sexta-feira, 18 de maio de 2012

Os Tempos são Chegados (quarta parte de cinco)


Os Tempos são Chegados 

-continuação 4/5.

A vida espiritual é a vida normal e eterna do Espírito e a encarnação é apenas uma forma temporária de sua existência. Salvo a vestimenta exterior, há, pois, identidade entre os encarnados e os desencarnados; são as mesmas individualidades sob dois aspectos diversos, ora pertencendo ao mundo visível, ora ao mundo invisível, encontrando-se ora num, ora noutro, concorrendo, num e noutro, para o mesmo objetivo, por meios apropriados à sua a situação.

Desta lei decorre a da perpetuidade das relações entre os seres; a morte não os separa, não põe termo às suas relações simpáticas e nem aos seus deveres recíprocos. Daí a solidariedade de todos para cada um, e de cada um para todos; daí, também, a fraternidade. Os homens só viverão felizes na Terra quando esses dois sentimentos tiverem entrado em seus corações e em seus costumes, porque, então, a eles sujeitarão suas leis e suas instituições. Será este um dos principais resultados da transformação que se opera.

Mas, como conciliar os deveres da solidariedade e da fraternidade com a crença de que a morte torna os homens para sempre estranhos uns aos outros? Pela lei da perpetuidade das relações que ligam todos os seres, o Espiritismo funda esse duplo princípio sobre as próprias leis da Natureza; disto faz não só um dever, mas uma necessidade. Pela lei da pluralidade das existências o homem se liga ao que está feito e ao que será feito, aos homens do passado e aos do futuro; não mais poderá dizer que nada tem de comum com os que morrem, pois uns e outros se encontram incessantemente, neste e no outro mundo, para subirem juntos a escada do progresso e se prestarem mútuo apoio. A fraternidade não está mais circunscrita a alguns indivíduos, que o acaso reúne durante uma vida efêmera; é perpétua como a vida do Espírito, universal como a Humanidade, que constitui uma grande família, cujos membros, em sua totalidade, são solidários uns com os outros, seja qual for a época em que tenham vivido.

Tais são as ideias que ressaltam do Espiritismo, e que ele suscitará entre todos os homens, quando estiver universalmente espalhado, compreendido, ensinado e praticado. Com o Espiritismo a fraternidade, sinônimo da caridade pregada pelo Cristo, não é mais uma palavra vã; tem a sua razão de ser. Do sentimento da fraternidade nasce o da reciprocidade e dos deveres sociais, de homem a homem, de povo a povo, de raça a raça. Destes dois sentimentos bem compreendidos sairão, forçosamente, as mais proveitosas instituições para o bem-estar de todos.

A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social. Mas não haverá fraternidade real, sólida e efetiva se não for apoiada em base inabalável; esta base inabalável; esta base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e se atiram pedras, porque, anatematizando-se, entretêm o antagonismo; mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens estiverem convictos de que Deus é o mesmo para todos, que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada pode querer de injusto, que o mal vem dos homens e não Dele, olhar-se-ão como filhos de um mesmo pai e se darão as mãos. É esta fé que dá o Espiritismo e que, de agora em diante, será o pivô sobre o qual se moverá o gênero humano, sejam, quais forem sua maneira de adotar e suas crenças particulares, que o Espiritismo respeita, mas das quais não deve se ocupar. Somente desta fé pode sair o verdadeiro progresso moral, porque só ela dá uma sanção lógica aos direitos legítimos e aos deveres; sem ela, o direto é o que é dado pela força; o dever, um código humano imposto pela violência. Sem ela que é o homem? um pouco de matéria que se dissolve, um ser efêmero que apenas passa; o próprio gênio não é senão uma centelha que brilha um instante, para extinguir-se para sempre; por certo não há nisto muito para o erguer aos seus próprios olhos. Com tal pensamento, onde estão, realmente, os direitos e os deveres? Qual o objetivo do progresso? Somente esta fé faz o homem sentir sua dignidade pela perpetuidade e pela progressão de seu ser, não num futuro mesquinho e circunscrito à personalidade, mas grandioso e esplêndido; seu pensamento o eleva acima da Terra; sente-se crescer, pensando que tem seu papel no Universo, e que esse Universo é o seu domínio, que um dia poderá percorrer, e que a morte não fará dele uma nulidade, ou um ser inútil a si mesmo e aos outros.

O progresso intelectual realizado até hoje nas mais vastas proporções é um grande passo, e marca a primeira fase da Humanidade, mas, apenas ele, é importante para regenerar. Enquanto o homem for dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, utilizará sua inteligência e seus conhecimentos em benefício de suas paixões e de seus interesses pessoais, razão por que os aplica no aperfeiçoamento dos meios de prejudicar os outros e de se destruírem mutuamente. Só o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens na Terra, pondo um freio nas más paixões; somente ele pode fazer reinarem a concórdia, a paz, a fraternidade. É ele que derrubará a barreira dos povos, que fará caírem os preconceitos de casta e calar os antagonismos de seitas, ensinando os homens a se olharem como irmãos, chamados a se ajudarem mutuamente, e não a viverem uns à custa dos outros. É ainda o progresso moral, aqui secundado pelo progresso da Inteligência, que confundirá os homens numa mesma crença, estabelecida sobre verdades eternas, não sujeita à discussão e, por isto mesmo, por todos aceitas. A unidade de crença será o laço mais poderoso, o mais sólido fundamento da fraternidade universal, em todos os tempos quebrada pelos antagonismos religiosos, que dividem os povos e as famílias, que fazem ver no próximo inimigos que é preciso fugir, combater, exterminar, em vez de irmãos que devem ser amados. 

