sábado, 12 de setembro de 2020

Que temos com o Cristo?

 Que temos com o Cristo?


“Ah! que temos contigo, Jesus Nazareno? vieste destruir-nos? Bem

sei quem és: o Santo de Deus.” — (Marcos, capítulo 1, versículo 24.)


Grande erro supor que o Divino Mestre houvesse terminado o serviço ativo, no Calvário.

Jesus continua caminhando em todas as direções do mundo; seu Evangelho redentor vai triunfando, palmo a palmo, no terreno dos corações.

Semelhante circunstância deve ser lembrada porque também os Espíritos maléficos tentam repelir o Senhor diariamente.

Refere-se o evangelista a entidades perversas que se assenhoreavam do corpo da criatura.

Entretanto, essas inteligências infernais prosseguem dominando vastos organismos do mundo.

Na edificação da política, erguida para manter os princípios da ordem divina, surgem sob os nomes de discórdia e tirania; no comércio, formado para estabelecer a fraternidade, aparecem com os apelidos de ambição e egoísmo; nas religiões e nas ciências, organizações sagradas do progresso universal, acodem pelas denominações de orgulho, vaidade, dogmatismo e intolerância sectária.

Não somente o corpo da criatura humana padece a obsessão de Espíritos perversos. Os agrupamentos e instituições dos homens sofrem muito mais.

E quando Jesus se aproxima, através do Evangelho, pessoas e organizações indagam com pressa: “Que temos com o Cristo? que temos a ver com a vida espiritual?”

É preciso permanecer vigilante à frente de tais sutilezas, porquanto o adversário vai penetrando também os círculos do Espiritismo evangélico, vestido nas túnicas brilhantes da falsa ciência.


Mensagem extraída da obra: Caminho, Verdade e Vida, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel, capítulo 144, publicação de 1948.


                                                            **************



Reflexão: 

Na página acima, o Orientador Espiritual, referindo-se a versículo do evangelho faz abordagem que com precisão dá a clareza à realidade comportamental das gentes destes dias modernos. 

Lembra-nos que Jesus está presente, continua o trabalho revelador das coisas dos Céus para os homens, iniciado à margem do Tiberíades, ensinando e socorrendo os aflitos, os doentes do corpo e da alma, exemplificando o bem e marcando no tempo, com suas vibrações de amor e caridade, as pegadas que nos levarão a Deus. 

No entanto, observa a existência das inteligências infernais, que conheciam Jesus, mas O tinham como adversário, pois, perguntam-Lhe: “Vieste destruir-nos?” .  Certo é que Ele veio destruir o mal existente na intimidade dos Espíritos, com o trabalho educativo de restauração dos Seres,  oferecendo as ferramentas e ensinando a utilizá-las a seus próprios benefícios. Não resolverá por Sua vontade os males das criaturas se elas não se propuserem ao esforço do autoconhecimento e as lutas constantes no domínio e erradicação das más tendências, direcionando os pensamentos, os desejos para o bem, distanciando-se das próprias tentações. 

O Espírito Emmanuel, no trecho transcrito a seguir, nos traz a reflexão para os dias atuais, vejamos: “(...), essas inteligências infernais prosseguem dominando vastos organismos do mundo.

Na edificação da política, erguida para manter os princípios da ordem divina, surgem sob os nomes de discórdia e tirania; no comércio, formado para estabelecer a fraternidade, aparecem com os apelidos de ambição e egoísmo; nas religiões e nas ciências, organizações sagradas do progresso universal, acodem pelas denominações de orgulho, vaidade, dogmatismo e intolerância sectária.). Levantando o olhar na direção do mundo, considerando o meio político, está visível a discórdia e a tirania; no comércio, nos diversos sistemas, a ambição e o egoísmo se tornaram monstro carrasco das multidões; nas religiões e nas ciências, que deveriam balizar a moral e a inteligência da humanidade, enxameiam por muitos caminhos, implícitos e explícitos, o arraigamento do orgulho, da vaidade, do dogmatismo e da intolerância abrindo chagas enormes de preconceitos, escuridão moral, empobrecimento intelectual e miséria religiosa nos seios de milhões e milhões de almas exaustas, com desequilíbrios emocionais de variadas etiologias.   

