quarta-feira, 12 de junho de 2019

Volta à gentileza


Volta à gentileza

Infelizmente, as notáveis conquistas da ciência aliada à tecnologia ainda não lograram facultar ao ser humano o retorno à gentileza. Propiciaram, sim, fantásticas contribuições para o conforto e o esclarecimento de incontáveis enigmas que o vinham atormentando através dos séculos, sem, no entanto, proporcionar-lhe sentimentos que vêm desaparecendo nos relacionamentos sociais, que lamentavelmente se tornam cada vez menos frequentes.

O individualismo, que resulta de muitos instrumentos técnicos de comunicação, embora facilitando a existência, tem isolado os indivíduos no mundo de cada qual, sempre mais distante da convivência fraternal, retirando o calor da afetividade. Vai-se ficando indiferente ao contato pessoal, à conversação calorosa, ao distanciamento uns dos outros.

Pequenos gestos de gentileza vão sendo substituídos pelo silêncio e pelo aborrecimento quando o indivíduo se sente convidado à participação de qualquer atividade pessoal, exceto naqueles de interesse imediato. Diversos princípios éticos são esquecidos propositalmente e substituídos por carrancas que desanimam qualquer pessoa que deseje uma comunicação verbal agradável.

Tem-se a impressão de que se deseja distância que favoreça dificuldade de gerar trabalho ou favores não desejados.

As saudações, que demonstraram grau de cultura e civilização, vão desaparecendo, e a preocupação apenas consigo leva ao atropelamento dos outros pelos caminhos, sem a mínima preocupação de solicitar-se escusas. Os demais parecem antipáticos e se evitam novos relacionamentos, bastando-se com os jogos, os desafios e diversos recursos do iPhone.

O ser humano tem necessidade de convivência com a natureza, a flora, a fauna, os ideais de engrandecimento e a presença de outros de sua espécie. Com esse estranho comportamento, muito fácil se instalam transtornos de conduta, distúrbios emocionais e distância da beleza, da arte, da vida religiosa, do bem-estar. Surgem, então, a depressão e outras patologias afligentes.

Pessoa alguma existe que seja tão plena que não necessite de outra para relacionar-se, conviver, discutir e até mesmo discordar. O estar vivo é movimentar-se, lutar, construindo melhores situações para si próprio, para a Humanidade. Muitas pessoas vivem angustiadas pelo tempo vazio de que dispõem e passam horas queixando-se do nada fazer, de sua vida não ter sentido.
Entretanto, leituras edificantes aguardam mentes interessadas, trabalho fraternal em favor do próximo abre-se convidativo para quantos desejam honestamente ser felizes.

Os solitários vagueiam inditosos ou enchem as casas de repouso, tornando-se espectros tristes da sociedade que deles se esqueceu. Bem provável que foram eles que se olvidaram do grupo social quando eram jovens e podiam produzir fraternidade bem como edificar mundo melhor.

Mesmo neste momento de desamor e egoísmo pode-se reverter a situação, passando-se a ser solidário e iniciar novas experiências sempre enriquecedoras.

Multiplicam-se organizações de ajuda à natureza assim como à Humanidade, aguardando cooperadores. Seja você aquele que tem a coragem de voltar à gentileza e reumanizar-se, pois que ainda é tempo.










Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 16.5.2019.


quinta-feira, 6 de junho de 2019

Consciência

Consciência 

“Guardando o mistério da fé numa consciência pura.”  
 Paulo. (I Timóteo, 3:9.) 

Curiosidade ou sofrimento oferecem portas à fé, mas não representam o vaso divino destinado à sua manutenção. 
Em todos os lugares, observamos pessoas que, em seguida a grandes calamidades da sorte, correm pressurosas aos templos ou aos oráculos novos, manifestando esperança no remédio das palavras. 
O fenômeno, entretanto, muitas vezes, é apenas verbal. O que lhes vibra no coração é o capricho insatisfeito ou ferido pelos azorragues de experiências cruéis... 
Claro que semelhante recurso pode constituir um caminho para a edificação da confiança, sem ser, contudo, a providência ideal. 
Paulo de Tarso, em suas recomendações a Timóteo. esclarece o problema com traço firme. 
É imprescindível guardar a fé e a crença em sentimentos puros. Sem isso, o homem oscilará, na intranquilidade, pela insegurança do mundo íntimo. 
A consciência obscura ou tisnada inclina-se, invariavelmente, para as retificações dolorosas, em cujo serviço podem nascer novos débitos, quando a criatura se caracteriza pela vontade frágil e enfermiça. 
Os aprendizes do Evangelho devem recordar o conselho paulino que se reveste de profunda importância para todas as escolas do Cristianismo. 
O divino mistério da fé viva é problema de consciência cristalina. Trabalhemos, portanto, por apresentarmos ao Pai a retidão e a pureza dos pensamentos. 

(Esta mensagem foi extraída da obra: Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 131, ano 1951.) 


