terça-feira, 8 de novembro de 2011

RESUMO DA DOUTRINA ESPÍRITA - Allan Kardec

Allan Kardec, na introdução de O Livro dos Espíritos, capítulo VI, faz um resumo da Codificação Espírita, dando uma ideia geral dos ensinamentos dos Espíritos, que encontram aprofundamento nas obras básicas da Doutrina Espírita, que são: “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho Segundo do Espiritismo”, “A Gênese”,  e “O Céu e O Inferno”, como adiante:

(...)

Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram, a fim de mais facilmente respondermos a certas objeções.

Ø          1.    Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
2.    Criou o Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.
3.    Os seres materiais constituem o mundo visível ou corpóreo, e os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, isto é, dos Espíritos.
4.    O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.
5.    O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espírita.
6.    Os Espíritos revestem temporariamente um invólucro material perecível, cuja destruição pela morte lhes restitui a liberdade.
7.    Entre as diferentes espécies de seres corpóreos, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade moral e intelectual sobre as outras.
8.    A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.
9.    Há no homem três coisas: 1°, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2°, a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3°, o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.
10. Tem assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos.
11. O laço ou perispírito, que prende ao corpo o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das aparições.                                                                                             
12. O Espírito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possível de conceber-se pelo pensamento. É um ser real, circunscrito, que, em certos casos, se torna apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tato.
13. Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou puros Espíritos. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria eivados das nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, etc. Comprazem-se no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons nem muito mais, antes perturbadores e enredadores, do que perversos. A malícia e as inconseqüências parecem ser o que neles predomina. São os Espíritos estúrdios ou levianos.
14. Os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a absoluta perfeição moral.
15. Deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos Espíritos, donde saíra, para passar por nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de Espírito errante.
16. Tendo o Espírito que passar por muitas encarnações, segue-se que todos nós temos tido muitas existências e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, quer na Terra, quer em outros mundos.
17. A encarnação dos Espíritos se dá sempre na espécie humana; seria erro acreditar-se que a alma ou Espírito possa encarnar no corpo de um animal.
18. As diferentes existências corpóreas do Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.
19. As qualidades da alma são as do Espírito que está encarnado em nós; assim, o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito, o homem perverso a de um Espírito impuro.
20. A alma possuía sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de se haver separado do corpo.
21. Na sua volta ao mundo dos Espíritos, encontra ela todos aqueles que conhecera na Terra, e todas as suas existências anteriores se lhe desenham na memória, com a lembrança de todo bem e de todo mal que fez.
22. O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que vence esta influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos bons Espíritos, em cuja companhia um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal.
23. Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo.
24. Os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita; estão por toda parte no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contínuo.
25. É toda uma população invisível, a mover-se em torno de nós.
26. Os Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico. Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das potências da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal explicados e que não encontram explicação racional senão no Espiritismo.
27. As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação. Os maus nos impelem para o mal: é-lhes um gozo ver-nos e assemelhar-nos a eles.
28. As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As ocultas se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa revelia.
29. Cabe ao nosso juízo discernir as boas das más inspirações. As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes servem de instrumentos.
30. Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação.
31. Podem evocar-se todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os das personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os de nossos parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no Além, sobre o que pensam a nosso respeito, assim como as revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos.
32. Os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frívolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos. Longe de se obterem bons conselhos, ou informações úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois que muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro.
33. Distinguir os bons dos maus Espíritos é extremamente fácil. Os Espíritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade. A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância. Zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade, alimentando-lhes os desejos com falazes esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na mais ampla acepção do termo, só são dadas nos centros sérios, onde intima comunhão de pensamentos, tendo em vista o bem.
34. A moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal. Neste princípio encontra o homem uma regra universal de proceder, mesmo para as suas menores ações.
35. Ensinam-nos que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que, já neste mundo, se desliga da matéria, desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se avizinha da natureza espiritual; que cada um deve tornar-se útil, de acordo com as faculdades e os meios que Deus lhe pôs nas mãos para experimentá-lo; que o Forte e o Poderoso devem amparo e proteção ao Fraco, porquanto transgride a Lei de Deus aquele que abusa da força e do poder para oprimir o seu semelhante. Ensinam, finalmente, que, no mundo dos Espíritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será desmascarado e patenteadas todas as suas torpezas, que a presença inevitável, e de todos os instantes, daqueles para com quem houvermos procedido mal constitui um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado de inferioridade e superioridade dos Espíritos correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra.
36. Mas, ensinam também não haver faltas irremissíveis, que a expiação não possa apagar. Meio de consegui-lo encontra o homem nas diferentes existências que lhe permitem avançar, conformemente aos seus desejos e esforços, na senda do progresso, para a perfeição, que é o seu destino final. 

