quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Educação moral, um paradigma para o Espírito

 Educação moral, um paradigma para o Espírito 

Os seres humanos são os senhores das eras; mergulham, de tempos em tempos, nas carnes que se preparam com o fundir de gametas, o que se denomina reencarnação. Trazem nas suas bagagens os valores que são os resultados de seus esforços.  

Assim surgem como homem ou mulher no berço dos lares, vencem os primeiros tempos, o equipamento carnal se desenvolve e vai permitindo a manifestação do seu morador. Primeiramente reflexos instintivos, a inteligência se apresenta represada porque o cérebro ainda não consegue decodificar, e a composição osteomuscular e a cardiorrespiratória não estão prontas para obedecer à ordem da vontade comandante. 

Instalado adequadamente no seu instrumento de manifestação, que caminha pela infância, adolescência, sendo que na fase adulta está maturado, permitindo o seu uso na integralidade. Assim ocorreu em outras vezes sem conta, que por ora não se lembra.  

É questionamento corrente: por que não se lembrar das vidas passadas -- isto é complexo --, mas de uma forma apenas indicativa, pode-se dizer que o cérebro do corpo da presente existência somente tem a capacidade para decodificar as lembranças daquilo dos quais participou; recordações anteriores podem ocorrer através dos sonhos e alguns estados de emancipação da alma muito específicos, capazes de alcançar registros de vidas passadas. Sendo que a vida do Espírito é uma só, entrar ou sair da vida material é oportunidade evolutiva. Os fatos vivenciados de todos os tempos estão na mente, pertencente ao Ser espiritual, portanto, é elemento extracorpóreo. Não se recordar de fatos de vidas passadas é um recurso Divino em favor da criatura, para que possa se refazer de erros que lhe proporcionaram tormentos. Com o esquecimento, pode-se conviver novamente com os desafetos de outros tempos, que em muitas oportunidades estão dentro do lar. Há, no entanto, aqueles que, por comodidade, falta de interesse ou mesmo a impossibilidade de encontrar trabalho remunerado, vivem às expensas de seus idosos. Isso é uma vergonhosa inversão de valores, salvo as exceções.  

O senhor Kardec, ao analisar as respostas dos Espíritos às perguntas que formulou, traz um despertar para o presente século: “(...).  Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assume as proporções de um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Esse equilíbrio, porém, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências, durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. (...).” 

Sem desprezar o conhecimento geral, com que Kardec contribuía grandemente como professor de notório saber de múltiplas matérias, observou que a educação moral se faria substancial na caminhada evolutiva da Humanidade. Ele explica sua compreensão da educação moral, que não pode ser oficializada. Veja como ele ensina: “(...), é o conjunto dos hábitos adquiridos.; -- frisamos: hábitos morais. 

Destacamos a frase: “Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria”. Vejamos que o Codificador, mesmo estando 163 anos de distância do nosso tempo, tinha a percepção e lançava olhar para o futuro, prevendo que a economia sofria e ressentia com a ausência da educação moral. Observemos o excesso de leis para controlar a evasão de impostos, a corrupção, a criminalidade, que cresce vertiginosamente, exigindo mais aparatos humanos, tecnologia e recursos financeiros na tentativa de conter o ilícito. No entanto, a conclusão dessa análise confirma que a educação moral eliminaria a maior parte desses desvios comportamentais que parecem ter se naturalizado. O freio do mal precisa estar presente em cada indivíduo. Assim, eliminaríamos a maior parte do aparato legal, poupando o Estado de gastos que poderiam ser direcionados para a melhoria da vida das pessoas. O excesso de leis para disciplinar comportamentos demonstra a ausência da educação moral dos indivíduos. 

A experiência mostra ser indispensável que os valores morais venham antes, para isso se faz imprescindível que o Espírito tenha adquirido em vidas passadas -- que se faz refletir na vida presente, o que acontece com muitos -- ; ou,  que,  desde o berço,  os pais deem exemplos com seus comportamentos, no linguajar, nas atitudes do dia a dia, nas preferências culturais, de igual importância a moralidade do ambiente onde terá seu desenvolvimento social; nos tempos da tecnologia, saber como conduzir a criança ao acesso dos entretenimentos virtuais, sendo que estes nem sempre apresentam compromisso com a educação moral do público infantil. 