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Reflexão  -   Consciência pura! É o requisito para a fé viva. A qualidade da fé depende do estado da consciência. Buscando amparo em Leon Denis¹, que ensina: “A consciência é não somente a faculdade de perceber, mas também o sentimento que temos de viver, agir, pensar, querer. É una e indivisível (...)”.  

O orientador espiritual Emmanuel, no início da sua página acima, explana: “Curiosidade ou sofrimento oferecem portas à fé, mas não representam o vaso divino destinado à sua manutenção. 
Em todos os lugares, observamos pessoas que, em seguida a grandes calamidades da sorte, correm pressurosas aos templos ou aos oráculos novos, manifestando esperança no remédio das palavras. 
O fenômeno, entretantomuitas vezes, é apenas verbal. O que lhes vibra no coração é o capricho insatisfeito ou ferido pelos azorragues de experiências cruéis...  Não bastam uma situação inopinada, uma emergência emocional, uma orientação fortuita, por mais que abalizada, que farão uma consciência pura capaz de produzir uma fé viva.   Recurso espiritual que todos procuramos, sem, no entanto, compreender direito o que seja, pois temos pressa, a ansiedade é exigente, a nossa pobre capacidade de reflexão sobre a essencialidade da vida, que é a ferramenta de interiorização para nos conhecermos, não nos permite clarear a consciência, pois temos dúvida, medo para  dar passos no rumo do desconhecido.  

O Mentor espiritual refere-se ao “vaso divino”, do que fala?  Da “consciência pura”. E como se chegar a esse estado de consciência? Nestes dias de tumulto! Não dá para esperar que alguém ou a coletividade resolva a situação. O problema é particular. Cada indivíduo é um mundo singular. “A consciência é não somente a faculdade de perceber, mas também o sentimento que temos de viver, agir, pensar, querer. É una e indivisível (...)” -- reinserimos. É indispensável pensarmos em nós mesmos dentro de um contexto de vida complexo, onde temos vontades, lidamos com vontades alheias, sofremos influências de nossas próprias vivências desta e de outras vidas, vez que estão todas em nós mesmos, sendo que nos pertencem (causas e consequências), além de sofrermos as influências dos que nos rodeiam na família e na sociedade, que têm seus passados, sofrem da mesma forma que nós suas próprias influências e a dos demais, gerando retroalimentação de emoções, sensações, relembranças, intuições, que ora são causa e ora são consequências geralmente de suas dores, suas aflições, mágoas, ressentimentos, doenças, poucas vezes são reflexos de paz e felicidades. A nossa consciência ainda não é “vaso divino”, quando isso se der, não sofreremos a influência de passado negativo, que se apresenta por várias formas no presente e no futuro, mas o reflexo da conquista de nós mesmos para o bem e com o bem, que se potencializará com a influência de outros que também chegaram no mesmo patamar, quando se alcançará a fé viva, a paz e a felicidade que ainda não somos capazes de perceber.  

A influência negativa dos outros nos atinge porque encontra em nós um traço de ligação de forças que interage pela qualidade, gerando elo de influência, que se alimenta com o combustível de mesmo viés, que somente uma força de vontade maior, no rumo do bem, constituído pelo pensamento do bem, numa luta ingente para não ceder à força atrativa existente, o que  se denomina tentação, que nos leva preferir a situação em que nos encontramos.  Ainda, assim, apresenta algum conforto, alguma satisfação, comodidade, em relação ao esforço em sentido contrário que nos traz cansaço, incomodo... Cabe ainda nos perguntar: O que viemos fazer aqui na Terra, suportar um organismo de carne que nos pesa, causa constrangimento para a locomoção, para pensar, para conservá-lo, que envelhece e cada vez mais nos limitam as ações, por quê? O propósito Divino é que o Espírito em evolução precisa de oportunidades para o seu aprimoramento, vez que com o livre-arbítrio precisa aprender a utilizá-lo a seu favor, de maneira consciente, pela sua vontade, superar as deficiências, conquistar virtudes, clarear a mente, purificar-se com as experiências de suas vidas em diversas reencarnações, porque a vida do Espírito fora da matéria é sempre uma única, mas com muitas viagens através de veículos de carne, onde junta as experiências e tira o resultado de seus esforços.  

No final da página objeto desta reflexão, Emmanuel realça: O divino mistério da fé viva é problema de consciência cristalina. Trabalhemos, portanto, por apresentarmos ao Pai a retidão e a pureza dos pensamentos. Aí está o que buscamos na vida, através das diversas vidas, a consciência cristalina, não existe outra razão, isto depende de inteligência educada, de mansidão dos sentimentos, para alcançarmos a retidão e a pureza dos pensamentos. É o que o Criador espera de nós. “Somos o que pensamos.” 

Consciência! 
                                      
                                                        Dorival da Silva 
¹. Obra: O Problema  do ser, do destino e da dor 
   Autor: Léon Denis 
     Página 323, 15ª edição   
     XXI – A consciência. O sentido íntimo. 

quinta-feira, 16 de maio de 2019

É possível ter uma democracia de si mesmo?

