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sexta-feira, 8 de abril de 2022

Ensinamento Vivo

Leitores, registramos abaixo mensagem psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, do espírito de uma moça, que, quando na vida física era sua conhecida, como relatado; posteriormente, na condição de desencarnada, retornou para esclarecer a sua situação de paralítica, muda e surda numa existência de mais de meio século, com grande sofrimento. 

Os fatos que ocasionaram a condição limitante do seu corpo físico na última existência terrena originaram-se quando: “Dama vaidosa e influente da corte de Felipe II, na Espanha inquisitorial (...).”

A referência nos leva à pesquisa na enciclopédia Wikipédia, que registra o reinado de Felipe II no período de 1556 a 1598, portanto, no século XVI, sendo que aquele espírito renasceu com a problemática relatada, possivelmente no início do século XX, assim, foram transcorridos três séculos no mundo espiritual, pelo que se depara na narrativa esse tempo elástico foi de sofrimento, liberando-se após uma vida em corpo limitado e com muitas dificuldades. 

O título da mensagem é: “Ensinamento Vivo”, o que nos motivou  colocá-la neste “blog”, para a reflexão que todos devemos fazer sobre a condução da nossa presente vida, sendo que de acordo como vivemos as consequências no futuro serão de paz ou de sofrimentos.

Boa leitura!

                                                         Dorival da Silva   

Notas: 1. Mantivemos a ortografia válida à época do lançamento da obra original (1957).

2. Mensagem extraída da obra: Vozes do Grande Além, psicografia de Francisco Cândido Xavier, páginas 77 e 78.

 

 

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Ensinamento Vivo

                                            Maria da Conceição

 

Aqueles que se entregam às lides espiritistas encontram, surpresas consoladoras e emocionantes.

Visitáramos, várias vezes, Maria da Conceição, pobre moça que renascera paralítica, muda e surda, vivendo por mais de meio século num catre de sofrimento, sob os cuidados de abnegada avó.

Nunca lhe esqueceremos os olhos tristes, repletos de resignação e humildade, e que a morte cerrou em janeiro de 1954, como quem liberta dos grilhões da sombra infortunada criatura desde muito sentenciada a terríveis padecimentos. Pois, foi Maria da Conceição na nossa visitante, no encerramento das tarefas da noite de 30 de junho de 1955. Amparada por benfeitores da Espiritualidade, falou-nos em lágrimas de sua difícil experiência.

                               ****************

 Filhos de Deus, que a paz do Senhor seja a vossa luz.

Enquanto permanecemos no corpo de carne, não conseguimos, por mais clara se nos faça a compreensão da justiça, apreender-lhe a grandeza em toda a extensão.

Admitimos a existência do Inferno que pune os transgressores e acreditamos no braço vingador daqueles que se entregam ao papel de carrascos de quantos se renderam ao sorvedouro do crime.

Raras vezes, porém, refletimos nos tormentos que a consciência culpada impõe a si própria, além-túmulo.

Fascinados pelo mundo exterior, dormitamos ao aconchego da ilusão e não nos recordamos de que, um dia, virá o despertar no mundo de nós mesmos.

A morte arranca-nos o véu em que nos ocultamos e ai de nós quando não temos por moldura espiritual senão remorso e arrependimento, vileza e degradação.

Achamo-nos em plena nudez, diante do autojulgamento, e somente assinalamos os quadros e gritos acusadores que nascem de nossa própria alma, exprimindo maldição.

Nossos olhos nada mais vêem senão o painel das lembranças amargas, os ouvidos não escutam outras palavras que não as do libelo por nós e contra nós, e, por mais vagueemos com a ligeireza do pensamento, através de milhares de quilômetros no espaço, encontramos simplesmente a nós mesmos, na vastidão do tempo, confinados ao escuro e estreito horizonte de nossa própria condenação.

Os dias passam por nós como as vagas no mar, lambendo o rochedo na solidão que lhe é própria, até que os raios da Compaixão Divina nos dissipem as sombras, ensejando-nos a prece como caridosa luz que nos clareia a furna da inconsciência.

É então que a Bondade do Senhor interfere na justiça, permitindo ao criminoso traçar mentalmente a correção que lhe é necessária.

E o delinqüente sempre escolhe a posição das vítimas que lhe sucumbiram às mãos, bendizendo a reencarnação expiatória que lhe faculta o reexame dos caminhos percorridos.

Trazida até aqui por nossos Benfeitores, falo-vos de minha experiência.

Sou a vossa irmã Conceição, que volta a fim de comentar convosco o impositivo da consciência tranqüila perante a Lei.

Administrais o esclarecimento justo às almas desgarradas do trilho reto e determinam nossos Instrutores vos diga a todos, encarnados e desencarnados, daquele esclarecimento vivo que nos é imposto pelas duras provas da vida, quando não assimilamos o valor da palavra enquanto é tempo!...

Paralítica, surda, muda e quase cega, não era surda para as vozes que me acusavam, na profundez de minhas dores da consciência, não era paralítica para o pensamento que se movimentava a distância de minha cabeça flagelada, não era muda para as considerações que me saltavam do cérebro e nem cega para os quadros terrificantes do plano imaginativo...

Dama vaidosa e influente da Corte de Filipe II, na Espanha inquisitorial, reapareci neste século, de corpo desfigurado, a mergulhar nos próprios detritos, corpo que era simplesmente a imagem torturada de minhalma, açoitada de angústia e emparedada nos ossos doentes, para redimir o passado delituoso.

