quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Culpa, arrependimento e reparação sob a ótica espírita - I


Especial Inglês Espanhol
Ano 6 - N° 279 - 23 de Setembro de 2012

CLAUDIA GELERNTER
claudiagelernter@uol.com.br
Vinhedo, SP (Brasil)
 

Claudia Gelernter

Culpa, arrependimento e reparação sob a ótica espírita

Parte 1 

1002. O que deve fazer aquele que, no último momento, na hora da morte, reconhece as suas faltas, mas não tem tempo para repará-las? É suficiente arrepender-se, nesse caso?
“O arrependimento apressa a sua reabilitação, mas não o absolve. Não tem ele o futuro pela frente, que jamais se lhe fecha?” (O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.)
Jean-Jacques Rousseau, um dos grandes nomes do iluminismo, nasceu em Genebra, no ano de 1712. Não conheceu sua mãe, porque ela, devido a complicações do parto, veio a falecer dias após seu nascimento. Quando completou dez anos de idade, seu pai envolveu-se em uma discussão com pessoa importante da cidade e, com receio de represálias, fugiu, deixando o filho para ser educado por um tio. Segundo seus biógrafos, o fato de Rousseau não ter conhecido a mãe marcou-o profundamente.
Tornou-se, na vida adulta, compositor autodidata, teórico político, filósofo e escritor. Contribuiu amplamente para as grandes reformas ocorridas na América e na Europa, no século XIX, com seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, sendo ainda um dos colaboradores da famosa Enciclopedie, de Diderot e D´Alembert. Escreveu vários livros, influenciando diversas culturas e gerações. Foi um daqueles homens que não passam despercebidos, pois possuía conhecimentos bastante avançados para sua época – visões que romperam com os paradigmas vigentes, trazendo transformações importantíssimas para o panorama do mundo ocidental.
Um de seus escritos, de estrondoso sucesso, chama-se “Emílio, ou Da Educação”. Nesta obra, Rousseau cria um personagem fictício, de nome Emílio, e vai, no transcorrer de seus escritos, contando ao leitor qual a forma como ele educa este personagem. O objetivo de Emílio é “formar um homem livre; e o verdadeiro amor pelas crianças…”.  Hoje esta obra é vista não apenas como uma referência obrigatória para todos os educadores [pais, professores etc.], mas, acima de tudo, como uma lição de vida. Entretanto, Rousseau, esse mesmo homem, filósofo, escritor, teve cinco filhos. E os abandonou, a todos, em orfanatos.
No prefácio da obra mencionada, o tradutor assim comenta: “Como levar a sério um livro sobre a educação escrito por um homem que abandonou os cinco filhos que teve com Thérese Levasseur? Esta questão prévia, repetida pelos jovens leitores de ontem e de hoje, deve ser colocada, não para ser ela própria levada a sério, mas para que nos desvencilhemos dela de uma vez por todas. Rousseau é daqueles que acham que não há covardia pior do que o abandono dos filhos que se teve o prazer de fazer. Escreveu Rousseau em sua obra Emílio: ‘Um pai, quando gera e sustenta filhos, só realiza com isso um terço de sua tarefa. Ele deve homens à sua espécie, deve à sociedade homens sociáveis, deve cidadãos ao Estado. Todo homem que pode pagar essa dívida tríplice e não paga é culpado, e talvez ainda mais culpado quando só paga pela metade. Quem não pode cumprir os deveres de pai não tem direito de tornar-se pai. Não há pobreza, trabalho nem respeito humanos que os dispensem de sustentar seus filhos e de educá-los ele próprio. Leitores, podeis acreditar no que digo. Para quem quer que tenha entranhas e desdenhe tão santos deveres, prevejo que por muito tempo derramará por sua culpa lágrimas amargas e jamais se consolará disso’.” (Emílio, Livro 1.)
Rousseau influenciou sobremaneira pensadores
como Pestalozzi
 
