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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A Nova Literatura Mediúnica

Crônicas e Artigos
Ano 9 - N° 433 - 27 de Setembro de 2015



JOSÉ PASSINI
jose.passini@gmail.com
Juiz de Fora, MG (Brasil)





A Nova Literatura Mediúnica


“E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” Paulo (I Cor,14:29)

As palavras de Paulo – inegavelmente a maior autoridade em assuntos mediúnicos dos tempos apostólicos – deveriam servir de
 alerta àqueles que têm a responsabilidade da publicação de obras de origem mediúnica.

A literatura mediúnica tem aumentado de maneira assustadora. Diariamente aparecem novos médiuns, novos livros, alguns bem redigidos, se observados quanto ao aspecto gramatical, mas de conteúdo duvidoso, se analisadas as revelações fantasiosas que iludem muitos novatos, ainda sem conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame criterioso daquilo que leem.

Muitos desses livros se originam de Espíritos ardilosos que, de maneira sutil, se lançam no meio espírita como arautos de novas revelações capazes de encantarem leitores menos preparados, aqueles sem um lastro de conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame lúcido, capaz de os levar a conclusões esclarecedoras.

Muitas pessoas que conheceram recentemente a Doutrina, antes de estudarem Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne e outros autores conceituados; antes de lerem as obras de médiuns como Francisco Cândido Xavier, Yvonne A. Pereira, Divaldo Franco, José Raul Teixeira, estão se deparando com obras fantasiosas, escritas em linguagem vulgar, contendo o que pretendem seus autores – encarnados e desencarnados – sejam novas revelações.

Bezerra de Menezes, Emmanuel, André Luiz, Meimei, Manoel Philomeno de Miranda, Joanna de Ângelis e tantos outros Espíritos se tornaram conhecidos e respeitados pelo conteúdo sério, objetivo, seguro, esclarecedor de suas obras, sempre redigidas em linguagem nobre.

Esses Espíritos conquistaram, pouco a pouco, o respeito, a credibilidade e a admiração do público espírita pelo conteúdo de seus escritos, na forma de mensagens ou de livros, publicados espaçadamente, como que dando tempo a um estudo sereno e criterioso do seu conteúdo.

Nos dias que correm, infelizmente, o quadro se modificou. Muitos médiuns, valendo-se de nomes já conhecidos pelo valor de suas obras, tentam impor-se aos leitores espíritas, não pelo valor das mensagens em si, mas escorados em nomes respeitáveis.

Sabendo-se que nomes pouco importam aos Espíritos esclarecidos, é de se perguntar por que os benfeitores que se notabilizaram através de Francisco Cândido Xavier haveriam de continuar usando seus nomes em mensagens transmitidas através de outros médiuns? Se o importante é servir à causa do Bem, por que essa continuidade na identificação, tão pessoal, tão terrena? Não seria mais consentâneo com a impessoalidade do trabalho dos Servidores do Bem deixar que o valor intrínseco da mensagem se revele, sem estar escorado num nome conhecido? Por que não deixar que a mensagem se imponha pelo valor de seu conteúdo? Por que escudar-se em nomes respeitáveis, quando o texto não resiste a uma comparação, até mesmo superficial, de conteúdo e, às vezes, até mesmo de forma?Por que essa ânsia insofreável de publicar tudo o que se recebe – ou que se imagina ter recebido – dos Espíritos? Onde o critério, a sobriedade tantas vezes recomendada na obra de Kardec? Será que o público espírita já leu, estudou, analisou, entendeu toda a produção mediúnica produzida até agora?Ao dizer isso não se está afirmando que a fase de produção mediúnica está encerrada.

Sabe-se que a Doutrina é dinâmica, que a revelação é progressiva. Progressiva, e não regressiva, pois há obras que estão muito abaixo daquilo que se publicou até hoje, para não dizer que há aquelas que nunca deveriam estar sendo publicadas.

Infelizmente, os periódicos espíritas, de modo geral, não publicam análises dessas obras que estão sendo comercializadas, ostentando indevidamente o nome da Doutrina.

Impera, no meio espírita, um sentimento de falsa caridade, um pieguismo mesmo, que impede se analise uma obra diante do público. Essas atitudes é que encorajam médiuns ávidos de notoriedade à publicação dessa verdadeira avalanche de obras que vão desde aquelas discutíveis a outras verdadeiramente reprováveis.

Nesse particular, é justo se chame a atenção dos dirigentes de núcleos espíritas, sejam centros, sejam livrarias, a fim de que avaliem a responsabilidade que lhes cabe quanto ao que é dado a público em nome do Espiritismo.

O dirigente – ou o grupo responsável pela direção de uma casa espírita – responderá perante o Alto, sem a menor dúvida, pela fidelidade aos princípios doutrinários de tudo o que se divulga em nome do Espiritismo, seja na exposição oral, num livro, ou simplesmente num folheto. O mesmo se diga relativamente àqueles responsáveis pelas associações intituladas “clube do livro”. 
 
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Extraído da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano9/433/ca5.html

quinta-feira, 2 de julho de 2015

O livro espírita


Elucidações de Emmanuel
Ano 9 - N° 415 - 24 de Maio de 2015


 
O livro espírita
 

Cada livro edificante é porta libertadora.