Durante mais de cinqüenta anos sucessivos, por felicidade minha experimentei fome, frio, enfermidade e desprezo de meus semelhantes... Em toda a existência, como bênção de calor na carne devastada de sofrimento, não recebi senão a das lágrimas que me escorriam dos olhos...

Mas a doutrinação regeneradora que não recolhi da palavra de quantos me ampararam noutro tempo, com amoroso aviso, fui constrangida a assimilá-la sob o rude tacão de atrozes padecimentos.

Quando a lição do Senhor é recusada por nossos ouvidos, ressurge invariável, em nós mesmos, na forma de provação necessária ao reajuste de nossos destinos.

Dirigindo-me, assim, a vós outro que me conhecestes o leito atormentado no mundo e a vós que me escutais sem a vestimenta física, rogo devoção e respeito para com o socorro moral de Jesus através daqueles que lhe distribuem os dons de conhecimento e consolação.

Quem alcança a verdade, sabe o que deve fazer.

Submetamo-nos ao amor de Deus, enquanto há tempo de partilhar o tempo daqueles que mais amamos, a fim de que a dor não nos submeta, implacável, obrigando-nos a partilhar o tempo da dificuldade e da solidão.

Essa tem sido para mim a mais severa advertência da vida.

Com o Amparo Divino, entretanto, sinto que o meu novo dia nasceu.

Aprendamos, pois, a ouvir e a refletir, sem jamais esquecer que o Amor reina, soberano, em todos os círculos do Universo, recordando, porém, que a Justiça cumprir-se-á, rigorosa, na senda de cada um.


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Mensagem de Bezerra

Mensagem de Bezerra


A resposta para nossa busca está no amor. E se nos amarmos quanto Ele nos pediu, as nossas dores serão transformadas em alegrias no Reino de Deus.

Lembrai-vos, filhos da alma, que Jesus é os dois extremos da vida, o zênite e o nadir das nossas aspirações. Quando as dores vos parecerem insuportáveis, quando a solidão se vos apresentar tenebrosa e fria, lembrai-vos de Jesus. Uma voz sequer levantou-se para inocentá-lO e eram centenas aqueles a quem Ele atendeu. 

Quando vos sentirdes desamados ou rejeitados, mantende a irrestrita confiança no amor e vos entregai Àquele que é a vida da própria vida. Não temais nunca, porque Ele nunca nos deixa a sós. 

Elegemos o tema da mulher equivocada (na conferência de encerramento), porque todos nós carregamos um espinho na carne e nas carnes da alma. Todos nós, ainda imperfeitos, somos  algo Maria de Magdala ou Miriam de Migdol, que o amor de Jesus nos recebe com ternura infinita, sem nos perguntar quem fomos, mas nos propõe o que seremos. 

Tende ânimo. São horas muito difíceis de testemunho e de lágrimas, de ansiedade e de desamor. Mas crede, filhos da alma, Jesus não venceu no mundo, venceu o mundo das paixões. 

Sede vós aqueles que podeis vencer as sobras do pretérito, que vos arrebatam muitas vezes de volta aos abismos da alucinação e amai. Pagai o preço do amor, socorrei por amor, erguei por amor, libertai por amor e vos sentireis salvos, erguidos, amparados por alguém que vos estenderá as mãos e dirá com um sorriso: Vinde, já atravessastes a porta estreita. Vinde à Casa do Meu Pai.

Nestes dias, meus filhos, o endereço de Deus chegou aos vossos corações. Tendes agora o mapa da vitória. Cabe-vos seguir pela rota abençoada da bondade, da misericórdia, do amor e da Doutrina libertadora dos imortais, para que a plenitude do Reino dos Céus desde hoje se vos instale no coração. 

                                                                                           Muita paz.

O servidor humílimo de sempre que vos fala, em nome
dos Espíritos espíritas aqui presentes. 
Ide em paz.

 Bezerra.

Mensagem psicofônica de encerramento da XX Conferência
Estadual Espírita, que se realizou no Expotrade, em Pinhais (PR),
  de 16 a 18 de março de 2018, pelo Espírito Bezerra de enezes,
 através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco. 
(Extraída do Jornal Mundo Espírita, Órgão de divulgação da
Federação Espírita do Paraná, maio/2018)