Foi justamente por sentir-se culpado que Rousseau escreveu Emílio (de 1757 a 1762). Não podemos pretender que o livro não tenha nada para nos ensinar porque seu autor não o colocou em prática. Para isso, seria necessário inverter a cronologia e proibir a Rousseau toda a oportunidade de um arrependimento sincero que busca a reparação. Afirmou o autor de Emílio: “Não escrevo para desculpar meus erros, mas para impedir meus leitores de os imitar”.
Jean-Jacques influenciou sobremaneira alguns pensadores, tais como Johann Pestalozzi, fundador da escola de Yverdun, na Suíça, mestre de Allan Kardec. Portanto, podemos dizer que Rousseau é o avô espiritual de Kardec nas questões da educação. Levando-se em conta que o codificador da Doutrina Espírita [assim como Pestalozzi] era pedagogo, logo percebemos quanto a obra Emílio foi importante para todos os três e tantos outros. E se Rousseau influenciou sobremaneira Kardec, nós outros, daqui deste lado do planeta, 150 anos após Kardec, somos também influenciados por suas ideias fantásticas de educação através do amor e da liberdade.
Sabemos, ainda, através dos escritos do final da vida de Jean-Jacques Rousseau, que ele tentou resgatar todos os seus filhos dos orfanatos, mas não teve sucesso. Portanto, de seu arrependimento e expiação vemos surgir a busca pela reparação, se não diretamente aos prejudicados, através de todos aqueles que beberem nas fontes de suas ideias renovadoras e, por que não dizer, maravilhosas.
O escritor Catulo da Paixão Cearense, em seu poema “A Dor e a Alegria”, afirma que “a dor é como um relâmpago; no escuro assusta a gente, mas alumia os caminhos”. Rousseau aprendeu o verdadeiro sentido dessa frase 300 anos antes de ser pronunciada por Catulo.
Seguindo tal linha de pensamento, podemos afirmar que Rousseau não ficou estagnado no susto causado pela dor. Abriu os olhos, no momento em que ela clareava caminhos, e soube segui-los com coragem. Ainda bem.
Outra história, mais antiga que a de Rousseau, mas que inspira nossos corações sobremaneira, fala sobre uma mulher nascida em uma época difícil, na cidade de Magdala. Chamava-se Maria. Contam-nos alguns evangelistas que ela carregava em seu psiquismo a presença de sete demônios, tendo sido curada por Jesus. Hoje, através da Doutrina Espírita, aprendemos que tais ‘demônios’ eram, na verdade, Espíritos ainda ignorantes, voltados temporariamente ao mal.
Afastaram-se de Maria sob a imposição moral do Mestre, entretanto cabe-nos salientar que, se não voltaram a importuná-la, foi devido aos méritos que ela acumulou, através de sua reforma interior. 
Rousseau mostrou-se em muitos momentos um
protestante rebelado 
Humberto de Campos, no livro Boa Nova, conta-nos, de forma emocionante, a história do encontro entre Maria e Jesus. Ela, curvada pelo peso de sua culpa, carregando no íntimo muitas dores nascidas do remorso constante, abre seu coração atormentado. Jesus, o Grande Sábio, aponta novos caminhos: “Ame, Maria. Ame muito. Ame os filhos de outras mães... escolha a porta estreita...”.
Nada de acusações. Apenas um pedido: que amasse muito, sem nada esperar de volta. Foi o que fez.
Após a crucificação de Jesus, decidiu seguir os discípulos na divulgação da Boa Nova. Entretanto, aqueles homens, encharcados de preconceitos, negaram-lhe a companhia. Teve de ficar às margens do Tiberíades, em lágrimas, cheia de saudades e dor.
Foi quando viu chegarem à cidade diversos leprosos, em busca do Mestre. Não sabiam que Ele já não pertencia àquele mundo – queriam ouvir Sua voz, Seus ensinamentos e, quem sabe, conseguir a tão almejada cura.
Maria não hesitou. Buscou-os e, em todas as tardes, passou a divulgar os ensinamentos que houvera aprendido com o amigo nazareno. Em pouco tempo, porém, aquelas pessoas foram expulsas de Cafarnaum e ela, com o melhor sentimento de que dispunha, acompanhou-os para longe dali. Seguiu seus dias cuidando, diuturnamente, dos doentes, amparando-os, tentando minimizar suas dores, sua fome, sua tristeza. Depois de algum tempo percebeu manchas róseas em sua pele. Estava com hanseníase, também.
Sentindo que o final se abeirava, decidiu procurar pela mãe de Jesus, Maria, e por João, seus amigos diletos. Seguiu para Éfeso, mas não conseguiu adentrar a cidade, caindo pouco antes de sua entrada.
Logo após sua desencarnação, viu-se novamente às margens do mar da Galileia, encostada em uma grande árvore. Ao longe, aproxima-se Jesus, com os braços abertos, a dizer-lhe: “Maria, já passaste a porta estreita!... Amaste muito! Vem! Eu te espero aqui!”.
Duas histórias fantásticas, com pontos em comum: Rousseau e Maria saíram do processo de remorso, arrependeram-se verdadeiramente e optaram pela reparação. Outro ponto que devemos destacar é que ambos, embora dentro de culturas essencialmente religiosas [ela era judia e ele protestante] e preconceituosas, conseguiram libertar-se das amarras teológicas. Ela, porque bebeu nas fontes da Verdade, diretamente com Jesus. Recordemos que Ele afirmou: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”. (João, 8:32.) Foi o que ocorreu com Maria. Libertou-se do remorso e pôde seguir em frente.
Ele [Rousseau], porque rompeu com as amarras dos dogmas. Mostrou-se em muitos momentos um protestante rebelado, desconfiado das interpretações eclesiásticas sobre os Evangelhos. Dizia sempre: "Quantos homens entre mim e Deus!", o que atraía a ira tanto de católicos como de protestantes.  
A culpa no Ocidente – O capitalismo e a normose 
Na atualidade, enfrentamos muitos dilemas quando analisamos a questão da culpa.
Cada vez mais tomamos consciência de como as teorias individualistas ocidentais estão equivocadas (1) no que se refere à realidade do ser. Tanto através da lente espírita, como das ciências ditas humanas, temos tido contato com outra realidade: a de que pertencemos ao todo, influenciando e sendo influenciados, num mar de experiências, onde tudo se modifica, continuamente, através das relações. Não é possível explicar o ser em separado do meio onde ele atua. Não podemos deixar de considerar o tempo histórico e a cultura onde está inserido, sob risco de cometermos erros crassos, subtraindo influências importantes e, pior, não reconhecendo sua real essência neste meio.
Com isso, já percebemos a urgência de um olhar mais holístico, vislumbrando o sujeito com todas as suas faces. O ser como sendo um sujeito bio-psico-socio-espiritual, pois é o que somos, sendo que o Espírito, o ser imortal, criado simples e ignorante, com potencialidades de perfeição relativa e que vai, através de vidas sucessivas, evoluindo, é sua essência, o seu verdadeiro eu, com o qual atua no mundo, através de sua porção biológica, com mecanismos psicológicos característicos, dentro de uma sociedade, em determinada cultura e em determinado tempo histórico.
Quando ampliamos este nosso olhar, vamo-nos aproximando da realidade, e, com isso, podemos melhorar nosso entendimento, conseguindo, por consequência, refletir melhor sobre nossas ações e as implicações destas em nossas vidas e no meio onde atuamos.
Na cultura judaico-cristã, o medo dos fiéis alimentou, por séculos, o poder de alguns, através do mecanismo da culpa. Nesse contexto, já nascíamos culpados; afinal somos descendentes de um erro imperdoável: nossos ancestrais Adão e Eva que, num ato de muita insensatez (pela visão religiosa tradicional) abdicaram do maior presente de Deus – o paraíso na Terra – trocando-o pelo fruto da árvore da sabedoria. Somos culpados por desejarmos algo saber. Sendo assim, a ignorância seria o melhor remédio, aceitando dogmas irrevogáveis e, lógico, inquestionáveis. Talvez aí pudéssemos fazer as pazes com Deus, por determinado tempo, desde que ainda contribuíssemos com algo, de preferência de natureza material, pela ‘Causa de Deus na Terra’.
Mas a nossa história com a culpa não para por aí. Mulheres judias nascem impuras; afinal, menstruam e nem sequer podem orar como os homens nos templos. Depois do ano 234 d.C., quando se criou a instituição católica, a culpa continuaria presente. Homens deveriam lutar nas ‘guerras santas’, trazendo ouro para a igreja e diminuindo o número de ‘infiéis’, através da espada. Se assim fizessem, poderiam dormir com a consciência tranquila, pois estariam quites com Deus.  (Este artigo será concluído na próxima edição.)