Este o resumo da Doutrina Espírita, como resulta dos ensinamentos dados pelos Espíritos
 superiores. (...)

Allan Kardec

domingo, 6 de novembro de 2011

ZELO PRÓPRIO


“Olhai por vós mesmos, para que não percais o vosso trabalho,
 mas antes recebais o inteiro galardão.” — (2ª Epístola à JOÃO, 8.)


A natureza física, não obstante a deficiência de suas expressões em face da grandeza espiritual da vida, fornece vasto repositório de lições, alusivas ao zelo próprio.

A fim de que o Espírito receba o sagrado ensejo de aprender na Terra, receberá um corpo equivalente a verdadeiro santuário. Os órgãos e os sentidos são as suas potências; mas, semelhante tabernáculo não se ergueria sem as dedicações maternas e, quando a criatura toma conta de si, gastará grande percentagem de tempo na limpeza, conservação e defesa do templo de carne em que se manifesta. Precisará cuidar da epiderme, da boca, dos olhos, das mãos, dos ouvidos.

Que acontecerá se algum departamento do corpo for esquecido? Excrescências e sujidades trarão veneno à vida.

Se o quadro fisiológico, passageiro e mortal, exige tudo isso, que não requer de nossa dedicação o Espírito com os seus valores eternos?

Se já recebeste alguma luz, desvela-te em não perdê-la.

Intensifica-a em ti.

Lava os teus pensamentos em esforço diário, nas fontes do Cristo; corrige os teus sentimentos, renova as aspirações colocando-as na direção de Mais Alto.

Não te cristalizes.

Movimenta-te no trabalho do zelo próprio, pois há “micróbios intangíveis” que podem atacar a alma e paralisá-la durante séculos.

Emmanuel
Psicografia de Francisco Cândido Xavier,
 capítulo 120 da obra: Caminho, Verdade e Vida.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

