraordinária revolução sobre a mente humana. Os sonhos revelam um conteúdo insuspeitado, já que sinalizam desejos contidos no inconsciente.
Platão em sua “República” antecipara-se a Freud ao afirmar que no sono a alma tenta retirar-se das influências externas e internas e que são expressos, nos sonhos, desejos que geralmente não se expressam no estado de vigília.
Kardec, em O Livro dos Espíritos inicia o capítulo sobre a Emancipação da Alma estudando o sono e os sonhos. Os Espíritos esclarecem que durante o sono a alma se vê liberta parcialmente do corpo e “entra em relação mais direta com os Espíritos”. Nessas circunstâncias pode a alma manter contato com Espíritos familiares que a orientam e aconselham e tomam conhecimento do seu passado e algumas vezes de seu futuro. Esse é um campo para futuras investigações que precisam ser desenvolvidas e confirmadas no meio espírita. 
Tributo necessário 
Abordamos catorze tópicos de interesse científico relevante extraídos de duas obras básicas da codificação espírita. Após um século e meio algumas das suas afirmações aguardam aprovação da Ciência oficial, enquanto outras estão se confirmando gradativamente. De algum tempo para cá, o meio espírita vem-se dedicando mais sistematicamente ao estudo do Espiritismo como ciência, aliado ao seu conteúdo filosófico e às suas consequências morais. Só assim conseguiremos que a Ciência humana registre o nome de Allan Kardec como um de seus grandes vultos. É um tributo que precisamos prestar-lhe pelo legado científico que ele nos deixou.
 
Nubor Orlando Facure é médico neurocirurgião e diretor do Instituto do Cérebro de Campinas-SP. Ex-professor catedrático de Neurocirurgia na Unicamp (Universidade de Campinas), é escritor e expositor espírita.

O texto foi extraído da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano7/337/especial.html