quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A lição da escolha certa

ADILTON PUGLIESE
santospugliese@hotmail.com
Salvador, Bahia (Brasil)

A lição da escolha certa

“As coisas mais importantes da vida somente são valorizadas depois que passam ou se as perdem.” (Joanna de Ângelis – Vida Feliz)

O homem de todos os tempos, sobretudo dos dias modernos, tem concentrado a sua atenção em torno de inúmeras coisas que despertam o seu interesse.

Objetos e utensílios vários, muitos de avançada tecnologia, aguçam o seu desejo de posse, tudo fazendo para conquistá-los, no que se desgasta ou se deprime, quando não logra o êxito sonhado.
Há consideráveis registros de ocorrências envolvendo graves conflitos, especialmente entre familiares, na disputa de propriedades móveis e imóveis, bens semoventes e depósitos bancários, gerando, muitas vezes, litígios que conduzem os participantes na demanda jurídica a destilarem sentimentos de ódio e ressentimento, por se considerarem, as partes, cada uma merecedora do direito de domínio, jamais admitindo “divisão”, ou “renúncia”, ou “acordos”. Os que vencem essas batalhas no foro legal, saem delas, frequentemente, com acentuado desgaste emocional, a mente em desalinho, quando não descambam para a loucura aqueles derrotados na querela debatida em juízo.
Muito tem sofrido o homem que fixa os seus valores nas coisas transitórias do Mundo.
Alcançado pelo momento fatal de se despedir do corpo físico, através do fenômeno da morte, muitas vezes prematuramente, chega ao outro lado da vida portando superlativas aflições, cercado pelos fantasmas de seus desejos e aspirações menos dignas, que elegeu como metas importantes e legítimas, mantendo os seus ideais de dominação e  poder, que se esfumaçam, ante a realidade espiritual da sobrevivência.
Nesses instantes, o desespero e o arrependimento conduzem-no aos momentos de dor, que antecedem as reflexões e o “encontro com a Verdade”, de que nos falou o Mestre. E é nesse staccato que descobre as coisas mais importantes que foram desvalorizadas e negligenciadas.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, no capítulo XVI, Não se pode servir a Deus e a Mamon, insere uma mensagem de Blaise Pascal, obtida em Genebra em 1860. O grande matemático, físico, filósofo e escritor francês, desencarnado em 1662, numa Instrução dos Espíritos, intitulada A verdadeira propriedade, destaca que “O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então que ele possui? Nada do que é do uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo,  o que ninguém lhe pode arrebatar (...)”.   (1)
Narra o Evangelista Lucas que Jesus “estando em viagem, entrou numa aldeia” e, numa residência, é alvo da atenção especial de uma mulher chamada Maria, enquanto Marta, sua irmã, busca os afazeres domésticos para homenagear o hóspede inesperado. As duas irmãs, ante a presença do Cristo, fazem escolhas diferentes: Maria ouve a palavra do Mestre, “homenageia o Jesus espiritual. Sua figura importa mais do que tudo porque Ele transmite a palavra de Deus”. Ela não se preocupa com as atividades que atraem o interesse de Marta, a qual, “não percebendo a messianidade de Jesus” (2), reclama da atitude da irmã, censurando-a, recebendo do Rabi, em resposta, a lição da escolha certa: “–Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, que nunca lhe será tirada”. (3)  (destacamos)
Maria prefere ouvir a Voz do Amor, para aprender a amar-se e a amar os seus irmãos de Humanidade, e atingir a culminância do amor a Deus acima de todas as coisas.
O Espírito Joanna de Ângelis, em sua décima obra da Série Psicológica, Jesus e o Evangelho – à luz da Psicologia profunda -, psicografada pelo médium Divaldo Franco,  destaca que Jesus compreendia a finalidade superior da propriedade, por isso, valorizou-a, quando conviveu com os homens de bem e aqueles que possuíam recursos, estimulando-os porém, a buscarem o reino dos Céus, de que se haviam esquecido. (4)
A oportunidade reencarnatória é valiosa bênção para o nosso progresso espiritual. Durante a viagem terrestre busquemos valorizar as coisas mais importantes, a fim de não perdê-las.  