CARTA DE UM MORTO


            Pede-me você notícias do cemitério nas comemorações de Finados. E como tenho em mãos a carta de um amigo, hoje na Espiritualidade, endereçada a outro amigo que ainda se encontra na Terra, acerca do assunto, dou-lhe a conhecer, com permissão dele, a missiva que transcrevo, sem qualquer referência a nomes, para deixar-lhe a beleza livre das notas pessoais.
            Eis o texto em sua feição pura e simples:
            Meu caro, você não pode imaginar o que seja entregar à terra a carcaça hirta  no dia dois de Novembro.
            Verdadeira tragédia para o morto inexperiente.
            Lembrar-se-á você de que o enterro de meu velho corpo, corroído pela doença, realizou-se ao crepúsculo, quando a necrópole enfeitada parecia uma casa em festa.
            Achava-me tristemente instalado no coche fúnebre, montando guarda aos meus restos, refletindo na miserabilidade da vida humana...
            Contemplando de longe minha mulher e meus filhos, que choravam discretamente num largo automóvel de aluguei, meditava naquele antigo apontamento de Salomão – «vaidade das vaidades, tudo é vaidade» –, quando, à entrada do cemitério, fui desalojado de improviso.
            Na multidão irrequieta dos vivos na carne, vinha a massa enorme dos vivos de outra natureza. Eram desencarnados às centenas, que me apalpavam curiosos, entre o sarcasmo e a comiseração.
            Alguns me dirigiam indagações indiscretas, enquanto outros me deploravam a sorte.
            Com muita dificuldade, segui o ataúde que me transportava o esqueleto imóvel e, em vão, tentei conchegar-me à esposa em lágrimas.
            Mal pude ouvir a prece que alguns amigos me consagravam, porque, de repente, a onda tumultuária me arrebatou ao circulo mais íntimo.
            Debalde procurei regressar à quadra humilde em que me situaram a sombra do que eu fora no mundo... Os visitantes terrestres daquela mansão, pertencente aos supostos finados, traziam consigo imensa turba de almas sofredoras e revoltadas, perfeitamente jungidas a eles mesmos.
            Muitos desses Espíritos, agrilhoados aos nossos companheiros humanos, gritavam ao pé das tumbas, contando os crimes ocultos que os haviam arremessado à vala escura da morte, outros traziam nas mãos documentos acusadores, clamando contra a insânia de parentes ou contra a venalidade de tribunais que lhes haviam alterado as disposições e desejos.
            Pais bradavam contra os filhos. Filhos protestavam contra os pais.
            Muitas almas, principalmente aquelas cujos despojos se localizam nos túmulos de alto preço, penetravam a intimidade do sepulcro e, de lá, desferiam gemidos e soluços aterradores, buscando inutilmente levantar os próprios ossos, no intuito de proclamar aos entes queridos verdades que o tímpano humano detesta ouvir.
            Muita gente desencarnada falava acerca de títulos e depósitos financeiros perdidos nos bancos, de terras desaproveitadas, de casas esquecidas, de objetos de valor e obras de arte que lhes haviam escapado às mãos, agora vazias e sequiosas de posse material.
            Mulheres desgrenhadas clamavam vingança contra homens cruéis, e homens carrancudos e inquietos vociferavam contra mulheres insensatas e delinquentes.
            Talvez porque ainda trouxesse comigo o cheiro do corpo físico, muitos me tinham por vivo ainda na Terra, capaz de auxiliá-los na solução dos problemas que lhes escaldavam a mente, e despejavam sobre mim alegações e queixas, libelos e testemunhos.
            Observei que os médicos, os padres e os juízes são as pessoas mais discutidas e criticadas aqui, em razão dos votos e promessas, socorros e testamentos, nos quais nem sempre corresponderam à expectativa dos trespassados.
            Em muitas ocasiões, ouvi de amigos espíritas a afirmação de que há sempre muitos mortos obsidiando os vivos, mas, registrando biografias e narrações, escutando choro e praga, tanto quanto vendo o retrato real de muitos, creio hoje que há mais vivos flagelando os mortos, algemando-os aos desvarios e paixões da carne, pelo menosprezo com que lhes tratam a memória e pela hipocrisia com que lhes visitam as sepulturas.
            Tamanhos foram meus obstáculos, que não mais consegui rever os familiares naquelas horas solenes para a minha incerteza de recém-vindo, e, somente quando os homens e as mulheres, quase todos protocolares e indiferentes, se retiraram, é que as almas terrivelmente atormentadas e infelizes esvaziaram o recinto, deixando na retaguarda tão somente nós outros, os libertos em dificuldade pacífica, e fazendo-me perceber que o tumulto no lar dos mortos era uma simples consequência da perturbação reinante no lar dos vivos.
            Apaziguado o ambiente, o cemitério pareceu-me um ninho claro e acolhedor, em que me não faltaram braços amigos, respondendo-me às súplicas, e a cidade, em torno, figurou-se-me, então, vasta necrópole, povoada de mausoléus e de cruzes, nos quais os espíritos encarnados e desencarnados vivem o angustioso drama da morte moral, em pavorosos compromissos da sombra.
            Como vê, enquanto a Humanidade não se habilitar para o respeito à vida eterna, é muito desagradável embarcar da Terra para o Além, no dia dedicado por ela ao culto dos mortos que lhe são simpáticos e antipáticos.  Peça a Jesus, desse modo, para que você não venha para cá, num dia dois de Novembro.
            Qualquer outra data pode ser útil e valiosa, desde que se desagarre daí, naturalmente, sem qualquer insulto à Lei. Rogue também ao Senhor que, se possível, possa você viajar ao nosso encontro, num dia nublado e chuvoso, porque, em se tratando de sua paz, quanto mais reduzido o séqüito no enterro será melhor.
            E porque o documento não relaciona outros informes, por minha vez termino também aqui, sem qualquer comentário.

Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Irmão X,
cap. 35, do livro Cartas e Crônicas, FEB