(1)
 Segundo a ideia vigente na ideologia do capitalismo, o homem é um ser que ‘se faz sozinho’, podendo ascender ou fracassar, de acordo com sua vontade [ou falta dela]. Nesta forma de pensamento não são consideradas as influências do meio para estudo e entendimento do indivíduo; os fenômenos humanos poderiam ser estudados em separado do contexto onde este se desenvolveu. Na cultura norte-americana, o ‘self-made man’ (homem que se faz sozinho) é o símbolo maior desse tipo de pensamento, auxiliando, desta forma, a manutenção da ideologia em que estamos mergulhados.

Referências bibliográficas:
 
LELOUP: J. Y; WEILL, P.; CREMA, R. Normose: a patologia da normalidade. São Paulo, Thot, 1997.  
KARDEC, A. O Céu e o Inferno, Código da Vida Futura, p.94, Tradução de Manuel Justiniano Quintão, 42ª edição; FEB; Rio de Janeiro, 1998. 
O Livro dos Espíritos, 1ª edição comemorativa do sesquicentenário, Tradução de Evandro Noleto Bezerra, FEB, Rio de Janeiro, 2006. 
ROUSSEAU, J.J.; Emílio ou Da Educação; tradução Roberto Leal Ferreira, 3ª edição, São Paulo, Martins Fontes, 2004. 
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo, Martin Claret. 4ª edição, 2001. 
XAVIER, F.C.; Boa Nova, capítulo Maria de Magdala, pelo Espírito Humberto de Campos; FEB; 3ª edição, Rio de Janeiro, 2008

Mensagem retirada da Revista Eletrônica "O Consolador", no endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano6/279/especial.html

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

RETORNO AO EVANGELHO




...Eis que vos foi dito: “Amareis aqueles que vos amam e odiareis aqueles que vos odeiam. Eu porém vos digo: Amareis aqueles que vos odiarem”,  para que estejais perfeitamente integrados no espírito da solidariedade.

Meus filhos, o Evangelho de Jesus tem regime de urgência na intimidade dos nossos corações.

Este é o século da tecnologia de ponta, da ciência, na sua mais elevada postura, mas haverá de ser também o século do amor. Deveremos atrair o sentimento de amor para que ele produza a sabedoria em nosso ser.

Sereis muitas vezes hostilizados pela brandura de coração; sereis discriminados pela conduta rígida no cumprimento do dever; experimentareis ironia e descaso pela fidelidade a Jesus.

Crede, é transitório o carro carnal, e quando dele nos despojarmos a consciência irá conduzir-nos ao país do remorso ou ao continente das bem-aventuranças.