sábado, 26 de maio de 2018

Anjo misericordioso


Anjo misericordioso


As mais belas palavras entretecidas em forma de uma auréola de gratidão não expressam, realmente, a grandeza de que te revestes, anjo querido.
Sendo uma estrela luminífera, escondes a tua claridade no corpo físico, a fim de não ofuscares os caminhos que percorres, particularmente quando te tornas mãe. 
O brilho, porém, da tua luminosidade exterioriza-se e clareia a noite densa do processo de crescimento daqueles que vêm aos teus braços, na condição de filhos, na ansiosa busca do progresso e da plenitude. 
Os teus silêncios, nos momentos de testemunho, transformam-se em canções de inigualável beleza, dando sentido psicológico e harmonia à vida, porque te sacrificas em benefício daqueles que Deus te concedeu por empréstimo sublime para os conduzires ao Seu coração inefável. 
O teu devotamento contínuo constitui a lição preciosa de perseverança de quem acredita na Vida e no triunfo do Bem Eterno, nunca desistindo de lutar e de doar-se.
A tua paciência gentil e a tua serena abnegação, mesmo nas horas difíceis, são poemas vivos de amor incomum, que terminam por transformar as estruturas morais humanas deficientes em resistência e vigor para os enfrentamentos da reencarnação. 
A tua serenidade, quando tudo parece conspirar contra o êxito daqueles que educas, e a tua certeza de que o amor tudo pode, convertem-se na segurança que se faz indispensável para que a vitória seja alcançada. 
As ingratidões dos filhos não te desanimam, as vicissitudes da existência não te desarmonizam, os embates do cotidiano não te enfraquecem, e prossegues a mesma, sofrida, às vezes, perseverando, porém, nos deveres a que te entregas com doação total. 
Aprendeste a sorrir quando os teus filhos estão alegres e a chorar ante as suas preocupações e fracassos, nunca cedendo espaço ao desespero ou à revolta, quando eles não conseguem superar os impedimentos e tombam em momentâneos fracassos… 
Nesses momentos, renovada em forças e revestida de coragem, ergue-os, dando-lhes as mãos generosas e direcionando-lhes os passos no rumo certo, a fim de que recomecem e se recuperem. 
Estejas na opulência ou na pobreza total, a tua maternidade é sinal do poder de Deus que te consagrou como cocriadora, na condição de anjo do lar, a fim de que o mundo cresça e a vida humana alcance a meta para a qual foi organizada. 
É certo que nem todos os filhos sabem compreender a tua grandeza, os teus sacrifícios e lutas, mas isso não te é importante. 
Consideras antes que o teu é o dever de os amar em quaisquer situações em que se encontrem, educando-os sem cessar, amparando-os continuamente e emulando-os ao avanço com os seus próprios pés, mesmo quando tenham as pernas trôpegas e feridos os sentimentos. 
Sabes que as melhores condecorações para exornarem os heróis são as cicatrizes internas que permanecem no coração e na alma do lutador após as refregas. Por isso mesmo, insistes e perseveras sem descanso, trabalhando com esses diamantes brutos que deves lapidar, a fim de que permitam o brilho da Estrela Polar – Jesus! – no recesso do ser.
 ...E se, por acaso, a desencarnação te arrebatar do corpo, impedindo-te continuar cuidando deles, permanecerás, no Além-túmulo, inspirando-os, acariciando-os e envolvendo-os em vigorosa proteção. 
*
Doce mãezinha! 
Quando as criaturas da Terra dedicam um dia ao teu amor, apenas um entre trezentos e sessenta e quatro outros, sinalizando que já estão despertando para o significado do teu apostolado, apesar das imposições mercadológicas que esperam lucros, nessa oportunidade, quando todos deveriam oferecer-te somente amor, desejamos homenagear-te, envolvendo-te em ternura e em gratidão, pela nobre tarefa que desempenhas e pelas bênçãos que a todos nos concedes. 
Maria, a Mãe Santíssima da Humanidade, coroe-te de paz e de alegria, no teu e em todos os dias da tua existência, anjo misericordioso de todos nós!
Amélia Rodrigues 
  Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na manhã de 10 de
 março de 2006,
na residência de George e Akemi Adams,
em Santa Monica, Califórnia, EUA.
Em 23.4.2018.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A lição da escolha certa

ADILTON PUGLIESE
santospugliese@hotmail.com
Salvador, Bahia (Brasil)

A lição da escolha certa

“As coisas mais importantes da vida somente são valorizadas depois que passam ou se as perdem.” (Joanna de Ângelis – Vida Feliz)

O homem de todos os tempos, sobretudo dos dias modernos, tem concentrado a sua atenção em torno de inúmeras coisas que despertam o seu interesse.