Nesse eixo reflexivo, ressaltam a depressão, as desilusões, as fantasias, os desvios comportamentais, o suicídio, as corrupções materiais e morais, a desesperança, a desestima de si mesmo… A anarquia emocional e moral dos indivíduos gera a anarquia social, pois são as anomalias da alma que comprometem a normalidade da sociedade.  

“Não somente o corpo da criatura humana padece a obsessão de Espíritos perversos. Os agrupamentos e instituições dos homens sofrem muito mais.”

No parágrafo acima, o Mentor de Chico Xavier, levanta uma questão que todos os Cristãos de Verdade deveriam prestar atenção. O grande problema é a obsessão de Espíritos perversos que atinge os indivíduos, mas também as organizações sejam quais forem. É situação gravíssima, lentamente essa força perversa vai assenhoreando dos pensamentos, criando hábitos, instalando vícios, dependências emocionais, libertinagens morais a título de liberdade…, enfraquecendo a ordem social.  Instalam-se a corrupção e os  corruptores, que repetidamente admitidos tornam-se práticas comuns, enquistando doença moral de difícil solução, sementes contaminadoras das gerações futuras.

A solução para todo o mal está à disposição, mas a hipocrisia vai se manifestar, dada a má vontade e o interesse da continuidade das loucuras do poder e do fugaz prazer de usufruir da ilusória riqueza de que se nunca satisfaz, E quando Jesus se aproxima, através do Evangelho, pessoas e organizações indagam com pressa: “Que temos com o Cristo? que temos a ver com a vida espiritual?”  

Comparecer ao templo, recitar os versículos do Evangelho, contribuir afanosamente com recursos à agremiação religiosa, construir edificação faraônica para o Cristo ou Deus não credencia ninguém a posição espiritual de relevância, caso não exista vivência verdadeira  da mensagem de Jesus, de forma a eliminar da alma a ganância, o orgulho, o desejo de poder, a auto exaltação, o exibicionismo, a corrupção de qualquer ordem...;   resultando para o crente a bondade, o amor, a caridade, a humildade, a abnegação no bem…

Após conquista pessoal, pode-se entender: “Que temos com o Cristo? que temos a ver com a vida espiritual?” 

Jesus deixa claro para a humanidade que seu Reino não é deste mundo, “mundo de materialidade”, próprio dos seres imperfeitos, devedores, sofredores, que carregam em si o próprio mal; no entanto, trazem também em si recursos a serem desenvolvidos, que depois dos esforços de muitos séculos e com a conquista de luz própria, se qualificam a alcançar o mundo de Jesus: de trabalho, de paz e felicidades, pois correspondem ao estado do próprio Espírito vitorioso.

No último tópico, Emmanuel, coloca alerta de muita gravidade: “É preciso permanecer vigilante à frente de tais sutilezas, porquanto o adversário vai penetrando também os círculos do Espiritismo evangélico, vestido nas túnicas brilhantes da falsa ciência.”  Para os que acolheram a Doutrina Espírita (O Cristianismo redivivo), é indispensável o conhecimento dos seus postulados, ter em mente o rigor analítico de Allan Kardec, “o crivo da razão” diante dos fatos novos para não se permitir enganar, não importando a sua origem.  A responsabilidade espiritual é pessoal, não é possível atribuir a terceiros, é preciso que todos tenham clareza própria e façam análise das ocorrências que surgem antes de aceitá-las, o engano é de quem se permite ser enganado. Jesus ensinou:  “Vigiai e orai…”. É preciso estar atento, pois somos responsáveis pela nossa vida espiritual. 

Esclarecer e orientar os menos experientes sim, para isso precisa redobrar cuidados, estar ciente se seus conhecimentos são sólidos, se está convicto do que ensina, pois, haverá sempre ressaibo de responsabilidade. É verdade para você o que ensina? Está em conformidade com a Doutrina Espírita?

