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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Qual o seu álibi?

                                                    Qual o seu álibi?


Ninguém ignora que, em num certo instante incerto, deixará o corpo físico.  Pois isso ocorreu ao longo da história da humanidade, sem nenhuma exceção. Todos os dias, os noticiários nos relembram daquilo que se denomina morte, por uma infinidade de causas.  Muitas vezes isso ocorre próximo de nós, dentro da própria família. 

Sendo o corpo frágil, temporário e depreciável em pouco tempo, ele sofre com os fatores ambientais e não depende do seu ocupante para cessar as suas atividades. Após essa paralisação definitiva, para onde irá o seu ocupante?

Certamente estará em algum lugar; mas que lugar seria esse? Se escolheu um veículo frágil para uso de pouco tempo indefinido, certamente veio de algum lugar e, em um momento incerto, para lá retornará.

Portanto, o viajante não é o corpo, porque este tem um fim, mas sim o elemento essencial e permanente que atravessa tempos incontáveis, rumando pela eternidade e acumulando o que cultiva em todas as épocas de sua trajetória. 

A importância reside no tesouro que acumula. O receptáculo é o espírito e, quanto em um corpo, é chamado de alma. É aí que reside o Céu, ou o Inferno.  

O Espírito, algo grandioso e complexo, é senhor de si mesmo. Atua como réu e juiz, julgando a própria causa. Como um julgador incansável, suas sentenças são rigorosamente cumpridas. Ele não se satisfaz com artifícios escapistas ou engenhosas justificativas, especialmente quado se trata de intenções e atos maldosos, indecentes e voluptuosos que causaram desvirtuamento de qualquer ordem e sofrimento a quem quer que seja, mesmo depois da morte. As influências morais danosas repercutem no tempo… Esse juiz é inexorável!  Exige reparo, certificação de que a lição foi aprendida, e a certeza de que a recuperação esteja sedimentada, o que vem a se denominar educação espiritual, definitiva.

Existem estágios nesse processo: o reconhecimento de que a dívida pertence ao indivíduo, o remorso, o arrependimento sincero, a busca pela reparação, a resistência aos efeitos das consequências, a prova da efetivação do aprendizado e a determinação de não retornar ao erro.  Estes passos não têm tempo definido para se cumprir, nem mesmo pode se encerrar numa única reencarnação, depende da vontade do Espírito de se educar, e da satisfação do juiz implacável, a consciência.  Um dos ensinamentos de Jesus Cristo ao apóstolo Pedro foi: “Perdoar, não sete vezes, mas sete vezes setenta vezes…” Todos somos devedores uns dos outros de alguma forma, pois os males cometidos disseminam como ervas daninhas nas almas com raízes profundas, que precisarão realizar incontáveis ações benéficas para sanar as consequências. 

Sempre se encontrarão os efeitos das iniciativas implementadas em qualquer época, de tal forma que o autor se verá obrigado a reparar a desarmonia que causou na casa do Pai, que é o Universo, para que a consciência se harmonize com a própria harmonia de Deus. Sem a qual Espírito algum encontrará paz. 

Qual é o seu álibi?  Diante da consciência, somente o bem serve como justificativa em qualquer circunstância. Veja-se que isto não é exigência de nenhuma autoridade espiritual, nenhum tribunal de potestades, é a Lei de Deus ínsita no próprio ser. A lucidez da consciência com a conquista do bem traz o Céu -- um estado de espírito --, ou, com o mal, instala-se um estado de sombra que imporá a perturbação, até que se dê cabo de seus efeitos. 

Referindo-se novamente ao apóstolo Pedro, que ensina: “A caridade cobre uma multidão de pecados…”, o bem em todos os passos, momentos e circunstâncias ilumina o Espírito, o que significa que limpa a consciência de muitos resquícios dos quais por agora não se lembra, mas que o alivia e amplia o estado íntimo de alegria. É o Céu que se constrói em seu interior.  

A razão de certas alegrias ou sofrimentos que por ora não são conhecidos só será relembrada quando o Espírito estiver novamente no mundo espiritual. O esquecimento dos fatos passados se dá enquanto na vida material, sendo isso próprio da nova oportunidade -- a presente reencarnação --, tendo do passado nuanças intuitivas, que se apresentam refletidas como tendências para as Artes, as Ciências, e as diversas práticas para a condução da vida, podendo-se também surgir impulso para o bem ou para o mal, se lhe era de cultivo em existência passada. 