O livro espírita, entretanto, emancipa a alma nos fundamentos da vida.

O livro científico livra da incultura; o livro espírita livra da crueldade, para que os louros intelectuais não se desregrem na delinquência.

O livro filosófico livra do preconceito; o livro espírita livra da divagação delirante, a fim de que a elucidação não se converta em palavras inúteis.

O livro piedoso livra do desespero; o livro espírita livra da superstição, para que a fé não se abastarde em fanatismo.

O livro jurídico livra da injustiça; o livro espírita livra da parcialidade, a fim de que o direito não se faça instrumento de opressão.

O livro técnico livra da insipiência; o livro espírita livra da vaidade, para que a especialização não seja manejada em prejuízo dos outros.

O livro de agricultura livra do primitivismo; o livro espírita livra da ambição desvairada, a fim de que o trabalho da gleba não se envileça.

O livro de regras sociais livra da rudeza de trato; o livro espírita livra da irresponsabilidade que, muitas vezes, transfigura o lar em atormentado reduto de sofrimento.

O livro de consolo livra da aflição; o livro espírita livra do êxtase inerte, para que o reconforto não se acomode em preguiça.

O livro de informações livra do atraso; o livro espírita livra do tempo perdido, a fim de que a hora vazia não nos arraste à queda em dívidas escabrosas.

Amparemos o livro respeitável, que é luz de hoje; no entanto, auxiliemos e divulguemos, quanto nos seja possível, o livro espírita, que é luz de hoje, amanhã e sempre.

O livro nobre livra da ignorância, mas o livro espírita livra da ignorância e livra do mal.
 
Do livro Doutrina e Vida, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.


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Página extraída da Revista Espírita "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço:
 http://www.oconsolador.com.br/ano9/415/emmanuel.html

domingo, 2 de novembro de 2014

O que será depois?

GUARACI DE LIMA SILVEIRA
glimasil@hotmail.com
Juiz de Fora, MG (Brasil)
 