Vou registrar adiante uma história espiritual verdadeira que exemplifica:

-- Certo dia, numa das reuniões mediúnicas que dirigimos, compareceu o Espírito de um pastor evangélico para esclarecimento. Iniciado o diálogo, nota-se que o comunicante é pessoa muito distinta e educada, conquanto com as ideias próprias de sua vivência.

-- O senhor é pastor evangélico?

-- Sim. Mas... não estou entendendo como vim parar aqui, neste lugar que não conheço e nem essas pessoas são de minhas relações sociais e nem religiosas. 

-- O senhor se lembra de ter ficado doente? 

-- Estou em tratamento…; tem algum tempo que não cuidam de mim, não me alimentam e nem me dão medicamento; não entendo…

-- Por que será? Os seus familiares não são sempre solícitos e amorosos? Já pensou que fato importante ocorreu? Estava doente, não é? 

-- Se morri, não entendo, deveria estar “em sono aguardando o dia do juízo…”; deve ser uma ilusão… um…

-- O senhor percebe que houve uma mudança significativa, não consegue falar com os seus conhecidos e nem eles te ouvem, por quê? como o senhor entende isso?

-- Não entendo?!

-- Observa que está falando comigo, mas através desta mulher, o senhor fala e ela repete para mim, assim nós vamos conversando -- ela  tem uma capacidade especial, é médium, capta seu pensamento e seus sentimentos e me transmite, para que eu o entenda --, percebe? 

-- Estou vendo, minha religião nunca falou disso!?  Então, quer me falar que estou morto!?

-- O melhor a dizer é que o senhor está vivo, no entanto, o seu equipamento carnal, que é o corpo, portanto, ele não é o senhor, aquele sim passou pelo fenômeno da morte, pois estava doente, agora o senhor se apresenta como um Espírito, é o que todos nós somos. 

-- Impressionante! Nunca nos ensinaram assim! 

-- Vê aqui no ambiente novo,  que se abriu, pessoas que o senhor conhece? São várias…

-- Estou vendo!... 

-- Tem algum conhecido?

-- Muitos. Pastores amigos, meu professor… Mas, eles estão mortos há muito tempo…

-- Vieram para demonstrar-lhe de que a morte não existe. Continuam vivendo e trabalhando...

-- Estão me convidando para ir com eles, que me explicarão muitas coisas…

 Seguiu com seus amigos espirituais e encerrou-se esse diálogo.

 Na reunião da semana seguinte, compareceu o espírito do Pastor novamente, dizendo:

-- Na semana passada estive aqui, compreendi a minha realidade, mas você me arrumou uma situação que me trouxe perturbação que está me enlouquecendo, porque vi que a morte não é como eu aprendi em minha vida, como exaustivamente ensinei ao povo da minha igreja e agora que eu sei que daquela forma não era verdade como fica a minha consciência, se ensinei o que não é verdade, como vou dar conta disso? Como vou retornar lá para dizer àquele povo que não é daquela forma que acontece...

-- Um orientador espiritual socorre, esclarecendo: “Meu irmão, não se preocupe com isto, você, quanto na tribuna do seu templo, ensinou honestamente a verdade de que tinha convicção, assim, não poderás carregar culpa. Terás, após se preparar condizentemente, aqui na espiritualidade, oportunidade de levar esses novos conhecimentos para todos aqueles que desejarem ouvir”.

Assim, elucidada a questão encerrou-se essa comunicação. 

O Pastor da comunicação ensinou a verdade, pois assim estava convicto, teve a sua consciência justificada; e, caso, estivesse ensinado sem convicção, tendo em suas mãos as orientações espirituais adequadas, mas pretendendo prevalecer com a sua opinião, em detrimento da verdade, como estaria diante da consciência?