Vivei de tal forma que podereis olhar aqueles que vos criam embaraços nos olhos sem abaixardes as vossas vistas.

É necessário muita coragem para esse logro.

 Assevera-se que aquele indivíduo que é bom, que é humilde, é um covarde. É necessário, porém, muita coragem para ser-se bom. É indispensável muita energia para beber-se a taça da amargura, sem reprimenda, sem reclamação e transformá-la em licor que dê energia e vitalize a existência.

Não foi o acaso que vos convocou para o encontro desta hora em que a sociedade estorcega na impiedade, na loucura na sexolatria, na toxicomania.

 Sede vós pacíficos e pacificadores. Produzi em vossos lares o reino dos céus, construí-o no aconchego da alma que está ao lado da vossa alma, dos filhinhos que vos foram confiados, cuja conduta será consequência da educação que lhes administrardes, em forma de paz.

...E encontrareis a razão de viver nesse sentimento do amor pulcro e penetrante que irriga a vida de alegria, que ilumina as ansiedades com paz.

Filhas e filhos da alma: não desperdiceis o tempo que urge, e ele se chama agora. Não postergueis a vossa oportunidade de autoiluminação. Jesus já veio ter conosco. Hoje espera-nos e manda à Terra os Seus embaixadores para que nos levem de volta ao Seu doce aconchego e repita suavemente: - Vinde a mim, eu vos consolarei!

Ide de retorno aos vossos lares, mansos e pacíficos, porque será assim que se dará início à era da regeneração, que vem sendo trabalhada desde o dia em que a codificação chegou à Terra, quando o lobo e o cordeiro beberão na mesma fonte; quando os rosais colocarão as suas pétalas para dentro dos lares; quando as sombras forem clareadas pelas Estrelas luminíferas que fazem parte da divina coorte.

Amai! O amor redime a criatura humana. E depois, discípulos de Jesus, o Mestre nos espera.

Muita paz!

Que o Senhor de bênçãos vos abençoe!

São os votos do servidor humílimo e paternal,

 Bezerra.

(Mensagem recebida por psicofonia através do médium Divaldo Pereira Franco, no término da conferência proferida na Instituição Assistencial e Educacional Amélia Rodrigues em Santo André, SP, na noite de 29 de setembro de 2013..)


Clique aqui para ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/o-evangelho-segundo-o-espiritismo/retorno-ao-evangelho/#ixzz2gYxxE7H4

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A caridade material e a caridade moral



“Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos nos fizessem eles.” Toda a religião, toda a moral se acham encerradas nestes dois preceitos. Se fossem observados nesse mundo, todos seríeis felizes: não mais aí ódios, nem ressentimentos. Direi ainda: não mais pobreza, porquanto, do supérfluo da mesa de cada rico, muitos pobres se alimentariam e não mais veríeis, nos quarteirões sombrios onde habitei durante a minha última encarnação, pobres mulheres arrastando consigo miseráveis crianças a quem tudo faltava.

Ricos! pensai nisto um pouco. Auxiliai os infelizes o melhor que puderdes. Dai, para que Deus, um dia, vos retribua o bem que houverdes feito, para que tenhais, ao sairdes do vosso invólucro terreno, um cortejo de Espíritos agradecidos, a receber-vos no limiar de um mundo mais ditoso.

Se pudésseis saber da alegria que experimentei ao encontrar no Além aqueles a quem, na minha última existência, me fora dado servir! ...

Amai, portanto, o vosso próximo; amai-o como a vós mesmos, pois já sabeis, agora, que, repelindo um desgraçado, estareis, quiçá, afastando de vós um irmão, um pai, um amigo vosso de outrora. Se assim for, de que desespero não vos sentireis presa, ao reconhecê-lo no mundo dos Espíritos!

Desejo compreendais bem o que seja a caridade moral, que todos podem praticar, que nada custa, materialmente falando, porém, que é a mais difícil de exercer-se.

A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral.

Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra. Tende, porém, cuidado, principalmente em não tratar com desprezo o vosso semelhante.

Lembrai-vos de tudo o que já vos tenho dito: Tende presente sempre que, repelindo um pobre, talvez repilais um Espírito que vos foi caro e que, no momento, se encontra em posição inferior à vossa. Encontrei aqui um dos pobres da Terra, a quem, por felicidade, eu pudera auxiliar algumas vezes, e ao qual, a meu turno, tenho agora de implorar auxílio.


Lembrai-vos de que Jesus disse que todos somos irmãos e pensai sempre nisso, antes de repelirdes o leproso ou o mendigo. Adeus: pensai nos que sofrem e orai.”  – Irmã Rosália. (Paris, 1860.)

Mensagem extraída de O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XIII, item 9.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Espiritismo responde

O Espiritismo responde
Ano 7 - N° 329 - 15 de Setembro de 2013
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

BLOG
ESPIRITISMO SÉCULO XXI

 Mensagem extraída do endereço:

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Uma leitora diz-nos o seguinte: “Vamos supor que uma pessoa morre no seio de uma determinada família, onde foi pai, avô, irmão, marido, mulher, irmã... Anos depois, reencarna e volta em outro corpo e para outra família. Mas, a primeira família ainda existe. Se for evocado por alguém dessa primeira família, o Espírito pode aparecer com a aparência anterior, mesmo estando reencarnado e, portanto, com outra aparência?”