 
Guaraci de Lima Silveira
O que será depois?
Há os que dizem nada haver após a morte do corpo. Há os que acreditam nalguma forma de vida, há os que entendem que após cumprido o ciclo terreno vamos nos juntar a um todo, perdendo nossa individualidade. Milenar são essas indagações ou conclusões doutrinárias, filosóficas ou mesmo individuais. O Dr. Raymond Moody, psiquiatra, psicólogo, parapsicólogo e filósofo, natural de Porterdale, Geórgia, Estados Unidos da América, publicou em 1975 o best seller: Vida Depois da Vida.  É um sucesso até nossos dias e o será sempre por se tratar de um assunto de extrema importância dentro do ideário humano. Ele inicia assim o primeiro capítulo do livro: “Como é que é morrer? Essa é uma questão sobre a qual a humanidade se tem debruçado desde que existem seres humanos. Durante os últimos anos tive oportunidade de levantar essa questão diante de um número considerável de audiências”... Demonstrou com isto que seu trabalho de pesquisa foi longo e bem fundamentado. Complementando seus apontamentos naquela Obra o autor nos diz: “Não posso pensar em nenhuma outra resposta senão mais uma vez indicar a preocupação humana universal com a natureza da morte. Acredito que qualquer luz que possa ser lançada sobre a natureza da morte é para o bem”.
A Doutrina Espírita vem desde 1857 tratando desse assunto com grande propriedade. O que será depois que desencarnarmos? Inferno, purgatório ou céu? A grande maioria das mentes ainda está acostumada com esta tríade do bem ou do mal. Muito confusa e estranha foi colocada goela abaixo dos crentes desde os primórdios da igreja católica. Não vai aqui nenhuma crítica pejorativa. Era o que se tinha, era o que se comentava. Allan Kardec bem o tratou em seu livro: O Céu e o Inferno, com lúcidos comentários e profícuas conclusões. Este estudo está em pauta permanente nos compêndios dos grandes ensinos iniciáticos das grandes civilizações passadas. Cada qual o tratava à sua maneira. Os que acreditavam em vida após a morte física faziam suas celebrações a favor dos antepassados, pedindo-lhes, inclusive, ajudas em suas decisões e, muitos só as tomavam, após terem certeza de que foram devidamente orientados pelos entes desencarnados. Ainda hoje se vê em residências ou templos um local definido para o culto aos antepassados, atestando, assim, a plena convicção de que eles continuam vivos. 
As festas dos bons Espíritos 
Havia na Europa antiga um curioso cerimonial durante o séquito que acompanhava o desencarnado até a sepultura ou cremação. Um grupo vinha ao encontro usando máscaras que imitavam fisionomias dos entes desencarnados. Em festa vinham receber o familiar, introduzindo-o a uma nova dimensão da vida. Interessante esta forma teatral de conviver com a morte. Aliás, o teatro imita a vida daí que os dramas e tragédias apresentados num palco podem representar o que de fato esteja acontecendo com o público ali presente, em parte ou como um todo. A argúcia do autor e diretor do espetáculo, aliada a interpretações pujantes dos atores, podem levar o público a um raciocínio sobre sua vida, seu momento. Pensando assim, aquela manifestação teatral no momento em que o morto era levado ao seu destino final, bem poderia ter a conotação de lembrar a todos que a morte física é um processo irreversível para os encarnados. Contudo, ela não é o fim, pois que os que o antecederam vinham-no receber.
Aqui, dada a semelhança do que citamos acima, vamos buscar importante comentário do Espírito Felícia, desencarnada e que, atendendo a uma evocação do seu esposo, ditou através da Sra. Cazemajoux em Bordéus – França – uma página por ela intitulada de “Festas dos Bons Espíritos”. Está na edição de maio de 1861 da Revista Espírita, publicada por Allan Kardec. E ela começa dizendo: “Também temos nossas festas e isto acontece com frequência, porque os Bons Espíritos da Terra, nossos bem-amados irmãos, despojando-se do invólucro material, nos estendem os braços e nós vamos, em grupo inumerável, recebê-los à entrada da estância que, daí em diante, vão habitar conosco”. Bela e confortadora esta informação de Felícia. Dá-nos uma sensação de continuidade e, mais que isto, coloca-nos a par do que realmente acontece após o desenlace físico. Às vezes, na hora extrema das despedidas, quando o féretro prossegue rumo à morada final daquele corpo, vemos desesperos, choros convulsos, lamentações... Sem dúvida é muito difícil aquele momento. Contudo, poderia ser mais ameno se nos preparássemos para ele. 
Na capela mortuária deve reinar a paz 
“Ainda em nossos dias o respeito aos mortos está envolvido numa forma velada de repulsa e depreciação. A morte transforma o homem em cadáver, risca-o do número dos vivos, tira-lhe todas as possibilidades de ação e, portanto, de significação no meio humano. “O morto está morto”, dizem os materialistas e o populacho ignaro”. Este texto está contido no capítulo primeiro do livro do Professor José Herculano Pires, intitulado: Educação para a Morte. Os que não conseguem enxergar a vida após esta vida transformam o momento do velório num réquiem que mais mata que consola. Felícia continua a nos acalentar quando diz: “Nessas festas (de recepção do desencarnado querido) não se agitam, como nas vossas, as paixões humanas que, sob rostos graciosos e frontes coroadas de flores, se ocultam a inveja, o orgulho, o ciúme, a vaidade, o desejo de agradar e de primar sobre rivais nesses prazeres fictícios, que não o são”.
