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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Encontro em Hollywood


Encontro em Hollywood

Caminhávamos, alguns amigos, admirando a paisagem do Wilshire Boulevard,  em Hollywood, quando fizemos parada, ante a serenidade do Memoriam Park Cemetery, entre o nosso caminho e os jardins de Glendon Avenue.
A formosa mansão dos mortos mostrava grande movimentação de Espíritos libertos da experiência física, e entramos. 

Tudo, no interior, tranquilidade e alegria. 

Os túmulos simples pareciam monumentos erguidos à paz, induzindo à oração. Entre as árvores que a primavera pintara de verde novo, numerosas entidades iam e vinham, muitas delas escoradas umas nas outras, à feição de convalescentes, sustentadas por enfermeiros em pátio de hospital agradável e extenso. 

Numa esquina que se alteava com o terreno, duas laranjeiras ornamentais guardavam o acesso para o interior da pequena construção que hospeda as cinzas de muitas personalidades que demandaram o Além, sob o apreço do mundo. A um canto, li a inscrição: “Marilyn Monroe – 1926-1962”.  Surpreendido, perguntei a Clinton, um dos amigos que nos acompanhavam:

-- Estão aqui os restos de Marilyn, a estrela do cinema, cuja história chegou até mesmo ao conhecimento de nós outros, os desencarnados de longo tempo no Mundo Espiritual? 

-- Sim – respondeu ele, e acentuou com expressão significativa: -- não se detenha, porém, a tatear-lhe  a legenda mortuária... Ela está viva e você pode encontrá-la, aqui e agora...

-- Como?

O amigo indicou frondoso olmo chinês, cuja galharia compõe esmeraldino refúgio no largo recinto, e falou:

-- Ei-la que descansa, decerto em visita de reconforto e reminiscência...

A poucos passos de nós, uma jovem desencarnada, mas ainda evidentemente enferma, repousava a cabeleira loura no colo de simpática senhora que a tutelava. Marilyn Monroe, pois era ela, exibia a face desfigurada e os olhos tristes. Informados de que nos seria lícito abordá-la, para alguns momentos de conversa, aproximando-nos, respeitosos. 

Clinton fez a apresentação e aduzi:

-- Sou um amigo do Brasil que deseja ouvi-la.

-- Um brasileiro a procurar-me, depois da morte? 

-- Sim, e porque não? – acrescentei – a sua experiência pessoal interessa a milhões de pessoas no mundo inteiro...

E o diálogo prosseguiu:

-- Uma experiência fracassada...

-- Uma lição talvez.

-- Em que lhe poderia ser útil?

-- A sua vida influenciou muitas vidas e estimaríamos receber ainda que fosse um pequeno recado de sua parte para aqueles que lhe admiraram os filmes e que lhe recordam no mundo a presença marcante...

-- Quem gostaria de acolher um grito de dor?

-- A dor instrui...

-- Fui mulher como tantas outras e não tive tempo e nem disposição para cogitar de filosofia. 

-- Mas fale mesmo assim...

-- Bem, diga então às mulheres que não se iludam a respeito de beleza e fortuna, emancipação e sucesso... Isso dá popularidade e a popularidade é um trapézio no qual raras criaturas conseguem dar espetáculos de grandeza moral, incessantemente, no circo do cotidiano. 

-- Admite, desse modo, que a mulher deve permanecer no lar, de maneira exclusiva? 

-- Não tanto. O lar é uma instituição que pertence à responsabilidade tanto da mulher quanto do homem. Quero dizer que a mulher lutou durante séculos para obter a liberdade...  Agora que a possui nas nações progressistas, é necessário aprender a controlá-la. A liberdade é um bem que reclama senso de administração, como acontece ao poder, ao dinheiro, à inteligência...

Pensei alguns momentos na fama daquela jovem que se apresentara à Terra inteira, dali mesmo, em Hollywood, e ajuntei:

-- Miss Monroe, quando se refere à liberdade da mulher, você quer mencionar a liberdade do sexo?

-- Especialmente. 

-- Porquê?