Cabe a cada indivíduo o melhor direcionamento dos ímpetos que surgem, refletindo bem antes das decisões, sabendo que pela intenção e o desfecho do que permitir, os resultados o farão senhor ou vítima de si mesmo. 

Qual é o seu álibi?

                                                     Dorival da Silva


1. Mateus, 18:21-22
2. 1 Pedro 4:8


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Quem são os presos de cadeias?




Quem são os presos de cadeias?


Todos se originaram de um pai e uma mãe. Foram, desejados ou não, foi construção do amor ou da inconsequência. Foram embriões, fetos, nascituros, criancinhas, crianças, pré-adolescentes, adolescentes, jovens...

Tiveram mães ou precariedade de mães, madrastas, avós ou “avódrastas”.  Muitos, filhos da rua. Alguns, de famílias abastadas, mas abandonados dentro de casa.  Outros, em abrigos... Poucos pais constam dos documentos de registros das crianças, àquelas que estão à margem da sociedade considerada regular.  Há covardia e irresponsabilidade enormes, em conta o estado educacional reinante. Não há respeito em relação aos outros, mesmo sendo seus filhos; não há comprometimento com a vida, mesmo sendo suas vidas; não tendo responsabilidade com a sociedade, ignoram que são peças integrantes dela, inconscientes de que dependendo de suas qualidades é a qualidade do ambiente em que se vive.

Em quantidade significativa, por falta de opção educacional, cultural, esportiva e de trabalho, foram capturados para o tráfico, para o comércio ilícito, o roubo, tornando-se criminosos inveterados.

De quem é a culpa? Pode-se dizer com certeza que a culpa é de toda a sociedade. Somente poder-se-ia dizer isenta se o número de criminosos fosse diminuto e as organizações oficiais ou não tivessem realizado a sua parte de forma que os indivíduos renitentes tivessem rejeitado todas as possibilidades para se tornarem homens de bem. O que não ocorre, existindo verdadeiro despautério na condução daquilo que é público, destruindo a cultura de educar homens ilibados, porque estariam numa sociedade lídima no transcorrer dos tempos.

Considerando o que acima se expõe, anotamos abaixo a sabedoria de Allan Kardec, quando faz esclarecimento complementar à questão 685 de O Livro dos Espíritos, publicado em 18.04.1857:

“Não basta se diga ao homem que lhe corre o dever de trabalhar. É preciso que aquele que tem de prover à sua existência por meio do trabalho encontre em que se ocupar, o que nem sempre acontece. Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assume as proporções de um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Mas, esse equilíbrio, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências, durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos”.

As sementes da árvore-da-vida abundante para todos são existentes de todos os tempos.   Jesus, apresentou as regras do bem viver, o respeito ao próximo, o amor para com todos.  Clarificou para o Mundo a continuidade da vida após esta vida, tanto que ele retornou após a sua morte física, para comprovar essa verdade. Falou das verdades vindas de Deus através da oração, da fé, além de tudo o que demonstrou enquanto caminhava entre os homens de carne, apresentou, para que não ficassem dúvidas, as manifestações de pentecostes.  Luzes que se faziam à luz meridiana, homens e mulheres que falavam nas mais variadas línguas e dialetos, para que as pessoas vindas de todas as partes pudessem bem entender a mensagem que fluía da espiritualidade, trazendo a esperança e revelações sobre a vida nos planos espirituais.

O homem moderno, com a inteligência desenvolvida para as ciências e as tecnologias, deixou distanciar em atraso, o que já vai distante, a questão moral.  O orientador espiritual “Emmanuel”, mentor do médium Francisco Cândido Xavier, aponta em 1950, na obra Pão Nosso, capítulo 36, o ensinamento clarificador para quem presta atenção à vida: As portas do Céu permanecem abertas. Nunca foram cerradas. Todavia, para que o homem se eleve até lá, precisa asas de amor e sabedoria”.

Tudo pede esforços para se iniciar, para vivenciar e superar. Não há viagem no mundo da experiência no campo da vida física que não pedirá esforços de superação diante dos desafios que surgirão. Virtude existe quando temos que nos contrariar, existindo circunstância que nos proporciona locupletar de vantagens e vantagens aos arrepios da lei, ainda mesmo, quando tudo parece impossível de descoberto. O juiz maior é a consciência. Impossível de descoberto para os outros, que em tese não têm nada com o fato, mas o que age à sobra das normas ordenadoras da vida social, sabe e não esquece.