Referências bibliográficas: 
(1) Kardec, Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo. 110. ed. Rio de Janeiro: FEB – 1995 -  pp. 260/261 
(2) Quéré, France. As mulheres do Evangelho. s/ed. São Paulo: Edições Paulinas – 1984 – p. 42 
(3)  Evangelho de Lucas – 10: 38 a 42 
(4) 1a. ed. Salvador/Ba.: LEAL – 2000 - p.145 

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Mensagem extraída de Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano3/141/adilton_pugliesi.html

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Marta, Marta!

MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)



 
Marta, Marta!

Jesus na casa de Marta e Maria é uma passagem evangélica da qual gosto muito. Talvez seja a minha preferida. Interfere diretamente no cotidiano familiar.
Marta e Maria eram irmãs de Lázaro, amigo de Jesus e por ele ressuscitado, como nos narram as Sagradas Escrituras.
Numa das visitas à casa da família, Jesus, acompanhado dos discípulos, transmitia uma série de ensinamentos. Maria ouvia-o, embevecida. Marta, por sua vez, ia e vinha, preocupada em deixar a casa em ordem e à altura de tão ilustre visitante. Decerto preocupava-se com a refeição a ser preparada, aposentos a serem arrumados... Vendo que Maria não a ajudava, ralhou com ela na frente de Jesus e dos apóstolos. Em seguida, pediu a Jesus que dissesse a Maria para ajudá-la. É quando o Cristo aproveita a situação para transmitir a Marta e a toda a humanidade o memorável ensinamento:
"Marta, Marta, tu andas muito inquieta, e te embaraças com o cuidar em muitas coisas. Entretanto só uma coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada”. (São Lucas, cap. X, v. 41 e 42.)
O jornalista Stephen Kanitz, no artigo Família em Primeiro Lugar, conta que certa vez foi almoçar com um respeitado empresário. O almoço foi no restaurante da empresa. Por ser um homem muito ocupado, o empresário raramente almoçava em casa ou em restaurantes.
Stephen comenta que o homem estava com o olhar estranho, talvez distante. Foi quando uma lágrima lhe escorreu do olho esquerdo. O jornalista tentou não dar muita importância ao fato. Só que, durante a sobremesa, o poderoso empresário começou a chorar copiosamente. Desconcertado, Kanitz começou a imaginar se havia dito algo impróprio ou se a empresa estava atravessando uma fase difícil... Foi quando o homem disse, meio sem jeito:

"Minha filha vai se casar amanhã e só agora a ficha caiu. Eu fui um tremendo de um workaholic e agora percebo que mal a conheci. Conheço tudo sobre meu negócio, mal conheço minha própria filha. Dediquei todo o tempo à minha empresa e me esqueci de me dedicar à família".
Stephen confessa que nunca mais foi o mesmo depois da cena. Saiu arrasado do almoço e, jurando a si mesmo que nunca aceitaria um emprego desses que sugam a pessoa a ponto de não haver mais tempo para dar boa noite aos filhos, levá-los ao cinema, à praia, acompanhar suas descobertas, vitórias e derrotas...
Finalizando o artigo, o jornalista argumenta: Colocar a família em primeiro lugar tem um custo com o qual nem todos podem arcar. Implica menos dinheiro, fama e projeção social. Muitos de seus amigos poderão ficar ricos, mais famosos que você e um dia olhá-lo com desdém. Nessas horas, o consolo é lembrar um velho ditado que define bem por que priorizar a família vale a pena: ‘Nenhum sucesso na vida compensa um fracasso no lar’."