Objetos e utensílios vários, muitos de avançada tecnologia, aguçam o seu desejo de posse, tudo fazendo para conquistá-los, no que se desgasta ou se deprime, quando não logra o êxito sonhado.
Há consideráveis registros de ocorrências envolvendo graves conflitos, especialmente entre familiares, na disputa de propriedades móveis e imóveis, bens semoventes e depósitos bancários, gerando, muitas vezes, litígios que conduzem os participantes na demanda jurídica a destilarem sentimentos de ódio e ressentimento, por se considerarem, as partes, cada uma merecedora do direito de domínio, jamais admitindo “divisão”, ou “renúncia”, ou “acordos”. Os que vencem essas batalhas no foro legal, saem delas, frequentemente, com acentuado desgaste emocional, a mente em desalinho, quando não descambam para a loucura aqueles derrotados na querela debatida em juízo.
Muito tem sofrido o homem que fixa os seus valores nas coisas transitórias do Mundo.
Alcançado pelo momento fatal de se despedir do corpo físico, através do fenômeno da morte, muitas vezes prematuramente, chega ao outro lado da vida portando superlativas aflições, cercado pelos fantasmas de seus desejos e aspirações menos dignas, que elegeu como metas importantes e legítimas, mantendo os seus ideais de dominação e  poder, que se esfumaçam, ante a realidade espiritual da sobrevivência.
Nesses instantes, o desespero e o arrependimento conduzem-no aos momentos de dor, que antecedem as reflexões e o “encontro com a Verdade”, de que nos falou o Mestre. E é nesse staccato que descobre as coisas mais importantes que foram desvalorizadas e negligenciadas.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, no capítulo XVI, Não se pode servir a Deus e a Mamon, insere uma mensagem de Blaise Pascal, obtida em Genebra em 1860. O grande matemático, físico, filósofo e escritor francês, desencarnado em 1662, numa Instrução dos Espíritos, intitulada A verdadeira propriedade, destaca que “O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então que ele possui? Nada do que é do uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo,  o que ninguém lhe pode arrebatar (...)”.   (1)
Narra o Evangelista Lucas que Jesus “estando em viagem, entrou numa aldeia” e, numa residência, é alvo da atenção especial de uma mulher chamada Maria, enquanto Marta, sua irmã, busca os afazeres domésticos para homenagear o hóspede inesperado. As duas irmãs, ante a presença do Cristo, fazem escolhas diferentes: Maria ouve a palavra do Mestre, “homenageia o Jesus espiritual. Sua figura importa mais do que tudo porque Ele transmite a palavra de Deus”. Ela não se preocupa com as atividades que atraem o interesse de Marta, a qual, “não percebendo a messianidade de Jesus” (2), reclama da atitude da irmã, censurando-a, recebendo do Rabi, em resposta, a lição da escolha certa: “–Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, que nunca lhe será tirada”. (3)  (destacamos)
Maria prefere ouvir a Voz do Amor, para aprender a amar-se e a amar os seus irmãos de Humanidade, e atingir a culminância do amor a Deus acima de todas as coisas.
O Espírito Joanna de Ângelis, em sua décima obra da Série Psicológica, Jesus e o Evangelho – à luz da Psicologia profunda -, psicografada pelo médium Divaldo Franco,  destaca que Jesus compreendia a finalidade superior da propriedade, por isso, valorizou-a, quando conviveu com os homens de bem e aqueles que possuíam recursos, estimulando-os porém, a buscarem o reino dos Céus, de que se haviam esquecido. (4)
A oportunidade reencarnatória é valiosa bênção para o nosso progresso espiritual. Durante a viagem terrestre busquemos valorizar as coisas mais importantes, a fim de não perdê-las.  

Referências bibliográficas: 
(1) Kardec, Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo. 110. ed. Rio de Janeiro: FEB – 1995 -  pp. 260/261 
(2) Quéré, France. As mulheres do Evangelho. s/ed. São Paulo: Edições Paulinas – 1984 – p. 42 
(3)  Evangelho de Lucas – 10: 38 a 42 
(4) 1a. ed. Salvador/Ba.: LEAL – 2000 - p.145 

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Mensagem extraída de Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano3/141/adilton_pugliesi.html

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Marta, Marta!

MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)



 
Marta, Marta!

Jesus na casa de Marta e Maria é uma passagem evangélica da qual gosto muito. Talvez seja a minha preferida. Interfere diretamente no cotidiano familiar.
Marta e Maria eram irmãs de Lázaro, amigo de Jesus e por ele ressuscitado, como nos narram as Sagradas Escrituras.
Numa das visitas à casa da família, Jesus, acompanhado dos discípulos, transmitia uma série de ensinamentos. Maria ouvia-o, embevecida. Marta, por sua vez, ia e vinha, preocupada em deixar a casa em ordem e à altura de tão ilustre visitante. Decerto preocupava-se com a refeição a ser preparada, aposentos a serem arrumados... Vendo que Maria não a ajudava, ralhou com ela na frente de Jesus e dos apóstolos. Em seguida, pediu a Jesus que dissesse a Maria para ajudá-la. É quando o Cristo aproveita a situação para transmitir a Marta e a toda a humanidade o memorável ensinamento:
"Marta, Marta, tu andas muito inquieta, e te embaraças com o cuidar em muitas coisas. Entretanto só uma coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada”. (São Lucas, cap. X, v. 41 e 42.)
O jornalista Stephen Kanitz, no artigo Família em Primeiro Lugar, conta que certa vez foi almoçar com um respeitado empresário. O almoço foi no restaurante da empresa. Por ser um homem muito ocupado, o empresário raramente almoçava em casa ou em restaurantes.
Stephen comenta que o homem estava com o olhar estranho, talvez distante. Foi quando uma lágrima lhe escorreu do olho esquerdo. O jornalista tentou não dar muita importância ao fato. Só que, durante a sobremesa, o poderoso empresário começou a chorar copiosamente. Desconcertado, Kanitz começou a imaginar se havia dito algo impróprio ou se a empresa estava atravessando uma fase difícil... Foi quando o homem disse, meio sem jeito:

"Minha filha vai se casar amanhã e só agora a ficha caiu. Eu fui um tremendo de um workaholic e agora percebo que mal a conheci. Conheço tudo sobre meu negócio, mal conheço minha própria filha. Dediquei todo o tempo à minha empresa e me esqueci de me dedicar à família".
Stephen confessa que nunca mais foi o mesmo depois da cena. Saiu arrasado do almoço e, jurando a si mesmo que nunca aceitaria um emprego desses que sugam a pessoa a ponto de não haver mais tempo para dar boa noite aos filhos, levá-los ao cinema, à praia, acompanhar suas descobertas, vitórias e derrotas...
Finalizando o artigo, o jornalista argumenta: Colocar a família em primeiro lugar tem um custo com o qual nem todos podem arcar. Implica menos dinheiro, fama e projeção social. Muitos de seus amigos poderão ficar ricos, mais famosos que você e um dia olhá-lo com desdém. Nessas horas, o consolo é lembrar um velho ditado que define bem por que priorizar a família vale a pena: ‘Nenhum sucesso na vida compensa um fracasso no lar’."

