sábado, 3 de maio de 2025

REFLEXÕES

 

Fazendo leituras de obras antigas da Doutrina Espírita, encontrei a mensagem abaixo, que oferece muitas elucidações para todos nós. Ela foi psicografada por Francisco Cândido Xavier há mais de 70 anos e encontra-se na obra: Instruções Psicofônicas, no capítulo 11. Mais informações estão registradas a seguir.  

Transcrevi a mensagem tal como publicada originalmente, mantendo-se as normas gramaticais vigentes à época.   

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REFLEXÕES  

À hora habitual das instruções, na reunião da noite de 20 de maio de 1954, fomos honrados com a visita do grande instrutor que conhecemos por Frei Pedro de Alcântara, animador de nossos estudos e tarefas, desde a primeira hora de nossa agremiação, e que, apesar de sua elevada hierarquia na Vida Superior, não desdenha o socorro aos irmãos em sofrimento, inclusive a nós mesmos, insignificantes aprendizes da verdade. (1)  

Com a sabedoria que lhe é peculiar, em sua mensagem psicofônica inclina-nos à responsabilidade e à meditação, para que saibamos valorizar o tempo e o serviço como empréstimos do Senhor.  

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Filhos, clareando consciências alheias, defendamo-nos contra a dominação das trevas.  

— «Vem e segue-me!» — diz o Senhor ao Apóstolo.  

— «Levanta-te e anda!» — recomenda Jesus ao paralítico.  

Para justos e injustos, ignorantes e sábios, o chamamento do Cristo é pessoal e intransferível.  

O Evangelho é serviço redentor, mas não haverá salvação para a Humanidade sem a salvação do Homem.  

No mundo, é imperioso refletir algumas vezes na morte para que a existência não nos seja um ponto obscuro dentro da vida, porque o Espírito desce à escola terrena para educar-se, educando.  

Dia a dia, milhares de criaturas tornam à Pátria Espiritual.  

Esse caiu sob o fio da espada, aquele tombou ao toque de balas mortíferas. Alguns expiram no conforto doméstico, muitos partem do leito rijo dos hospitais.  

Todos imploram luz, mas, se não fizeram claridade em si mesmos, prosseguem à feição de caravaneiros ocultos na sombra.  

Não valem títulos do passado, nem exterioridades do presente.  

Esse deixou o ouro amontoado com sacrifício.  

Aquele renunciou ao consolo de afeições preciosas.  

Outro abandonou o poder que lhe não pertencia.  

Aquele outro, ainda, foi arrancado à ilusão.  

Quantas vezes examinais conosco essas pobres consciências em desequilíbrio que a ventania da renovação vergasta no seio da tempestade moral!  

É por isso que, sob a invocação do carinho e da confiança, rogamos considereis a estrada percorrida.  

Convosco brilha abençoada oportunidade.  

O Espiritismo é Jesus que volta ao convívio da dor humana.  

Não sufoqueis a esperança na corrente das palavras. Emergi do grande mar da perturbação para o reajuste indispensável!  

Não julgueis para não serdes julgados, porque seremos medidos pelo padrão que aplicarmos à alheia conduta.  

Ninguém sabe que forças tenebrosas se congregaram sobre as mãos do assassino.  

Ninguém conhece o conteúdo de fel da taça que envenenou o coração arremessado ao grande infortúnio.  

O malfeitor de hoje pode ser o nosso benfeitor de amanhã.  

Desterrai de vossos lábios toda palavra de condenação ou de crítica!  

Desalojai do raciocínio e do sentimento toda névoa que possa empanar a luminosa visão do caminho!  

Somos chamados ao serviço de todos e a nossa inspiração procede do Senhor, que se converteu no escravo da Humanidade inteira.  

Filhos, urge o tempo.  

Sem o roteiro da humildade, sem a lanterna da paciência e sem a bênção do trabalho, não alcançaremos a meta que nos propomos atingir…  

Quão fácil mandar, quão difícil obedecer!  

Quanta simplicidade na emissão do ensinamento e quanto embaraço na disciplina aos próprios impulsos!  

Jesus ajudou…  

Duas grandes e inesquecíveis palavras bastam para cessar a revolta e congelar-nos qualquer ansiedade menos construtiva.  

Se Jesus ajudou, por que haveremos de perturbar?  

Se Jesus serviu, com que privilégio exigiremos o serviço dos outros?  

Reunimo-nos hoje em velhos compromissos.  

Digne-se o Senhor alertar-nos na reconstituição de nossos destinos.  

Não vos pedimos senão a dádiva do entendimento fraterno, com aplicação aos princípios que esposamos, reconhecendo a insignificância de nossas próprias almas.  

Somos simplesmente um amigo.  

Não dispomos de credenciais que nos assegurem o direito de exigir, mas rogamos observeis os minutos que voam.  

Desdobrar-se-ão os dias e a perda de nossa oportunidade diante do Cristo pode ser também para nós mais distância, mais saudade, mais aflição…  

Não aspiramos para nós outros senão à felicidade de amar-vos, desejando-vos a beleza e a santidade da vida.  

Aceitamos nosso trabalho e nossa lição. Quem foge ao manancial do suor, costuma encontrar o rio das lágrimas.  

Aqueles que não aprendem a dar de si mesmos não recolhem a celeste herança que nos é reservada pelo Senhor.  