O espírita não tem escolha, precisa estudar e estudar, vez que tem os elementos da promessa de Jesus (O Consolador), que veio lembrar ao homem tudo o tinha ensinado e ensinar o que não foi possível, considerando o próprio estado evolutivo da humanidade àquela época. Agora tem toda uma Doutrina reveladora da relação da vida espiritual no corpo e  fora dele, é o estágio de vida na Terra  que chegou na sua maior culminância, abrindo as portas da espiritualidade.

As balizas estão colocadas, o rumo acertado, agora é caminhar pela própria vontade. O atraso para se atingir a meta pertence a quem se acomoda, ou vive a questionar sem buscar resposta, ou sem querer ouvi-la. Desejar que os segredos do futuro lhe venham ao encontro é infantilidade. Sem a ferramenta da renovação interior, os esforços para dominar o orgulho e o egoísmo enclausurados na alma, impedindo o  enriquecimento do espírito com a humildade e o reconhecimento da urgência para abandonar as futilidades e quaisquer vantagens materiais que entorpecem o cumprimento dos deveres maiores para com o próprio futuro espiritual. 

Jesus aguarda decisão de quem desejar o encontro decisivo para vida plena numa realidade de consciência livre. A paz e a felicidade precisam existir no céu de cada indivíduo para que componham a plenitude coletiva que os séculos noticiaram.   

O Mestre Divino jamais destruirá alguém, mas,  sim, aguarda todos os seus filhos-irmãos para compor o seu redil de luz e amor.

Reflitamos!

                                                Dorival da Silva


sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Cadinho

 Cadinho


Reunião pública de 30-01-1959.

Questão n.º 260.


Muitas vezes, na Terra, na posição de cultores da delinquência, conseguimos escapar das sentinelas da punição. 


Faltas não previstas na legislação terrestre, como sejam certos atos de crueldade e muitos crimes da ingratidão, muros adentro de nossa vida particular, quase sempre acarretam a queda e a perturbação, a enfermidade e a morte de criaturas que a Divina Bondade nos põe no caminho.  


De outra feita, quando positivamente enodoados com o ferrete da culpa, conseguimos aligeirar nossas penas ou delas nos exonerar, subornando consciências dolosas, no recinto dos tribunais. 


Todavia, a reta justiça nos espera, infalível, e além da morte, ainda mesmo quando tenhamos legado ao mundo vastas parcelas de cultura e benemerência, eis que as marcas de ignomínia se nos destacam do ser, então expostas à Grande Luz. 


Nessa crise inesperada, imploramos nós mesmos retorno e readmissão nos cursos de trabalho em que se nos desmandaram a deserção e a falência, a fim de ressarcirmos os débitos que os homens não conheceram, mas que vibram, obcecantes, no imo de nossas almas. 


É assim que voltamos ao cadinho fervente da purgação, retomando nos fios da consanguinidade a presença daqueles que mais ferimos, para devolver-lhes em ternura e devotamento os patrimônios dilapidados, rearticulando os elos da harmonia que nos ligam a todos, na universalidade da vida, perante a Lei.


Reverenciemos. desse modo, no lar humano, não apenas o templo de carinho em que se nos reabastecem as forças, no exercício do bem eterno, mas igualmente a rude escola da regeneração, em que retomamos o convívio dos velhos adversários que nós mesmos criamos, a ressurgirem na forma de aversões instintivas e desafetos ocultos, que nos constrangem cada hora à lição da renúncia e à mensagem do sacrifício. 


E por mais inquietante se nos afigure a experiência no educandário doméstico, guardemos, dentro dele, extrema devoção ao dever, perdoando e ajudando, compreendendo e amparando sem descansar, pois somente aquele que se engrandeceu, entre as quatro paredes da própria casa, é que pode, em verdade, servir à obra de Deus no campo vasto do mundo. 


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Página extraída do livro: Religião dos Espíritos, ditado pelo Espírito Emmanuel, ao médium Francisco Cândido Xavier, sendo que o próprio Espírito informa na página de rosto da referida obra, “(...), nos foi possível, no curso das 91 sessões públicas para estudo da Doutrina Espírita, a que comparecemos, junto de nossos companheiros uberabenses, no transcurso de 1959, na sede da Comunhão Espírita Cristã, nesta cidade. (...).