Qual o verdadeiro "sucesso" de ter um filho drogado por falta de atenção, carinho e tempo para ouvi-lo no dia a dia? De que adianta fazer uma fortuna para ter de dividi-la pela metade num ruinoso divórcio e pagar pensão à ex-esposa para o resto da vida? De que adianta ser um executivo bem-sucedido e depois chorar na sobremesa porque não conheceu sequer a própria filha?
Saber escolher a melhor parte, como ressalta o Cristo, nem sempre é fácil. Vivemos num mundo que exige muito de nós. Ter um curso universitário já não basta. São necessárias mais de uma pós-graduação, mestrado, vários idiomas. Além disso, congressos, simpósios, mesas-redondas... Conheço gente que passa mais tempo em hotéis, aviões e aeroportos do que em casa. E quando está em casa, mal tem tempo para os filhos, a esposa ou o marido. A pessoa fica ao computador, às voltas com planilhas e relatórios, respondendo a e-mails e enviando outros tantos, o celular não para de tocar...
A grande maioria das pessoas tem, hoje em dia, a agenda cheia. Nem sempre é fácil conciliar família e trabalho. Mas quem se dispõe a investir em cônjuge e filhos não pode perdê-los de vista, sob pena de ver o casamento ruir e os filhos se transformarem em ilustres desconhecidos.
Muita gente alega que trabalha feito condenado para garantir um futuro melhor aos filhos. De que futuro estamos falando? Os mais conceituados colégios? Pós-graduação no exterior? Residências cinematográficas? Fins de semana em locais paradisíacos? Idas e mais idas a boates e restaurantes badalados? Talvez os filhos não precisem e nem queiram isso tudo. Queiram apenas nosso ombro amigo, palavras de incentivo, conselhos e advertências precisas... Querem rir e chorar conosco; viver ao nosso lado, curtir o pai e a mãe que têm. O melhor para eles nem sempre é ver os pais se matando de trabalhar para lhes dar o que é top de linha. O melhor talvez seja tempo livre para ajudá-los nas tarefas escolares, colocá-los para dormir... Enfim, aquilo que os pais sonham fazer, mas muitos acabam não fazendo porque querem dar tudo aos filhos. Tudo o quê? Esse tudo pode ser mais simples e acessível do que pensamos. Basta optar pela melhor parte, a que não nos será tirada.
Falar sobre Jesus na casa de Marta e Maria é, além do que acabei de expor, prestar atenção na dinâmica do lar, a fim de não darmos excessiva importância às coisas da casa.
Faço parte da União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep), aonde cheguei em novembro de 1984. Conversando com um dos grupos de visitação fraterna da Casa, aprendi que as famílias visitadas nunca devem se preocupar em preparar lanche para os visitadores. Um cafezinho sequer. Motivo: alguém da família vai ficar tão preocupado com o café no fogo e o bolo no forno que não aproveitará direito a visita fraterna. Uma visita em nome de Jesus. O mais importante, nessas ocasiões, é a prece que será feita, o bate-papo acolhedor, a leitura edificante de um livro espírita... Se alguém ficar indo e vindo da cozinha, perderá o contato com Jesus e, tal qual Marta, estará inquieto, se preocupará com muitas coisas, quando só uma é necessária.
Este comportamento em relação às coisas da casa é interessante de ser observado em dias de festas. Aniversários, almoços, jantares, Natal... Martas variadas se matam de trabalhar, ficam até altas horas na cozinha, fazem mais de uma sobremesa, mais de uma opção de carne... O resto da família acaba sofrendo horrores, pois é obrigado a ir inúmeras vezes ao supermercado, a cozinha fica intransitável... Na hora da festa, muitas vezes Marta ainda está na cozinha, atarefada com os últimos preparativos. Quando por fim consegue dar atenção aos convidados, a festa já está no fim e ela mal teve tempo de aproveitá-los. Além disso, sobrou comida. Haja louça para lavar. Dá-lhe reclamação de que ninguém da família aparece para ajudar. Isso sem falar no dinheiro gasto além da conta. A melhor parte, que era o convívio fraterno com os convidados, ficou em segundo plano.
Conheci uma senhora (a quem chamarei de Lourdes) que fazia questão de cuidar pessoalmente de toda a casa. Não queria ninguém ajudando; não admitia nenhuma mulher além dela mexendo em panelas, vassouras e afins. O tempo foi passando, ela envelhecendo, mas não largava o hábito. Uma vez, já tarde da noite, depois de terminar a limpeza da casa todinha, disse a si mesma:- Graças a Deus! Estou morta de cansada, mas a minha casa está limpa!
D. Lourdes já estava com mais de 60 anos. O ritual semanal, contudo, permanecia, só que agora terminando mais tarde, já que estava mais lenta em função da idade. Onde a melhor parte? Onde o tempo para curtir a família?
Ela, no domingo, fazia questão de elaborar os mais variados pratos para o marido e os dois filhos. Certa vez, seu marido confidenciou a meu pai: - Eu admiro tanto aquelas famílias que, no domingo, almoçam fora para aproveitar melhor o dia! Ou, então, comem algo bem trivial e vão passear com os filhos. Aqui em casa é esse festival de comida, é minha esposa presa o dia inteiro na cozinha, se acabando para agradar a família. Agradaria muito mais se fizesse apenas um macarrão e depois saísse para dar uma volta comigo e com as crianças. Ou então, se concordasse em almoçar fora de vez em quando.
Certa feita, no aniversário da mãe, os irmãos de Dona Lourdes falaram em encomendar o bolo. Família grande, com muitos irmãos, filhos e primos, requer um bolo grande. Ela insistiu em fazê-lo, pois era uma data marcante. Os irmãos, então, deixaram o bolo por conta dela. Na hora da festa, chega ela com um bolo enorme na mão e com a fisionomia totalmente desfeita. Morta de cansada. Um dos irmãos, então, alegou que se tivessem encomendado o bolo, ela estaria descansada para a festa, aproveitaria melhor o evento. Mas não. Estava exausta, não curtiria a festa como os demais. Por que agia assim? Atavismo, como já abordado em outro capítulo?
Lidei com jovens espíritas durante muitos anos e ouvi de um deles uma história interessante. Ele, que gostava de escrever, estava no início do curso de letras. Volta e meia, trazia um texto para eu ou alguém do centro espírita ler. Durante um desentendimento doméstico com a mãe, ela disse, magoada, que ele nunca lhe mostrara um texto de sua autoria. Só para o pessoal do centro. Foi então que ele percebeu que agia assim, não de forma proposital, mas porque estava acostumado a ver a mãe sempre preocupada com o almoço, o tapete, o banheiro... Toda vez que ele começava a comentar sobre um texto seu, ela o interrompia com frases do tipo “Pega a farinha para mim?”“Fecha a janela da sala?”, “Desliga a máquina de lavar?”, “Está bom de feijão ou quer mais?”. Ele, sem se dar conta, passara a ver a mãe como a serviçal sempre às voltas com assuntos domésticos. Jamais passou por sua cabeça que a mãe poderia estar interessada em seus textos. A mãe não o acostumara a tratar desses assuntos com ela. Ele, então, encontrara acolhida no pessoal do centro espírita.
Marta, Marta! Você dá mais importância às panelas, às toalhas e aos lençóis do que ao marido e aos filhos! É esse o seu projeto de construção de um lar? Onde a melhor parte? Acorda, Marta!

