domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Criança


         Oportunidade aguardada com grande expectativa por àqueles Espíritos que se encontram na erraticidade, para uns é aplacar suas dores, para outros modificação dos pendores negativos e, ainda, há àqueles que buscam ajustes junto de seus desafetos.

       Para os pais, o preenchimento de algo natural, o desejo da constituição da família consanguínea, a continuidade de espécie, o estabelecimento do futuro que desdobrará em tantas esperanças, a hereditariedade, a construção de homens e mulheres de bem.

        Espiritualmente tudo isso é um processo com atores e personagens reais, autônomos, que têm o livre-arbítrio, que trazem o seu cabedal individual, têm vontades, agem de acordo com os seus ímpetos, embasado no estado evolutivo, com seus defeitos e virtudes, onde tudo se desdobra em responsabilidades e consequências.

       Na criança está um momento especial, com um adormecimento da personalidade antiga, cansada, exaurida, para ir acordando com novas energias, como oportunidade de autoajuda, possibilitando tomar rumos novos, reconstruir sonhos, corrigir erros e vícios que o aturdiram, sendo que agora caiu num esquecimento proposital por mecanismo Divino, na reencarnação.

      Os pais colaboraram na constituição do corpo físico, fornecendo os elementos genéticos; o essencial, a vida, o ser pensante e emocional, que o comandará, já existia e aguardava o momento para entrar na carne novamente.

    Todos os seres humanos passaram por esse processo e passarão muitas outras vezes, pois é o instrumento evolutivo mais eficiente, vez que as necessidades orgânicas e emocionais são as grandes forças motrizes do crescimento espiritual.

       No transitar pela matéria, desde a criança frágil e dependente até a saída pelo túmulo, sopesados o tempo e as condições, resolvem-se muitas pendências e adquirem-se conhecimentos e vivências inestimáveis, conquanto a dor e as aflições que servem de limitadores, para que os riscos de desvio do objetivo sejam menores, com a compensação de paz e alegria quando mais sóbrios e comedidos nas ações. 

         Tanto o exercício do bem como a da mazela trazem consequências e refletem nas outras pessoas, tanto um como outra trará resultado evolutivo, o bom senso nos diz que é melhor fazer sempre o bem, mas como conhecê-lo sem experimentar as vivências e saber as diferenças, como escolher se não conhece, por isto o livre-arbítrio e os erros e acertos. Na obra básica da Doutrina Espírita -- O Livro dos Espíritos -- na questão 632: O homem, que é sujeito a errar, não pode enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que faz o bem quando em realidade está fazendo o mal? Resposta dos Espíritos codificadores à Allan Kardec: "-- Jesus vos disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não; tudo se resume nisso. Assim não vos enganareis."  Diante disso, fica esclarecido de que não se é obrigado errar para aprender, o que se faz obrigatório é pensar antes das ações e ter a humildade de aceitar de que nem tudo convém.

         A responsabilidade dos pais é orientar e advertir, passar suas experiências, mostrar o que é bom e o que é ruim, levar a criança à educação de seus pendores negativos apresentados desde o berço, mas a decisão de acolhimento é de quem toma as rédeas da vida, que nem sempre dá atenção às orientações dos mais vividos, face ao orgulho, o egoísmo e a presunção, que traz arraigado em si mesmo, de existências anteriores.

         São Paulo norteia: Tudo me é permitido, mas nem tudo convém.

Dorival da Silva

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Autismo: uma abordagem espírita

Crônicas e Artigos 
Ano 3 - N° 104 – 26 de Abril de 2009



AMÉRICO DOMINGOS NUNES FILHO
americonunes@terra.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
Autismo:
uma abordagem espírita
 