As consequências são sempre danosas à vida, advém os reflexos do mal, pois toda intenção negativa gera para o infrator responsabilidade correspondente.

Quem são os presos de cadeias?  Todos que praticam o mal e não se redimem. Existem as prisões de grades e paredes materiais, como as psicológicas e as espirituais, sempre será necessário corrigir os efeitos dos desatinos, das insinceridades, dos desrespeitos à vida, à organização social.

                                                    Dorival da Silva

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Desobsessão! Como fazer?


O Espiritismo responde
Ano 9 - N° 411 - 26 de Abril de 2015
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)


BLOG
ESPIRITISMO SÉCULO XXI



Um companheiro de lides espíritas perguntou-nos: Por que os protetores espirituais não impedem que os Espíritos obsidiem uma pessoa?
Existem em nosso meio pessoas que lidam com a mesma dúvida, como há também aqueles que gostariam que fosse adotada nas instituições espíritas uma prática usual em determinados círculos, na qual o agente causador da obsessão é afastado do enfermo, às vezes até mesmo por meio de violência.

Ora, se essa prática fosse realmente eficaz, certamente Allan Kardec e outros autores a teriam proposto. Ocorre que obsessão não se dá por acaso e, conforme diz Kardec, sua causa mais frequente, sobretudo nos casos mais graves, é o desejo de vingança. Alguém lesou determinada pessoa e esta, incapaz de perdoar, parte para o desforço, para a desforra, para a vindita.

O objetivo da desobsessão em casos assim não poderia ser simplesmente a separação dos litigantes, fato que, ainda que fosse possível, não resolveria a pendência que deu origem ao sentimento de vingança. Trata-se, pois, de algo maior: a reconciliação dos litigantes, para que eles se acertem e resolvam, em definitivo, o problema que deu origem ao processo.

O tratamento espírita da obsessão é objeto de inúmeras obras espíritas e todas nos mostram que as pessoas envolvidas no processo – tanto o algoz como a vítima – jamais deixam de ser assistidas pelos benfeitores espirituais.
É necessário, contudo, para a real eficácia do tratamento, que a pessoa que sofre a constrição obsessiva faça a sua parte, o que é proposto com clareza por Allan Kardec no capítulo 28, itens 81 e seguintes, d’ O Evangelho segundo o Espiritismo.

Evidente que, no tocante a esse assunto e a muitos outros, não podemos restringir-nos ao que Kardec escreveu, mas todos os autores, encarnados e desencarnados, que trataram até hoje do tema confirmaram o que o Codificador estabeleceu para que a terapia desobsessiva tenha sucesso, a saber:
1.) a necessidade do tratamento magnético;
2.) a importância da chamada doutrinação;
3.) a renovação das atitudes por parte do enfermo.

Encontramos na Revista Espírita de janeiro de 1865, pp. 4 a 19, o relato de um dos fatos que levaram Kardec a semelhante conclusão. Referimo-nos ao caso de Valentine Laurent, uma jovem que residia em Marmande (França).

Com 13 anos na época, Valentine experimentava convulsões diárias. Ela ficava tão violenta que era preciso amarrá-la ao leito, providência que exigia o concurso de cinco pessoas. Exorcismos, missas, passes – nada disso resolveu o problema. O Sr. Dombre, dirigente de um grupo espírita radicado na cidade de Marmande, inicialmente utilizou os passes. Com a insuficiência deles, resolveu evocar a entidade que perturbava a jovem. Teve início, então, a doutrinação, que se realizou no período de 16 a 24-9-1864. A entidade afastou-se; deu-se depois a recaída e afinal o êxito.

Ao relatar na Revista Espírita a experiência de Marmande, Kardec fez as seguintes observações:
1ª.) O caso demonstrou a insuficiência do tratamento magnético.
2ª.) Era preciso, e é preciso em casos assim, remover-se a causa.
3ª.) Para removê-la é necessário o que chamamos de doutrinação.

Kardec diria depois, como vemos no cap. 28, item 81, d´O Evangelho segundo o Espiritismo, acima citado, que a vontade do paciente torna mais fácil o sucesso.