Qual o verdadeiro "sucesso" de ter um filho drogado por falta de atenção, carinho e tempo para ouvi-lo no dia a dia? De que adianta fazer uma fortuna para ter de dividi-la pela metade num ruinoso divórcio e pagar pensão à ex-esposa para o resto da vida? De que adianta ser um executivo bem-sucedido e depois chorar na sobremesa porque não conheceu sequer a própria filha?
Saber escolher a melhor parte, como ressalta o Cristo, nem sempre é fácil. Vivemos num mundo que exige muito de nós. Ter um curso universitário já não basta. São necessárias mais de uma pós-graduação, mestrado, vários idiomas. Além disso, congressos, simpósios, mesas-redondas... Conheço gente que passa mais tempo em hotéis, aviões e aeroportos do que em casa. E quando está em casa, mal tem tempo para os filhos, a esposa ou o marido. A pessoa fica ao computador, às voltas com planilhas e relatórios, respondendo a e-mails e enviando outros tantos, o celular não para de tocar...
A grande maioria das pessoas tem, hoje em dia, a agenda cheia. Nem sempre é fácil conciliar família e trabalho. Mas quem se dispõe a investir em cônjuge e filhos não pode perdê-los de vista, sob pena de ver o casamento ruir e os filhos se transformarem em ilustres desconhecidos.
Muita gente alega que trabalha feito condenado para garantir um futuro melhor aos filhos. De que futuro estamos falando? Os mais conceituados colégios? Pós-graduação no exterior? Residências cinematográficas? Fins de semana em locais paradisíacos? Idas e mais idas a boates e restaurantes badalados? Talvez os filhos não precisem e nem queiram isso tudo. Queiram apenas nosso ombro amigo, palavras de incentivo, conselhos e advertências precisas... Querem rir e chorar conosco; viver ao nosso lado, curtir o pai e a mãe que têm. O melhor para eles nem sempre é ver os pais se matando de trabalhar para lhes dar o que é top de linha. O melhor talvez seja tempo livre para ajudá-los nas tarefas escolares, colocá-los para dormir... Enfim, aquilo que os pais sonham fazer, mas muitos acabam não fazendo porque querem dar tudo aos filhos. Tudo o quê? Esse tudo pode ser mais simples e acessível do que pensamos. Basta optar pela melhor parte, a que não nos será tirada.
Falar sobre Jesus na casa de Marta e Maria é, além do que acabei de expor, prestar atenção na dinâmica do lar, a fim de não darmos excessiva importância às coisas da casa.
Faço parte da União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep), aonde cheguei em novembro de 1984. Conversando com um dos grupos de visitação fraterna da Casa, aprendi que as famílias visitadas nunca devem se preocupar em preparar lanche para os visitadores. Um cafezinho sequer. Motivo: alguém da família vai ficar tão preocupado com o café no fogo e o bolo no forno que não aproveitará direito a visita fraterna. Uma visita em nome de Jesus. O mais importante, nessas ocasiões, é a prece que será feita, o bate-papo acolhedor, a leitura edificante de um livro espírita... Se alguém ficar indo e vindo da cozinha, perderá o contato com Jesus e, tal qual Marta, estará inquieto, se preocupará com muitas coisas, quando só uma é necessária.
Este comportamento em relação às coisas da casa é interessante de ser observado em dias de festas. Aniversários, almoços, jantares, Natal... Martas variadas se matam de trabalhar, ficam até altas horas na cozinha, fazem mais de uma sobremesa, mais de uma opção de carne... O resto da família acaba sofrendo horrores, pois é obrigado a ir inúmeras vezes ao supermercado, a cozinha fica intransitável... Na hora da festa, muitas vezes Marta ainda está na cozinha, atarefada com os últimos preparativos. Quando por fim consegue dar atenção aos convidados, a festa já está no fim e ela mal teve tempo de aproveitá-los. Além disso, sobrou comida. Haja louça para lavar. Dá-lhe reclamação de que ninguém da família aparece para ajudar. Isso sem falar no dinheiro gasto além da conta. A melhor parte, que era o convívio fraterno com os convidados, ficou em segundo plano.
Conheci uma senhora (a quem chamarei de Lourdes) que fazia questão de cuidar pessoalmente de toda a casa. Não queria ninguém ajudando; não admitia nenhuma mulher além dela mexendo em panelas, vassouras e afins. O tempo foi passando, ela envelhecendo, mas não largava o hábito. Uma vez, já tarde da noite, depois de terminar a limpeza da casa todinha, disse a si mesma:- Graças a Deus! Estou morta de cansada, mas a minha casa está limpa!
D. Lourdes já estava com mais de 60 anos. O ritual semanal, contudo, permanecia, só que agora terminando mais tarde, já que estava mais lenta em função da idade. Onde a melhor parte? Onde o tempo para curtir a família?
Ela, no domingo, fazia questão de elaborar os mais variados pratos para o marido e os dois filhos. Certa vez, seu marido confidenciou a meu pai: - Eu admiro tanto aquelas famílias que, no domingo, almoçam fora para aproveitar melhor o dia! Ou, então, comem algo bem trivial e vão passear com os filhos. Aqui em casa é esse festival de comida, é minha esposa presa o dia inteiro na cozinha, se acabando para agradar a família. Agradaria muito mais se fizesse apenas um macarrão e depois saísse para dar uma volta comigo e com as crianças. Ou então, se concordasse em almoçar fora de vez em quando.
Certa feita, no aniversário da mãe, os irmãos de Dona Lourdes falaram em encomendar o bolo. Família grande, com muitos irmãos, filhos e primos, requer um bolo grande. Ela insistiu em fazê-lo, pois era uma data marcante. Os irmãos, então, deixaram o bolo por conta dela. Na hora da festa, chega ela com um bolo enorme na mão e com a fisionomia totalmente desfeita. Morta de cansada. Um dos irmãos, então, alegou que se tivessem encomendado o bolo, ela estaria descansada para a festa, aproveitaria melhor o evento. Mas não. Estava exausta, não curtiria a festa como os demais. Por que agia assim? Atavismo, como já abordado em outro capítulo?
Lidei com jovens espíritas durante muitos anos e ouvi de um deles uma história interessante. Ele, que gostava de escrever, estava no início do curso de letras. Volta e meia, trazia um texto para eu ou alguém do centro espírita ler. Durante um desentendimento doméstico com a mãe, ela disse, magoada, que ele nunca lhe mostrara um texto de sua autoria. Só para o pessoal do centro. Foi então que ele percebeu que agia assim, não de forma proposital, mas porque estava acostumado a ver a mãe sempre preocupada com o almoço, o tapete, o banheiro... Toda vez que ele começava a comentar sobre um texto seu, ela o interrompia com frases do tipo “Pega a farinha para mim?”“Fecha a janela da sala?”, “Desliga a máquina de lavar?”, “Está bom de feijão ou quer mais?”. Ele, sem se dar conta, passara a ver a mãe como a serviçal sempre às voltas com assuntos domésticos. Jamais passou por sua cabeça que a mãe poderia estar interessada em seus textos. A mãe não o acostumara a tratar desses assuntos com ela. Ele, então, encontrara acolhida no pessoal do centro espírita.
Marta, Marta! Você dá mais importância às panelas, às toalhas e aos lençóis do que ao marido e aos filhos! É esse o seu projeto de construção de um lar? Onde a melhor parte? Acorda, Marta!