BIBLIOGRAFIA:

1 -
  KANITZ, Stephen. Família em Primeiro Lugar. Revista Veja, nº 7, 20 de fevereiro de 2002, São Paulo, SP.
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Mensagem extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano8/373/marcelo_teixeira.html

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos além de Jesus (?)

O Espiritismo responde
Ano 8 - N° 370 - 6 de Julho de 2014
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
BLOG
ESPIRITISMO SÉCULO XXI


 
Com a fidalguia que se espera de um espírita verdadeiro, três leitores de nossa revista – Leandro Cosme Oliveira Couto (Belo Horizonte, MG), Luiz Alberto Cunha da Silva (Viamão, RS) e Fernando Rosemberg Patrocínio (Uberaba, MG) –, conforme mensagens publicadas na seção de Cartas desta mesma edição, estranharam a resposta dada à leitora Zilma Dias Keown na edição 369 desta revista.
Eis a mensagem recebida da leitora:  
De: Zilma Dias Keown (Jacksonville – Flórida, Estados Unidos)
Sexta-feira, 20 de junho de 2014 às 14:27:33
Boa tarde! Gostaria muito de saber se Maria mãe de Jesus teve outros filhos além de Jesus. Li a respeito no livro A Gênese, mas, burrinha como sou, não entendi muito bem. Desde já agradeço-lhe pela atenção.
Zilma
Eis o que lhe foi respondido: 
“A questão proposta pela leitora não foi jamais examinada por Kardec nem, ao que sabemos, por nenhum autor espírita. Sempre que esse assunto vem à baila, dizemos o que está escrito em nota de rodapé constante da pág. 11 da edição do Novo Testamento publicada em 1980 por LEB – Edições Loyola, a saber: o Novo Testamento não conhece outros filhos de Maria, nem de José; nunca, em nenhuma passagem do NT, ninguém é chamado filho de Maria, a não ser Jesus, e nunca, em nenhum texto, de ninguém Maria é chamada mãe, a não ser de Jesus.”
A estranheza dos leitores acima citados prende-se ao fato de que o próprio Allan Kardec referiu-se no cap. XIV d´O Evangelho segundo o Espiritismo aos irmãos de Jesus, o que, para eles, é uma clara evidência de que José e Maria tiveram outros filhos. Além da referência feita a Kardec, os leitores mencionaram várias passagens do Novo Testamento em que se faz alusão aos irmãos de Jesus, fato que serviria como comprovação do que o Codificador do Espiritismo escreveu.
Não ignoramos que Kardec e o Novo Testamento fizeram referência ao termo “irmãos”, aludindo com isso a Jesus de Nazaré, mas é preciso convir, como dissemos inicialmente, que o Novo Testamento, em nenhum de seus livros, fala sobre “filhos” de Maria. E foi essa, exatamente essa, a questão tratada na resposta dada à leitora Zilma Dias Keown.
Ela não perguntou se Jesus teve “irmãos”: ela perguntou se Maria teve outros “filhos”, o que é coisa bem diferente.
Filhos de Jacó, José e Benjamim, cuja mãe se chamava Raquel, tinham dez irmãos e uma irmã de nome Dina. Raquel, porém, foi mãe apenas de dois filhos, visto que os outros filhos de Jacó e irmãos de José e Benjamim foram gestados por Bala (Dan e Nefthali), Zelfa (Gad e Aser) e Lia (Ruben, Simeão, Levi, Judá, Isacar e Zabulon).
O Novo Testamento faz, realmente, diversas referências aos “irmãos” de Jesus, como mostram os trechos abaixo: 
E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor. Gálatas 1:19
Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos. Atos 1:14
Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? 1 Coríntios 9:5-6
Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando fora, mandaram-no chamar. E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te procuram, e estão lá fora. E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? Marcos 3:31-33
E, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: De onde lhe vêm estas coisas? e que sabedoria é esta que lhe foi dada? e como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele. Marcos 6:2-3
E, falando ele ainda à multidão, eis que estavam fora sua mãe e seus irmãos, pretendendo falar-lhe. E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te. Ele, porém, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? Mateus 12:46-48
E, chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se maravilhavam, e diziam: De onde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas? Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? De onde lhe veio, pois, tudo isto? Mateus 13:54-56
Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Porque nem mesmo seus irmãos criam nele. João 7:3-5 
Tantas passagens não permitem que se negue o fato. Mas – perguntamos – o termo “irmãos” usado por Paulo e pelos evangelistas teria o sentido estrito que damos usualmente a essa palavra?