Fausta lição ela nos dá. Diz-nos que há festas de recepções, mas que são compostas de verdades, de harmonia, de luminescências que partem de corações livres das agruras remanescentes em muitos, ainda. Ela cita rostos graciosos e frontes coroadas de flores. Apenas aparência. E, será que naquele momento dos choros e desesperos ante o féretro que sai também não estamos escondidos sob máscaras, agindo de tal forma apenas para impressionar? Felícia faz esta citação em sua mensagem possivelmente para nos alertar quanto aos nossos procedimentos naquele local onde o espírito está se despedindo do corpo. Na capela mortuária deve reinar a paz, mesmo perante a dor. A harmonia mesmo perante os dias que se seguirá sem a presença física do ente que de nós se despede. A paz e a harmonia juntas dão-nos a serenidade que nos faculta bem conduzir-nos perante qualquer situação difícil. Aliás, Deus permite que elas aconteçam para nos fazer amadurecer principalmente a fé em Seus Sábios Desígnios. 
A vontade de Deus a nosso respeito 
Se do lado de cá a tristeza pode invadir corações vejamos a seguir o que comenta nossa irmã Felícia sobre os acontecimentos do lado de lá: “Aqui reinam a alegria, a paz, a concórdia; cada um está contente com a posição que lhe é designada e feliz com a felicidade de seus irmãos. Então, meus amigos, com esse acordo perfeito que reina entre nós, nossas festas têm um encanto indescritível. Milhões de músicos cantam em liras harmoniosas as maravilhas de Deus e da Criação, com acentos mais deslumbrantes que vossas mais suaves melodias. Longas procissões aéreas de Espíritos volitam como zéfiros, lançando sobre os recém-chegados nuvens de flores cujo perfume e variadas nuanças não podeis compreender”.
Evidente que fatos assim acontecem para aqueles que venceram com galhardia suas provas terrenas. E aqui nos abre uma suave discussão acerca da Vontade de Deus a nosso respeito. Na Oração Dominical Jesus foi enfático quando disse: “Seja feita a Vossa Vontade assim na Terra como no Céu”. Ocorre, porém, que repetimos diuturnamente esta oração e fazemos valer sobre o céu e a terra a nossa vontade. Egoica vontade que alimenta o ego inferior, nosso velho companheiro de jornada, nosso velho ancião a ditar-nos sabedorias. Sabedorias ou textos antigos que guardamos em nossos altares íntimos e que já estão fora de moda? E o que de fato sabemos sobre a vida e a morte? Sobre os planos espirituais? André Luiz abriu-nos a janela do Nosso Lar, mas, ele mesmo disse que existem milhares de colônias, vilarejos, grupamentos e cada qual alinhado com os desejos dos seus habitantes. Diz-nos ainda o sábio mentor que dois terços da humanidade da Terra, cerca de vinte bilhões de Espíritos ainda transitam nas faixas inferiores do planeta reclamando ajustes, educação e mudanças de rumos a favor do bem em si. O velho sábio arquetípico, instalado em nós desde os primórdios da razão humana não consegue vislumbrar o que se passa além da sua caverna. Daí que dizemos a todo pulmão: eu não acredito nisto! Esta história não tem sentido! Morreu, morreu, acabou e pronto! Aproveita enquanto está vivo! E por aí vão os ditos populares ou individuais alimentando a ignorância enquanto Deus nos criou para a liberdade que o infinito contém.   
Os Espíritos não são mortos nem defuntos 
Os que assim pensam, corrompem corrompendo-se. Mentem quais crianças, entregam-se a prazeres grosseiros e primitivos jurando que são modernos e descolados. Ditam para si as mais obscuras linhas de comportamentos nos quais o materialismo atinge culminâncias pegajosas formando monturos psíquicos de difíceis erradicações. Acham que a vida é esta e nela tudo devemos fazer para flutuarmos soberanos sobre a matéria que passa e se transforma. A Terra nos é um plano de estudos ainda para iniciantes. Após ela, muitos outros astros desfilarão à nossa frente ofertando-nos suas hospitalidades, ensinamentos e propostas de trabalhos cada vez mais incríveis e sem a necessidade de executá-los em troca da sobrevivência. Aliás, tal fato aqui acontece unicamente porque o homem não conseguiria progredir se tudo lhe viesse gratuitamente às mãos. Seus esforços por conseguir o necessário, colocam-no junto ao progresso que, por Lei Divina, acontece em todos os ångströms do universo. 