domingo, 30 de outubro de 2011

Finados


            O dia de finados é uma homenagem aos que deixaram a vida objetiva do corpo físico.  Quem tem percepção subjetiva da vida verifica que não é somente uma afetividade dispensada à memória dos que faleceram, mas a certeza de que a vida que se manifestava através da roupagem carnal continua numa outra esfera vibrante que alcançamos com o pensamento, com os sentimentos.   É uma confiança, uma esperança, um conforto para a alma de quem ama, tem amizade, saudade...
            Allan Kardec questiona os Benfeitores da Humanidade da seguinte forma:  “Os Espíritos são sensíveis à lembrança que deles guardam os que lhes foram caros na Terra?  -- Muito mais do que podeis imaginar. Se são felizes, essa lembrança lhes aumenta a felicidade; se são infelizes, serve-lhes de lenitivo”.  “O dia da comemoração dos mortos tem algo de mais solene para os Espíritos? Eles se preparam para visitar os que vão orar sobre os seus despojos? – Os Espíritos atendem ao chamado do pensamento, tanto nesse dia como nos outros.” “O dia de finados é, para eles, um dia especial de reunião junto de suas sepulturas? – Nesse dia, eles se reúnem em maior número nos cemitérios, porque maior é o número de pessoas que os chamam. Mas cada Espírito só comparece ali pelos seus amigos e não pela multidão dos indiferentes.”  Nota: questões 320, 321 e 321-a de O Livro dos Espíritos.
            Então, o que é essa tal de morte?  É uma transição, com o cessar da vitalidade física.  O finar é o esgotamento do combustível orgânico, pelas diversas circunstâncias: velhice, doença, ou, ainda, um destrambelhamento da equipagem por acidente, ou a autodestruição.
            Não existe a morte do Ser pensante, que é a alma do corpo, que passa a ser denominado de Espírito quando o deixa.  Esse Ser é viajante dos tempos, é vida infinita.   Vai e volta, isto é: reencarna e desencarna incontáveis vezes, entra novamente na matéria e a deixa até a depuração da essência divina que somos todos nós.
            De sã consciência ninguém homenageará o que  não acredita existir. Todos têm um sentimento inato da  imortalidade da alma,  que nenhum de seus entes amados deixaram efetivamente de existir. O espírito Dr. Bezerra de Menezes diz: “nossos familiares que partiram são invisíveis, mas não ausentes (...)”

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Palavras a um cego



            Meus amigos, abençoe-nos Jesus!
            Somos velhos companheiros de jornadas espirituais, repetindo experiências que o tempo nos faculta.
     Ontem, conduzidos pelo desequilíbrio, assumimos compromissos que o presente nos impõe ressarcir.
      Viandantes dos longos caminhos, retornamos para experiências de sublimação, vitimados pela incúria.
    Assinalados pelo desequilíbrio, embarcamos no escafandro carnal para o mergulho na psicosfera terrena onde encontramos o solo abençoado para a sementeira do futuro.
          Um dia, ouvimos a palavra dos Profetas ensinando-nos o reino de Deus e, não obstante, descemos da montanha da meditação para os vales do desequilíbrio matando e vingando os nossos sonhos destruídos como abutres sobre os cadáveres das gerações fanadas.
          Escutamos a palavra dos filósofos e enriquecemos a nossa vida de sabedoria, mas não mudamos o nosso conceito de vivência moral.
     Apesar de nos considerarmos estóicos e éticos, assassinamos, mancomunados com o poder do totalitarismo arbitrário.
            Por fim, escutamos Jesus.
          A palavra do Benfeitor da Humanidade, no Sermão da Montanha, falou-nos das bem-aventuranças, mas não mudou a estrutura do nosso comportamento e, em dezenove séculos de Cristianismo, temos pregado paz, montados sobre bombas; falamos de amor, disseminando ódio; ensinamos tolerância sob o guante da perseguição; programamos a renovação da Terra sob os estigmas de nossas paixões.
           Até quando, amigos e irmãos, buscaremos a verdade, pontificando na treva; até quando lutaremos pelo bem, fomentando o desequilíbrio?
          É natural que a nossa colheita seja de espinhos, de pedregulhos e os espículos do sofrimento, cravados nas carnes de nossa alma, apontem-nos uma Estrela Polar, que é o nosso Senhor Jesus Cristo.
         Cumpre-nos hoje voltar para Deus, sem exterioridades, sem a preocupação atormentante da busca dos fatos e da visão exterior.  
        Se fôssemos acreditar somente no que vemos e no que apalpamos, a nada, a quase nada, ficaria reduzida a nossa crença.
        A maioria dos fatos, e quanto acreditamos, transcorre no campo da energia e nem sempre podemos perceber, senão, por deduções matemáticas ou por conceitos transcendentais.
          Amemos!
       Se não vos for possível acreditar na sobrevivência da alma, amai o companheiro do vosso caminho; se tendes dúvidas, quanto à continuação da Vida, utilizai-vos, corretamente, da vossa vida corporal e realizai o bem.
         E tu, filho querido, que no silêncio da meditação pela cegueira física, pedes-me que te diga uma palavra!  Pois eu darei, dizendo que são bem-aventurados os que caminham na estrada solitária, momentaneamente em sombras, sem deblaterar, porque eles terão o Céu do mundo interior salpicado de astros refulgentes.
           Preserva o teu bom ânimo!
        A cegueira, nem sempre é uma dura prova. Antes, é uma bênção quando a aceitamos.
          Considera aqueles que veem e que conduzem os pés para a criminalidade.
         Medita em torno daqueloutros que têm a visão externa e, por dentro, estão pejados de ódio, bracejando com sombra e com amargura.
         Reflexiona em torno da oportunidade que Deus te deu a fim de fazeres a vigem para dentro de ti mesmo.
      Antes, quando podias ver o mundo de fora, conquistavas o exterior.
        Da alma vazia, sentias-te insatisfeito e amargo.
        Hoje, que perdeste o contanto dos contornos pela visão deficitária, que se apagou, podes ver o mundo de bênçãos que está dentro de ti como uma verdadeira Via-láctea, apresentando-te paz.
       O importante, filho, não é o que vemos, e sim o que somos.
        Mais valioso do que ver, é ser pacífico e propiciar-se, interiormente, a alegria de viver.
          Vive, pois, e ama.
     Ensina com o teu exemplo a grandeza desta fé inominada.
     Leva, àqueles que ainda enxergam e tropeçam, a sabedoria da tua experiência, porque dia virá, quando o corpo estiver alquebrado, em que se rasgará para ti uma madrugada de bênçãos, na qual te sentirás pleno e feliz.
         Eu suplico ao Pai que te abençoe, cumulando-te de graça e de harmonia.
        A vós outros, que me concedeis a honra imerecida deste momento, eu peço a Jesus que nos abençoe, fazendo que a Sua paz, que não tem atavios, permaneça dentro de nós, dulcificando-nos.
            Deus nos abençoe, meus amigos, e nos pacifique!
            Com todo o carinho, o amigo paternal de sempre,
           