BIBLIOGRAFIA:

1 -
  KANITZ, Stephen. Família em Primeiro Lugar. Revista Veja, nº 7, 20 de fevereiro de 2002, São Paulo, SP.
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Mensagem extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano8/373/marcelo_teixeira.html

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Moda



Moda


Os caprichos da moda!

As criaturas engendram tormentos nos quais tombam de forma leviana e lamentável. 

Dentre outros, assoma o que se refere à moda.

Versatilidade no vestir e calçar, variedade para usar.

Armários abarrotados e as pessoas lamentando-se ausência  de trajes condignos para este ou aquele evento. 

Noites insones por causa de um modelo; preocupação exagerada para aquisição de uma indumentária.

Roupa exclusiva para causar sensação ou extravagante para chamar a atenção.
A vacuidade inspira formas de automaceração e de realização em disfarces de trapos de alto custo, que logo perdem o sentido.

*
Não são poucas as criaturas que se consideram infelizes por causa da moda, que as impede de estar em dia com os figurinos e os lançamentos últimos.

... E são portadoras de apenas um corpo!

*
Veste-te para que te sintas asseado confortável na tua roupa.

Se for factível usar o que ora é aceito, fica à vontade para fazê-lo.

Se não puderes acompanhar os lançamentos, usa da simplicidade e veste o que te seja possível, sem tormento nem angústia.

Na maioria das vezes, ninguém nota como estás vestido, exceto quando chamas a atenção pela originalidade, pelo inusitado...