É possível ter uma democracia de si mesmo? 

 

Como regra corrente, “democracia é o regime político em que a soberania é exercida pelo povo”. Nós, os seres humanos, somos países de um único habitante, onde podemos exercer todos os nossos direitos sem o incômodo de compartilhar decisão, já que neste 'governo' não há concorrentes. Isso é verdade? 

 

Certamente gostaríamos que assim a banda tocasse. 

 

No caminho evolutivo, quando somos muito ignorantes, medos, insegurança e os conflitos tornam-se grandes concorrentes, gerando perturbação neste 'país' de um único habitante.   Uma confusão de quereres, de não quereres, ora avança ora retrocede em suas ações. A dúvida sobrepõe, como nuvem escura, a clareza das ideias que desejam se estabelecer e florir. É luta de si consigo mesmo. 

 

O direito existe, no entanto, o seu exercício convoca o dever.  Antes de se pensar no gozo do direito, o dever existia, aguardando em silenciosamente para ser exercido, mas só foi lembrado quando o direito foi desejado. O direito é uma conquista do dever cumprido, então precisa vir depois. Primeiro se cumpre com o dever e o direito estará resguardado, assim é nesse país de si mesmo. 

 

Para que esse governo tenha clareza, é imprescindível conhecer este 'país de si mesmo'. Quem o conhece o suficientemente bem pode governá-lo com segurança, visando a melhor produção. O progresso de qualquer país depende da quantidade e da qualidade de sua produção nos diversos setores da vida. Relembremos alguns setores dessa economia: Saúde, educação, segurança, inteligência, sentimento, moral, discernimento, respeito, religiosidade, ainda, existem outros; depois todos se subdividem em especialidades, numa tessitura de sintonia fina. 

 

Quem governa este 'pais'? Qual é o regime de governo? Quais são os recursos que permitem a produção e as conquistas? 

 

É necessário conhecer esse governante; ele se confunde com o próprio 'país', embora seja independente e livre, apesar de ter uma ligação temporária com a parte visível para os outros 'países', como qualquer governo. Embora externamente se expresse com uma pequena parte de sua produção, ainda assim, é possível avaliar a qualidade e a sua capacidade de governar. 

 

Quem exerce a governança tem um nome e é conhecido por vários termos: alma, espírito, "persona", eu...  Há muitos nomes e denominações.  Ele possui um território com área estabelecida, que se apresenta com altura, peso e limites. O governante tem halo vinculante, com as mesmas características da parte visível, que se desprende sem desvirtuar nenhuma das qualidades do país conhecido, quando materialmente este fica incapaz e perde a vitalidade. 

 

Os recursos que utiliza para a produção são comuns a todos os 'países': a vontade, o objetivo, a ação, a persistência. 

As conquistas são a inteligência, o equilíbrio emocional, as virtudes, a lucidez, enfim, o cumprimento do dever, que lhe proporciona a paz e a felicidade. 

 

Quando a sua 'terra' está desvitalizada e não é mais perceptível para os outros países, como o governante desfruta de suas conquistas? Para quem ele mostra os seus valores? 

 

O governante, ao deixar o vínculo material (pois tudo o que é matéria é finito), mantém o essencial, que é permanente, como uma herança que não se perde, e se estabelece em uma estância vibracional compatível com o patrimônio conquistado. A quantidade e a qualidade desse patrimônio irão dizer de seu governante, pois é ele mesmo, estão nele, não há como se enganar, todos os demais saberão, mesmo que não queira mostrar. O Governador tem pleno conhecimento do que fez e do que deixou de fazer, traz a paz e a felicidade, se o dever foi cumprido; caso contrário, sobrarão a frustração, o arrependimento, a amargura. 

 

Tudo acabou?  Não será possível expandir o que foi conquistado? O que acontece com aqueles que faliram?  Nem para um, nem para os outros, a trajetória terminou, já que a meta é a perfeição, que ainda está distante. Então, o gestor procura novo país, em época diferente, novamente mergulha em terra nova, com todas as experiências adquiridas para, outra vez, mais experiente, governar, se governando, visando enriquecer o seu patrimônio, sabendo da regra democrática de cumprir primeiramente o dever, garantindo consequentemente os direitos. Esgotados os recursos do país, analisa-se os resultados, a recompensa é conhecida: paz e felicidades, ou não. 

 

É essencial caminhar, recapitular e se reconhecer. 

 

Todos os 'países', seguindo essa trajetória, inevitavelmente alcançarão grandes conquistas, e o lugar de todos, o Mundo, estará em paz. 

 

A quem deve ser mostrados os seus valores? Aqueles que alcançaram a sublimação da vida, pois os seus valores são parte da pureza de sua consciência. Neste contexto, o 'pais' é a própria criação do indivíduo. 

 

Democracia... um conceito que também pode ser aplicado à jornada de autodescoberta e autogoverno do indivíduo.