Bezerra de Menezes

Nota: A presente mensagem foi recebida psicofonicamente, ao término de uma entrevista radiofônica, em Porto Alegre, num Teatro com mais de 1.000 pessoas, sob a direção do Dr. Mendes Ribeiro, atendendo a um periodista que ficou cego e rogara ao Benfeitor Espiritual uma palavra de conforto. 
Mensagem extraída da obra: Terapêutica de Emergência,
capítulo 16, 6ª ed., Livraria Espírita Alvorada Editora, 
Divaldo   Pereira  Franco

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

DRAMÁTICAS CONTRADIÇÕES/CONSCIÊNCIA ESPÍRITA


      O recente episódio da matança de setenta e seis pessoas em Oslo, capital da Noruega,surpreendeu o mundo diante de tanta violência.
            Esse pequeno país do norte da Europa era, até então, um oásis de paz social, com um dos melhores índices de qualidade de vida.
            Dramática contradição!
            Nos últimos séculos outras contradições confundiram a mente coletiva da Humanidade.
            A Revolução Francesa, após a tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789, em nome da liberdade, introduziu a guilhotina para decepar cabeças de oponentes.
       Léon Tolstoi, um dos mais notáveis escritores de todos os tempos, defensor da moralidade pública confessou, no fim da vida, ser um escravo de distúrbios sexuais aos 80 anos. Teve um filho ilegítimo e era violento com a esposa Sônia.
            Karl Marx, que renegou Deus e as religiões, em nome da justiça social e da dignidade dos seres, abandonou o próprio filho, adulterando com a empregada do seu lar Helen Demuth.
            Albert Einstein, um dos mais extraordinários cientistas, abandonou a filha que teve com a matemática sérvia Mileva Maric.  Eduard, outro filho do sábio, morreu louco em hospício, sem receber uma única visita do pai. Os papéis do seu divórcio com Elsa Löwentral citam agressões ficas.
            Sigmund Freud, criador da Psicanálise, desencarnou com um câncer bucal provocado pelos charutos que fumava. De nada adiantaram as dezenas de operações feitas.
            A distinta dama inglesa Betty William, prêmio Nobel da Paz em 1977, não hesitou em agredir policiais e incitar revolta em Londres. Acabou presa e humilhada.
            Católicos e protestantes continuam com suas batalhas ideológicas na Irlanda.
            Árabes e judeus matam-se impiedosamente, evocando a Torá e o Alcorão.
            Muçulmanos e hindus já travaram diversas guerras...
            Todos proclamam razões que os textos religiosos não sustentam.
            Jesus é a grande esperança!
            Templos, instituições e movimentos lembram seus feitos divinos. Ele está no inconsciente dos habitantes da Terra. Para ter paz e escapar das contradições impõe-se segui-lo em pensamentos, palavras e atos... mas, muitos de nós caminham distraídos dessas orientações.
            Em nosso caso particular, os espíritas, que tão ardentemente desejamos construir uma nova civilização, seria interessante lermos a página “Consciência espírita”, inserta no livro Cartas e Crônicas do Irmão X (Humberto de Campos), psicografado por Chico Xavier e editado pela FEB.
            É de impressionar!
----------------------------------------------------------------------
Editorial do jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do Paraná,
 setembro de 2011
----------------------------------------------------------------------