Tal estado de coisas supõe uma mudança radical no sentimento das massas, um progresso geral que não poderia realizar-se senão saindo do círculo das ideias estreitas e terra-a-terra, que fomentam o egoísmo. Em diversas épocas, homens de escol procuraram impelir a Humanidade nessa via; mas, ainda muito jovem, a Humanidade ficou surda, e seus ensinamentos foram como a boa semente caída sobre a pedra. Hoje ela está madura para lançar suas vistas mais alto do que o fez, a fim de assimilar ideias mais largas e compreender o que não havia compreendido. A geração que desaparece levará consigo os seus preconceitos e os seus erros; a geração que surge, temperada numa fonte mais depurada, imbuída de ideias mais justas, imprimirá ao mundo o movimento ascensional, no sentido do progresso moral, que deve marcar a nova fase da Humanidade. Esta fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis, pelas ideias grandes e generosas que vêm à tona e que começam a encontrar eco.

É assim que se vê fundar-se uma porção de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o impulso e pela iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais diariamente se impregnam de um sentimento mais humano. Os preconceitos de raça se enfraquecem, os povos começam a olhar-se como membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios de transação, suprimem as barreiras que os dividem de todas as partes do mundo, reúnem-se em comícios universais para os torneios pacíficos da inteligência. Mas faltam a essas reformas uma base para se desenvolverem, para se completarem e se consolidarem, uma predisposição moral mais geral para frutificarem e se fazerem aceitas pelas massas. Isto não é menos um sinal característico do tempo, o prelúdio do que se realizará em mais vasta escala, à medida que o terreno se tornar mais propício.
- continua –

  ALLAN KARDEC

Revista Espírita, outubro de 1866.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Os Tempos são Chegados (terceira parte de cinco)


Os Tempos são Chegados 

-continuação 3/5.

A Humanidade é um ser coletivo, no qual se operam as mesmas revoluções morais que em cada ser individual, mas com esta diferença: umas se realizam de ano a ano, e as outras de século em século. Que a seguir em suas evoluções através dos tempos verá a vida das diversas raças marcadas por períodos que dão a cada época uma fisionomia particular.

Ao lado dos movimentos parciais há um movimento geral, que dá impulso à Humanidade inteira; mas o progresso de cada parte do conjunto é relativo ao seu grau de adiantamento. Tal seria uma família composta de vários filhos, dos quais o mais jovem está no berço e o mais velho com dez anos, por exemplo. Em dez anos, o mais velho terá vinte e será um homem; o mais jovem terá dez e, embora mais adiantado, será ainda uma criança; mas, por sua vez, se tornará homem. Dá-se o mesmo com as diversas frações da Humanidade; os mais atrasados avançam, mas não atingem de um salto o nível dos mais adiantados.

Tornando-se adulta, a Humanidade tem novas necessidades, aspirações mais largas, mais elevadas; compreende o vazio das ideias com que foi embalada, a insuficiência das instituições para a sua felicidade. Não mais encontra no estado de coisas as satisfações legítimas a que se sente chamada. Eis por que sacode as fraldas e se lança, impelida por uma força irresistível, para as margens desconhecidas, à descoberta de novos horizontes menos limitados. E é no momento em que se encontra muito confinada em sua esfera material, onde a vida intelectual transborda, onde se expande o sentimento da espiritualidade, que homens, pretensos filósofos, esperam encher o vazio pelas doutrinas do niilismo e do materialismo! Estranha aberração! Esses mesmos homens que pretendem empurrá-la para frente, esforçam-se por circunscrevê-la no estreito círculo da matéria, de onde aspira a sair; fecham-lhe o aspecto da vida infinita, e lhe dizem, mostrando-lhe o túmulo: Nec plus ultra!

Como dissemos, a marcha progressiva da Humanidade se opera de duas maneiras: uma gradual, lenta, insensível, se se consideram as épocas mais próximas, que se traduz por sucessivas melhoras nos costumes, nas leis, nos usos, e não se percebe senão à superfície do globo; a outra, por um movimento relativamente brusco, rápido, semelhante ao de uma torrente rompendo seus diques, que lhes faz transpor em alguns anos o espaço que teria levado séculos a percorrer. É então um cataclismo moral que, em alguns instantes, devora as instituições do passado, e ao qual sucede uma nova ordem de coisas, que se assenta pouco a pouco à medida que a calma se restabelece e se torna definitiva.

Para quem vive bastante para abarcar os dois aspectos da nova fase, de crescimento moral, que chegou a Humanidade. Da adolescência passa à idade viril; o passado já não pode bastar às suas novas aspirações, às suas novas necessidades; não pode mais ser conduzida pelos mesmos meios; não mais se permite ilusões e sortilégios; sua razão amadurecida exige alimentos mais substanciais. O presente é por demais efêmero; sente que seu destino é mais vasto e que a vida corporal é muito restrita para a encerrar toda inteira. Eis por que ela mergulha o olhar no passado e no futuro, a fim de aí descobrir o mistério de sua existência e haurir uma segurança consoladora.