Felícia prossegue em sua dissertação: “Depois o banquete fraterno a que são convidados os que com felicidade terminaram suas provas, e vêm receber a recompensa dos seus trabalhos”. Sim, aqueles libertos das paixões terrenas e dos apegos aqui empreendidos vão conhecer novas opções, novas entidades benfazejas, novos instrutores, mentores, novas dependências da Casa Paterna. Que belo deve ser! Que alegria surge naquelas almas vencedoras! Felícia conclui sua mensagem dizendo: “Oh meu amigo! Tu desejarias saber mais, mas a vossa linguagem é incapaz de descrever essas magnificências. Eu vos disse bastante, a vós que sois os meus bem-amados, para vos dar o desejo de as aspirar...”
Vamos refletir sobre esta última frase. Os Espíritos queridos, despojados das vestes físicas não são mortos, cadáveres, defuntos ou coisas assim. São Espíritos libertos dando plena continuidade em suas vidas. E eles nos querem também livres. Eles desejam preparar-nos uma festa de recepção naquele dia em que todos estarão tristes, consternados e nós e eles, felizes pelo retorno. Quanto ainda necessitamos saber sobre os mecanismos da vida!  
Quando eu era menino, falava como menino... 
Voltamos ao livro: Educação para a Morte do Prof. José Herculano Pires e vamos encontrar no capítulo quatorze que ele intitulou de Dialética da Consciência uma sábia colocação: “O estudo de um tema como o da educação para a morte exige incursões difíceis no pensamento antigo, moderno e contemporâneo, para o estabelecimento das conexões orientadoras. Não se pode entrar no labirinto sem o fio de Ariadne nas mãos, pois o Minotauro pode estar à nossa espera. Numa fase de transição cultural como a deste século o problema da morte exige de todos nós um esforço mental muitas vezes atordoante. Mas temos de fazer esse esforço, para que a vida não fracasse em nós”.
Certa feita, quando criança, vi um ente muito querido sendo velado na sala da sua casa. Olhei-o. Estava hirto, desfigurado como mármore. Antes, aquelas faces eram morenas e por elas a vida se transbordava através do seu sorriso franco e sua fala graciosa além de um olhar penetrante. Ali, estava imóvel, entregue e deitado sobre uma madeira coberto de flores que mais assustavam que enfeitavam.
– Esta é a realidade da morte. Pensei. Tudo acaba aqui.
Eu era apenas um menino. Hoje cresci e devo me lembrar de Paulo de Tarso, quando disse em sua primeira carta aos coríntios no capítulo 13 – versículo 11: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino”. É uma reflexão que a humanidade necessita fazer acerca da morte. Gradativamente ela desaparecerá dentre nós. A palavra “morte” vem do latim mors, significando óbito, que por sua vez vem igualmente do latim: abitus, significando: ir embora, passagem para fora, egresso. Fácil então verificarmos que morte não significa fim já na origem da própria palavra. O que ocorre com a maioria das pessoas é o mesmo que ocorreu comigo. Eu vi um corpo inerte e sem vida e achei que o espírito era ele, portanto também morto! 
O que será depois está em nossas mãos decidir  
Na questão número 27 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec indaga: “Haveria assim dois elementos gerais do Universo, a matéria e o espírito?” Respondendo, os Espíritos dizem que acima deles está Deus O Criador, pai de todas as coisas. Desta forma é-nos necessário separar as coisas: o que é matéria é matéria, o que é Espírito é Espírito e este não morre jamais. Na questão 149 do mesmo livro, Allan Kardec pergunta: “Em que se transforma a alma no instante da morte?” E como resposta obtém: “Volta a ser Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos que ele havia deixado temporariamente”. Na questão seguinte, a de número 150, os Espíritos Superiores nos esclarecem dizendo que a alma jamais perde a sua individualidade e coloca-nos para pensar quando nos propõe esta questão “o que seria dela se não a conservasse?” Kardec insiste no tema e pergunta na questão 150-a: “Como a alma constata a sua individualidade se não tem mais o corpo material?” Como resposta obtém: “Tem um fluido que lhe é próprio, que tira da atmosfera do seu planeta e que representa a aparência da última encarnação: seu perispírito”. A palavra perispírito vem de peri significando: “em torno de” e espírito. Desta forma todos somos Espíritos revestidos com uma representação fluídica que nos acompanha após o desencarne e o corpo físico do qual nos utilizamos quando estamos encarnados. Então, não existe morte. Existe um deixar o corpo físico e retornar aos planos espirituais, que são nossos planos de origem.
Assim, podemos responder a nós que o que será depois, está em nossas mãos decidir. Ainda no livro Educação para a Morte, o prof. José Herculano Pires o encerra com uma indagação: “De que elementos dispomos para rejeitar a nossa própria sobrevivência? Que contraprovas podemos opor ao nosso próprio direito de superar a morte — a destruição total do ser humano num Universo em que nada se destrói?” Eduquemos para a morte como nos propõe este insigne professor e façamos valer a nossa vontade de realizar o bem, aprimorando-nos para sermos recebidos com festas como a descrita por nossa irmã Felícia. Será muito bom, não acham? Afinal há vida e ela está em nós e por nós no infinito de Deus!