Inserimos adiante a página sugerida no final do texto acima:

CONSCIÊNCIA ESPÍRITA

            Diz você que não compreende o motivo de tanta autocensura nas comunicações dos espíritas desencarnados. Fulano, que deixou a melhor ficha de serviço, volta a escrever, declarando que não agiu entre os homens como deveria; sicrano, conhecido por elevado padrão de virtudes, regressa, por vários médiuns, a lastimar o tempo perdido... E você acentua, depois de interessantes apontamentos: “Tem-se a impressão de que os nossos confrades tornam, do Além, atormentados por terríveis complexos de culpa. Como explicar o fenômeno?”
            Creia, meu caro, que nutro pessoalmente pelos espíritas a mais enternecida admiração. Infatigáveis construtores do progresso, obreiros do Cristianismo Redivivo. Tanta liberdade, porém, receberam para a interpretação dos ensinamentos de Jesus que, sinceramente, não conheço neste mundo pessoas de fé mais favorecidos de raciocínio, ante os problemas da vida e do Universo. Carregando largos cabedais de conhecimento, é justo guardem eles a preocupação de realizar muito e sempre mais, a favor de tantos irmãos da Terra, detidos por ilusões e inibições no capítulo da crença.
            Conta-se que Allan Kardec, quando reunia os textos de que nasceria “O Livro dos Espíritos”, recolheu-se ao leito, certa noite, impressionado com um sonho de Lutero, de que tomara notícias. O grande reformador, em seu tempo, acalentava a convicção de haver estado no paraíso, colhendo informes em torno da felicidade celestial.
            Comovido, o codificador da Doutrina Espírita, durante o repouso, viu-se também fora do corpo, em singular desdobramento... Junto dele, identificou um enviado de Planos Sublimes que o transportou, de chofre, a nevoenta região, onde gemiam milhares de entidades em sofrimento estarrecedor. Soluços de aflição casavam-se a gritos de cólera, blasfêmias seguiam-se a gargalhadas de loucura.
            Atônito, Kardec lembrou os tiranos da História e inquiriu, espantado:
-- Jazem aqui os crucificadores de Jesus?
-- Nenhum deles – informou o guia solícito. – Conquanto responsáveis, desconheciam, na essência, o mal que praticavam. O próprio Mestre auxiliou-os a se desembaraçarem do remorso, conseguindo-lhes abençoadas reencarnações, em que se resgataram perante a Lei.
- E os imperadores romanos? Decerto, padecerão nestes sítios aqueles mesmos suplícios que impuseram à Humanidade...
- Nada disso. Homens da categoria de Tibério ou Calígula não possuíam a mínima noção de espiritualidade. Alguns deles, depois de estágios regenerativos na Terra, já se elevaram a  esferas superiores, enquanto que outros se demoram, até hoje, internados no campo físico, à beira da remissão.
-- Acaso, andarão presos nestes vales sombrios – tornou o visitante – os algozes dos cristãos, nos séculos primitivos do Evangelho?
-- De nenhum modo – replicou o lúcido acompanhante -, os carrascos dos seguidores de Jesus, nos dias apostólicos, eram homens e mulheres quase selvagens, apesar das tintas de civilização que ostentavam... Todos foram encaminhados à reencarnação, para adquirirem instrução e entendimento
            O codificador do Espiritismo pensou nos conquistadores da Antiguidade, Átila, Aníbal, Alarico I, Gengis Khan... Antes, todavia, que enunciasse nova pergunta, o mensageiro acrescentou, respondendo-lhe à consulta mental:
-- Não vagueiam, por aqui, os guerreiros que recordas... Eles nada saiam das realidades do espírito e, por isso, recolheram piedoso amparo, dirigidos para o renascimento carnal, entrando em lides expiatórias, conforme os débitos contraídos...
-- Então, dize-me – rogou Kardec, emocionado -, que sofredores são estes, cujos gemidos e imprecações me cortam a alma?
            E o orientador esclareceu, imperturbável:
-- Temos junto de nós os que estavam no mundo plenamente educado quanto aos imperativos do Bem e da Verdade, e que fugiram deliberadamente da Verdade e do Bem, especialmente os cristãos infiéis de todas as épocas, perfeitos conhecedores da lição e do exemplo do Cristo e que se entregaram ao mal, por livre vontade... Para eles, um novo berço na Terra é sempre mais difícil...
            Chocado com a inesperada observação, Kardec regressou ao corpo e, de imediato, levantou-se e escreveu a pergunta que apresentaria, na noite próxima, ao exame dos mentores da obra em andamento e que figura como sendo a Questão número 642, de “O Livro dos Espíritos”: “Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?”, indagação esta a que os instrutores retorquiram: “Não; cumpre-lhe fazer o bem, no limite de suas forças, porquanto responderá por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”
            Segundo é fácil de perceber, meu amigo, com princípios tão claros e tão lógicos, é natural que a consciência espírita, situada em confronto com as idéias dominantes nas religiões da maioria, seja muito diferente. 

