Vigiar e Orar, a que propósito?
Cada
indivíduo é um mundo em particular, que carrega no seu arcabouço íntimo um
patrimônio gigantesco que acumulou nos milênios e milênios transcorridos para a
sua formação. Sempre registrou em si mesmo todas as experiências que se deram
conscientemente ou não, viveu-se muitas eras quase que como ser autômato, sem
lucidez, até que a consciência começou a aparecer dando-lhe autonomia, que
crescia lentamente.
No
tempo que se corre, o homem avançou em inteligência e desenvolveu o estado
moral, apesar deste se encontrar num estágio longe do ideal. Sendo a condição
moral desenvolvida objeto primacial da existência na vida física. Existindo uma
demora excessiva para se alcançar esse ideal, porque exige muito esforço para
essa conquista. Grande parte dos indivíduos pensa alcançar a paz e a felicidade
permanentes no mundo exterior com viagens extraordinárias, usos extravagantes e
gastos exorbitantes com fantasias.
No seio
do patrimônio extraordinário de cada um existem registros de vivências
descabidas para os dias atuais, que quando se deram ofereceram satisfação
pessoal, poder, ganhos de riquezas, evidência... Geralmente satisfazendo em muito o estado
egoístico individual ou coletivo à época.
Conquanto não se lembre, está no mundo interior de cada pessoa a sua
experiência, refletindo na vida atual como pendor, como tendência.
Dessa
forma, vê-se no mundo exterior com maior interesse o que ressoa na intimidade,
no entanto, fixa-se na vantagem, satisfação, e outros sentimentos que poderão
advir de tal ou tal ação, não necessariamente favorável ao aprimoramento moral,
pois é a antecipação da busca de reviver àquilo que já usufruiu em algum tempo,
que está registrado no mundo interior de cada indivíduo.
Aí se
encontra a necessidade de vigiar, não vigiar o que está ao redor, o que nos
chega de fora, mas vigiar o que surge da intimidade, desejos nem sempre claros,
apesar de indicar um rumo para satisfazê-los. Grande parte deles instigados
pelo movimento, cor, palavra, perfume, som, gesto, etc., observáveis em
qualquer parte. Em conta disso, preciso é se conhecer, acautelar-se, aprender a
meditar sobre os fatos e suas consequências correspondentes aos desejos surgidos
da intimidade.
Ao
mesmo tempo vem a oração, elemento essencial para o discernimento nos momentos decisivos
da vida. Com a oração eleva-se a frequência vibratória da alma, alcançando
faixa de pensamento acima do habitual, comungando com ideias mais claras que
favorecem a lucidez, permitindo maior capacidade moral para contrariar as
ideias surgidas que em grande parte são prejudiciais e levarão a nova falência
moral, apresentando a repetição de desdobramento infeliz. Através da oração e a
elevação vibratória que se entra em contato com os “Seres Espirituais”, também
designados por Santos, Espíritos Superiores, conforme a designação religiosa,
favorecendo a inspiração de pensamentos novos e nobres que sobrelevam os que
estão engastados no mundo íntimo, fazendo que estes percam um pouco de sua
influência sobre as novas escolhas.
A dificuldade
na busca da melhoria moral reside naquilo que interessa muito, que precisa ser
interrompido ou abandonado, mas custa sentimentos, que precisam ser
contrariados e negados, e é ato voluntário, pois que tudo está em si mesmo. Aí
está a razão de vigiar para se saber do surgimento do próprio indivíduo daquilo
que se deve corrigir, porque não lhe convém; e a oração que proporciona a
lucidez e a força moral suficiente para vencer-se a resistência da própria
vontade surgida da profundidade da alma.
“Qual o meio prático mais
eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do
mal?”
“Um sábio da antiguidade vo-lo
disse: Conhece-te a ti mesmo.” 1
Dorival da Silva
1. 1. Questão
919 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.