Pelo que entendemos, a resposta é sim.

Um exemplo disso é descrito no cap. 48 do livro “Nosso Lar”, em que D. Laura, em seus preparativos para uma nova reencarnação, recebe em visita o Espírito do seu esposo Ricardo. Ele estava reencarnado e era uma criança quando o fato se deu.

Eis como André Luiz descreveu esse encontro:
“Às derradeiras notas da bela composição, notei que o globo se cobria, interiormente, de substância leitoso-acinzentada, apresentando, logo em seguida, a figura simpática de um homem na idade madura. Era Ricardo.
Impossível descrever a sagrada emoção da família, dirigindo-lhe amorosas saudações.
O recém-chegado, após falar particularmente à companheira e aos filhos, fixou o olhar amigo em nós outros, pedindo fosse repetida a suave canção filial, que ouviu banhado em lágrimas. Quando se calaram as últimas notas, falou comovidamente:
– Oh! meus filhos, como é grande a bondade de Jesus, que nos aureolou o culto doméstico do Evangelho com as supremas alegrias desta noite! Nesta sala temos procurado, juntos, o caminho das esferas superiores; muitas vezes recebemos o pão espiritual da vida e é, ainda aqui, que nos reencontramos para o estímulo santo. Como sou feliz!
A senhora Laura chorava discretamente. Lísias e as irmãs tinham os olhos marejados de pranto. Percebi que o recém-chegado não falava com espontaneidade e não podia dispor de muito tempo entre nós.” 

*

O fato que descrevemos não é algo inusitado ou excepcional.
Conforme as experiências realizadas pelos cientistas franceses Pierre Janet, Pitres, Bourru e Burot, tudo o que vivenciamos deixa em nós um traço indelével e a subconsciência registra sempre os estados mentais e os associa indissoluvelmente aos estados fisiológicos contemporâneos.
Descobriu-se desse modo, graças às experiências de “regressão de memória”, que toda vez que a memória regride ao passado reproduzem-se o “estado psicológico” e também o “estado fisiológico” correspondentes.
Em obras escritas por André Luiz como por Manoel Philomeno de Miranda, é comum verificar que os desencarnados, quando se reúnem para resolver pendências pretéritas, assumem a personalidade da época revivida e retomam a aparência correspondente, tal como se deu com Ricardo, que, embora criança na existência atual, apareceu na casa de D. Laura com aparência de um homem na idade madura e falou aos seus filhos como o velho pai que eles conheceram no passado.

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A matéria acima, copiada da Revista Eletrônica "O Consolador", onde o confrade Astolfo apresenta resposta a questionamento que é comum entre as pessoas que fazem reflexão sobre a vida, a vida depois desta vida, sobre a reencarnação e a comunicação dos Espíritos, que podem estar no plano espiritual ou vivendo em um corpo físico, mesmo na condição de criança. Conforme Allan Kardec, "a Doutrina Espírita é uma ciência séria, para pessoas sérias". E como toda ciência exige estudo, não é diferente com a Doutrina Espírita, que oferece elementos para muito estudo, pois transcende os limites das coisas materiais. 

Dorival da Silva                       

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Influência Espiritual, Obsessão Simples, Fascinação, Subjugação e Possessão



                O admirável orador e estudioso espírita Doutor Alberto Almeida faz uma importante diferenciação entre a influência espiritual e a obsessão simples propriamente dita.

Segundo Doutor Alberto Almeida, a influência espiritual é o contato fluídico negativo ou a presença espiritual de entidade sofredora, perturbada e perturbadora, que ocorre com frequência em nosso dia-a-dia em contatos sociais e tarefas diárias. Tal influência básica costuma durar, por exemplo, 5, 6, ou 12 horas. É causada, por exemplo, por um encontro inesperado com um amigo que sofre algumas influências espirituais negativas e não está muito bem espiritualmente ou pela visita a uma banca de jornal que não está com uma psicosfera elevada. É possível, inclusive, sentir o impacto físico destas influências, através, por exemplo, de dores de cabeça e bocejos, entre outros sintomas, se tivermos um mínimo de sensibilidade mediúnica.

Desta forma, a influência mediúnica básica tende a ser mais facilmente controlada por todos aqueles que cultivam a oração, a leitura evangélica diária, o evangelho no lar, a frequência à casa espírita (ou a uma casa de oração que apresenta uma mensagem de significativo valor espiritual), etc. Os centros espíritas têm barreiras vibratórias, que são mais ou menos intensas e rigorosas em seu processo seletivo de Espíritos ingressantes, dependendo da qualidade espiritual e do mérito do trabalho espírita do grupo ali reunido. Assim, Espíritos que estão “acompanhando” companheiros que chegam para uma reunião pública no centro espírita, por exemplo, podem ser afastados, frequentemente, logo na chegada destes irmãos ao centro. E se, por qualquer motivo, for permitido que ele entre na casa para acompanhar a reunião, provavelmente será orientado e a influência será eliminada.