-- Concorrendo sem qualquer obstáculo ao trabalho do homem, a mulher, de modo geral, se juga com direito a qualquer tipo de experiência e, com isso, na maioria das vezes compromete as bases da vida. Agora que regressei à Espiritualidade, compreendo que a reencarnação é uma escola com muita dificuldade de funcionar par o bem, toda vez que a mulher foge à obrigação de amar, nos filhos, a edificação moral a que é chamada.

-- Deseja dizer que o sexo...

-- Pode ser comparado à porta da vida terrestre, canal de renascimento e renovação, capaz de ser guiado para a luz ou para as trevas, conforme o rumo que se lhe dê. 

-- Ser-lhe-ia possível clarear um pouco mais este assunto? 

-- Não tenho expressões para falar sobre isso com o esclarecimento necessário; no entanto, proponho-me a afirmar que o sexo é uma espécie de caminho sublime para a manifestação do amor criativo, no campo das formas físicas e na esfera das obras espirituais, e, se não for respeitado por uma sensata administração dos valores de que se constitui, vem a ser naturalmente tumultuado pelas inteligências animalizadas que ainda se encontram nos níveis mais baixos da evolução. 

-- Miss Monroe – considerei, encantado, em lhe ouvindo os conceitos --, devo asseverar-lhe, não sem profunda estima por sua pessoa, que o suicídio não lhe alterou a lucidez.

-- A tese do suicídio não é verdadeira como foi comentada – acentuou ela sorrindo. – Os vivos falam acerca dos mortos o que lhes vem à cabeça, sem que os mortos lhes possam dar a resposta devida, ignorando que eles mesmos, os vivos, se encontrarão, mais tarde, diante desse mesmo problema... A desencarnação me alcançou através de tremendo processo obsessivo. Em verdade, na época, me achava sob profunda depressão. Desde menina, sofri altos e baixos, em matéria de sentimento, por não saber governar a minha liberdade... Depois de noites horríveis, nas quais me sentia desvairar, por falta de orientação e de fé, ingeri, quase semi-inconsciente, os elementos mortíferos que me expulsaram do corpo, na suposição de que tomava uma simples dose  de pílulas mensageiras do sono...

-- Conseguiu dormir na grande transição?

-- De modo algum. Quando minha governanta bateu à porta do quarto, inquieta ao ver a luz acesa, acordei às súbitas da sonolência a que me confiara, sentindo-me duas pessoas a um só tempo... Gritei apavorada, sem saber, de imediato, identificar-me, porque lograva mover-me e falar, ao lado daquela outra forma, a vestimenta carnal que eu largara...  Infelizmente para mim, o aposento abrigava alguns malfeitores desencarnados que, mais tarde, vim a saber, me dilapidavam as energias. Acompanhei, com indescritível angústia, o que se seguiu com o meu corpo inerme; entretanto, isso faz parte de um capítulo do meu sofrimento que lhe peço permissão para não relembrar...

-- Ser-lhe-á possível explicar-nos porque terá experimentado essa agudeza de percepção, justamente no instante em que a morte, de modo comum, traz anestesia e repouso?

-- Efetivamente, não tive a intenção de fugir da existência, mas, no fundo, estava incursa no suicídio indireto. Malbaratara minhas forças, em nome da arte, entregando-me a excessos que me arrasaram as oportunidades de elevação... Ultimamente, fui informada por amigos daqui de que não me foi possível descansar, após a desencarnação, enquanto não me desvencilhei da influência perniciosa de Espíritos vampirizadores a cujos propósitos eu aderira, por falta de discernimento quanto à leis que regem o equilíbrio da alma. 

-- Compreendo que dispõe agora de valiosos conhecimentos, em torno da obsessão...

-- Sim, creio hoje que a obsessão, entre as criaturas humanas, é um flagelo muito pior que o câncer. Peçamos a Deus que a ciência no mundo se decida a estudar-lhe os problemas e resolvê-los...

A entrevistada mostrava sinais de fadiga e, pelos olhos da enfermeira que lhe guardava a cabeça no regaço amigo, percebi que não me cabia avançar.

-- Mis Monroe – concluí --, foi um prazer para mim este encontro em Hollywood. Podemos, acaso, saber quais são, na atualidade, os seus planos para o futuro?