Uma ferramenta de alta importância para formar o conjunto de hábitos moralizados é estudar, apreender, aprender e viver o Evangelho de Jesus, na sua pureza. Esses ensinamentos precisam estar na vida dos indivíduos desde os primeiros movimentos da existência. Tudo o que vier depois encontrará na intimidade do Ser um escudo, como se fosse uma vacina moral. Quando alguma ocorrência divergir do que é bom e nobre, não será acolhida, haverá repulsa, porque o estado vibracional da alma moralizada é discordante daquelas ainda imorais, ou de fatos, ou de circunstâncias também desse teor. 

Do prefácio da monumental obra: Educação - Um tesouro a descobrir², transcrevemos os excertos: “(...). ‘A Comissão não resistiu à tentação de acrescentar novas disciplinas, como o conhecimento de si mesmo e dos meios de manter a saúde física e psicológica, ou mesmo matérias que levam a conhecer melhor e preservar o meio ambiente natural. Contudo, os programas estão cada vez mais sobrecarregados. É necessário, pois, optar, com a condição de preservar os elementos essenciais de uma educação básica que ensine a viver melhor, através do conhecimento, da experiência e da construção de uma cultura pessoal.’    

‘Finalmente, e trata-se, também neste caso, de uma realidade permanente, a tensão entre o espiritual e o material.  Muitas vezes, sem sequer se aperceber disso ou sem ter capacidade para o exprimir, o mundo tem sede de ideal ou de valores a que chamaremos morais, para não ferir ninguém. Cabe à educação a nobre tarefa de despertar em todos, segundo as tradições e convicções de cada um, respeitando inteiramente o pluralismo, esta elevação do pensamento e do espírito para o universal e para uma espécie de superação de si mesmo. Está em jogo -- e aqui a Comissão teve o cuidado de ponderar bem os termos utilizados -- a sobrevivência da humanidade.’” 

Os elementos morais cultivados se estabelecem exclusivamente na alma do indivíduo e se expressarão naturalmente em todas as suas ações, seja na vida física ou no mundo espiritual. Voltando em Jesus, vamos encontrar o ensinamento síntese dos Seus postulados: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” (Mateus, 22:34 a 40.)³ .  O Mestre Nazareno tinha por objetivo esclarecer o Ser Espiritual, na sua individualidade, porque seu ensinamento precisaria ser apreendido e vivenciado, o que corresponde a educação moral da criatura, uma das razões que quase sempre exemplificou primeiro, para elucidar depois, quando necessário. O exemplo nem sempre exige esclarecimento, é dedutível por si mesmo.  

O grande problema da Humanidade está em compreender que a vida do corpo é finita, instável e sem garantia de duração, e que as consequências de seus atos permanecerão com os responsáveis até que seus efeitos sejam resolvidos -- estamos falando das ações negativas, imorais e corruptas… Os reflexos destas atitudes e seus desdobramentos recairão sobre os envolvidos, mesmo que a justiça dos homens não tenha percebido ou mesmo acobertado. Pois, existem muitas leis que não corroboram à justiça, são frutos da premeditação de interesses ilegítimos em detrimento do que seria justo e moral. Todos somos Espíritos e respondemos a uma única lei que não foge à justiça e à verdade, a Lei Divina, que se acha bem instalada na consciência de cada indivíduo, porém, adormecida pela ignorância ou entorpecida pelo egoísmo e o orgulho, que despertará no ambiente moral que cultiva.  

A educação moral estará presente e será a norteadora da qualidade de vida da Humanidade da Terra, sem se esquecer que ora se está no corpo, ora se está na espiritualidade, a Humanidade é a soma de todos os Espíritos ligados ao planeta Terra. Através do processo da reencarnação entramos na vida corporal e com a exaustão da carne retornamos ao mundo daqueles que deixaram a sua indumentária no túmulo.  