FRANCISCO CANDIDO XAVIER
CARTAS E CRÔNICAS
( Ditadas pelo Espírito Irmão X)
Cap. 07.

sábado, 15 de outubro de 2011

Criança e Família


            Sempre que se tenha em pauta a discussão do futuro da Humanidade, a questão vital, que de imediato ressalta, diz respeito à criança.
            Não se podem estabelecer programas de ação para o provir, sem que se cuide dos elementos básicos para esse mister.
            Em qualquer empreendimento humano que objetive a sociedade do amanhã, é indispensável não nos esquecermos da realidade dos dias atuais, cuidando-se de dignificar os que transitam na infância, ora desarmados de recursos éticos e de apoio emocional, carentes de amor e arrojados aos despenhadeiros das sensações grosseiras, que os debilitam e esfacelam.
            Não nos referimos aqui, apenas ao menor carente, àquele que padece das ásperas quão infelizes conjunturas socioeconômicas e que constituem os milhões  de vítimas dos processos políticos impiedosos, geradores dos cânceres morais da ganância, da arbitrariedade e da prepotência a que se submetem os inditosos fomentadores do poder desvairado.
            Tampouco analisamos a situação dolorosa dos pequeninos sem pais, que são atirados, sem maior preocupação, às Instituições, onde se transformam em um número para representações estatísticas, ou nas quais são exibidos para inspirar a compaixão de uns, enquanto se exaltam outros sob os rótulos da solidariedade, da filantropia ou da caridade...
            Detemo-nos a examinar o problema da criança, no contexto da família moderna, quando os sentimentos do amor e do dever se fazem substituídos pelas fórmulas simplistas e pelas ações fáceis, mercantilizadas, de assistência moral e educacional.
            Tornando-se vítima, insensivelmente, do processo tecnológico avançado, o homem vem cedendo aos automatismos que o vencem, em detrimento das realizações com que se felicitaria, não se permitisse exageros na pauta das ambições do ganho e do gozo.
            Dizendo-se vítima das pressões de vária ordem, em decorrência dos impositivos do momento, a criatura entrega-se, em faina extenuante ou aventureira, à conquista dos valores amoedados, transitórios, elaborando mecanismos escapistas para o prazer, com os quais espera fugir às neuroses, não possuindo tempo nem paz para os deveres gratificantes da família, do lar, da prole.         
            Os cônjuges, em decorrência desse aturdimento, saturam-se com rapidez, engendrando técnicas de liberação ou desfazendo os vínculos matrimoniais, que foram estabelecidos à pressa, atendendo a caprichos infantis, possessivos, ou a interesses outros, subalternos, aos quais arrojam, sem melhor exame, o destino e a responsabilidade.
            Outras vezes, em face ao desgaste resultante dos excessos de qualquer porte, adotam atitudes extravagantes, de demasiada permissividade, ou de irritação e desmando, dando curso a estados instáveis e emocionalmente inseguros, em que os filhos se desenvolvem, entre indiferenças, desagrados, mimos impróprios e complexidades emocionais, geradores de futuros distúrbios do comportamento.
            Quando afloram os problemas, na difícil convivência doméstica, recorre-se, apressadamente, a soluções de psicólogos ou psicanalistas, ou educadores talvez sem vivência dessas dificuldades, honestamente interessados, é certo, que deverão realizar em breves horas, adrede marcadas, o que se malbaratou nos demorados dias da convivência familial.
            Os frutos de tal sementeira são, sem dúvida, amargos ou precipitadamente amadurecidos, quando não despencam da haste de segurança, em lamentável processo de  deterioração.
            Ocorre que a família é o núcleo de maior importância no organismo social.
            Quando se desajusta, a sociedade se desorganiza; quando se estiola, a comunidade se desagrega; quando falha, o grupo a que dá origem sucumbe.
            Santuário dos pais, escola dos filhos, oficina de experiências, o lar é a mola mestra que aciona a humanidade.