Nota 1: A questão em referência (260) pertence à obra: O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, publicada em 18.04.1857, na França. Com o objetivo de facilitar sua leitura a transcrevi abaixo:  


260. Como pode o Espírito desejar nascer entre gente de má vida?

“Forçoso é que seja posto num meio onde possa sofrer a prova que pediu. Pois bem, é necessário que haja analogia. Para lutar contra o instinto do roubo, preciso é que se ache em contato com gente dada à prática de roubar.”


Nota 2: As obras de Allan Kardec estão disponíveis para consulta, gratuitamente,  no endereço:  https://kardecpedia.com/


sábado, 29 de agosto de 2020

Tristeza ou Saudade!

 Tristeza ou Saudade!


Existe tristeza que não chega a ser uma tristeza. É mais uma saudade. Lembrança que não se define ao certo o que é, onde ocorreu, em que tempo, e que não é ruim nem boa. É algo que toca fundo na alma. Será uma lembrança inconsciente de onde viemos ou um desejo de retornar ao lugar onde éramos felizes e do qual não nos lembramos?

Parece fantasia, mas é sentimento. Ele não sabe se expressar pelos meios formais, nem coloquiais. Só se sente. É uma névoa ou uma nuvem translúcida que surge de dentro para fora e cria atmosfera que não se vê, apenas se sente. 

Como um sonho, que o irreal se faz realidade incontestável. O voo é de verdade para cima, longe no horizonte, vai-se no futuro e ao passado fácil, fácil. 

Nessa irrealidade que é uma realidade, ninguém questiona, a liberdade é livre, o constrangimento é desconhecido, e a imposição e o tolhimento são imagináveis.

Quem sonha assim! É um sentimento que tem mundo próprio, do qual se faz parte se assim o desejar. 

Tristeza ou saudade? Sonho ou realidade? Qual o seu sentimento?

                                                 Dorival da Silva


domingo, 23 de agosto de 2020

Previdência Espiritual

 Previdência Espiritual


Fiel ao compromisso com a previdência em torno do futuro, reuniste vasto patrimônio financeiro, contando com justo repouso na velhice, sendo surpreendido por dores imprevisíveis, que ora te dilaceram os sentidos. 

Seguindo dietas alimentares bem balanceadas, cuidaste da saúde física, programando uma larga existência, quando o acidente inesperado paralisou-te em aflitiva cadeira de rodas. 

Dilatando músculos e facilitando  a irrigação do sangue, praticaste esporte como dedicado ginasta, sem contar com a ruptura da medula após o salto acrobático na piscina fatídica.

Amigo da inteligência e da cultura, dedicaste largas horas ao estudo sistematizado das Ciências e de várias escolas de pensamento, sendo surpreendido por insignificante coágulo que se te alojou no cérebro, levando-te à hebetação do raciocínio.

Crente nos valores sociais, cuidaste de granjear posição de relevo na comunidade, envolvendo-te em compromissos vários, sem esperar os dissabores morais que desabaram sobre o teu lar como chuva de granizo ardente.  

Estabeleceste diretrizes de segurança para o triunfo, que seguiste à risca, descobrindo, bem tarde, outros valores de natureza espiritual que não consideraste e são os de duração perene. 

Não desconsideramos, porque as sabemos importantes, essas realizações e conquistas. Contudo, seriam mais valiosas se a elas aliasses as de sabor eterno, aquelas que dizem respeito ao ser espiritual, preexistente ao berço e sobrevivente ao túmulo.

*

O homem apressado semeia legumes para a sua mesa de amanhã. 

O homem prudente cultiva trigo para o futuro pão. 

O homem sábio, porém, adiciona a essas sementeiras, a vida em si mesma, a fim de estar sempre em paz.

Preserva, desse modo, o teu futuro sócio-econômico, sem descuido, no entanto, da alma que prosseguirá, sejam quais forem as circunstâncias. 