Importa o que és e não como te vestes.

O invólucro ajuda, porém, o importante mesmo é o produto que ele reveste.
Excesso, em moda, jamais!

Joanna de Ângelis
Da obra: Episódios Diários, capítulo 29,
 psicografada por Divaldo Pereira Franco

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O caminho da paz



O caminho da paz

Reunião pública de 8/6/59
Questão nº 743

Dos grandes flagelos do mundo antigo, salientavam-se dez que rebaixavam a vida humana:


A barbárie, que perpetuava os desregramentos do instinto.


A fome, que atormentava o grupo tribal.


A peste, que dizimava populações.


O primitivismo, que irmanava o engenho do homem e a habilidade do castor.


A ignorância, que alentava as trevas do espírito.


O insulamento, que favorecia as ilusões do feudalismo.


A ociosidade, que categorizava o trabalho à conta de humilhação e penitência.


O cativeiro, que vendia homens livres nos mercados da escravidão.


A imundície, que relegava a residência terrestre ao nível dos brutos.


A guerra, que suprime a paz e justifica a crueldade e o crime entre as criaturas.


*


Veio a política e, instituindo vários sistemas de governo, anulou a barbárie.


Apareceu o comércio e, multiplicando as vias de transporte, dissipou a fome.


Surgiu a ciência, e exterminou a peste.


Eclodiu a indústria, e desfez o primitivismo.


Brilhou a imprensa, e proscreveu-se a ignorância.


Criaram-se o telégrafo sem fio e a navegação aérea, e acabou-se o insulamento.


Progrediram os princípios morais, e o trabalho fulgiu como estrela na dignidade humana, desacreditando a ociosidade.


Cresceu a educação espiritual, e aboliu-se o cativeiro.


Agigantou-se a higiene, e removeu-se a imundície.


Mas nem a política, nem o comércio, nem a ciência, nem a indústria, nem a imprensa, nem a aproximação entre os povos, nem a exaltação do trabalho, nem a evolução do direito individual e nem a higiene conseguem resolver o problema da paz, porquanto a guerra – monstro de mil faces que começa no egoísmo de cada um, que se corporifica na discórdia do lar e se prolonga na intolerância da fé, na vaidade da inteligência e no orgulho das raças, alimentando-se de sangue e lágrimas, violência e desespero, ódio e rapina, tão cruel entre as nações supercivilizadas do século 20, quanto já o era na corte obscurantista de Ramsés 2º – somente desaparecerá quando o Evangelho de Jesus iluminar o coração humano, fazendo que os habitantes da Terra se amem como irmãos.


É por isso que a Doutrina Espírita no-lo revela, atualmente, sob a luz da Verdade, fiel ao próprio Cristo que nos advertiu, convincente: – “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos fará livres.”

Mensagem extraída da obra: Religião dos Espíritos, capítulo 41, pelo espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier.


Para facilitar a leitura e o entendimento acrescentamos abaixo a questão 743 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, conforme a referência inicial da página analisada por Emmanuel na reunião pública de 08.06.1959:

743. Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá?

“Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, todos os povos serão irmãos.”

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A CONDESSA PAULA

A CONDESSA PAULA

Bela, jovem, rica e de estirpe ilustre, esta era também perfeito modelo de qualidades intelectuais e morais. Faleceu com 36 anos de idade, em 1851. Seu necrológio é daqueles que podem resumir-se nestas palavras por mil bocas repetidas: — “Por que tão cedo retira Deus tais pessoas da Terra?” Felizes os que assim fazem abençoada a sua memória. Ela era boa, meiga e indulgente, sempre pronta a desculpar ou atenuar o mal, em lugar de aumentá-lo. Jamais a maledicência lhe conspurcara os lábios. Sem arrogância nem austeridade, era, ao contrário, com benevolência e delicada familiaridade que tratava os fâmulos, despercebida, ao demais, de quaisquer aparências de superioridade ou de humilhante proteção. Compreendendo que pessoas que vivem do trabalho não são rendeiros e que, conseguintemente, têm precisão do que se lhes deve, já pela sua condição, já para se manterem, jamais reteve o pagamento de um salário. A simples ideia de que alguém pudesse experimentar uma privação, por sua causa, ser-lhe-ia um remorso de consciência. Ela não pertencia ao número dos que sempre encontram dinheiro para satisfazer os seus caprichos, sem pagarem as próprias dívidas; não podia compreender que houvesse prazer para o rico em ter dívidas, e humilhada se julgaria se lhe dissessem que os seus fornecedores eram constrangidos a fazer-lhe adiantamentos. Também por ocasião da sua morte só houve pesares, nem uma reclamação.