Quem quer que haja meditado sobre o Espiritismo e suas consequências e não o tenha circunscrito à produção de alguns fenômenos, compreende que ele abre à Humanidade uma nova via e lhe desdobra os horizontes do infinito. Iniciando-os nos mistérios do mundo invisível, mostra-lhe seu verdadeiro papel na criação, papel perpetuamente ativo, tanto no estado espiritual quanto no estado corporal. O homem não marcha mais às cegas: sabe de onde vem, para onde vai e por que está na Terra. O futuro se lhe mostra em sua realidade, isento dos preconceitos da ignorância e da superstição; já não é uma vaga esperança; é uma verdade palpável, tão certa para ele quanto a sucessão dos dias e das noites. Sabe que o seu ser não está limitado a alguns instantes de uma existência, cuja duração está submetida ao capricho do acaso; que a vida espiritual não é interrompida pela morte; que já viveu, que reviverá ainda e que de tudo que adquire em perfeição pelo trabalho, nada fica perdido; encontra em suas existências anteriores a razão do que é hoje, e do que hoje a si faz, pode concluir o que será um dia.

Com o pensamento de que a atividade e a cooperação individuais na obra geral da civilização são limitadas à vida presente, que nada se foi e nada se será, que interessa ao homem o progresso ulterior da Humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam mais bem governados, mais ditosos, mais esclarecidos, melhores uns para os outros? Uma vez que disso não tira nenhum proveito, para ele esse progresso não está perdido? De que lhe serve trabalhar para os que vierem depois, se jamais os deverá conhecer, se são seres novos que, eles também, pouco depois, entrarão no nada? Sob o império da negação do futuro individual, tudo se reduz, forçosamente, às mesquinhas proporções do momento e da personalidade.

Mas, ao contrário, que amplitude dá ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade de seu ser espiritual! que força, que coragem, não haure ele contra as vicissitudes da vida material! Que de mais reacional, de mais grandiosos, de mais digno do Criador que esta lei, segundo a qual a vida espiritual e a vida corporal não passam de dois modos de existência, que se alternam para a realização do progresso! Que de mais justo e mais consolador que a ideia dos mesmos seres progredindo sem cessar, primeiro através das gerações de um mesmo mundo e, depois, de mundo em mundo, até a perfeição, sem solução de continuidade! Assim, todas as ações têm um objetivo, porquanto, trabalhando para todos, trabalha-se para si, e reciprocamente, de tal sorte que o progresso individual e o progresso geral jamais são estéreis; aproveitam às gerações e às individualidades futuras, que outra coisa não são que as gerações e as individualidades passadas, chegadas a um mais alto grau de adiantamento.
- continua –

  ALLAN KARDEC

Revista Espírita, outubro de 1866.

sábado, 12 de maio de 2012

Os Tempos são Chegados (segunda parte de cinco)


Os Tempos são Chegados


-continuação 2/5

O Universo é, ao mesmo tempo, um mecanismo incomensurável, conduzido por um número não menos incomensurável de inteligências, um imenso governo em que cada ser inteligente tem sua parte da ação, sob o olhar do soberano Senhor, cuja vontade única mantém a unidade por toda a parte. Sob o império desse vasto poder regulador, tudo se move, tudo funciona numa ordem perfeita; o que nos parece perturbações são movimentos parciais e isolados, que só nos parecem irregulares porque nossa visão é circunscrita. Se pudéssemos abarcar o seu conjunto, veríamos que essas são apenas aparentes e que se harmonizam no todo.

A previsão dos movimentos progressivos da Humanidade nada tem de surpreendente para os seres desmaterializados, que veem o fim para onde tendem todas as coisas, alguns dos quais possuem o pensamento direto de Deus, e que julgam, pelos movimentos parciais, o tempo na qual poderá realizar-se um movimento geral, como se julga previamente o tempo necessário para uma árvore dar frutos, como os astrônomos calculam a época de um fenômeno astronômico pelo tempo requerido por um astro para fazer a sua revolução.

Mas, certamente, nem todos os que anunciam tais fenômenos, os autores de almanaques que predizem os eclipses e as marés, por exemplo, estão em condições de fazer os cálculos necessários. Não passam de ecos. Assim, há Espíritos secundários, cuja vista é limitada, e que apenas repetem o que aos Espíritos superiores aprouve lhes revelar.

A Humanidade realizou até agora incontestáveis progressos. Por sua inteligência, os homens chegaram a resultados jamais atingidos em relação às ciências, às artes e ao bem-estar material; resta-lhes ainda uma imensidão a realizar; é fazer reinar entre si a caridade, a fraternidade e a solidariedade, para assegurar o seu bem-estar moral. Não o podiam com suas crenças, nem com suas instituições antiquadas, resquícios de uma outra idade, boas numa certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, tendo dado o que comportavam, seriam hoje um ponto de parada. Tal uma criança estimulada por móbiles, impotentes quando ela chega à idade madura. Já não é apenas o desenvolvimento da inteligência que é necessário aos homens, é a elevação do sentimento e, para tanto, é preciso destruir tudo quanto neles pudesse excitar o egoísmo e o orgulho.