Atende aos deveres para com a saúde física e mental; entretanto, trabalha as imperfeições morais, libertando-te dos atavismos perniciosos que acompanham o Espírito em todas as injunções.

Sustenta os compromissos humanos com dignidade e labora em favor do êxito; sem embargo, dilata a ambição, armazenando títulos de enobrecimento espiritual que seguirão contigo, após a fugaz existência corporal. 

Educa o corpo e disciplina a mente. 

Precata-te com a poupança e estabelece vínculos de amizade no teu grupo social. 

Reserva-te, porém, um programa de iluminação íntima, meditando e agindo sob as superiores lições do Evangelho de Jesus, que te propiciarão a paz em todos os dias da tua vida. 

*

O homem que triunfa no mundo, ganha destaques e honrarias; todavia, aquele que vence o mundo, ganha a vida e dele se liberta. 

Assim pensando, escreveu o apóstolo Paulo, aos efésios, conforme o capítulo cinco, versículo dois: “Andai em amor…”, significando a necessidade de viver-se, comportar-se e agir-se sob a diretriz libertadora desse mandamento por excelência, base de toda a Lei e de todas as Revelações Espirituais. 

                               

                                             Joanna de Ângelis

Mensagem extraída da obra: Responsabilidade, psicografia 

de Divaldo Pereira Franco, capítulo 2, de 1987.


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Fraternidade!

 

Fraternidade!

       “Mas, infelizmente, meus amigos, não pudestes compreender ainda a grande significação da palavra -- Fraternidade!

        Não é um termo, é um fato; não é uma palavra vazia, é um sentimento, sem o qual vos achareis sempre fracos para essa luta que vós mesmos não podeis medir, tal a sua extraordinária grandeza! ”

        O registro em destaque foi extraído de uma mensagem psicografada em 1899, por Allan Kardec, com o título: Instruções aos Espíritas do Brasil, sendo que outras referências colheremos no texto; não é exagero considerar como carta direcionada pessoalmente a cada liderança espírita, de qualquer nível, tanto quanto a todos os espíritas conscientes de suas responsabilidades diante de si mesmos e do Movimento Espírita.

        Chama a nossa atenção a ênfase dada à “Fraternidade”, dizendo que “Não é um termo” e, sim, “que é um fato”.   Um fato é algo verdadeiro e definitivo.

        À época lamentava que não se tinha compreendido a “significação da palavra Fraternidade”, que não era “um termo” e nem “uma palavra vazia”, mas “um sentimento”.  Depois de mais de um século do recebimento desta mensagem e dos esforços do Mundo Espiritual e das lideranças de maior vulto no Movimento Espírita é lamentável que o sentimento de fraternidade ainda não faz morada no coração da maioria dos que se denominam espíritas. Sentimento é vivência, é consciência, é fazer parte – não como um elemento – mas como uma força resultante de aprimoramento moral e intelectual no bem, que se torna luz, que clareia e incentiva que outros também se encandeçam.  Onde essa luz-consciência chega o mal não faz morada.

                                               *  *  *

       “Ismael tem o seu Templo, e sobre ele a sua bandeira – Deus, Cristo e Caridade! Ismael tem a sua pequenina tenda, onde procura reunir todos os seus irmãos – todos aqueles que ouviram a sua palavra e a aceitaram por verdadeira: chama-se Fraternidade!

        Pergunto-vos: Pertenceis à Fraternidade? Trabalhais para o levantamento desse Templo cujo lema é: Deus, Cristo e Caridade? ”

        O espírito Allan Kardec vem falar do Templo do Anjo Ismael, que no Brasil se conecta à organização da Federação Espírita Brasileira, como canal que permite fluir as orientações do Mundo Espiritual para a Terra. Agora Ismael tem uma pequenina tenda”, uma referência espiritual percebida no Mundo material.   Naquele momento, fazia pouco tempo que a Federação havia tomado forma, mesmo que inicialmente como federativa.