A sua beneficência era inesgotável, mas não essa beneficência ostentosa à luz meridiana; e assim exercia a caridade de coração, que não por amor de vanglórias. Só Deus sabe as lágrimas que ela enxugou, os desesperos que acalmou, pois tais virtudes só tinham por testemunhas os infelizes que assistia. Ela timbrava, além disso, em descobrir os mais pungentes infortúnios, os secretos, socorrendo-os com aquela delicadeza que eleva o moral em vez de o rebaixar.

Da sua estirpe e das altas funções do marido decorriam-lhe onerosos encargos domésticos, aos quais não podia eximir-se; satisfazendo plenamente às exigências de sua posição, sem avareza, ela o fazia, contudo, com tal método, evitando desperdícios e superfluidades, que metade lhe bastava do que a outrem fora preciso para tanto.

E desse modo se permitia facultar da sua fortuna maior quinhão aos necessitados. Destinando a renda de uma parte dessa fortuna exclusivamente a tal fim, considerava-a sagrada e como de menos a despender no serviço da sua casa. E assim encontrara meios de conciliar os seus deveres para com a sociedade e para com os infortúnios [1]. Um dos seus parentes, iniciado no Espiritismo, evocou-a doze anos depois de falecida, e obteve, em resposta a diversas perguntas, a seguinte comunicação [2]:

“Tendes razão, amigo, em pensar que sou feliz. Assim é, efetivamente, e mais ainda do que a linguagem pode exprimir, conquanto longe do seu último grau. Mas eu estive na Terra entre os felizes, pois não me lembro de haver aí experimentado um só desgosto real. Juventude, homenagens, saúde, fortuna, tudo o que entre vós outros constitui felicidade eu possuía! O que é, no entanto, essa felicidade comparada à que desfruto aqui? Esplêndidas festas terrenas em que se ostentam os mais ricos paramentos, o que são elas comparadas a estas assembleias de Espíritos resplendentes de brilho que as vossas vistas não suportariam, brilho que é o apanágio da sua pureza? Os vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a estas moradas aéreas, vastas regiões do Espaço matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris? Os vossos passeios, a contados passos nos parques, a que se reduzem, comparados aos percursos da imensidade, mais céleres que o raio?

“Horizontes nebulosos e limitados, que são, comparados ao espetáculo de mundos a moverem-se no Universo infinito ao influxo do Altíssimo? E como são monótonos os vossos concertos mais harmoniosos em relação à suave melodia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras d’alma! E como são tristes e insípidas as vossas maiores alegrias comparadas à sensação inefável de felicidade que nos satura todo o ser como um eflúvio benéfico, sem mescla de inquietação, de apreensão, de sofrimento?! Aqui, tudo ressumbra amor, confiança, sinceridade: por toda parte corações amantes, amigos por toda parte!

“Nem invejosos, nem ciumentos! É este o mundo em que me encontro, meu amigo, e ao qual chegareis infalivelmente, se seguirdes o reto caminho da vida.

“A felicidade uniforme fatigaria, no entanto, e assim não acrediteis que a nossa seja extreme de peripécias: nem concerto perene, nem festa interminável, nem beatífica contemplação por toda a eternidade, porém o movimento, a atividade, a vida.