            Nele caldeiam-se os sentimentos, limam-se as arestas da personalidade, acrisolam-se os ideais, sacrificam-se as aspirações, depuram-se as paixões e formam-se os caracteres, numa preparação eficiente para os embates inevitáveis que serão travados, quando dos relacionamentos coletivos na comunidade.
            Isso, porém, quando o lar, por sua vez, estrutura-se sobre os alicerces ético-morais dos deveres recíprocos, cimentado pelo amor e edificado com o material da compreensão e do bem.
            Sem tal argamassa, desmoronou-se, facilmente, embora permaneça a casa onde se reúnem e se agridem as pessoas, em beligerância contínua, dando início, pela sucessão dos conflitos travados, às grandes lutas que assolam as comunidades, inspirando as guerras a que se atiram as Nações.
            O lar é o suporte imaterial da família, que se constrói na casa onde residem as criaturas, independendo dos recursos financeiros ou dos requintes exteriores de que esta última se revista.
            São o comportamento, as atitudes, as expressões de entendimento fraternal e de responsabilidade que edificam o lar, formando a família, pouco importando as condições físicas do lugar em que toma corpo.
            A criança, que vive na psicosfera de um lar harmônico, no seio de uma família que se compreende e se ajuda, transforma-se no elemento seguro de uma futura humanidade feliz.
            Todo investimento de amor que ora se dirija à criança é de emergência. Sem embargo, de igual necessidade é a educação dos adultos antes que assumam a responsabilidade da progênie, impedindo-os de transferir as suas inseguranças, descontroles, imaturidades, conflitos com que condenam o futuro a imprevisíveis desastres, de que já se têm mostras, a todos arrastando a irreversível situação de dor, que se alongam depois do desgaste físico, nos largos cursos da vida espiritual.
            Tarefa desafiadora para educadores e sociólogos, psicólogos e demais estudiosos do comportamento e da personalidade humana, o grave problema da dissolução da família e o consequente abandono de que vai relegada a prole.
            Adultos caprichosos e desajustados projetarão suas emoções nos filhos, formação de estruturas psicológicas, que lhes assimilarão as agressões e os conflitos, originando-se uma reação em cadeia que explodirá, volumosa, mais tarde, no organismo social.
            É lamentável e dolorosa a situação das crianças que não dispõem de recursos e foram de cedo arrojadas à carência, à orfandade. Não menor, porém, nem menos grave é o futuro incerto dos que padecem famílias desequilibradas, vivendo um presente inditoso, sob a tutela de pais egoístas, agressivos e neuróticos que se alienam, desgovernados e irresponsáveis, pensando em fruir as paixões irrefreáveis, que terminam por consumi-los na voragem da própria insânia.
            Ao Espiritismo, com a sua visão cristã e estrutura filosófica superior, cabe a tarefa imediata de voltar os seus valorosos recursos para a família, trabalhando o homem e conscientizando-o das suas responsabilidades inalienáveis perante a vida, quando informando-o sobre a finalidade superior da sua existência corporal.
            Demonstrando-lhe a indestrutibilidade do ser, bem como preparando-o para as vitórias sobre si mesmo, o conhecimento espírita fará que se esforce por agir com acerto, recuperando-se, na convivência de que a reencarnação ora lhe faculta, dos erros transatos, enquanto lhe oferece as oportunidades superiores para o seu futuro ditoso.
            Com o homem renovado e responsável, surge o lar equilibrado e sadio, onde se formará a criança enobrecida, rumando para uma sociedade melhor.
              Pensando-se, portanto, em termos de futuro, a criança deverá ser sempre a preocupação primeira, e a família, a modeladora inevitável que a trabalha, preparando-a para o amanhã, o que constitui o grande desafio que nos cumpre atender com elevação e dignidade.
            Parafraseando Jesus, repetimos:
            -- “Deixai que venham a mim os pequeninos”... porque à família feliz e nobre pertencerá o reino dos Céus.    


Benedita Fernandes,
Psicografia de Divaldo Pereira Franco,
extraída da obra: Terapêutica de Emergência, capítulo 13, 6ª ed.,

Livraria Espírita Alvorada Editora.