Ela emitiu novo sorriso, em que se misturavam a tristeza e a esperança, manteve silêncio por alguns instantes e afirmou:

--Na condição de doente, primeiro, quero melhorar-me... Em seguida, como aluna no educandário da vida, preciso repetir as lições e provas em que fali...  Por agora, não devo e nem posso ter outro objetivo que não seja reencarnar, lutar, sofrer e reaprender...

Pronunciei algumas frases curtas de agradecimento e despedida e ela agitou a pequenina mão num gesto de adeus. Logo após, alinhavei estas notas, à guisa de reportagem, a fim de pensar nas bênçãos do Espiritismo Evangélico e na necessidade da sua divulgação.

Escrito extraído da obra:  Estante da Vida, pelo Espírito Irmão X,  psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 1, publicada em 1969.
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NOTA:


  Iniciando a leitura da obra referida, deparei de início com essa “reportagem do além” com entrevista de personagem de grande influência na arte cinematográfica do século XX, pelo Espírito Irmão X, que foi jornalista no Brasil, que apresenta muitos pontos para análise na atualidade da nossa sociedade, o que faremos apenas referência, deixando a reflexão a critério dos leitores.


1. Relato pelo próprio Espírito de como realmente se deu a sua morte na última existência na Terra.


2. Os cuidados que o Espírito recebe para o seu restabelecimento e a consciência de seu retorno nas lides onde faliu.


3. A consciência de que o seu comportamento e os excessos na vida lhe trouxeram desequilíbrio que a levaram à morte.


4. Dá clareza à questão da liberdade da mulher, apontando: “A liberdade é um bem que reclama senso de administração, como acontece ao poder, ao dinheiro, à inteligência...”


5. Avalia a questão da morte, de que nem tudo o que se diz ou se conclui sobre certas ocorrências, embora as aparências, são verdadeiras. 


Outros pontos poderiam ser levantados, mas ficaremos com esses que anotamos.


                                       Dorival da Silva

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Marta, Marta!

MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)



 
Marta, Marta!

Jesus na casa de Marta e Maria é uma passagem evangélica da qual gosto muito. Talvez seja a minha preferida. Interfere diretamente no cotidiano familiar.
Marta e Maria eram irmãs de Lázaro, amigo de Jesus e por ele ressuscitado, como nos narram as Sagradas Escrituras.
Numa das visitas à casa da família, Jesus, acompanhado dos discípulos, transmitia uma série de ensinamentos. Maria ouvia-o, embevecida. Marta, por sua vez, ia e vinha, preocupada em deixar a casa em ordem e à altura de tão ilustre visitante. Decerto preocupava-se com a refeição a ser preparada, aposentos a serem arrumados... Vendo que Maria não a ajudava, ralhou com ela na frente de Jesus e dos apóstolos. Em seguida, pediu a Jesus que dissesse a Maria para ajudá-la. É quando o Cristo aproveita a situação para transmitir a Marta e a toda a humanidade o memorável ensinamento:
"Marta, Marta, tu andas muito inquieta, e te embaraças com o cuidar em muitas coisas. Entretanto só uma coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada”. (São Lucas, cap. X, v. 41 e 42.)
O jornalista Stephen Kanitz, no artigo Família em Primeiro Lugar, conta que certa vez foi almoçar com um respeitado empresário. O almoço foi no restaurante da empresa. Por ser um homem muito ocupado, o empresário raramente almoçava em casa ou em restaurantes.
Stephen comenta que o homem estava com o olhar estranho, talvez distante. Foi quando uma lágrima lhe escorreu do olho esquerdo. O jornalista tentou não dar muita importância ao fato. Só que, durante a sobremesa, o poderoso empresário começou a chorar copiosamente. Desconcertado, Kanitz começou a imaginar se havia dito algo impróprio ou se a empresa estava atravessando uma fase difícil... Foi quando o homem disse, meio sem jeito:

"Minha filha vai se casar amanhã e só agora a ficha caiu. Eu fui um tremendo de um workaholic e agora percebo que mal a conheci. Conheço tudo sobre meu negócio, mal conheço minha própria filha. Dediquei todo o tempo à minha empresa e me esqueci de me dedicar à família".
Stephen confessa que nunca mais foi o mesmo depois da cena. Saiu arrasado do almoço e, jurando a si mesmo que nunca aceitaria um emprego desses que sugam a pessoa a ponto de não haver mais tempo para dar boa noite aos filhos, levá-los ao cinema, à praia, acompanhar suas descobertas, vitórias e derrotas...
Finalizando o artigo, o jornalista argumenta: Colocar a família em primeiro lugar tem um custo com o qual nem todos podem arcar. Implica menos dinheiro, fama e projeção social. Muitos de seus amigos poderão ficar ricos, mais famosos que você e um dia olhá-lo com desdém. Nessas horas, o consolo é lembrar um velho ditado que define bem por que priorizar a família vale a pena: ‘Nenhum sucesso na vida compensa um fracasso no lar’."

Qual o verdadeiro "sucesso" de ter um filho drogado por falta de atenção, carinho e tempo para ouvi-lo no dia a dia? De que adianta fazer uma fortuna para ter de dividi-la pela metade num ruinoso divórcio e pagar pensão à ex-esposa para o resto da vida? De que adianta ser um executivo bem-sucedido e depois chorar na sobremesa porque não conheceu sequer a própria filha?
Saber escolher a melhor parte, como ressalta o Cristo, nem sempre é fácil. Vivemos num mundo que exige muito de nós. Ter um curso universitário já não basta. São necessárias mais de uma pós-graduação, mestrado, vários idiomas. Além disso, congressos, simpósios, mesas-redondas... Conheço gente que passa mais tempo em hotéis, aviões e aeroportos do que em casa. E quando está em casa, mal tem tempo para os filhos, a esposa ou o marido. A pessoa fica ao computador, às voltas com planilhas e relatórios, respondendo a e-mails e enviando outros tantos, o celular não para de tocar...
A grande maioria das pessoas tem, hoje em dia, a agenda cheia. Nem sempre é fácil conciliar família e trabalho. Mas quem se dispõe a investir em cônjuge e filhos não pode perdê-los de vista, sob pena de ver o casamento ruir e os filhos se transformarem em ilustres desconhecidos.
Muita gente alega que trabalha feito condenado para garantir um futuro melhor aos filhos. De que futuro estamos falando? Os mais conceituados colégios? Pós-graduação no exterior? Residências cinematográficas? Fins de semana em locais paradisíacos? Idas e mais idas a boates e restaurantes badalados? Talvez os filhos não precisem e nem queiram isso tudo. Queiram apenas nosso ombro amigo, palavras de incentivo, conselhos e advertências precisas... Querem rir e chorar conosco; viver ao nosso lado, curtir o pai e a mãe que têm. O melhor para eles nem sempre é ver os pais se matando de trabalhar para lhes dar o que é top de linha. O melhor talvez seja tempo livre para ajudá-los nas tarefas escolares, colocá-los para dormir... Enfim, aquilo que os pais sonham fazer, mas muitos acabam não fazendo porque querem dar tudo aos filhos. Tudo o quê? Esse tudo pode ser mais simples e acessível do que pensamos. Basta optar pela melhor parte, a que não nos será tirada.
Falar sobre Jesus na casa de Marta e Maria é, além do que acabei de expor, prestar atenção na dinâmica do lar, a fim de não darmos excessiva importância às coisas da casa.
Faço parte da União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep), aonde cheguei em novembro de 1984. Conversando com um dos grupos de visitação fraterna da Casa, aprendi que as famílias visitadas nunca devem se preocupar em preparar lanche para os visitadores. Um cafezinho sequer. Motivo: alguém da família vai ficar tão preocupado com o café no fogo e o bolo no forno que não aproveitará direito a visita fraterna. Uma visita em nome de Jesus. O mais importante, nessas ocasiões, é a prece que será feita, o bate-papo acolhedor, a leitura edificante de um livro espírita... Se alguém ficar indo e vindo da cozinha, perderá o contato com Jesus e, tal qual Marta, estará inquieto, se preocupará com muitas coisas, quando só uma é necessária.