“As ocupações, posto que isentas de fadiga, revestem-se de perspectivas e emoções variáveis e incessantes, pelos mil incidentes que se lhes filiam. Tem cada qual sua missão a cumprir, seus protegidos a velar, amigos terrenos a visitar, mecanismos na Natureza a dirigir, almas sofredoras a consolar; e é o vaivém, não de uma rua a outra, porém, de um a outro mundo; reunindo-nos, separando-nos para novamente nos juntarmos; e, reunidos em certo ponto, comunicamo-nos o trabalho realizado, felicitando-nos pelos êxitos obtidos; ajustamo-nos, mutuamente nos assistimos nos casos difíceis. Finalmente, asseguro-vos que ninguém tem tempo para enfadar-se, por um segundo que seja. Presentemente, a Terra é o magno assunto das nossas cogitações. Que movimento entre os Espíritos! Que numerosas falanges aí afluem, a fim de lhe auxiliarem o progresso e a evolução! Dir-se-ia uma nuvem de trabalhadores a destrinçarem uma floresta, sob as ordens de chefes experimentados; abatem uns os troncos seculares, arrancam-lhes as raízes profundas, desbastam outros o terreno; amanham estes a terra, semeando; edificam aqueles a nova cidade sobre as ruínas carunchosas de um velho mundo. Neste comenos reúnem-se os chefes em conferência e transmitem suas ordens por mensageiros, em todas as direções. A Terra deve regenerar-se, em dado tempo — pois importa que os desígnios da Providência se realizem, e, assim, tem cada qual o seu papel. Não me julgueis simples expectadora desta grande empresa, o que me envergonharia, uma vez que todos nela trabalham. Importante missão me é afeta, e grandemente me esforço por cumpri-la, o melhor possível. Não foi sem luta que alcancei a posição que ora ocupo na vida espiritual; e ficai certo de que a minha última existência, por mais meritória que porventura vos pareça, não era por si só e a tanto suficiente. Em várias existências passei por provas de trabalho e miséria que voluntariamente havia escolhido para fortalecer e depurar o meu Espírito; dessas provas tive a dita de triunfar, vindo a faltar no entanto uma, porventura de todas a mais perigosa: a da fortuna e bem-estar materiais, um bem-estar sem sombras de desgosto. Nessa consistia o perigo. E antes de o tentar, eu quis sentir-me assaz forte para não sucumbir. Deus, tendo em vista as minhas boas intenções, concedeu-me a graça do seu auxílio. Muitos Espíritos há que, seduzidos por aparências, pressurosos escolhem essa prova, mas, fracos para afrontar-lhe os perigos, deixam que as seduções do mundo triunfem da sua inexperiência.

“Trabalhadores! estou nas vossas fileiras: eu, a dama nobre, ganhei como vós o pão com o suor do meu rosto; saturei-me de privações, sofri reveses e foi isso que me retemperou as forças da alma; do contrário eu teria falido na última prova, o que me teria deixado para trás, na minha carreira.

“Como eu, também vós tereis a vossa prova da riqueza, mas não vos apresseis em pedi-la muito cedo. E vós outros, ricos, tende sempre em mente que a verdadeira fortuna, a fortuna imorredoura, não existe na Terra; procurai antes saber o preço pelo qual podeis alcançar os benefícios do Todo-Poderoso.

Paula, na Terra Condessa de ***.”

[1] Pode dizer-se que essa senhora era a encarnação viva da mulher caridosa, ideada em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII.

[2] Desta comunicação, cujo original é em alemão, extraímos os tópicos que interessam ao assunto de que nos ocupamos, suprimindo os de natureza exclusivamente familiar.

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Texto extraído da obra “O Céu e o Inferno”, segunda parte, capítulo II – Espíritos Felizes – Allan Kardec - FEB
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Por oportuno, registramos abaixo a mensagem do capítulo XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, da qual Allan Kardec fez referência na observação [1] acima.
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16. A mulher rica, venturosa, que não precisa empregar o tempo nos trabalhos de sua casa, não poderá consagrar algumas horas a trabalhos úteis aos seus semelhantes? Compre, com o que lhe sobre dos prazeres, agasalhos para o desgraçado que tirita de frio; confeccione, com suas mãos delicadas, roupas grosseiras, mas quentes; auxilie uma mãe a cobrir o filho que vai nascer. Se por isso seu filho ficar com algumas rendas de menos, o do pobre terá mais com que se aqueça. Trabalhar para os pobres é trabalhar na vinha do Senhor.