O autismo se caracteriza por um grave transtorno do desenvolvimento da personalidade, revelando uma perturbação característica das interações sociais, comunicação e comportamento. De uma maneira geral, a pessoa tem tendência ao isolamento, olhando de forma dispersa, sem responder satisfatoriamente aos chamados e demonstrando desinteresse pelas pessoas. O indivíduo, sem apresentar nenhum sinal físico especial, ostenta prejuízo severo de várias áreas da performance humana, acometendo principalmente as interações interpessoais, da comunicação e do comportamento global.
Descrito pela primeira vez em 1943, pelo psiquiatra Leo Kanner, até hoje suas causas permanecem desconhecidas, havendo forte indício de fatores genéticos.
O paciente apresenta um sistema nervoso alterado, sem condições psico-neurológicas apropriadas para um adequado recebimento dos estímulos necessários, afetando seriamente seu desenvolvimento, exibindo incapacidade inata para o relacionamento comum com outras pessoas, como também desordens intensas no desenvolvimento da linguagem.
O comportamento do portador do transtorno autista é caracterizado por atos repetitivos (rotinas e rituais não funcionais, repertório restrito de atividades e interesses) e movimentos estereotipados, bem elaborados e intensos (saltos, balanceio da cabeça ou dos dedos, rodopios e outros). Podem, igualmente, ser observados alguns sintomas comportamentais como a hiperatividade, agressividade, inclusive contra si próprio, impulsividade e agitação psicomotora.
Esse distúrbio, permanente e severamente incapacitante, associado a algum grau de deficiência mental e acometendo mais o sexo masculino, ainda é enigmático para a ciência, sem explicação convincente de sua causa e ausência de tratamento específico. Enquanto os pensadores se debatem em mil argumentos e justificativas, completamente envolvidos nas teias compactas da problemática síndrome, qual a contribuição que pode ser concedida pela ciência do Espírito?
A Doutrina Espírita ensina que somos artífices do nosso próprio destino (o acaso não existe). Quando nascemos com alguma deformidade, em verdade a mesma já existia antes em Espírito, porque a criamos dentro de nós, em determinada vivência física. Então, o Espírito é responsável por tudo que pensa e faz, pois subordinado à Lei de Causa e Efeito, divina por excelência. Se tivermos algo a expiar, a distonia arquivada, em nosso envoltório espiritual, propiciará a escolha da fita compatível e sua posterior gravação. Então, plasmamos em nosso ADN a informação codificada que trazemos em Espírito; sendo, portanto, nossas deficiências originadas de nós mesmos, nunca obra do acaso e muito menos predeterminadas por uma divindade vingativa. Somos hoje o que construímos ontem: “A cada um segundo as suas obras’’.
Ninguém nasce autista por acaso. A Justiça Divina é misericordiosa por excelência, propiciando ao infrator as benesses da retificação espiritual. Algumas teses espiritualistas relatam que o comportamento autista é decorrente do fato de o Espírito não ter aceitado sua reencarnação. O Livro dos Espíritos, na questão 355, ensina que a aliança do Espírito ao corpo não é definitiva, porquanto os laços que ao corpo o prendem são muito fracos, podendo romper-se por vontade do Espírito, se este recua diante da prova que escolheu. Portanto, o Espiritismo instrui que, nos casos de não-aceitação da reencarnação, mediante o seu livre-arbítrio, a entidade se retira e acontece um aborto, denominado, pela ciência, de espontâneo.
Os déficits cognitivos severos, associados às profundas alterações no inter-relacionamento social, caracterizam o autista, apresentando uma forma de identificação profundamente diferente, resultante do mau uso das faculdades intelectivas, em existências anteriores, errando o ser, exatamente na dissimulação das emoções, estabelecendo relações afetivas baseadas no engodo, no fingimento, para manter suas posições sociais abastadas, no campo do poder social, igualmente na sedução sexual, utilizando o disfarce, a aparência enganadora, cobrindo com uma máscara psicológica a sua verdadeira personalidade, representando uma personagem falsa, enganando os circunstantes para auferir vantagens. Quantos indivíduos, exercendo cargos religiosos, políticos, militares e policiais, sem a preocupação de ajudar o próximo, assoberbados de vantagens pessoais, preocupados apenas com o seu próprio bem-estar, apresentam-se como falsos líderes, ludibriando a muitos, mas não conseguindo enganar a si próprios.
Na Parábola dos Talentos, Jesus alude aos que usaram seus dons, atributos, sem benefício para os semelhantes e, atormentados, posteriormente, pelo remorso, refletem um sofrimento que parece não ter fim (imagem simbólica do “fogo eterno”), recebendo a sentença que ressoa nos refolhos mais íntimos da consciência: ”até o pouco que têm lhes será tirado“.
O indivíduo autista representa alguém necessitado de muita atenção, carinho e amor, vindo ao mundo físico, em uma reencarnação essencialmente expiatória, totalmente desprovido do controle de suas emoções, com prejuízo acentuado na interação social, não desenvolvendo relacionamento eficaz com seus pares, fracasso marcante no contato visual direto, na expressão facial, na postura corporal, na tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas. Está agora sujeito às consequências de seus atos impensados do pretérito. De tanto não conceder o devido respeito às pessoas e de não conceber que os seres pensam e têm sentimentos, retorna com déficit e prejuízo da empatia, com intensa dificuldade de construir vínculos, sem se sentir atraído pelas pessoas e sem interesse em tentar falar, considerando o rosto humano muito complexo e confuso, difícil de olhar. No pretérito, a todo o custo, buscava a fama, a glória, o entusiasmo dos aplausos, o ardor dos cumprimentos e abraços; hoje, com aparência desorientada devido a uma expressão sem emoção, vivencia experiências caóticas, com dificuldade imensa de estar fora do seu casulo particular, principalmente quando ouve o ruído de um grupo de pessoas, causando acentuada confusão nos seus sentidos, sem saber distinguir os estímulos e, muitas vezes, aguçada dificuldade em relação à sensibilidade tátil, sentindo-se sufocado com um simples aperto. Contudo, “Deus é Amor”, proporcionando ao Espírito imortal, diante da eternidade, a oportunidade da redenção espiritual.
Quando retornar à dimensão extrafísica, apresentar-se-á curado, sem mais o remorso lhe assenhoreando o íntimo, vivenciando a paz e agradecendo a valiosa oportunidade, dispensada a si próprio, de agora poder valorizar a utilização dos dons da comunicação e o talento do carisma, visando o bem-estar do próximo e o seu próprio crescimento espiritual. A chance de ter tido uma existência difícil, quando se entretinha, enfileirando brinquedos e objetos, particularmente, pauzinhos, caixinhas, peças coloridas para encaixe, despertou dentro de si o potencial da humildade. Captando paulatinamente as vibrações amorosas de seus pais, familiares, amigos e abnegados terapeutas, assimilando-as intensamente, a carapaça da empáfia desabou e descobriu em plenitude o amor.
Afinal, somos herdeiros do infinito e estamos ainda iniciando nossa jornada evolutiva no rumo das estrelas grandiosas e incomensuráveis do Universo.