Tal o período em que agora vão entrar, e que marcará uma das fases principais da Humanidade. A fase que neste momento se elabora é o complemento necessário do estado precedente, como a idade viril é o complemento da juventude; ela podia, pois, ser prevista e predita por antecipação, e é por isto que se diz que os tempos marcados por Deus são chegados.

Neste tempo não se trata de uma mudança parcial, de uma renovação limitada a um país, a um povo, a uma raça; é um movimento universal, que se opera no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a se estabelecer e os homens que a ela são mais opostos nela trabalham mau grado seu; a geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada de elementos mais depurados, achar-se-á animada de ideias e sentimentos completamente diversos da geração presente, que desaparece a passos de gigante. O velho mundo estará morto e viverá na História, como hoje os tempos medievais, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas.

Aliás, cada um sabe que a ordem de coisas atual deixa a desejar. Depois de haver, de certo modo, esgotado o bem-estar material, que é produto da inteligência, chega-se a compreender que o complemento desse bem-estar não pode estar senão no desenvolvimento moral. Quanto mais se avança, mais se sente o que falta, sem, contudo, poder ainda o definir claramente: é o efeito do trabalho íntimo que se opera para a regeneração; tem-se desejos, aspirações que são como o pressentimento de um estado melhor.

Mas uma mudança tão radical quanto a que se elabora não pode realizar-se sem comoção; há luta inevitável entre as ideias, e quem diz luta, diz alternativa de sucesso e de revés. Entretanto, como as ideias novas são as do progresso e o progresso está nas leis da Natureza, estas não deixam de triunfar sobre as ideias retrógradas. Desse conflito nascerão, forçosamente, perturbações temporárias, até que o terreno esteja livre dos obstáculos que se opõem à construção do novo edifício social. É, pois, da luta das ideias que surgirão os graves acontecimentos anunciados, e não de cataclismos, ou catástrofes puramente materiais. Os cataclismos gerais eram consequência do estado de formação da Terra; hoje não são mais as entranhas do globo que se agitam, são as da Humanidade.
- continua –

  ALLAN KARDEC

Revista Espírita, outubro de 1866.


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http://www.oconsolador.com.br/mensagens.asp?r=1

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Os Tempos são Chegados (primeira parte de cinco)


Colhendo a argumentação de Allan Kardec publicada na Revista Espírita em outubro de 1866, que completará 146 anos neste ano, que apresenta ensinamento tão atual, preciso, quanto lógico, como se tivesse escrevendo nos dias que se correm. Assim, mostra por mais esses argumentos que o Codificador da Doutrina Espírita revelou verdades, muito embora já estivessem postas para a Humanidade, mas que se encontravam esparsas, por todo o tempo, nas diversas filosofias, na própria ciência, nos credos diversos, juntando-as num feixe; organizado, didaticamente esquematizado, para facilitar o entendimento, de quem tiver o desejo de conhecer e se aprofundar na Terceira Revelação – promessa de Jesus: O Consolador (1) – que vem levantar a cortina da obscuridade humana (2).  

"Deus é ciência, a ciência está no homem e o homem desconhece Deus.”
 – Aracy Mattozo  Almeida – abnegada trabalhadora da seara de  Jesus.

Vamos fracionar a argumentação em cinco partes para facilitar as leituras, em conta sua extensão para se transcrever na totalidade numa página de blog, o que já foi postada em outro momento, sem a apreciação que se pretendia e que é o objetivo deste informativo.

(1)    – João, XIV: 15 a 17; 26)
(2)    -- O Livros dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, A
    Gênese, e o Céu e o Inferno.  
                                                        Dorival da Silva
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Os Tempos são Chegados  

Os tempos marcados por Deus são chegados, dizem-nos de todos os lados, nos quais grandes acontecimentos vão realizar-se para a regeneração da Humanidade.

Em que sentido devem ser entendidas essas palavras proféticas? Para os incrédulos não têm a menor importância. Aos seus olhos não passam da expressão de uma crença pueril sem fundamento. Para a maioria dos crentes elas têm algo de místico e de sobrenatural, que lhes parece ser o precursor da perturbação das leis da Natureza. Essas duas interpretações são igualmente errôneas: a primeira, por implicar na negação da Providência e porque os fatos realizados provam a veracidade dessas palavras; a segunda, por não anunciar a perturbação das Leis da natureza, mas a sua realização. Procuremos-lhes, pois, o sentido mais racional.

Tudo é harmonia na obra da Criação, tudo revela uma previdência que não se desmente nem nas menores, nem nas maiores coisas. Em primeiro lugar, devemos afastar toda ideia de capricho inconciliável com a sabedoria divina; em segundo lugar, se nossa época está marcada pela realização de certas coisas, é que elas têm sua razão de ser na marcha geral do conjunto.

Isto posto, diremos que o nosso globo, como tudo o que existe, está submetido à lei do progresso. Progride fisicamente pela transformação dos elementos que o compõem, e moralmente pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Esses dois progressos se seguem e marcham paralelamente, porque a perfeição da habitação está em relação com o habitante. Fisicamente, o globo sofreu transformações, constatadas pela Ciência, e que sucessivamente o tornaram habitável por seres cada vez mais aperfeiçoados; moralmente a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que se opera a melhoria do globo, sob o império das forças materiais, os homens a isso concorrem pelos esforços de sua inteligência: saneiam regiões insalubres, tonam mais fáceis as comunicações e a terra mais produtiva.