É um paradigma para o Espírito vencer a sua obscuridade particular, superar os preconceitos religiosos, os pensamentos materialistas “desconstrutivos” do frágil senso de espiritualidade do ser humano. A ausência da fé racional, a crença dependente de outrem, esquecendo-se ou ignorando-se ser senhor de si mesmo, responsável pela condução da própria vida. Ainda, sem se descurar de que vive em sociedade com seus iguais, e que o compromisso moral é contribuir com o próximo, “é amar o próximo como a si mesmo”, é resguardar o direito do outro, assim, garantindo o direito de todos, aí está o ângulo maior da educação moral, muito pouco percebido pelos habitantes da Terra.  

Inserimos como fecho desse trabalho a última parte dos argumentos de Allan Kardec sobre o tema tratado nas questões acima referidas: “Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? 

Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos. 4” 

                 -- “Sem educação moral ninguém tem segurança”

                              Dorival da Silva 

  1. O Livro dos Espíritos - Trad. de Guillon Ribeiro - FEB

  2. Educação - Um tesouro da descobrir - Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI - Jacques Delors - 6.ª ed.

  3. O Evangelho Segundo o Espiritismo - Trad. J. Herculano Pires - 43.ª ed.- LAKE

  4. O Livro dos Espíritos - Trad. de Guillon Ribeiro - FEB, final do esclarecimento das questões 685 e 685-a

    Nota: As obras de Allan Kardec, podem ser acessadas através do endereço:  https://kardecpedia.com/


quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Direito ou justiça?

                                                       Direito ou justiça?

      Muitos estão ávidos por direitos, exigindo-os em todas as circunstâncias em que presumem seus. No entanto, não demonstram a mesma ênfase quando supõem que este não os favorecem. O que deveria ser uma obrigação é respeitar o direito do outro, assim como se exige o próprio. É uma questão de justiça. Moralmente é cumprir-se com o dever.  

     O direito, numa visão ampla, é um conjunto de normas convencionadas que servem por um determinado período para orientar o comportamento de uma população, harmonizando conflitos de interesses. Ele sofre o desgaste com a evolução da sociedade que orienta, exigindo atualizações ao longo do tempo. 

     Assim, o que se diz ter cumprido com a justiça numa determinada circunstância, sob um determinado entendimento julgador, pode ser considerado uma injustiça em outra época, quando o mesmo fato é analisado sob uma perspectiva diferente.  

     As letras da norma embasa o julgamento permanecem as mesmas, mas o entendimento do valor fático e o estado psicológico alcançam outras dimensões. 

     As normas legais, elaboradas, organizadas e codificadas, não correspondem a uma justiça irreparável, levando em conta a condição vulnerável tanto dos que a estabeleceram quanto dos próprios aplicadores. Não se trata de desonestidade, mas sim da condição humana, que sofre a evolução do entendimento e se renova com a dinâmica do pensamento de cada momento da vida. 

     O que se discute acima parece atender apenas a situações cotidianas, lidando com a realidade enquanto o indivíduo faz parte desse contexto social. No entanto, ultrapassa o limite marcado pelo túmulo, refletindo sua influência sobre a continuidade da existência do ser pensante no plano extracorpóreo.

     A vida na organização social em que se nasce, independentemente de sua duração, é um hiato na existência do ser espiritual. Todas as ocorrências são experiências para aprendizado com fatos novos. No entanto, os impulsos para os acontecimentos estão no próprio ser, que veste uma indumentária corporal, mas em sua alma, e carregará todas as consequências consigo mesmo. O julgamento de qualquer ordem, independentemente das normas legais, seja consequente ou irresponsável, terá reflexos após a morte do corpo, tanto para quem o aplica e para quem o sofre. 

     Ao conhecer a realidade mais íntima do julgado, o julgador perceberá que não fez justiça e gerou uma dificuldade de difícil solução, pois movimentou forças profundas da alma, gerando mácula no outro. O mais sincero arrependimento, por si só, não dará trégua à sua consciência, mesmo que o injustiçado o perdoe. 

     O ofendido, ao perdoar, se livra da mágoa, se assim o fez verdadeiramente. No entanto, o ofensor se vê com a necessidade de reparar para se sentir justificado. Todo cuidado na relação humana é pouco. O apóstolo Pedro perguntou a Jesus: “Senhor, quantas vezes poderá pecar meu irmão contra mim, para que eu lhe perdoe? Será até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes¹”.