O caso da obsessão simples é mais complexo, pois seja pelos vícios em comum, pelo desejo de vingança ou pela afinidade vibratória, associados sempre a um vazio existencial e/ou monoideia, o Espírito já gerou um acoplamento perispírito-a-perispírito de alta intensidade de aderência fluídica, tornando-se difícil, portanto, de ser erradicado. Essa simbiose espiritual mais profundamente instalada, usualmente, requer um tratamento espiritual assíduo e bem mais longo do que uma, duas ou três reuniões, as quais, em alguns casos, são suficientes para a eliminação da influência espiritual básica. Na obsessão simples, muitas vezes faz-se necessário uma série de medidas, tais como o reconhecimento do problema, uma mudança consistente de atitudes morais, esforço diário no evangelho no lar, transformação moral de toda a família, entre outros.

A fascinação é quando o obsediado não se reconhece como tal. Acredita-se iluminado. Crê que suas ideias estão sempre corretas. Muitas vezes pensa que só ele está certo e que todos os outros estão completamente errados em variados assuntos. Está, usualmente, associada ao orgulho e/ou à vaidade de variadas nuances, com especial destaque para a vaidade intelectual, muitas vezes envolvendo a área religiosa. De fato, frequentemente, a fascinado admite que somente Espíritos de escol o influenciem. É um caso muito complicado para ser tratado, pois todos aqueles que tentam “abrir” os olhos do fascinado são considerados por este como pessoas ignorantes ou como os verdadeiros obsediados. Foi considerada por Allan Kardec como sendo mais difícil de ser tratada do que as mais graves subjugações, pois o fato de se reconhecer doente e necessitado de ajuda espiritual é fundamental para a resolução do problema. No caso do fascinado, ele se considera um gênio (portanto, muito mais inteligente do que os outros) e/ou grande missionário e/ou verdadeiro mentor espiritual encarnado. Não é trivial, portanto, identificar seus pontos negativos para tentar melhorá-los já que, para o fascinado, esses aspectos negativos não existem.

Os casos de subjugação constituem casos muito graves de obsessão, os quais frequentemente geram consequências físicas facilmente identificáveis. O domínio do Espírito obsessor sobre os pensamentos, sentimentos, falas e ações do obsediado é explícito e mesmo quem não tem conhecimento doutrinário pode admitir a hipótese de causa espiritual em função da extravagância dos fenômenos.  Tais casos podem gerar a chamada “transfiguração”, ou seja, uma mudança da expressão facial do encarnado (obsediado), tamanha é a intensidade do acoplamento perispírito-a-perispírito. O tratamento destes casos normalmente é muito lento e gradual exigindo grande paciência do enfermo, da família e dos trabalhadores da casa espírita.

Possessão foi uma palavra que Allan Kardec rejeitou no início da Codificação. Essa rejeição tinha dois motivos principais. O primeiro é que tal termo estava muito associado às crenças de possessão demoníaca e como o Espiritismo não aceita a existência do chamado “Demônio”, poderia ser um conceito muito deturpado e negativo, do ponto de vista didático, em relação ao objetivo de divulgação dos verdadeiros postulados doutrinários. O segundo é que Kardec considerava que nunca um Espírito poderia “possuir” totalmente o corpo de outra pessoa, por mais que a influenciasse intensamente. Desta forma, o termo novamente sugeria um significado diferente do que acontecia realmente. Entretanto, já nos últimos livros da Codificação, Kardec percebe que existiam alguns casos de subjugação tão graves, tão intensos, nos quais o Espírito encarnado (o “dono” do corpo) era quase que completamente deslocado do corpo (desdobramento parcial da consciência), que ficava sob um domínio de grandes proporções do(s) obsessor(es). Este tipo de obsessão impressionou de tal maneira o Codificador e, de certa forma, mostrou-se tão mais grave do que as subjugações (que já são muito graves!), que Allan Kardec passa a utilizar o termo para os casos mais intensos de subjugação, nos quais as consequências espirituais, perispirituais e físicas são extremamente nocivas para o obsediado. É claro que o tratamento destes enfermos é tarefa altamente complexa, requisitando grupos amadurecidos doutrinária e espiritualmente para que os mesmos consigam conduzir a bom termo tratamentos frequentemente de longo e longuíssimo prazo.

Leonardo Marmo Moreira

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Músicas nas Instituições Espíritas