        O Anjo Ismael, como o Espírito do Codificador, anuncia: “onde procura reunir todos os seus irmãos – todos aqueles que ouviram a sua palavra e a aceitaram por verdadeira: chama-se Fraternidade! ”.

        O que pesa nos ombros dos espíritas vacilantes é o questionamento: “Pergunto-vos: Pertenceis à Fraternidade? Trabalhais para o levantamento desse Templo cujo lema é: Deus, Cristo e Caridade?“

“Como, e de que modo?

        Meus amigos! É possível que eu seja injusto para convosco naquilo que vou dizer: o vosso trabalho, feito todo de acordo – não com a Doutrina – mas com o que interessa exclusivamente aos vossos sentimentos, não pode dar bom fruto. Esse trabalho, sem regime, sem disciplina, só pode, de acordo com a doutrina que esposastes, trazer espinhos que dilacerem vossas almas, dores pungentes nos vossos Espíritos, por isso que, desvirtuando os princípios em que ele assenta, dais entrada constante e funesta àquele que, encontrando-vos desunidos pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade, facilmente vos acabrunhará com todo o peso da sua iniquidade. ”

        A tenda de Ismael, que era pequenina no final do século XIX, hoje se espalha por todo o Território Nacional, por meio da rede das Federativas Estaduais e seus departamentos, ramificando-se pelas Casas Espíritas em grande parte das cidades do País.

        No entanto, o questionamento: Como, e de que modo? “ -- ainda não encontra resposta satisfatória, apesar dos grandes esforços realizados em treinamentos e orientações emanadas da Casa Mater do Espiritismo e das Federativas Estaduais.  O Movimento Espírita Nacional sofre com a interpretação equivocada da Doutrina Espírita, com estudos que não têm abrangência, ou mesmo sem estudos, adicionando por achismo pensamentos que não são condizentes com os ensinamentos colhidos pelo Codificador, desfigurando a unidade doutrinária. Kardec é categórico na orientação: “(...): o vosso trabalho, feito todo de acordo – não com a Doutrina – mas com o que interessa exclusivamente aos vossos sentimentos, não pode dar bom fruto. “

        Na própria argumentação: Esse trabalho, sem regime, sem disciplina, só pode, de acordo com a doutrina que esposastes, trazer espinhos que dilacerem vossas almas, dores pungentes nos vossos Espíritos, por isso que, desvirtuando os princípios em que ele assenta, dais entrada constante e funesta àquele que, encontrando-vos desunidos pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vaidade, facilmente vos acabrunhará com todo o peso da sua iniquidade. ”  -- mostra que a desatenção à orientação doutrinária, apresenta risco para os que a abraçam, com o propósito de levar à Humanidade a Terceira Revelação das verdades Divinas, ou seja, ampliar os conhecimentos da Boa Nova trazida por Jesus e desvelando a vida do Mundo Espiritual, a reencarnação… Existem forças contrárias, perseguidoras do Cristo, que utilizam de todos os meios para desacreditá-Lo, infiltrando ideias que destoam dos ensinamentos divinos entre seus seguidores, principalmente entre os líderes.

        A união de sentimentos sinceros dos Espíritas com os objetivos Doutrinários é a argamassa da Fraternidade que produz o fortalecimento seguro do Movimento Espírita, congregando corações que se renovam porque buscam se conhecer, aplicando a si mesmos as lições do Crucificado.  Esses formam a família-sentimento, que faz o bem e sabe reconhecer o mal, não se iludindo e nem  permitindo-se cair em engano.

                                          *   *    *

        “Entretanto, dar-se-ia o mesmo se estivésseis unidos? Porventura acreditais na eficiência de um grande exército dirigido por diversos generais, cada qual com o seu sistema, com o seu método de operar e com pontos de mira divergentes? Jamais! Nessas condições só encontrareis a derrota, porquanto – vede bem --, o que não podeis fazer com o Evangelho: unir-vos pelo amor do bem, fazem os vossos inimigos, unindo-se pelo amor do mal!