     Em outro ponto, o Mestre Galileu, recita: “Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós²”.

     Os Seres espirituais, toda a Humanidade, têm o direito de alcançar, por seus esforços, a plenitude da paz e da felicidade e, consequentemente, a justiça. Isso corresponde ao estado de harmonia da própria consciência, aquela que vibra em uníssono com a Lei Divina, que é Lei de Amor e Justiça. 

     Antes de defender direitos, seria mais produtivo procurar resguardar os deveres e as obrigações. Se todos assim procedessem, ninguém precisaria se preocupar com aqueles, pois estariam naturalmente preservados. Seria uma realidade altruística. O egoísmo e o orgulho não se fariam presentes nas vidas das pessoas, a paz seria recorrente, a miséria e as diversas carências sociais não se conheceriam, “O Reino do Céu se faria na Terra”. Seria utopia, ou o que se deve esperar? Qual a contribuição?

     O direito e a justiça estão disponíveis para todos os indivíduos. O que se precisa é internalizá-los na própria alma para que reflitam na sociedade, que se tornará um caldo de verdadeira fraternidade. 

     Direito ou justiça, qual é a sua reflexão?

                                   Dorival da Silva

     

  1. Mateus, XVIII: 15, 21, 22

  2. Mateus, VII:1-2

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Qual o seu álibi?

                                                    Qual o seu álibi?


Ninguém ignora que, em num certo instante incerto, deixará o corpo físico.  Pois isso ocorreu ao longo da história da humanidade, sem nenhuma exceção. Todos os dias, os noticiários nos relembram daquilo que se denomina morte, por uma infinidade de causas.  Muitas vezes isso ocorre próximo de nós, dentro da própria família. 

Sendo o corpo frágil, temporário e depreciável em pouco tempo, ele sofre com os fatores ambientais e não depende do seu ocupante para cessar as suas atividades. Após essa paralisação definitiva, para onde irá o seu ocupante?

Certamente estará em algum lugar; mas que lugar seria esse? Se escolheu um veículo frágil para uso de pouco tempo indefinido, certamente veio de algum lugar e, em um momento incerto, para lá retornará.

Portanto, o viajante não é o corpo, porque este tem um fim, mas sim o elemento essencial e permanente que atravessa tempos incontáveis, rumando pela eternidade e acumulando o que cultiva em todas as épocas de sua trajetória. 

A importância reside no tesouro que acumula. O receptáculo é o espírito e, quanto em um corpo, é chamado de alma. É aí que reside o Céu, ou o Inferno.  

O Espírito, algo grandioso e complexo, é senhor de si mesmo. Atua como réu e juiz, julgando a própria causa. Como um julgador incansável, suas sentenças são rigorosamente cumpridas. Ele não se satisfaz com artifícios escapistas ou engenhosas justificativas, especialmente quado se trata de intenções e atos maldosos, indecentes e voluptuosos que causaram desvirtuamento de qualquer ordem e sofrimento a quem quer que seja, mesmo depois da morte. As influências morais danosas repercutem no tempo… Esse juiz é inexorável!  Exige reparo, certificação de que a lição foi aprendida, e a certeza de que a recuperação esteja sedimentada, o que vem a se denominar educação espiritual, definitiva.

Existem estágios nesse processo: o reconhecimento de que a dívida pertence ao indivíduo, o remorso, o arrependimento sincero, a busca pela reparação, a resistência aos efeitos das consequências, a prova da efetivação do aprendizado e a determinação de não retornar ao erro.  Estes passos não têm tempo definido para se cumprir, nem mesmo pode se encerrar numa única reencarnação, depende da vontade do Espírito de se educar, e da satisfação do juiz implacável, a consciência.  Um dos ensinamentos de Jesus Cristo ao apóstolo Pedro foi: “Perdoar, não sete vezes, mas sete vezes setenta vezes…” Todos somos devedores uns dos outros de alguma forma, pois os males cometidos disseminam como ervas daninhas nas almas com raízes profundas, que precisarão realizar incontáveis ações benéficas para sanar as consequências. 