Carlos Torres Pastorino estudou meticulosamente o assunto e chegou a uma conclusão diferente da opinião dos nossos três leitores.
Segundo Pastorino, como se pode ler em sua obra Sabedoria do Evangelho - Volume 2, os quatro personagens citados como “irmãos” de Jesus – Tiago, José, Simão e Judas – seriam, em verdade, primos-irmãos de Jesus, parentesco que costumava ser abreviado com a simples palavra "irmão".
Alguns pais da Igreja, como Orígenes, Epifânio, Gregório de Nissa, Hilário, Ambrósio e Eusébio, entendiam que eles fossem filhos de José, frutos de um primeiro matrimônio que o pai de Jesus teria tido, hipótese que Jerônimo refutou. Na obra de Pastorino a que nos reportamos, os interessados podem verificar as fontes em que Pastorino se baseou para expressar suas conclusões.
Registra o evangelista João, na parte final de suas anotações, uma passagem importante que dá apoio ao pensamento de Pastorino. Ei-la:
“E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria mulher de Clopas, e Maria Madalena. Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.” (João 19:25-27.)
Eis os comentários feitos por Pastorino à passagem transcrita:
“Foi quando Jesus cônscio de si e com todas as Suas energias, percorreu o olhar pelas pessoas ali presentes, e proferiu as frases curtas e incisivas: Mulher, eis teu filho (gynai, híde ho huiós sou). Com isso nomeava João, o discípulo amado, como Seu substituto legal no afeto de Maria. Voltando-se, depois, para João, ratifica o mesmo legado: eis tua mãe (híde hê mêtêr sou). E o evangelista acrescenta: e desde essa hora, tomou-a o discípulo como coisa própria (eis tà ídia), ou a seu cargo.
(...)
Anotemos, de passagem, que se Maria tivesse tido outros filhos, ou mesmo enteados (filhos do primeiro matrimônio de José), esse gesto de Jesus tem ensanchas de magoá-los profundamente. Daí termos aceitado, desde o início, a hipótese da expressão ‘irmãos de Jesus’, como sendo seus primos irmãos.
(...)
João, a essa época, parece que contava cerca de 21 ou 22 anos. A partir daí, João manteve Maria a seu lado, tendo-a levado para Éfeso, segundo a tradição, onde ela veio a falecer muitos anos depois.” (Sabedoria do Evangelho, Volume 8, p. 154 a 158.) 
No cap. 5 do livro Boa Nova, psicografia de Chico Xavier, Humberto de Campos (Espírito) diz que Levi, Tadeu e Tiago, filhos de Alfeu e sua esposa Cleofas, parenta de Maria, eram nazarenos e amavam a Jesus desde a infância, sendo muitas vezes chamados “os irmãos do Senhor”, à vista de suas profundas afinidades afetivas.
Quanto à informação de que Maria foi efetivamente morar em Éfeso com o evangelista João, o cap. 30 da mesma obra é recheado de preciosas informações, que vale a pena ler.
Eis alguns trechos do citado capítulo:
Maria deixou-se enlaçar pelo discípulo querido e ambos, ao pé do madeiro, em gesto súplice, buscaram ansiosamente a luz daqueles olhos misericordiosos, no cúmulo dos tormentos. Foi aí que a fronte do divino supliciado se moveu vagarosamente, revelando perceber a ansiedade daquelas duas almas em extremo desalento. “Meu filho! Meu amado filho!“ exclamou a mártir, em aflição diante da serenidade daquele olhar de melancolia intraduzível.
O Cristo pareceu meditar no auge de suas dores, mas, como se quisesse demonstrar, no instante derradeiro, a grandeza de sua coragem e a sua perfeita comunhão com Deus, replicou com significativo movimento dos olhos vigilantes: “Mãe, eis aí teu filho!. . .“ E dirigindo-se, de modo especial, com um leve aceno, ao apóstolo, disse: “Filho, eis aí tua mãe!”
(...)
Após a separação dos discípulos, que se dispersaram por lugares diferentes, para a difusão da Boa Nova, Maria retirou-se para a Betaneia, onde alguns parentes mais próximos a esperavam com especial carinho. Os anos começaram a rolar, silenciosos e tristes, para a angustiada saudade de seu coração.
Tocada por grandes dissabores, observou que, em tempo rápido, as lembranças do filho amado se convertiam em elementos de ásperas discussões, entre os seus seguidores. Na Bataneia, pretendia-se manter uma certa aristocracia espiritual, por efeito dos laços consanguíneos que ali a prendiam, em virtude dos elos que a ligavam a José. Em Jerusalém, digladiavam-se os cristãos e os judeus, com veemência e acrimônia. Na Galileia, os antigos cenáculos simples e amoráveis da Natureza estavam tristes e desertos.
Para aquela mãe amorosa, cuja alma digna observava que o vinho generoso de Caná se transformara no vinagre do martírio, o tempo assinalava sempre uma saudade maior no mundo e uma esperança cada vez mais elevada no céu.