Esse duplo progresso se realiza de duas maneiras: uma lenta, gradual e insensível; outra por mudanças mais bruscas, em cada uma das quais se opera um movimento ascensional mais rápido, que marca, por caracteres distintos, os períodos progressivos da Humanidade.

Esses movimentos, subordinados nos detalhes ao livre-arbítrio dos homens, são de certo modo fatais em seu conjunto, porque estão submetidos a leis, como os que se operam na germinação, no crescimento e na maturação das plantas, considerando-se que o objetivo da Humanidade é o progresso, não obstante a marcha retardatária de algumas individualidades. Eis por que o movimento progressivo algumas vezes é parcial, isto é, limitado a uma raça ou a uma nação, outras vezes geral. O progresso da Humanidade se efetua, pois, em virtude de uma lei. Ora, como todas as leis da Natureza são a obra eterna da sabedoria e da presciência divinas, tudo quanto seja efeito dessas leis é o resultado da vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa, mas de uma vontade imutável. Então, quando a Humanidade está madura para transpor um degrau, pode-se dizer que os tempos marcados por Deus são chegados, como se pode dizer também que em tal estação eles chegaram para a maturação dos frutos e para a colheita.

Pelo fato de o movimento progressivo da Humanidade ser inevitável, porque está na Natureza, não se segue que Deus a isso seja indiferente, e que, depois de ter estabelecido leis, tenha entrado em inação, deixando as coisas ir sozinhas. Suas leis são eternas e imutáveis, sem dúvida, mas porque sua própria vontade é eterna e constante e seu pensamento anima todas as coisas sem interrupção; seu pensamento, que tudo penetra, é a força inteligente e permanente que mantém tudo na harmonia; se esse pensamento deixasse de agir um só instante, o Universo seria como um relógio sem o pêndulo regulador. Deus vela incessantemente pela execução de suas leis, e os Espíritos que povoam o espaço são seus ministros encarregados dos detalhes, conforme as atribuições relativas ao seu grau de adiantamento.
- continua –

  ALLAN KARDEC

Revista Espírita, outubro de 1866.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

MILENAR CONSTRUÇÃO

É imprescindível que o homem não esqueça que ele é uma construção em andamento... Alguns ainda se encontram lançando os alicerces de si mesmos, outros já levantam paredes; alguns trabalham respaldando essa figurada edificação espiritual, raros já estão, digamos, na fase do acabamento...

Sem dúvida, o homem pode ser comparado, em seus anseios espirituais, à construção de uma casa... É indispensável que ele persevere, a cada dia acrescentando um tijolo a si mesmo, conforme o desenho do Projetista Divino, que é Jesus.

O homem que não se levanta, segundo os parâmetros do Evangelho, assemelha-se à casa erguida sobre a areia... Essa construção, à qual simbolicamente nos referimos, é uma construção cotidiana, no entanto, são muitos os que abandonam a si mesmos; poderemos vê-los na condição daquelas casas semiconstruídas, edificações que foram abandonadas pelos empreiteiros: em torno, cresce o mato, passando a ser depredada pelos vândalos...

Ninguém despreze ou desista de si mesmo, ninguém se sinta um projeto frustrado, ninguém desanime ou se entregue ao fracasso; cada dia é importante. A construção das pirâmides consumiu séculos e séculos, a edificação da muralha da China exigiu decênios de continuados esforços; a formação da Terra foi trabalho dos milênios... O espírito é mais importante do que qualquer orbe planetário, do que o magnífico monumento chinês, do que a arquitetura egípcia... O espírito há de consumir um tempo indefinido, todavia é importante que o interessado em sua própria edificação espiritual não se entregue ao desalento. Que se preocupe a cada instante, em acrescentar algo a si mesmo; uma corrigenda aqui, outra ali; um pensamento que se assimila, uma idéia que se desfaz; sentimentos que se transformam; conhecimentos novos que se adquirem... É assim que, seguindo o Projetista Divino, Mestre de Amor e de Sabedoria, o homem vai se levantando para Deus, vai se aperfeiçoando e se engrandecendo!

As oportunidades estão à sua própria volta... De onde o homem tira material para construir um edifício?! Da própria Terra!... O edifício é uma estrutura que se levanta a partir das entranhas da própria Terra... O espírito é uma luz que se alteia e resplandece a partir do próprio homem! Ao seu derredor, o homem encontra os elementos imprescindíveis à sua edificação. Esses materiais estão dentro de casa: são os seus familiares; nas ruas, são os estranhos...

Que Jesus nos possibilite entender que, na milenar construção de nós mesmos, somos, ao mesmo tempo, o pedreiro e o servente da obra em andamento!...