Suely Caldas Schubert, reportando-se ao tema, escreveu em sua conhecida e apreciada obra "Obsessão/Desobsessão": 
1.) Esclarecer o paciente é fazê-lo sentir quanto é essencial a sua participação no tratamento; é orientá-lo, dando-lhe uma visão gradativa, cuidadosa, do que representa em sua existência aquele que é considerado o obsessor; é levantar-lhe as esperanças, se estiver deprimido; é transmitir-lhe a certeza de que existem dentro dele recursos imensos que precisam ser acionados pela vontade firme, para que venham a eclodir, revelando-lhe facetas da própria personalidade até então desconhecidas dele mesmo. É, enfim, ir aos poucos conscientizando-o das responsabilidades assumidas no passado e que agora são cobradas através do irmão infeliz que se erigiu em juiz, cobrador ou vingador. (Obsessão/Desobsessão, segunda parte, cap. 9, p. 114.)
2.) O obsidiado só se libertará quando ele mesmo se dispuser a promover a autodesobsessão. O Espiritismo não pode fazer por ele o que ele não fizer por si mesmo. Muito menos ainda os médiuns, ou alguém que lhe queira operar a cura. É preciso compreender que o tratamento da obsessão não consiste na expulsão do obsessor: alcançado isso, se fosse possível, ele depois voltaria, com forças redobradas, à obra interrompida. A terapia tem em vista a reconciliação; trata-se de uma conversão a ser feita, tarefa que requer do obsidiado uma ampla cooperação, grandes esforços e boa vontade. (Obra citada, segunda parte, cap. 2.)
3.) A renovação moral é, como já foi dito, fator essencial ao tratamento desobsessivo. Yvonne A. Pereira, em seu livro Recordações da Mediunidade, é incisiva a tal respeito: “O obsidiado, se não procurar renovar-se diariamente, num trabalho perseverante de autodomínio ou auto-educação, progredindo em moral e edificação espiritual, jamais deixará de se sentir obsidiado, ainda que o seu primitivo obsessor se regenere. Sua renovação moral, portanto, será a principal terapêutica, nos casos em que ele possa agir”. (Obra citada, segunda parte, cap. 2.)

Cremos que as explicações acima dão-nos subsídios suficientes para entendermos por que, diante da obsessão, não é suficiente afastar, por meio da violência, o agente espiritual que a provoca, fato que, por si só, demonstra a ineficácia dos exorcismos.

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Página copiada da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá 
ser acessada no endereço:
 http://www.oconsolador.com.br/ano9/411/oespiritismoresponde.html

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Entrevista de Divaldo Pereira Franco ao Jornal Tribuna de Minas



Entrevista de Divaldo Pereira Franco ao Jornal Tribuna de Minas, de Juiz de Fora, Minas Gerais, em 2 de setembro de 2014  - Publicada em sua edição de 14 de setembro de 2014.
 
Orador espírita fala sobre violência, perdão, céu e inferno
 
Reconhecido como um dos maiores médiuns e oradores espíritas da atualidade e o maior divulgador do Espiritismo por todo o mundo, o baiano de Feira de Santana, Divaldo Pereira Franco, chega aos 87 anos com números que impressionam: são mais de treze mil conferências, em cerca de duas mil cidades brasileiras e em sessenta e cinco países, em sessenta e sete anos dedicados à religião que abraçou. 
Como médium, publicou duzentos e cinquenta e cinco livros, com mais de oito milhões de exemplares, registrando-se duzentos e onze autores espirituais. Traduzidos para dezessete idiomas. A renda proveniente da venda dos livros e os direitos autorais foram doados a entidades filantrópicas e mantêm a Mansão do Caminho, instituição fundada por ele em Salvador e que hoje atende a cerca de três mil crianças e adolescentes de famílias de baixa renda. 
Aposentado como escriturário no antigo Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE), em Salvador, Divaldo tem mais de seiscentos filhos adotivos e mais de duzentos netos e bisnetos. Mesmo com a idade avançada e após ter vencido um câncer e um infarto, o espírita não recusa convites para levar o conhecimento da doutrina codificada por Kardec a qualquer parte do mundo. Religião que, para ele, é ciência e filosofia de vida. No dia 2 de setembro, quando esteve na cidade para mais uma palestra, o orador recebeu a Tribuna e falou sobre perdão, violência, céu e inferno.
 
Tribuna – Onde o senhor encontra vitalidade para tantos compromissos?
 