Mensagem extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço:   http://www.oconsolador.com.br/ano8/387/especial.html

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Aprendendo com a Natureza... e com homens especiais

Aprendendo com a Natureza... e com homens especiais



Sandra Borba Pereira

A Natureza é o livro de páginas vivas e eternas.
Emmanuel
(Prefácio - Cartilha da Natureza, Francisco Cândido Xavier, ed. FEB)

Múltiplas são as expressões e relações do homem para com a Natureza: integração, uso, cuidado, inspiração, pesquisa, exploração irresponsável, lições de vida, exemplos, dentre outras.
Ao longo da história filósofos buscaram-lhe os princípios constitutivos; cientistas investigaram-lhe as causalidades efuncionamento para exploração, controle e previdência; religiosos a procuram como refúgio e aprendizado espiritual; artistas a transformam ou a retratam em variadas expressões; escritores e poetas nela encontram fonte de lições e inspirações; homens e mulheres simples a admiram e nela atuam como cenário de lutas pela sobrevivência e manancial de saberes para prosseguirem, adiante, em busca de um melhor viver.
São tantas lições naturais!!!
O sândalo, diz o ditado, perfuma o machado que o fere.
A pérola surge na ostra ferida.
O voo dos gansos é lição de trabalho em equipe.
Montanhas e mares desafiam os homens em seus limites.
A aurora boreal extasia a tantos quantos se banham em suas cores e desenhos.
Em cada lugar, a beleza, a lição, a expressão do Criador.
No grande livro da Natureza Mestra, na região do semiárido nordestino, nos defrontamos com singular árvore denominada pelo escritor Euclides da Cunha como a árvore sagrada do sertão, a saber: o umbuzeiro ou imbuzeiro.
Afirma Marcelino Ribeiro que o umbuzeiro dispõe de mecanismos de tolerância à seca, às rigorosas condições de solos empobrecidos e de clima quente e seco do semiárido brasileiro.(Nota: acesso www.embrapa.br, no dia 16/08/2013)
Sendo uma árvore de pequeno porte, chega até 6m de altura e sua copa larga pode atingir até 15m de largura, proporcionando sombra ao viajor cansado. Mas não é só sombra a sua dádiva. Sua raiz conserva água e, em épocas de grande seca, produz uma espécie de batata que é utilizada como alimento. Tudo a ver com a origem de seu nome, ao tempo do Brasil colonial, da língua tupi-guarani y-mb-u, que significa árvore que dá de beber.
Em nosso Nordeste ouvimos dizer que gente do povo faz uma espécie de canudo e bebe água na raiz do umbuzeiro, que acumula o líquido numa espécie de bacia natural, em épocas de seca.
O umbuzeiro, porém, vai além da sombra e da água. Seu fruto pode ser consumido ao natural ou utilizado em sucos, sorvetes, vitaminas, geleias e na famosa umbuzada, uma espécie de creme (suco batido com leite condensado).
Estando certa feita em Santa Luzia, na Paraíba, após a atividade doutrinária, na residência de Fanda e esposa, fui servida de umbuzada com a seguinte afirmativa: Raul Teixeira adora umbuzada. Guardei isso na memória, após provar o delicioso creme.
O tempo passa e nosso Raul, em novembro de 2011 teve o AVC, do qual se recupera das sequelas, até os dias atuais, num processo testemunhal de coragem e fé em Deus. Estando com ele, recentemente, indaguei sobre seu gosto pela umbuzada ao que me respondeu: Adoro tudo do umbu.
Nos diversos eventos em que temos nos encontrado e fitando-o, longamente, lembrei-me do umbuzeiro e vi que nosso Raul, com sua longa e valiosa folha de serviço, construiu sua reserva e hojebebe na água viva da mensagem do Cristianismo Redivivo, que lhe tem proporcionado compreensão dos mecanismos da Lei Divina, força e estímulo. Bendita raiz do umbuzeiro! Bendita Doutrina Espírita! Em prece suplico a Deus que ele permaneça firme em sua agora silenciosa palestra, mas lutando pela sua recuperação.
Com nosso Raul tenho aprendido a lição da obediência, da resignação e do esforço de servir sempre, em qualquer condição, mas buscando continuamente a melhoria dessas mesmas condições.
Saindo do Nordeste quente e seco, viajamos na imaginação até os Alpes Europeus, continuando a aprender com a Natureza... e com os homens. E aí foi inevitável lembrar que nosso querido baiano, o orador e médium Divaldo Pereira Franco, também tem suas predileções no quesito natureza. Sua flor favorita é edelweiss, o que também confirmei.
Edelweiss, cuja palavra alemã significa branco formoso oubranco nobre, é uma flor que nasce acima dos 1.700m de altitude, de julho a setembro, nos Alpes da França, Iugoslávia, Itália, Áustria e Suíça, sendo inclusive a flor oficial dessas duas últimas nações. É uma linda flor que tem um formato de estrela de pétalas brancas, aveludadas e que possui uma espécie de pelugem que lhe dá longevidade de cerca de 100 anos depois de seca.
São inúmeras as lendas sobre a origem dessa flor, mas é muito significativo o seu simbolismo: honra, resistência, dignidade, fidelidade, amizade, amor. Receber edelweiss de alguém é sinal de amizade ou amor eterno. Daí muitos rapazes escalavam perigosamente as montanhas para entregarem às amadas a floreterna.
Hoje protegida por lei, não corre mais o risco de extinção e seu cultivo também se garante em estufas, mas sem perder o valor simbólico que possui. No Brasil, edelweiss se imortalizou na canção do mesmo nome, do musical The Sound of Music, conhecido entre nós como A Noviça Rebelde.
Divaldo contou-nos que edelweiss é sua flor predileta; que o Espírito Scheilla, através de Chico Xavier materializou várias para ele, em 1964 e que ele as tem guardadas secas, até hoje.
Nosso semeador de estrelas é como edelweiss: honra, resistência, fidelidade e amor ao Cristo tem sido uma demonstração constante em sua vida. A extraordinária obra Mansão do Caminho, completando 61 anos de existência, a rica literatura mediúnica, as milhares de palestras por centenas de cidades do mundo inteiro, a fidelidade a Jesus e a Kardec revelam toda a nobreza de um coração dedicado ao Bem, à autoiluminação, pelos esforços de vivência do amor.
Com ele tenho aprendido a lição da perseverança, da simplicidade, da fidelidade a Deus, da força de vontade, da vivência do Bem. E tenho rogado ao Pai que o fortaleça na estrada numinosa que percorre deixando um rastro de luz para tantos quantos lhe ouvem a palavra e aprendem com o exemplo.
Em O Livro dos Espíritos, questão 626, asseveram os Imortais: estando as leis divinas escritas no livro da Natureza, o homem pôde conhecê-las quando quis procurá-las. Assim, aprender com a Natureza e com os homens que aprendem com a Natureza é exercitar nossa própria essência, é buscar as páginas vivas e eternas grafadas por Deus como sinais de Seu Amor a nos trazer lições, advertências e bênçãos para que nos harmonizemos com Suas Leis.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A Ciência em Kardec - Parte 2 e final

NUBOR ORLANDO FACURE                                              
lfacure@uol.com.br                                            
Campinas, SP ( Brasil)

Nubor Orlando Facure

A Ciência em
Kardec
Parte 2 e final

 