Irmão José
(Mediunidade, Corpo e Alma, pág. 127)

sábado, 5 de maio de 2012

Os dez princípios básicos do Espiritismo



LEONARDO MARMO MOREIRAleonardomarmo@gmail.com  
São José dos Campos, 
São Paulo (Brasil)


Os dez princípios básicos do Espiritismo: um resumo mais completo da Doutrina 
 
A Doutrina Espírita é constituída por um conjunto de conceitos interligados que são interdependentes, implicando em um todo altamente racional haja vista a coerência entre os tópicos em questão. Essa coerência, obviamente, ocorre em função de a Doutrina Espírita retratar a harmonia das Leis Universais de Deus, que são didaticamente organizadas pelo Codificador. Allan Kardec (foto)enfatizou os cinco princípios básicos do Espiritismo, a saber: Existência de Deus; Existência e Imortalidade da Alma; Comunicabilidade dos Espíritos; Pluralidade das Existências e Pluralidade dos Mundos Habitados.
 
Entretanto, a título didático, fundamentados estritamente na Codificação Kardequiana, poderíamos sugerir o acréscimo de mais cinco princípios (Fé Raciocinada; Lei de Causa e Efeito; Evolução Espiritual; Moral de Jesus e Verdadeira Religiosidade) a esse sintético conjunto, para que, em uma análise rápida, leigos e estudiosos pudessem vislumbrar, mesmo que de forma introdutória, todo o edifício filosófico do Espiritismo.  
De fato, há muitos livre-pensadores e adeptos de diversas correntes espiritualistas que aceitam os cinco tópicos básicos sem, necessariamente, possuírem quaisquer vínculos com o Espiritismo propriamente dito. Ora, se o Espiritismo foi o termo criado por Allan Kardec para designar a Doutrina dos Espíritos visando diferenciá-la das várias vertentes do Espiritualismo, isto se deu em função das deturpações (propositais ou não) que eventualmente poderiam ocorrer. Realmente, o Codificador não se equivocara, uma vez que desde o seu surgimento até os dias atuais o Espiritismo vem sendo, intencionalmente ou não, confundido com outras correntes filosófico-religiosas. Desta maneira, a utilização didática de 10 princípios básicos tornaria o Espiritismo menos sujeito a erros de interpretação doutrinários, uma vez que esses princípios, em conjunto, se reforçam e corroboram mutuamente, fornecendo uma noção muito mais clara das bases conceituais da Codificação. Saber o que o Espiritismo é e o que o Espiritismo não é, trata-se de pré-requisito conceitual fundamental a qualquer indivíduo que pretenda analisar, deforma minimamente isenta de preconceitos, quaisquer aspectos da Terceira Revelação, seja o estudioso em questão espírita ou não. 
O corpo espiritual pode se afastar com maior ou menor intensidade do vaso orgânico 
Assim sendo, sugerimos a consideração dos cinco tópicos adicionais, que são apresentados e discutidos a seguir, juntamente com os cinco tópicos mais usuais.  
1. Existência de Deus - Não havendo efeito sem causa, sob todos os aspectos em que se analise o Universo, é inevitável concluir que tamanha complexidade não poderia deixar de ter sido originada por uma causa superinteligente, isto é, o Criador. Realmente, o Efeito deve ser proporcional à Causa e, por conseguinte, pela exuberância do Efeito, infere-se a excelência dos Atributos intelecto-morais da Causa.  
2. Existência e Imortalidade da Alma - Além dos fenômenos mediúnicos propriamente considerados, ou seja, das inumeráveis evidências de comunicação entre os chamados “mortos” e os “vivos”, existe uma gama de eventos paranormais denominados anímicos. Ambos os fenômenos sugerem fortemente a existência, relativa independência em relação ao corpo físico e imortalidade da alma. Os eventos anímicos são gerados pela própria alma do indivíduo encarnado, evidenciando a existência e até mesmo certa independência em relação ao corpo físico. Estes fenômenos de “Emancipação da Alma” demonstram o fato de o corpo espiritual (perispírito) poder se afastar com maior ou menor intensidade do vaso orgânico. Sono e sonhos, desdobramento (também chamado de “projeção da consciência” ou mesmo “viagem astral”), sonambulismo, êxtase, clarividência (também denominada “segunda vista”) e clariaudiência são exemplos de “Emancipação da Alma”. Vale registrar que os casos de mediunidade no leito de morte assim como as “Experiências de Quase-Morte (EQM)” têm fornecido extraordinárias evidências da existência e imortalidade da alma.  
A proposta tradicional de um “Céu” e um “Inferno” eternos é algo completamente artificial 
3. Comunicabilidade dos Espíritos - O primeiro e geral benefício do fenômeno mediúnico consiste na demonstração da imortalidade da alma através de diferentes mecanismos. A mediunidade pode se apresentar de variadas maneiras. Afirma o Apóstolo Paulo que “Há Diversidade de Dons, mas o Espírito é o Mesmo”, denotando que a mediunidade é inerente ao ser humano, mas, para cada criatura, o fenômeno apresenta diferentes peculiaridades e intensidades. Assim como ocorreu no passado, haja vista a abundância de manifestações mediúnicas exaradas em Livros Sagrados como a Bíblia e o Corão, os fenômenos continuam a ocorrer, modificando, no entanto, algumas especificidades em função da evolução intelecto-moral dos habitantes da Terra. A mediunidade se baseia, no mínimo parcialmente, nas propriedades do perispírito, que permite a ocorrência de significativo nível de “Telepatia” entre Espíritos encarnados e desencarnados. De fato, essa espécie de mediunidade basal, comum a todas as criaturas, é o que possibilita a obsessão bem como a chamada “inspiração superior” através da intuição dos protetores espirituais.  