Divaldo Franco - É a alegria de viver. Quando abraçamos uma doutrina que nos oferece a satisfação da vida, parece que o tempo não comporta as responsabilidades, os compromissos que abraçamos. O Espiritismo é uma ciência porque demonstra, em laboratório, a sobrevivência da alma, mas é também uma filosofia de vida. Todos nós temos problemas, conflitos, heranças de perturbações emocionais, a hereditariedade e os nossos próprios delitos. Através da filosofia espírita da reencarnação, sabemos que tudo isso tem uma razão de ser. Não existe efeito sem causa. Desde que haja uma causa inteligente, o efeito será inteligente. Então consideramos a dor não um ato punitivo, mas um fenômeno normal. O organismo é matéria, degenera, então a dor é inevitável. O emocional aspira, o ser psicológico deseja e nem sempre consegue, então tem conflito. O ser psíquico, às vezes, não tem resistência para enfrentar as vicissitudes e delira.
O Espiritismo nos ensina não o conformismo, em que nós cruzamos as mãos e aceitamos, mas uma resignação dinâmica:Isso está me acontecendo por tal razão. Eu vou lutar para superar. Porque tudo que nos acontece é pela permissão de Deus, e Deus nos ama, realmente. Eu já tive um câncer, uma parada cardíaca, mas nunca me deixei abater. Graças a isso, sinto uma imensa alegria em viver e tenho ainda a oportunidade de confortar as pessoas.
 
- Como não se deixar abater pelas desilusões?
 
- Quando eu guardo mágoa, ela me faz mais mal do que bem, e quem me ofendeu não está dando a menor importância. Quando eu perdoo, eu me liberto, mas quem fez o mal continua devendo às leis divinas. O perdão não é esquecer o mal que nos fizeram, porque isso é fenômeno da memória. É não devolver o mal que nos fizeram, ficar em paz. Se alguém não gosta de você, a pessoa é que tem conflito. Mas na hora em que nós não gostamos, o conflito é nosso. Hoje adotamos a psicologia do perdão. Necessitamos perdoar muita coisa aos outros, mas também a nós mesmos. Somos muito enérgicos conosco. Qualquer mal que fazemos, às vezes, escamoteamos, procuramos anular. Mas chega o dia em que ele volta. O que fazer? Dá-se o direito de ser uma criatura humana, errar e levantar-se.
 
- O que o Espiritismo entende como céu e inferno?
 
- Como estados de consciência. Na Idade Média, se podia compreender a existência do alto e do baixo. Mas hoje sabemos que o infinito não está nem acima e nem abaixo. Neste momento, poderíamos estar de cabeça para baixo, em outra posição. Mas, nessa realidade, concebeu-se que o baixo, inferior, era um lugar de desgraça. Inferno era aquele lugar de irrecuperação, e o alto era a misericórdia de Deus. Com a visão da física quântica, da cosmofísica, da psicologia, não podemos conceber um pai que castiga um filho, que é mais ignorante do que perverso, eternamente, por um crime que, às vezes é infantil. O indivíduo, por exemplo, comete um crime, assassinou o outro em um momento de fúria. Ele merece uma reeducação, e não uma punição permanente. O estado de consciência leva-nos à paz ou leva-nos à desgraça. Quando temos culpa, quando temos arrependimentos, estamos no inferno. Quando estamos bem com nossa consciência, estamos no céu. Consideramos que, após a morte do que nós vivemos, iremos para regiões felizes ou regiões infelizes transitórias. Porque o mundo é uma associação de energia. O universo é um conjunto de ondas concêntricas e excêntricas. De acordo com o nosso tônus vibratório, tanto podemos ascender qualitativamente como cair qualitativamente. Eis aí o mais fascinante: o Papa João Paulo II, um homem notável, reconheceu que céu e inferno são estados de consciência, como Allan Kardec o fez.
 
- Juiz de Fora vive hoje uma situação de violência, onde jovens matam uns aos outros. O que o Espiritismo tem a dizer para as pessoas que perderam entes queridos para a violência?
 