Sua vida era uma devoção incessante ao rosário imenso da saudade, às lembranças mais queridas. Tudo que o passado feliz edificara em seu mundo interior revivia na tela de suas lembranças, com minúcias somente conhecidas do amor, e lhe alimentavam a seiva da vida.
Relembrava o seu Jesus pequenino, como naquela noite de beleza prodigiosa, em que o recebera nos braços maternais, iluminado pelo mais doce mistério. Figurava-se-lhe escutar ainda o balido das ovelhas que vinham, apressadas, acercar-se do berço que se formara de improviso.
E aquele primeiro beijo, feito de carinho e de luz? As reminiscências envolviam a realidade longínqua de singulares belezas para o seu coração sensível e generoso. Em seguida, era o rio das recordações desaguando, sem cessar, na sua alma rica de sentimentalidade e ternura. Nazaré lhe voltava à imaginação, com as suas paisagens de felicidade e de luz. A casa singela, a fonte amiga, a sinceridade das afeições, o lago majestoso e, no meio de todos os detalhes, o filho adorado, trabalhando e amando, no erguimento da mais elevada concepção de Deus, entre os homens da Terra. De vez em quando, parecia vê-lo em seus sonhos repletos de esperança. Jesus lhe prometia o júbilo encantador de sua presença e participava da carícia de suas recordações.
A esse tempo, o filho de Zebedeu, tendo presentes as observações que o Mestre lhe fizera da cruz, surgiu na Bataneia, oferecendo àquele espírito saudoso de mãe o refúgio amoroso de sua proteção. Maria aceitou o oferecimento, com satisfação imensa.
E João lhe contou a sua nova vida. Instalara-se definitivamente em Éfeso, onde as ideias cristãs ganhavam terreno entre almas devotadas e sinceras. Nunca olvidara as recomendações do Senhor e, no íntimo, guardava aquele título de filiação como das mais altas expressões de amor universal para com aquela que recebera o Mestre nos braços veneráveis e carinhosos.
Maria escutava-lhe as confidências, num misto de reconhecimento e de ventura. João continuava a expor-lhe os seus planos mais insignificantes. Levá-la-ia consigo, andariam ambos na mesma associação de interesses espirituais. Seria seu filho desvelado, enquanto receberia de sua alma generosa a ternura maternal, nos trabalhos do Evangelho. Demorara-se a vir, explicava o filho de Zebedeu, porque lhe faltava uma choupana, onde se pudessem abrigar; entretanto, um dos membros da família real de Adiabene, convertido ao amor do Cristo, lhe doara uma casinha pobre, ao sul de Éfeso, distando três léguas aproximadamente da cidade.
A habitação simples e pobre demorava num promontório, de onde se avistava o mar. No alto da pequena colina, distante dos homens e no altar imponente da Natureza, se reuniriam ambos para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os espíritos de boa-vontade e, como mãe e filho, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal.
Maria aceitou alegremente. Dentro de breve tempo, instalaram-se no seio amigo da Natureza, em frente do oceano. Éfeso ficava pouco distante; porém, todas as adjacências se povoavam de novos núcleos de habitações alegres e modestas.
A casa de João, ao cabo de algumas semanas, se transformou num ponto de assembleias adoráveis, onde as recordações do Messias eram cultuadas por espíritos humildes e sinceros.
Maria externava as suas lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o apóstolo comentava as verdades evangélicas, apreciando os ensinos recebidos. Vezes inúmeras, a reunião somente terminava noite alta, quando as estrelas tinham maior brilho. E não foi só. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sitio singelo e generoso. A notícia de que Maria descansava, agora, entre eles, espalhara um clarão de esperança por todos os sofredores. Ao passo que João pregava na cidade as verdades de Deus, ela atendia, no pobre santuário doméstico, aos que a procuravam exibindo-lhe suas úlceras e necessidades. Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de “Casa da Santíssima”. (Boa Nova, cap. 30.) 
Se Maria tivesse outros filhos, motivo nenhum haveria para ser levada para tão longe, seguindo o evangelista João, que para ali havia ido por imposição do Sinédrio, como é relatado em minúcias no livro Paulo e Estêvão, de autoria de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier.
Esperamos que estas observações satisfaçam a todos aqueles que se interessam pelo assunto de que ora tratamos, conquanto não tenhamos a pretensão de haver esgotado o palpitante tema.
 
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