Pergunta: O que você tem a dizer, à luz da fidelidade espírita, sobre o fato de músicas do contexto doutrinário católico e outros serem trazidas para o meio espírita?
Resposta: Eu tenho encontrado, nos últimos tempos, essa preocupação e me alegra, porque antes a gente engolia tudo sem nenhum questionamento. Felizmente, já existem pessoas questionando!...
Sempre que possível, mantenhamos as bases da nossa Doutrina.
Não há necessidade de adotarmos evocações de outras crenças para o Espiritismo. Há músicas que foram criadas no catolicismo, mas a mensagem é universal. Nenhum problema! Há músicas que são cantadas e foram criadas no ambiente protestante que igualmente são universais. Não têm nenhuma ideia catequética, doutrinária, mas há outras que têm! Trazem mensagens que não são da Doutrina Espírita. Portanto, sempre que possível incentivemos aos espíritas, principalmente aos jovens que componham as músicas, que façam as letras...
Estimulemos os torneios de jovens. Por exemplo: vamos estudar a reencarnação em nosso seminário com a juventude; e, numa segunda parte, abrimos uma atividade lúdica, ou seja: um grupo para fazer poesia sobre a reencarnação, outro para compor música temática sobre a reencarnação, outros vão criar peças teatrais com textos, esquetes, sobre reencarnação, para nós podermos mobilizar o poder criativo dos nossos jovens, das nossas crianças, dos nossos adultos. E aí aquele grupo que fez a letra se junta com a turma que fez a música, tenta encaixar... E no final da atividade nós vamos ter surpresas agradabilíssimas! Muita coisa boa sai daí... Nossos jovens cantarão a música e a letra que eles próprios produziram.
Há algum tempo, eu tive ensejo de ter contato espiritual com o Espírito Sebastião Lasneau, que desencarnou em 1969. Ele era de Barra do Piraí, no sul do Estado do Rio de Janeiro. Era um poeta de mão cheia! Repentista... Mas o Lasneau gostava muito de fazer paródias: ele pegava uma música conhecida e colocava uma letra evangélica numa composição dele.
Nesse contato espiritual,  nos disse o Benfeitor quanto tempo perdeu, quando podia ter incentivado a outros espíritas de sua época a compor e a fazer letras... Mas ele não teve essa habilidade. Achava bonita determinada música, colocava letra evangélica...
Só que quando cantamos uma paródia, a tendência é ficarmos nos lembrando da letra original.
Sebastião Lasneau tem uma paródia muito conhecida que ele fez com a música Recuerdos del YpacaraiContam que Jesus, certo dia, andou junto ao lago azul de Genesaré... Eu canto isso, desde o meu tempo de mocidade, mas estou no Paraguai! Eu estou vendo o lago azul de Ypacarai... Não tem jeito! As pessoas estão cantando uma coisa bonita, mas o inconsciente está buscando a letra original. Até porque, muitas vezes, a palavraespírita não dá a rima musical devida, e a original dava, então a gente muda para a original. Quer dizer: esse tipo de coisa deve-se evitar.
As músicas de hoje são muito sensuais.Coloca-se uma letra evangélica, mas a original nos remete a outras propostas... E estaremos derramando, no ambiente espírita, essa outra proposta...
Noutra cidade , o povo cantou, também num evento, uma música que era o plágio de um jingle da cerveja Brahma e, no final, todo mundo cantando de mão para trás, segurando uma mão recortada em cartolina. Levei um susto quando todo mundo botou a mão recortada em cartolina para a frente, onde se lia  a frase:Porque Jesus é o número 1! Era o jingleda Brahma!
De modo que vejo sempre com muita preocupação o que as pessoas, os espíritas, trabalham para criar. Quando se vê e ouve letra e música de João Cabete, (eu conheci Cabete encarnado) era ele que escrevia as letras que compunham as músicas lindíssimas, com motivação espiritual e maduras.
Há certas letras cantadas no meio espírita (criadas por espíritas) que são chatas, feias, melosas e mentirosas! Ora, vamos fazer uma letra que nos impulsione, que nos anime, que nos dê essa energia de viver o Bem, de viver a esperança...
A minha turma fala em amor o tempo todo: amor, amor, amor...amor... amor...AMOR! Igualzinho a Roberto Carlos!Mas, e a contextualização desse amor? Está baseado em quê?
Vamos fazer uma letra que se goste de cantar, pela sua coerência, pela sua beleza! Daí, vamos ter cuidado com músicas que venham de outros credos e que carreguem a marca desse credo.
Como o povo está cantando hoje nos Centros Espíritas!
Músicas populares, dos compositores populares, vai-se podando o que vai chegando em termos de novidade musical.
A turma está cantando as músicas de Djavan no Centro! Ah! Porque ele fala de Natureza! Cantam músicas de Roberto Carlos que até nas missas já cantaram. Roberto Carlos tem lá sua parte religiosa, então vou pôr Jesus Cristo e Nossa Senhora...
Nossa Senhora, então, cantam numa procissão que vejo da minha janela... Mas, nós não temos que copiar aquilo que não precisamos copiar. Se pudermos fazer, vamos fazer!  E se tivermos que cantar alguma composição que não seja do nosso meio, que seja uma composição espiritualmente neutra, que não traga proposta doutrinária de outros contextos, para que os espíritas cantem. Da mesma forma, nenhum católico ou protestante cantará nossas canções espíritas sobre a reencarnação, sobre isso, sobre aquilo do contexto espírita porque elas têm conteúdo doutrinário na sua proposta.
Então, é muito importante que tenhamos esse cuidado...
Não há nada contra as músicas, mas temos que tomar cuidado com a nossa proposta, visto que estamos trabalhando para enfatizar as ideias espíritas.
Vamos fazer isso e respeitar a todos os outros que não sejam espíritas, mas que estão na faixa do Bem; cada um trabalhando com a sua ferramenta...
Extraído de Pinga Fogo, realizado com
Raul Teixeira, na cidade de Santo Antonio
da Glória, Minas Gerais, no ano de 2004
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Mensagem extraída do endereço:  http://www.raulteixeira.com.br/noticias.php?not=323 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Médiuns Sensacionalistas


A frase de João Batista: "É necessário que Ele cresça, e que eu diminua", tem atualidade no comportamento dos médiuns de todas as épocas, especialmente em nossos dias tumultuados.