4. Pluralidade das Existências - Também chamada Reencarnação, Palingenesia ou Renascimento, a multiplicidade das vidas físicas é o mecanismo pelo qual a Lei de Progresso se manifesta na Obra da Criação. De fato, a sucessão de etapas nas esferas física e espiritual fornece, respectivamente, as provas e expiações (vida física) e a pausa para avaliação, estudo e preparação para novas experiências (vida espiritual). Uma única vida física seria totalmente injusta, pois os Espíritos nascem com capacidades claramente diferentes, vivendo em ambientes também distintos e morrendo com idades completamente diferentes. Além disso, a proposta tradicional de um “Céu” e um “Inferno” eternos após uma única vida física seria algo completamente artificial. Esse mecanismo seria cruel, injusto e profundamente incoerente com as características que a grande maioria das religiões atribui a Deus. Além disso, tal proposição nega um dos aspectos mais belos da Lei de Deus, que é a Evolução Espiritual. Interessante adir que lembranças de vidas passadas, que se dão tanto de maneira espontânea como de forma espontânea, evidenciam a realidade das várias reencarnações.  
Somente a Fé Raciocinada proporciona uma efetiva aliança entre Ciência, Filosofia e Religião 
5. Pluralidade dos Mundos Habitados - Jesus afirmou que “Há Muitas Moradas na Casa do Pai”. Realmente, segundo a Codificação, Deus não faz nada inútil, e, consequentemente, toda a sua Obra Universal deve ter uma função efetiva na Criação. Em verdade, tanto a Pluralidade dos Mundos Habitados como a Pluralidade das Existências estão profundamente relacionadas à Lei de Progresso. De fato, como o Espírito é imortal e evolui infinitamente, necessitará de várias experiências físicas em diferentes contextos de existência orgânica para atender a todas as suas requisições evolutivas. Logo, muitas reencarnações em diferentes mundos são necessárias para o cumprimento das múltiplas etapas espirituais.  
6. Fé Raciocinada - Este princípio é um alicerce fundamental em toda a construção doutrinária de Kardec, pois não é possível a elaboração de um corpo de ideias com caráter realmente científico empregando raciocínios ilógicos, dogmas, atitudes fanáticas etc. Somente a Fé Raciocinada proporciona uma efetiva aliança tríplice entre Ciência, Filosofia e Religião.  
7. Lei de Causa e Efeito - Também denominada de Lei de Ação e Reação ou Lei do Karma, a correlação entre causas e efeitos é um piloti para a Evolução Espiritual dos Filhos de Deus. Realmente, tanto a justiça de Deus como a Lei de Progresso através da reencarnação têm nos mecanismos cármicos a sua ferramenta principal. Somente por meio da perfeita relação entre plantação e colheita é possível conceber a soberana Justiça Divina, pois “a cada um é dado conforme suas obras”, já que “Reconhece-se a árvore pelos frutos”.
Jesus é o ser mais perfeito que Deus nos ofereceu para servir de modelo e guia 
8. Evolução Espiritual - A Lei de Progresso é uma das mais maravilhosas realidades reveladas pelo Espiritismo. O Espírito jamais retroage, sempre evoluindo para a Felicidade e para Deus. De fato, nada que é vivenciado pelo Espírito é perdido, pois a memória espiritual registra todos os eventos presenciados, permitindo que a chamada “Consciência” se torne o verdadeiro juiz de nós mesmos. Este profundo registro de vivências faz com que o Espírito jamais regrida, pois o ser espiritual não pode diminuir sua bagagem de conhecimentos e experiências. Pelo contrário, como esse acúmulo de informações é sempre crescente, na pior das hipóteses o Espírito “estacionará” evolutivamente, quando se deixar levar pela indolência e pelas más inclinações.
9. Moral de Jesus - A Questão 625, de “O Livro dos Espíritos”, nos ensina contundentemente que “Jesus é o ser mais perfeito que Deus nos ofereceu para servir de modelo e guia”. Portanto, a Moral de Jesus constitui o maior referencial ético que podemos eleger como diretriz comportamental visando a uma segura busca por espiritualidade. Obviamente, tal paradigma não está em oposição com outros grandes nomes da Espiritualidade, tais como Buda e Krishna, entre outros. Segundo Emmanuel, em “A Caminho da Luz”, todos os grandes missionários do bem constituem uma única falange de mentores e foram todos enviados pelo próprio Jesus, governador do planeta, para um processo sinérgico de evolução de toda a humanidade. Esta análise denota, uma vez mais, o completo absurdo de se cultivar rivalidades religiosas. A atitude ideal seria estudar todos os grandes mensageiros do amor e do conhecimento “examinando tudo e retendo o bem”.  
Liturgias, indumentárias, símbolos, imagens e rituais são manifestações que demonstram primitivismo religioso
10. Verdadeira Religiosidade - O Espiritismo em sua busca racional pela Verdade supera fixações e preconceitos seculares de nossa tradição cultural. Por conseguinte, a Doutrina Espírita não chancela essas “bengalas psicológicas”, filhas de nossa cegueira espiritual, que se apresentam no meio religioso como mitos, dogmas e medos. Assim sendo, liturgias, indumentárias, uniformes, símbolos, imagens, rituais, profissionalismo religioso, sacerdócio religioso, entre outras, são manifestações que demonstram primitivismo religioso. O Espiritismo, propondo uma fé raciocinada para viabilizar o entendimento científico das Leis de Deus, prescinde de tais manifestações, pois o “Reino dos Céus está dentro de nós”. Logo, a verdadeira espiritualidade é conquistada a partir do conhecimento das Leis da Vida aliada ao Autoconhecimento, que possibilitarão a maturidade espiritual necessária para a aceleração do processo evolutivo que requer estudo, trabalho, consciência, caridade e fraternidade. Aliás, o próprio Emmanuel ao prefaciar sua excepcional obra “Fonte Viva” assevera “... reconheceremos sempre no Espiritismo o Evangelho do Senhor, redivivo e atuante, para instalar com Jesus a Religião Cósmica do Amor Universal e da Divina Sabedoria sobre a Terra”. 
Os dez princípios básicos do Espiritismo só proporcionam uma introdução minimamente satisfatória ao Espiritismo se considerados de forma interligada e sob um estudo acurado das Obras Fundamentais de Allan Kardec. De qualquer maneira, tal apanhado é uma forma didática de se organizar ideias iniciais a respeito da Doutrina Espírita, bem como apresentá-lo de maneira breve a neófitos, curiosos, materialistas e adeptos de outras religiões que estejam interessados em obter algumas informações preliminares concernentes à Codificação.