Percepção da dor e visão

Nós já sabemos desde o século passado quais são os neurônios envolvidos na percepção da dor e das imagens visuais. O neurologista conhece todo o trajeto percorrido pela sensação de uma espetada na pele e que provoca dor. A mesma coisa para os objetos registrados pela retina e que o cérebro codifica em imagem. O que nós já sabemos, também, é que todo esse trajeto de vias nervosas representa apenas uma pequena percentagem nos dois fenômenos, a percepção de dor e a visão dos objetos.
Nos dois casos, o mais importante é o processo mental que interpreta a dor e que dá significado às imagens. Dizem os neurologistas que esse fenômeno mental depende de uma série de fatores. A maneira como expressamos a nossa dor e damos significado ao que estamos vendo está fortemente ligada à nossa cultura, à personalidade, às experiências anteriores, às memórias, ao ambiente. Na verdade, tanto a dor como a visão são processos mentais interpretativos, ou, como dizem neurologistas mais liberais, tudo não passa de “uma opinião pessoal”.
É surpreendente o que podemos aprender n´O Livro dos Espíritos, que nos ensina como esses dois fenômenos afetam o espírito: “A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa”. “A dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo... porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores” (O Livro dos Espíritos, pergunta 257).
Quanto à visão (perguntas 245, 246 e 247), “ela reside em todo ele. Veem por si mesmos, sem precisarem de luz exterior. Como o Espírito se transporta aonde queira, com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parte ao mesmo tempo”.
A Neurologia deverá confirmar no futuro essas duas informações que Kardec nos legou para estudo. Precisará, inicialmente, considerar a mente como sinônimo de alma. 
O tempo 
Na teoria mecanicista de Newton, o tempo era considerado uma grandeza absoluta, caso contrário, os cálculos que mediam as distâncias entre os planetas dariam errados. Einstein, entretanto, perverteu essa relação, propôs a relatividade do tempo, aumentando a precisão dessas medidas.
Independente das proposições científicas, os filósofos sempre conjeturaram sobre a natureza do tempo. Henri Bergson deu-nos a afirmação poética de que “o Tempo da consciência não é o mesmo Tempo da Ciência”. Para o senso comum, todos nós já constatamos que o passar do tempo é circunstancial. Basta esperar o ano para os alunos da escola, os meses para a mulher grávida, os dias para quem paga o aluguel, as horas para quem marcou um encontro, os minutos para o trem passar e os milésimos de segundos para a Fórmula 1.
A Neurologia vê a noção de tempo como uma experiência nitidamente mental, ocupando diversas áreas do cérebro ao mesmo tempo.
Kardec recebeu dos Espíritos a informação de que “o tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias; a eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo, nem fim: tudo é presente” (A Gênese, cap. VI, item 2). Precisamos destacar esta afirmação de consequências e complexidade extraordinárias: para o Espírito tudo é presente. 
As propriedades da matéria 
Em O Livro dos Espíritos (perguntas 29 a 34) ficamos sabendo sobre a existência de um só elemento primitivo que dá origem a todas as propriedades da matéria. Estando presos à realidade material do nosso mundo, conseguimos identificar as propriedades químicas e físicas da matéria grosseira que compõe nossa dimensão física. Entretanto, o elemento primitivo (fluido cósmico), que se expande por todo universo, tem propriedades especiais que ainda não conhecemos e que dão à matéria a capacidade de experimentar todas as modificações e adquirir todas as propriedades. Dizem então os Espíritos “que tudo está em tudo”.
Só assim poderemos entender as expressões extraordinárias dos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos, quando as leis de ponderabilidade são pervertidas. Uma pedra, tão sólida como a conhecemos, pode atravessar um telhado e se acomodar dentro de um armário fechado. São essas mudanças nas propriedades da matéria que o fluido cósmico realiza e que a Ciência ainda não conhece, por ignorar os princípios de sua atuação.
Ainda não temos alcance, também, para compreendermos a extensão da ligação espiritual que esse fluido universal permite à matéria submeter-se ao pensamento de Deus. Em A Gênese (capítulo II) dizem os Espíritos que “cada átomo desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude”. “A natureza inteira está mergulhada no fluido divino.” 
O pensamento criativo e as ideias fixas 
O imaterialismo de Berkeley (Donald George Berkeley, filósofo irlandês, 1685-1753) propunha que o “existir não é mais do que ser percebido”. “A matéria só existe quando percebida.” “As percepções visuais não são de coisas externas, mas simplesmente ideias na mente.” Sócrates afirmava que “as coisas existem em virtude de como as percebemos”. Em O Livro dos Espíritos (pergunta 32) os Espíritos ensinam que as qualidades dos corpos (“os sabores, os odores, as cores, as qualidades venenosas ou salutares”) só existem devido à disposição dos órgãos destinados a percebê-las. É bem assim que a Neurologia de hoje compreende a percepção que fazemos de um objeto que atinge nossos sentidos.
Propostas da atualidade estão afirmando que a matéria só se manifesta como interação mental. Entretanto, os neurologistas ainda não conseguem compreender a natureza da criação mental, a não ser quando um comportamento expressa uma resposta a um estímulo sensorial. O pensamento intuitivo ou o pensamento abstrato estão longe de qualquer experimento laboratorial.
Na doutrina espírita aprendemos que o pensamento procede do Espírito, fonte de energia criadora que usa o cérebro como instrumento de suas ideias.
No campo do pensamento os Espíritos acrescentaram conhecimento inédito e tão extraordinário que até hoje a Ciência sequer tem instrumentos para estudá-lo. Dizem os Espíritos que o pensamento atua sobre o fluido universal criando nele “imagens fluídicas”, o pensamento se reflete no nosso envoltório perispirítico, como num espelho, e aí de certo modo se fotografa.
“Esse fluido (perispirítico) não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido” (A Gênese, capítulo II, item 23).
Daí a gravidade de nos escravizar a pensamentos persistentes que nos aprisionam; a desejos que nos perturbam; a vinganças que não se justificam; a ódios que não se apagam; a paixões que nos desequilibram; a projetos que não temos alcance. São todas elas “ideias fixas” que se “materializam” em nossa esfera mental, criando “ideias-formas”, “imagens fluídicas”, “miasmas mentais” que justificam as inúmeras expressões de neuroses e psicoses comuns na psicopatologia humana. 
Vitalismo 
Para Cláudio Galeno, médico do século II, existiriam forças de atração e repulsão para manterem os órgãos em funcionamento. Para ele, a vida seria mantida por um elemento imaterial denominado pneuma vital, situado no coração, difundindo-se pelo sangue existente nas veias. No cérebro, ele é transformado em pneuma animal, permitindo reagirmos aos estímulos dos sentidos e, no fígado, em pneuma natural com a propriedade de assimilar os alimentos. As teorias de Galeno foram aceitas por mais de 12 séculos.
No início do século XVI Georg Stahl reviveu o vitalismo defendendo a existência de uma “alma sensitiva” necessária para a manutenção da vida. Nessa ocasião Stahl sofreu uma ferrenha oposição das teorias mecanicistas defendidas principalmente por Frederich Hoffman. Excluindo a existência da alma, Hoffman via nos processos vitais apenas fenômenos de fermentação de substâncias e combustão de gases, explicando, assim, a digestão e a respiração.
A doutrina espírita revive com força o vitalismo. Ensina que existe um elemento imaterial que mantém a vida na matéria orgânica (O Livro dos Espíritos, perguntas 60 a 67) e, “sem falar do princípio inteligente, que é questão à parte, há na matéria orgânica um princípio especial, inapreensível e que ainda não pode ser definido: o princípio vital” (A Gênese, capítulo X, item 16). 