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A mensagem acima foi copiada da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço:

domingo, 29 de janeiro de 2012

Migalhas


        A pessoa humana precisa dos recursos emocionais de afeto, de amor e compreensão.

        Desde o nascimento é isso que aguarda, quase sempre, quando se é adulto esquece-se de retribuir e continua exigindo as forças emocionais dos que lhe cercam.

        Carregamos muitas falhas na nossa composição educacional, desde o berço, porque não percebemos, na infância, manifestações sadias de afeto às pessoas. Em muitas oportunidades percebem-se críticas, apontamentos das fraquezas alheiras, revelação de defeitos...

        Existe o preconceito em reconhecer os méritos dos outros e exigimos o destaque dos nossos, mesmo sendo ínfimos, que somente nós os sabemos.

        No mecanismo do relacionamento humano não há como receber se não damos; não é possível dar alguma coisa a alguém que não possuímos.

        Sempre temos migalhas emocionais, são com elas que precisamos começar a doação, com humildade, sem alarde e consciente da pequenez.

        "Todo grande incêndio inicia-se pela faísca", com o sentimento não é diferente.

        Jesus informa que “veio trazer fogo e espera que toda a Terra se incendeie”.  É a consciência de quem realiza o bem, é a caridade que se estabelece nos corações, é o amor em ação. O que começa nas migalhas que cada pessoa pode doar ao próximo, ao serviço social, ao socorro aos desvalidos, contagia a massa e transforma a sociedade em ambiente de paz. Todos precisam; assim, todos estarão atendidos.

        Na maior parte das vezes a migalha precisa cair é dentro de casa mesmo, com os nossos mais próximos. Se não amamos os nossos amores: pai, mãe, cônjuge, filhos..., como amar os que estão fora de nossos lares.

        O cultivo da chama que Jesus noticia é diário, com estudo, meditação e prática; pode até mesmo nos causar incômodo, mas toda caridade causa algum, porque requer paciência, reconhecimento das dificuldades dos outros, suas limitações.

        As migalhas emocionais cultivadas são cumulativas e multiplicadoras ao mesmo tempo. Aqueles que auxiliam crescem e se enriquecem moralmente e materialmente amplia a sua atuação, porque o bem gera o bem, àquele que foi beneficiado espontaneamente repassa a sua migalha, porque também quer ser feliz.

        Para que o mundo se incendeie é preciso que muitas migalhas se multipliquem e se iluminem para que a luz se faça em toda parte. E como a migalha está no coração de cada um é seu possuidor que brilha. Sem a vontade e a ação não há distribuição e melhoramento.

        Não se aguarda dos indivíduos feitos mirabolantes, mas que a sua riqueza seja espargida conscientemente.

        “O amor é a única riqueza que quanto mais se divide mais se multiplica”, assim o incêndio do amor vai tomar o Planeta, porque esses efeitos são contagiantes.

        Não existe quem não deseje o amor e tudo o que deriva dele. Não se trata aqui do amor material, carnal, sexual. Trata-se do sentimento que não se perde, não se desgasta, que deixa marca inigualável, a mesma de Jesus, a paz.

        Sejamos o combustível desse incêndio..., que significa estágio bastante elevado, porque entendemos e sabemos amar. 

Dorival da Silva

sábado, 28 de janeiro de 2012

Superioridade


      O que é superioridade espiritual?: “Quem quiser ser maior no reino dos Céus, seja aquele que serve...”