À semelhança do preparador das veredas, o médium deve diminuir, na razão direta em que o serviço cresça, controlando o personalismo, a fim de que os objetivos a que se entrega assumam o lugar que lhes cabe.

A mediunidade é faculdade neutra, a que os valores morais do seu possuidor oferecem qualificação.

Posta a serviço do sensacionalismo entorpece os centros de registro e decompõe-se. Igualmente, em razão do uso desgovernado a que vai submetida, passa ao comando de Entidades, perversas e frívolas, que se comprazem em comprometer o invigilante, levando-o a estados de desequilíbrio como de ridículo, por fim, ao largo do tempo, empurrando o médium para lamentáveis obsessões.

Entre os gravames que a mediunidade enfrenta, a vaidade e o personalismo do homem adquirem posição de relevo, desviando-o do rumo traçado, conduzindo-o ao sensacionalismo inquietante e consumidor.

Neste caso, o recolhimento, a serenidade e o equilíbrio que devem caracterizar o comportamento psíquico do médium cedem lugar à inquietação, à ansiedade, aos movimentos irregulares das atrações externas, passando a sofrer de irritação, devaneios, e à crença de que repentinamente se tornou pessoal especial, irrepreensível e irreprochável, não tendo ouvidos para a sensatez nem discernimento para a equidade.

Torna-se absorvido pelos pensamentos de vanglória, e, disputado pelos irresponsáveis que lhe incensam o orgulho, levam-no à lenta alucinação, que o atira ao abismo da loucura.

A faculdade mediúnica é transitória como outra qualquer, devendo ser preservada mediante o esforço moral de seu possuidor, assim tornando-se simpático aos Bons Espíritos que o inspiram à humildade, à renuncia, à abnegação.

Quando ao personalismo sensacionalista domina o psiquismo do homem, naturalmente que o aturde, tornando-se mais grave nos sensores mediúnicos cuja constituição delicada se desarticula ao impacto dos choques vibratórios dos indivíduos desajustados e das massas esfaimadas, insaciadas, sempre à cata de novidades e variações, sem assumirem compromissos dignificantes.

S. João Bosco, portador de excelentes faculdades mediúnicas, resguardava-as da curiosidade popular, utilizando-as com discrição nas finalidades superiores.

Santa Brigida, da Suécia, que possuía variadas expressões mediúnicas, mantinha o pudor da humildade, ao narrar os fenômenos de que se fazia objeto.

José de Anchieta, médium admirável e curador eficiente, agia com equilíbrio cristão, buscando sempre transferir para Jesus os resultados das suas ações positivas.

S. Pedro de Alcântara, virtuoso médium possuidor de vários "dons", ocultava-os, a fim de servir, apagado, enquanto o Senhor, por seu intermédio, se engrandecia.

Santa Clara de Montefalco procurava não despertar curiosidade para os fenômenos mediúnicos de que era instrumento, atribuindo-os todos à graça divina de que se reconhecia sem merecimento.

Os médiuns que cooperaram na Codificação do Espiritismo, sensatamente anularam-se, a fim de que a Doutrina fixasse nas almas e vidas as bases da verdade e do amor como formas para a aquisição dos valores espirituais libertadores.

Todo sensacionalismo altera a face do fato e adultera-lhe o conteúdo.

Quando este se expressa no fenômeno mediúnico corrompe-o, descaracteriza-o e põe-no a serviço da frivolidade.

Todos quantos se permitiram, na mediunidade, o engano do sensacionalismo, não obstante as justificações sob as quais se resguardam, desceram as rampas do fracasso, enganados e enganando aqueles que se deixaram fascinar pelos seus espetáculos, nos quais, o ridículo passou a figurar.

O tempo, este lutador incessante, encarrega-se de aferir os valores e demonstrar que a "árvore" que o Pai não plantou "termina" por ser arrancada.

Quando tais aficionados da mediunidade bulhenta se derem conta do erro, caso isto venha acontecer, na Terra, possivelmente, o caminho de retorno à sensatez estará muito longo e o sacrifício para percorrê-lo os desencorajará.

Diante do sensacionalismo mediúnico, recordemo-nos de Jesus, que após os admiráveis fenômenos de socorro às massas jamais aceitava o aplauso, as homenagens e gratulações dos beneficiários, recolhendo-se à solidão para, no silêncio, orar, louvando e agradecendo ao Pai, a Eterna Fonte geradora do Bem.

Vianna de Carvalho

Mensagem psicografada por Divaldo P. Franco em 1989, transcrita em o Reformador.
Esta mensagem pode ser lida o site: http://www.mediunato.com.br/