Filhos de nossa fé, urge o tempo!  

Isso equivale dizer que a cessação do ensejo talvez não tarde.  

Façamos luz na senda que nos cabe percorrer.  

Retiremo-nos do nevoeiro.  

Olvidemos o passado e convertamos o presente em glorioso dia de preparação do futuro!  

E que Jesus, em sua infinita bondade, nos aceite as súplicas, revigorando-nos o espírito no desempenho dos deveres com que fomos honrados, à frente de seu incomensurável amor.  

                                                    Pedro de Alcântara  

1) Frei Pedro de Alcântara foi contemporâneo da grande mística espanhola Teresa d’Ávila e, tanto quanto ela, é venerado na Igreja Católica. — Nota do organizador. 

quarta-feira, 23 de abril de 2025

O Amor Silente

                                                           O Amor Silente 

Fala-se muito de amor! O que é o amor? Onde está o amor?  

O amor é um sentimento-ação desprendido. É difícil de explicar. Um atributo espiritual dessa ordem que não se vê, não se ouve, somente se sente. Esse sentir é quantitativo, qualitativo e exclusivo em cada indivíduo.  

Ninguém poderá sentir o amor em intensidade e qualidade maiores do que as que oferece. Tampouco poderá oferecer o sentimento amoroso de que ainda não conquistou.  

Todos desejam ser amados; no entanto, nem todos desejam amar. Grande parte dos indivíduos não pensa em amar, mas somente ser amada. É o império do egoísmo reinante nas sucessivas gerações -- uma das razões do grande sofrimento existente no mundo.  

Recordando um Espírito amigo da humanidade¹, que ensina ser a Natureza o grande exemplo de amor -- de amor atuante, em outras palavras. As sementes desfazem-se de sua película protetora e realizam grande esforço para vencer as camadas de terra que as sobrepõem, a fim de alcançar a luz solar e oferecer silenciosamente seus frutos, não importando a quem beneficiar.  

Nesse mesmo pensar, caem chuvas sobre terras de pessoas dignas e honestas, tanto quanto sobre terras pertencentes a criminosos e déspotas, oferecendo oportunidade de produçãoNo Universo, os astros, em número incontável e em grupos imensuráveis, percorrem caminhos distintos e em velocidades fantásticas, sem se entrechocarem, sem perturbarem as coexistências universais de suas naturezas. Essa ordem e harmonia são a ação do amor desprendido. Produz-se no silêncio, realiza-se numa ordem harmônica, e somente seus efeitos são percebidos. A fonte desse amor universal todos sabem: “Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas-- é Deus! ² 

Os habitantes da Terra, em boa parte, têm o desejo de fazer amor. Total irreflexão: não é possível fazer um sentimento. Embora o sentimento do amor já se encontre em cada indivíduo -- em estado latente, desde sua origem --, ainda não se compreendeu que somente o seu exercício voluntário e persistente poderá revesti-lo do potencial transformador de seu próprio estado espiritual.  

Tudo deve ser realizado com amor, mas isso depende da existência desse sentimento desenvolvido naquele que se propõe realizar algoRealizar com amor é ter clareza do que se faz, vislumbrar seus efeitos e respeitar o direito dos outros.  

O sentimento amor é incompatível com tudo o que não deriva dele. A simpatia, a compreensão, a bondade, o perdão e todos os sentimentos tendentes ao bem fluem do amor. Mas a inveja, o ódio, o rancor, a vingança e tudo o que caminha na direção do mal são a sua ausência. Somente a mudança íntima, sincera e voltada para o bem é capaz de despertar o amor que dormia adormecido, mas existia no ser que tinha preferência para o que lhe era avesso.  

Isso me faz lembrar de algum escrito de Chico Xavier³ que devemos ser como o algodão que envolve em maciez a pedra que o atingeessa é uma possível imagem material do amor, assim entendo.  

Deus, sendo todo amor e bondade, oferece os seus atributos -- dos quais as criaturas nem imaginam a existência -- num silêncio eterno, que se manifesta em todo o Universo.  

Onde percebermos o belo, o harmônico, assim como a alegria e felicidade verdadeiras, estamos contemplando o amor que sorri para quem ama. No entanto, isso não será percebido por aquele em quem o sentimento do amor não vibra na alma. É preciso ter olhos de ver, ouvidos de ouvir e alma amorosa para sentir. 

O amor existe em cada indivíduo, como a semente que precisa acordar e vencer as camadas que a cobrem até apresentar os seus frutos. Todos os Espíritos do Universo surgiram da Fonte Incriadaque é o fulcro do amor impregnados com tal sentimento, num princípio de riqueza a ser desenvolvido, para que o mérito lhes pertença.  Tudo isso, num silêncio profundo dos tempos.  

Amor silente! 

                                   Dorival da Silva. 

¹ Meimei (Espírito), na mensagem: Melodia do Silêncio (14), da obra: Instruções Psicofônicas, psicografia de Francisco Cândido Xavier (10-06-1954).

² O livro dos Espíritos, questão 1, Allan Kardec. 

³ Chico Xavier, Francisco Cândido Xavier, médium espírita, tinha como mentor o Espírito Emmanuel, psicografou cerca de 450 obras, de Espíritos diversos, nasceu em 1910 e desencarnou em 2002.