E tu, pobre operária, que não tens supérfluo, mas que, cheia de amor aos teus irmãos, também queres dar do pouco com que contas, dá algumas horas do teu dia, do teu tempo, único tesouro que possuis; faze alguns desses trabalhos elegantes que tentam os felizes; vende o produto dos teus serões e poderás igualmente oferecer aos teus irmãos a tua parte de auxílios. Terás, talvez, algumas fitas de menos; darás, porém, calçado a um que anda descalço.

E vós, mulheres que vos votastes a Deus, trabalhai também na sua obra; mas que os vossos trabalhos não sejam unicamente para adornar as vossas capelas, para chamar a atenção sobre a vossa habilidade e paciência. Trabalhai, minhas filhas, e que o produto de vossas obras se destine a socorrer os vossos irmãos em Deus. Os pobres são seus filhos bem-amados; trabalhar para eles é glorificá-lo. Sede-lhes a providência que diz: “Aos pássaros do céu dá Deus o alimento.” Mudem-se o ouro e a prata que se tecem nas vossas mãos em roupas e alimentos para os que não os têm. Fazei isto e abençoado será o vosso trabalho.

Todos vós, que podeis produzir, dai; dai o vosso gênio, dai as vossas inspirações, dai o vosso coração, que Deus vos abençoará. Poetas, literatos, que só pela gente mundana sois lidos!... satisfazei-lhe aos lazeres, mas consagrai o produto de algumas de vossas obras a socorros aos desgraçados. Pintores, escultores, artistas de todos os gêneros!... venha também a vossa inteligência em auxílio dos vossos irmãos; não será por isso menor a vossa glória e alguns sofrimentos haverá de menos.

Todos vós podeis dar. Qualquer que seja a classe a que pertençais, de alguma coisa dispondes que podeis dividir. Seja o que for que Deus vos haja outorgado, uma parte do que Ele vos deu deveis àquele que carece do necessário, porquanto, em seu lugar, muito gostaríeis que outro dividisse convosco. Os vossos tesouros da Terra serão um pouco menores; contudo, os vossos tesouros do céu ficarão acrescidos. Lá colhereis pelo cêntuplo o que houverdes semeado em benefícios neste mundo.

João. (Bordeaux, 1861.)


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Entre irmãos

Entre irmãos 

Um tipo de beneficência indispensável ao êxito nas tarefas de grupo: o entendimento entre os companheiros.

Não nos referimos ao entendimento de superfície, mas à compreensão de base, através da paciência recíproca, que se apresente, na esfera do trabalho, para a superação de todos os empecilhos.

Acostumamo-nos a subestimar as exigências pequeninas, como sejam a supressão de um equívoco, a reformulação de um pedido, uma frase calmante em hora difícil, o afastamento de uma queixa...

E a tisna de sombra passa a enovelar-se em outras tisnas de sombra; a breve espaço, ei-las transformadas em bola de trevas, intoxicando o ânimo da equipe com a obra ameaçada de colapso ou desequilíbrio.

Não ignoramos que um parafuso desarranjado numa roda em movimento compromete a segurança do carro; que o curto-circuito em recanto esquecido é suscetível de incendiar e destruir edifícios inteiros...

Mesmo assim, não sanamos, comumente, o mal-entendido, capaz de converter-se em agente de perturbação ou desordem, arrasando largas somas de serviço, no qual se garante a paz da comunidade.

Estabelecido o descontrole no mecanismo de nossas relações uns com os outros, pausemos um minuto de meditação e prece, para observar com serenidade o desajuste em causa ou o hiato havido.

Em seguida, aceitemos a mais elevada função da palavra: a da construção do bem e saibamos esclarecer-nos, mutuamente, esculpindo o verbo em tolerância e fraternidade, a fim de que a marcha eficiente do grupo não se interrompa.

Certifiquemo-nos de que muitos corações do caminho esperam unicamente um toque de gentileza para se descerrar à alegria e ao trabalho, ao apaziguamento e à renovação, lembrando certas portas de nobre e sólida estrutura que aguentam golpes e murros de violência, sem se alterarem, mas que se abrem, de imediato, sob a doce pressão de uma chave.
 
Do livro Mãos Unidas, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier. 

 
Mensagem copiada da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano8/372/emmanuel.html