        Eles não obedecem a diversas orientações, nem colimam objetivos diversos; tudo converge para a Doutrina Espírita – Revelação da Revelação – que não lhes convém e que precisam destruir, para o que empregam toda a sua inteligência, todo o seu amor do mal, submetendo-se a uma única direção!

        A luta cresce dia a dia, pois que a vontade de Deus, iniciando as suas criaturas nos mistérios da vida de além-túmulo, cada vez mais se torna patente. Encontrando-se, porém, os vossos Espíritos em face da Doutrina, no estado precário que acabo de assinalar, pergunto: Com que elemento contam eles, os vossos Espíritos, na temerosa ação em que se vão empenhar, cheios de responsabilidade? “

        O lema é: união.  União de sentimentos convergentes é para o que está exarado na Doutrina Espírita. Por que ela é o fulcro da verdade, é o ponto de intersecção da compreensão entre os dois mundos, por onde flui a promessa de Jesus. Isso é o mesmo que dizer que o Mestre, através de sua luz, faz rebrilhar a essência de seus ensinamentos, que cada um colhe com a ânfora de sentimentos que interagem com àqueles.  

        A mensagem é a do Cristo, na carne a verbalizou e a demonstrou. No possível, visou retornar no futuro, quando os homens tivessem mais condições. Ele se fez presente no tempo próprio, apresentou a “Revelação da Revelação”  e não deixou de ampliá-la através de seus mensageiros, que utilizam a ferramenta mediúnica para verter revelações complementares, e o fará constantemente de acordo com as possibilidades dos homens.

        O Anjo Ismael grafou em sua bandeira o signo da unidade: “Deus, Cristo e Caridade” -- Deus, a origem de tudo; Cristo, o caminho por onde a verdade percorre  para chegar ao Mundo, límpida; e a Caridade, a virtude-meta, que todos deverão alcançar, certificando ao Criador o estágio de lucidez da consciência espiritual de cada criatura, reconhecimento e coroamento dos esforços de Jesus e seus prepostos de todos os tempos.

        Não é hora de tirar os olhos e os sentidos do estandarte do Anjo Ismael, que está fincado na Federação Espírita Brasileira. Este é o manancial das orientações do Cristo que se irradia para os Estados, chegando aos Centros Espíritas para encontrar os corações e mentes sedentos das claridades Divinas, que lhes proporcionem paz e esperança.   

        A obediência doutrinária é a direção norteadora para os Espíritas. Não há razão para acolher ou atender sugestões estranhas a título de modernidade ou de atualização da codificação espírita. Mesmo porque, no necessário, os próprios mensageiros do Cristo fazem com frequência as ampliações necessárias, através de obras complementares. A direção é a de Jesus.

        Qual a razão de se comprometerem com novidades que deslustram a verdade Doutrinária: Com que elemento contam eles, os vossos Espíritos, na temerosa ação em que se vão empenhar, cheios de responsabilidade? “

        Que contas prestar à própria consciência? Como enfrentar Aquele que trouxe a Boa Nova e cumpriu a promessa de que rogaria ao Pai e Ele mandaria o Consolador para relembrar o que tinha ensinado e colocar à disposição de todos aquilo que não pôde ensinar, porque faltava ao homem recursos suficientes para a compreensão.  

 *  *  *

Nota: Os excertos de cor azul e em itálico que foram colhidos da mensagem do  Espírito Allan Kardec, recebida pelo médium Frederico Pereira da Silva Junior, na Sociedade Espírita Fraternidade, no Rio de Janeiro-RJ, em 1889. A mensagem integral foi publicada no Jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do Paraná, nas edições de abril (n.º 1629), maio (n.º 1630) e junho (n.º 1631) do ano de 2020.

     A mensagem em referência é ampla em orientações. Mesmo as partes que separamos poderiam embasar muitos outros comentários pela sua profundidade doutrinária e psicológica, mas o nosso objetivo foi enfatizar a  "Fraternidade".

                                               Dorival da Silva