Sempre se encontrarão os efeitos das iniciativas implementadas em qualquer época, de tal forma que o autor se verá obrigado a reparar a desarmonia que causou na casa do Pai, que é o Universo, para que a consciência se harmonize com a própria harmonia de Deus. Sem a qual Espírito algum encontrará paz. 

Qual é o seu álibi?  Diante da consciência, somente o bem serve como justificativa em qualquer circunstância. Veja-se que isto não é exigência de nenhuma autoridade espiritual, nenhum tribunal de potestades, é a Lei de Deus ínsita no próprio ser. A lucidez da consciência com a conquista do bem traz o Céu -- um estado de espírito --, ou, com o mal, instala-se um estado de sombra que imporá a perturbação, até que se dê cabo de seus efeitos. 

Referindo-se novamente ao apóstolo Pedro, que ensina: “A caridade cobre uma multidão de pecados…”, o bem em todos os passos, momentos e circunstâncias ilumina o Espírito, o que significa que limpa a consciência de muitos resquícios dos quais por agora não se lembra, mas que o alivia e amplia o estado íntimo de alegria. É o Céu que se constrói em seu interior.  

A razão de certas alegrias ou sofrimentos que por ora não são conhecidos só será relembrada quando o Espírito estiver novamente no mundo espiritual. O esquecimento dos fatos passados se dá enquanto na vida material, sendo isso próprio da nova oportunidade -- a presente reencarnação --, tendo do passado nuanças intuitivas, que se apresentam refletidas como tendências para as Artes, as Ciências, e as diversas práticas para a condução da vida, podendo-se também surgir impulso para o bem ou para o mal, se lhe era de cultivo em existência passada. 

Cabe a cada indivíduo o melhor direcionamento dos ímpetos que surgem, refletindo bem antes das decisões, sabendo que pela intenção e o desfecho do que permitir, os resultados o farão senhor ou vítima de si mesmo. 

Qual é o seu álibi?

                                                     Dorival da Silva


1. Mateus, 18:21-22
2. 1 Pedro 4:8


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Leis…

                                                                              Leis… 


Neste texto abordaremos as leis, não o faremos como uma questão técnica de Direito, não é a finalidade, mas num pensamento livre, numa lógica natural, longe do apego à legislação de qualquer viés, apenas a liberdade de pensar.  

A Natureza tem suas leis, nada além destas seria necessário para conduzir a vida, não fosse o surgimento de um elemento chamado homem. Um ser do reino animal em estágio hominal, significando um animal com capacidade de pensamento contínuo e consciência de si mesmo. Por isso sobrepõe os demais reinos. Suas ações são intencionais, premeditadas, visam um resultado, têm consequências positivas ou não, para si mesmo ou para o seu grupo, podendo representar vantagem ou desvantagem para um ou outros demais grupos da organização social.  

Os atributos do ser humano incluem o livre-arbítrio, o direito de experimentar, de conhecer os resultados de suas ações, se é bom ou não, e suportar as consequências de suas atitudes. Foi através dos acertos e erros que se descobriu o que era útil para a vida, avançou-se e houve a necessidade de disciplinar as experiências, catalogar os passos e os resultados, iniciando-se a Ciência, metodizando os fatos.  

No entanto, existem fatores comportamentais que, em um estágio da existência, foram essenciais para a sua manutenção, como o instinto de conservação, a força bruta, a capacidade de adaptação ao meio ambiente…  No contar dos séculos, a inteligência humana se desenvolveu, a Ciência subdividiu-se em especialidades, a tecnologia trouxe comodidade às suas ações, nos diversos setores da vida.  

E as Leis?...   

As leis naturais estavam latentes no homem quando ele surgiu. Elas foram evidenciando-se conforme as ações empreendidas, sentindo-se seus efeitos, com as repetições foram sendo conhecidas.  

Com o crescimento da inteligência, que precede o desenvolvimento moral -- este último seria o freio equilibrador das ações do homem --; descobriu-se que o poder governa, manda, exige, acumula e cria um estado de “respeito-temor” sobre aqueles de menor poder, gerando ilusória sensação de segurança, seja individual, ou coletiva.  

O que era instinto de conservação tornou-se egoísta, centralizador, pessoal ou social, somando-se ao orgulho do poder, duas forças ilusórias que se unem; que perduram enquanto o combustível da ilusão suportar.    