O sonambulismo 

Na atualidade o sonambulismo já não desperta o mesmo interesse e prestígio que desfrutava no tempo de Kardec. Tratados com casuística volumosa foram escritos por Ambrose-August Liébeaut, Abade Faria e Charles Richet. A escola de Charcot em Paris o acolhia como forma de terapia em suas pacientes histéricas.
Kardec dá notícia de ter estudado o sonambulismo em todas as suas fases durante 35 anos (O Livro dos Espíritos, Introdução). Nessa mesma obra ele escreve várias páginas fazendo um “resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da dupla vista”. Deixa claro que “para o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno psicológico, é uma luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta se mostra a descoberto”.
Nesse resumo Kardec discorre sobre o sonambulismo natural e o magnético e destaca a clarividência como um atributo da alma, permitindo ao sonâmbulo ver em todos os lugares aonde sua alma possa transportar-se. Nessa visão a distância, “o sonâmbulo não vê as coisas de onde está o seu corpo, como por meio de um telescópio. Vê-as presentes, como se achasse no lugar onde elas existem, porque sua alma, em realidade, lá está” (O Livro dos Espíritos, questão 455). 

O sono e os sonhos 

Já conhecemos muito da fisiologia do sono. Ele ocorre em ritmos com determinados padrões que são identificados pelo eletroencefalograma. A idade, o sexo, o ambiente, a alimentação, a profissão são parte dos inúmeros fatores que interferem na quantidade e na qualidade do sono. Já sabemos quanto ele nos faz falta, mas ainda não podemos dizer tudo sobre o motivo por que realmente precisamos dormir. Os sonhos estão nitidamente ligados às experiências vividas no decorrer do dia, têm relação íntima com a aquisição de memórias, mas, também, desconhecemos o seu real significado.
Freud afirmava ter percebido que seus pacientes o procuravam não só para fazerem suas queixas, mas, também, para lhes relatar seus sonhos. Isso lhe despertou a ideia de que os sonhos teriam algum sentido oculto. Seu livro “A interpretação dos sonhos”, de 1900,  desencadeou a mais extraordinária revolução sobre a mente humana. Os sonhos revelam um conteúdo insuspeitado, já que sinalizam desejos contidos no inconsciente.
Platão em sua “República” antecipara-se a Freud ao afirmar que no sono a alma tenta retirar-se das influências externas e internas e que são expressos, nos sonhos, desejos que geralmente não se expressam no estado de vigília.
Kardec, em O Livro dos Espíritos inicia o capítulo sobre a Emancipação da Alma estudando o sono e os sonhos. Os Espíritos esclarecem que durante o sono a alma se vê liberta parcialmente do corpo e “entra em relação mais direta com os Espíritos”. Nessas circunstâncias pode a alma manter contato com Espíritos familiares que a orientam e aconselham e tomam conhecimento do seu passado e algumas vezes de seu futuro. Esse é um campo para futuras investigações que precisam ser desenvolvidas e confirmadas no meio espírita. 
Tributo necessário 
Abordamos catorze tópicos de interesse científico relevante extraídos de duas obras básicas da codificação espírita. Após um século e meio algumas das suas afirmações aguardam aprovação da Ciência oficial, enquanto outras estão se confirmando gradativamente. De algum tempo para cá, o meio espírita vem-se dedicando mais sistematicamente ao estudo do Espiritismo como ciência, aliado ao seu conteúdo filosófico e às suas consequências morais. Só assim conseguiremos que a Ciência humana registre o nome de Allan Kardec como um de seus grandes vultos. É um tributo que precisamos prestar-lhe pelo legado científico que ele nos deixou.
 
Nubor Orlando Facure é médico neurocirurgião e diretor do Instituto do Cérebro de Campinas-SP. Ex-professor catedrático de Neurocirurgia na Unicamp (Universidade de Campinas), é escritor e expositor espírita.

O texto foi extraído da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano7/337/especial.html