O texto acima foi copiado no seguinte endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano2/97/especial.html

terça-feira, 1 de maio de 2012

Níveis de Consciência



São muitos os fatores que parecem conspirar contra o sadio esforço de quem deseja ascensão e plenitude.

Paixões disfarçadas de direitos pessoais assomam no palco da vida, exigindo consideração, gerando conflitos e dificultando o processo de elevação moral.

O egoísmo dominador, predominante em a natureza humana, escamoteia os seus propósitos inferiores e surge, a cada momento, em expressão nova, perturbando o programa iluminativo de quem se propõe à felicidade em padrões dignos, portanto, ideais.

O instinto de sobrevivência do corpo, em atavismo dissolvente, coopera com as heranças primevas, apresentando-se sob justificativas equívocas com caráter de nobreza.

O homem ainda instável, desacostumado às lutas íntimas de santificação, diante das sortidas de que se vê preso por parte desses algozes internos, posterga o trabalho de evolução, ou para, caso nele se encontre, ou abandona os propósitos abraçados, sob os tóxicos do desânimo e do desconforto moral.


Propõe o mundo: -- Triunfa a qualquer preço, sem te preocupares com os outros, que aguardam ocasião para te submeterem.

Estabelece Jesus: -- Se alguém te pedir a capa, dá-lhe também a manta, e se te solicitarem seguir mil passos, vai, tranquilo, dois mil.

Programa o século: -- Não cedas o teu lugar, haja o que houver.  Disputa a tua posição, pois que outros estão batalhando por tomar-te a em que te encontras.

Argumenta Jesus: -- Não te afadigues pela posse indevida. Tudo quanto cederes, terás, e aquilo que tomares, perderás.

Promete a Terra: -- Os vitoriosos gargalham e recebem apreço. Trinfa no mundo, tendo a glória como sendo a meta que deves alcançar.

Aclara Jesus: -- Todo apogeu terrestre nivela na tumba as criaturas umas com as outras.  A glória que ensoberbece passa, e o homem se encontra vazio e só, logo após.

Reclama a sociedade: -- Impõe a vontade, a fim de te fazeres respeitar, e armazena moedas para adquirires tudo quanto ambicionas.

Responde Jesus: -- Reúne tesouros no “reino dos céus” e coleta os recursos da paciência, da humildade, do perdão, da caridade nos cofres do amor, e serás rico de paz.  

Impõe a tradição: -- A vida espiritual será examinada na velhice. Frui e usa o corpo enquanto são moças as tuas carnes.

Contrapõe Jesus: -- Louco, hoje te tomarão a alma, sem indagarem a idade que tens.

Aconselham as técnicas do bem-estar imediato: -- Reage a qualquer agressão. Arma-te para te defenderes, tomando o outro de surpresa.

Orienta Jesus: -- Age com elevação sempre e equipa-te com os recursos do amor que vence tudo e amortece todos os golpes que sejam desferidos contra ti.

Determina a ilusão:  -- Embriaga-te no prazer, que é tudo quanto tens ao alcance das mãos.

Repete Jesus: -- Vence o mundo, educando-te e crescendo para a realidade da tua consciência superior.

***

O homem do mundo vive em nível de consciência inferior. É fisiológico, automatista, primitivo.

O homem espiritual transita em faixa de consciência elevada e se apercebe da realidade da vida. É psicológico, idealista, compreensivo, racional, porque alcançou a dimensão intecto-moral lúcida.

***

Se transitas no nível intermediário, atado ao primarismo e anelando pela emoção enobrecida, exercita os valores morais e vivências espirituais, adquirindo forças para o passo decisivo, que te fará escolher Jesus em detrimento do mundo, embora a permanência nas conjunturas carnais. 

JOANA DE ÂNGELIS, pisicografia de 
Divaldo Pereira Franco, capítulo 3 do opúsculo
Momentos de Esperança.