A lei que rege toda a vida não está escrita nem em pedra, nem em papel, pois está inerente ao próprio ser, é a lei natural, a Lei de Deus, inscrita na consciência. No entanto, ela está latente, é preciso que a consciência se faça lúcida, crescida, esteja forrada na inteligência e na moral avançadas, coroadas de virtudes, conquistas de grandes lutas interiores.  

Para apoiar o estado evolutivo incipiente do ser humano,  no transcorrer dos séculos, houve o auxílio das instâncias espirituais  responsáveis pela humanidade da Terra, com o estabelecimento de normas de conduta e o apontamento de que não se estava só, como as orientações lançadas ao mundo pela voz direta, surgida no ar, posteriormente com registro tátil, como exemplifica o código de Hamurábi, e mais tarde o que marcou com mais expressividade, a recepção por Moisés, do Decálogo, até esses dias, normativo indiscutível.  

Desde os Profetas, que orientavam o povo para a vida presente e antecipavam os acontecimentos que ocorreriam no futuro, mostrando que a existência não era finita e que os seres não eram o corpo, mas sim algo que perduraria no tempo, pois seria sem propósito revelar o futuro para quem não chegaria lá. Não era possível explicar como se chegaria lá, o que posteriormente Jesus começou a esclarecer nessa Ciência no diálogo com Nicodemos, tratando do renascimento. Como hoje entendemos o mecanismo da reencarnação, e a evolução constante da alma humana.  

As leis civis existiram desde as mais rudimentares, as patriarcais, depois pelas de grupos sociais, as de estado, e as nacionais, com as regras modernas ordenadoras da ordem social no mundo.  Todas essas são relativas, sofrem alterações constantes para aperfeiçoamento e se adaptam de acordo com as necessidades do estado evolutivo de cada sociedade; acompanham a evolução dos povos.  

Nos tempos modernos, principalmente após o advento da Doutrina Espírita (1857), o homem está ciente de que é um Espírito, uma individualidade autônoma, que não terá fim; no entanto, transitou desde o estado evolutivo mais insignificante, aperfeiçoa-se todos os dias, caminha pela eternidade e alcançará o estado de perfeição, porque existe uma lei inexorável e atrativa que é a Lei de Progresso, que rege todo o Universo, pois se trata de Lei Divina. 

A Lei de Progresso, embora governe tanto o mundo material e o espiritual, sendo que o primeiro tem suas próprias normas físico-químicas, que são exercidas automaticamente; o segundo, tem a lei imutável inscrita na consciência, e a exerce de acordo com o seu estado evolutivo, pois, tem vontade e é livre para decidir, vive a sua experiência, e assume as suas consequências.  

As Leis Naturais que regem a matéria se cumprem dentro de uma ordem constante, que a multidão incontável de mundos e astros do Universo seguem cortejos em movimentos harmônicos pelo tempo sem fim, sem a ocorrência de fatos acidentais. Sendo que serve ao desenvolvimento da vida em todos os planos, fora disso não haveria razão para existir. Quem criaria tanta grandeza sem finalidade? 

Aquelas que cuidam da vida espiritual são dinâmicas e, em profundidade, fogem da possibilidade de julgamento pelos homens, pois, as facetas motivadoras de quaisquer fatos têm concepções inatingíveis no presente estágio evolutivo. Considerando que a alma humana percorre o caminho do tempo em inúmeras experiências, estas estão compondo o seu patrimônio espiritual, que reflete influência inconsciente sobre si mesmo, exercendo força para a repetição de circunstâncias anteriormente habituadas, que precisam encontrar na vida presente discernimento para conter e neutralizar ou dar vazão, advindo os resultados bons ou depreciativos. A educação moral e a espiritualização do indivíduo são o grande divisor de águas entre os desastres, que causam sofrimentos que transcendem os tempos da própria vida corporal, e o estado de paz e felicidade que se perpetuam.  

Não há mundo, não há vida sem ordem e sem lei. Mundo material e mundo espiritual têm a mesma Fonte, no entanto, aquele serve a este, e existe em razão deste.  

Lei, ordem, disciplina… 

                                                                         

 

                                                                         Dorival da Silva