- Há uma falência da cultura, que é imediatista. O triunfo é você derrubar o outro para ocupar o lugar. Felicidade é você ter uma paixão, fruir e descartar depois a pessoa. O conceito ético e moral sofreu uma mudança terrível. E hoje o que vale é o individualismo, o consumismo, o erotismo. Quando o indivíduo se sente frustrado, não tendo resistências morais, apela para o crime. Seja contra o outro, seja contra o patrimônio, ou contra ele mesmo, no estado de desamor. É da Divindade a proposta de nos amarmos. Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Se eu não me amo, eu nunca amarei você. Eu terei um sentimento de paixão, de desejo, mas, na hora em que eu for contrariado, o amor se transforma em revolta. Não era amor, era desejo. Mas se eu me amo, se eu me respeito, se eu desejo evoluir intelectual e moralmente, eu compreendo o quanto é difícil para mim vencer certas tendências negativas. Então eu dou direito ao outro de também ter essas tendências negativas. Eu não posso impor o meu sentimento a outrem. Eu posso expor, mas se eu for rejeitado, muito bem, parto para outra. Dessa maneira, através da reencarnação, podemos mudar esse quadro de violência. A violência do indivíduo contra si mesmo, contra a sociedade. Quando não pode destruir o outro, então mata-se, num processo de vingança, para que o outro tenha conflito. A proposta de Jesus Cristo, como filósofo, pensador, como homem que mudou a cultura do mundo em todos os tempos, é de autoamar-se para amar e educar, porque através da educação, mudamos hábitos e daremos resistências. Oferecemos ao indivíduo a esperança de que o que hoje não deu certo é véspera do que vai ser acertado amanhã. E, para aqueles que ficam no sofrimento ante a perda, dizemos: Não se desespere. Os seres queridos vivem, voltarão e você terá contato com eles.
 
- E como os praticantes acreditam poder ajudar os Espíritos que desencarnam vítimas da violência?
 
- Através da prece, lembrar com carinho. Todo impacto nos produz um grande choque emocional, e quando algo de trágico acontece ficamos fixados na tragédia. Um dia, um materialista me disse uma coisa notável: Quando vem um paciente que perdeu um familiar, eu, como materialista, não tenho nada a dizer. Então, eu formulei uma frase. Lembre-se de tudo o que você viveu de alegria, de bom e de felicidade com o seu ente querido. Não se lembre da morte dele, lembre-se do período de alegria. Nem tudo será para sempre. Ele morreu, mas eu fui feliz durante um tempo X, e aceite isso. Eu achei notável. Porque o que importa não é ser feliz permanentemente, porque é impossível, chega o momento em que a felicidade se interrompe. Mas quando recordamos coisas boas, voltamos a vivê-la. Ah, mas terminou em uma tragédia! Eu digo: Não. Interrompeu naquele momento para continuar depois.
 
- No livro Transição planetária, que o senhor psicografou, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, o autor diz que a Terra está passando por uma transformação, deixando de ser um planeta de provas e expiações para se transformar em um planeta de regeneração. Ou seja, só reencarnariam na Terra Espíritos que estão a caminho da evolução, que fizeram o bem. Pessoas que só fizeram o mal na Terra iriam reencarnar em outro planeta, de sofrimento e dor. Como as pessoas que não são espíritas podem entender essa situação?
 
- É o que pregam todas as doutrinas cristãs. A grande guerra do Armagedon, a batalha final. O Armagedon é uma região chamada Vale de Jericó, em Israel. Todas as batalhas se travavam ali, porque é uma passagem estreita. Hoje, com as armas inteligentes, não há guerra local. A guerra pode ser aqui, mas o navio pode estar do outro lado do Atlântico e mandar o míssil teleguiado de cinco mil quilômetros, e ele atinge esse hotel. É uma arma inteligente. O Armagedon é nosso estado de conflito. Nós vivemos numa sociedade conflitiva, as pessoas não se amam, se armam. Ao invés de amar umas às outras, armam-se umas contras as outras, um verdadeiro caos. Mas, concomitantemente, nunca houve tanta bondade no mundo. Estamos vendo a tragédia no Afeganistão, do Iraque, dessa intolerância do radicalismo, degolando pessoas, é trágico. Mas quantos milhares de pessoas boas. Evocamos Madre Teresa de Calcutá, Chico Xavier, pessoas anônimas, pais e mães generosos, abnegados por filhos ingratos e perversos. Cientistas notáveis, como os Médicos sem Fronteiras, contaminando-se pelo Ebola para salvar a Humanidade. Outros, em laboratórios, tentando encontrar antivírus para a AIDS, Ebola, infecções degenerativas. Creia que há muito mais gente boa do que má. Sucede que as pessoas perversas fazem muita zoada, e as pessoas boas são discretas, então passam desapercebidas. Está havendo uma mudança de conceito. Já nem todos estão satisfeitos, almejam um mundo melhor no qual não haverá dor, porque não haverá má conduta, não haverá essas enfermidades degenerativas porque já não necessitaremos sofrer. Teremos o amor como nosso norte