Este comportamento em relação às coisas da casa é interessante de ser observado em dias de festas. Aniversários, almoços, jantares, Natal... Martas variadas se matam de trabalhar, ficam até altas horas na cozinha, fazem mais de uma sobremesa, mais de uma opção de carne... O resto da família acaba sofrendo horrores, pois é obrigado a ir inúmeras vezes ao supermercado, a cozinha fica intransitável... Na hora da festa, muitas vezes Marta ainda está na cozinha, atarefada com os últimos preparativos. Quando por fim consegue dar atenção aos convidados, a festa já está no fim e ela mal teve tempo de aproveitá-los. Além disso, sobrou comida. Haja louça para lavar. Dá-lhe reclamação de que ninguém da família aparece para ajudar. Isso sem falar no dinheiro gasto além da conta. A melhor parte, que era o convívio fraterno com os convidados, ficou em segundo plano.
Conheci uma senhora (a quem chamarei de Lourdes) que fazia questão de cuidar pessoalmente de toda a casa. Não queria ninguém ajudando; não admitia nenhuma mulher além dela mexendo em panelas, vassouras e afins. O tempo foi passando, ela envelhecendo, mas não largava o hábito. Uma vez, já tarde da noite, depois de terminar a limpeza da casa todinha, disse a si mesma:- Graças a Deus! Estou morta de cansada, mas a minha casa está limpa!
D. Lourdes já estava com mais de 60 anos. O ritual semanal, contudo, permanecia, só que agora terminando mais tarde, já que estava mais lenta em função da idade. Onde a melhor parte? Onde o tempo para curtir a família?
Ela, no domingo, fazia questão de elaborar os mais variados pratos para o marido e os dois filhos. Certa vez, seu marido confidenciou a meu pai: - Eu admiro tanto aquelas famílias que, no domingo, almoçam fora para aproveitar melhor o dia! Ou, então, comem algo bem trivial e vão passear com os filhos. Aqui em casa é esse festival de comida, é minha esposa presa o dia inteiro na cozinha, se acabando para agradar a família. Agradaria muito mais se fizesse apenas um macarrão e depois saísse para dar uma volta comigo e com as crianças. Ou então, se concordasse em almoçar fora de vez em quando.
Certa feita, no aniversário da mãe, os irmãos de Dona Lourdes falaram em encomendar o bolo. Família grande, com muitos irmãos, filhos e primos, requer um bolo grande. Ela insistiu em fazê-lo, pois era uma data marcante. Os irmãos, então, deixaram o bolo por conta dela. Na hora da festa, chega ela com um bolo enorme na mão e com a fisionomia totalmente desfeita. Morta de cansada. Um dos irmãos, então, alegou que se tivessem encomendado o bolo, ela estaria descansada para a festa, aproveitaria melhor o evento. Mas não. Estava exausta, não curtiria a festa como os demais. Por que agia assim? Atavismo, como já abordado em outro capítulo?
Lidei com jovens espíritas durante muitos anos e ouvi de um deles uma história interessante. Ele, que gostava de escrever, estava no início do curso de letras. Volta e meia, trazia um texto para eu ou alguém do centro espírita ler. Durante um desentendimento doméstico com a mãe, ela disse, magoada, que ele nunca lhe mostrara um texto de sua autoria. Só para o pessoal do centro. Foi então que ele percebeu que agia assim, não de forma proposital, mas porque estava acostumado a ver a mãe sempre preocupada com o almoço, o tapete, o banheiro... Toda vez que ele começava a comentar sobre um texto seu, ela o interrompia com frases do tipo “Pega a farinha para mim?”“Fecha a janela da sala?”, “Desliga a máquina de lavar?”, “Está bom de feijão ou quer mais?”. Ele, sem se dar conta, passara a ver a mãe como a serviçal sempre às voltas com assuntos domésticos. Jamais passou por sua cabeça que a mãe poderia estar interessada em seus textos. A mãe não o acostumara a tratar desses assuntos com ela. Ele, então, encontrara acolhida no pessoal do centro espírita.
Marta, Marta! Você dá mais importância às panelas, às toalhas e aos lençóis do que ao marido e aos filhos! É esse o seu projeto de construção de um lar? Onde a melhor parte? Acorda, Marta!

BIBLIOGRAFIA:

1 -
  KANITZ, Stephen. Família em Primeiro Lugar. Revista Veja, nº 7, 20 de fevereiro de 2002, São Paulo, SP.
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Mensagem extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano8/373/marcelo_teixeira.html