        
        Existe dificuldade para se entender o gesto que Jesus demonstrou lavando os pés dos apóstolos; significativamente se fez como o menor, pois somente os mais desclassificados daquela sociedade, os escravos, se davam a tarefa de lavar pés.

         Conquanto o gesto demonstre materialmente o que se queria ensinar era o exercício espiritual de humildade, a alma desprendida dos paradigmas canhestros do homem da Terra.  

          O gesto de servir em qualquer situação, mesmo naquela considerada menor, demonstra que o Espírito está livre das peias preconceituosas, tem clarificado as suas condições morais, seu intelecto é brilhante, sua lucidez não encontra barreiras.

“Conhecereis a verdade e ela vos libertará”, é Jesus indicando o caminho, no entanto, o homem perpetua-se preso às letras, preferindo decorar versículos, metodicamente, quando é no entendimento espiritual, que transcende o próprio “ser”, onde está a liberdade. 

           Já foi ensinado pela espiritualidade que: “existem mais pessoas presas nas suas próprias grades emocionais: preconceituosas, orgulhosas e egoístas, que os condenados nas prisões oficiais”. 

         É preciso que o grilhão absurdo de si mesmo se arrebente, se a vontade não consegue, as próprias forças Divinas existentes no cerne da alma o farão, como um parto demorado e de muitas dores.

         A teimosia, o medo da mudança, a falta de coragem para a busca em si mesmo, abafa a planta maravilhosa que quer desenvolver-se na própria alma, por isso o homem num artifício de fugir de si mesmo busca todo tipo de distração fora do seu contexto espiritual, para não perceber-se e iludir-se voluntariamente.

         As escamas, como em Saulo de Tarso -- o São Paulo --, elas existiam somente nos olhos, em nós outros as temos em todos os sentidos espirituais.

Não deixemos os fatores mundanos nos anular espiritualmente, poderemos andar mais depressa e com menos sofrimento. Certo é que o erro e as experiências infelizes também ensinam, mas há o resgate e a provação de que o mal exercitado não retornará, o que exige sacrifícios e dores dispensáveis.

Jesus promete que aliviaria os sofredores, pois que sua condição é simples, é apenas o exercício do amor e da caridade, tudo o mais estará resolvido. 

Dorival da Silva

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

E DEPOIS?

         Aproveitando ensinamento do nobre espírito Camilo, orientador espiritual do tribuno José Raul Teixeira, quando diz que sempre diante de decisão e ou atendimento de nossas vontades deveremos nos perguntar: e depois?

       O tempo que estamos vivendo é o resultado de todos os milênios de experiências da humanidade, ao mesmo tempo em que vivemos os acumulados pessoais também contamos com a nossa parcela nos somados coletivos. O geral não existiria sem as individualidades. Somos construção de nós mesmos e o caldo social do Mundo é o composto das vivências particulares. Assim nossas ações interferem no todo e a melhoria da qualidade da sociedade global depende da melhoria das partes de sua constituição.

            Diante da ciência da nossa responsabilidade para com a vida e conhecedores das consequências que advirão de nossas ações, estas que quando são positivas nos colocam numa posição favorável para a realização de propósitos nobres e a conquista da paz, mas quando são negativas nos levam a sofrimentos, desgostos, remorsos, mágoas, arrependimentos e vergonha, sendo que seremos obrigados a ressarcir o prejuízo e nos ver arrasados emocionalmente diante dos amigos e nossos entes queridos.

        Grande parte desses fatos negativos ocorre por falta de reflexão ante iniciativa, sem prever o que vem logo mais: “e depois?”.  Posso tudo? Tenho o livre-arbítrio! Eu decido... Tenho direito... Todo mundo faz... O quê que tem, é uma “vezinha” só? Ela (e) não saberia; ninguém viu! É a oportunidade de atender meu anseio, outra oportunidade igual não existe. Pensando nesses fatos comportamentais hodiernos lembrei-me de uma pequena história, como segue: “Um pai de duas crianças, sendo uma delas de seis anos a outra de nove, convidou-as para irem à matinê num circo que chegara à cidade. Ao chegarem junto à bilheteria, o pai viu um cartaz que informava: “criança até cinco anos não paga”, o pai comprou três ingressos, e o bilheteiro perguntou-lhe: qual a idade do menor, que, pela sua constituição física, parecia ter cinco, o pai disse-lhe que tinha seis anos e o bilheteiro caiu na risada, dizendo-lhe que se tivesse comprado somente dois ingressos não saberia que o menor fosse mais velho. No entanto, diante da observação das crianças, o pai redarguiu: o senhor não saberia, mas ele sabe; o que logo depois, os filhos demonstraram satisfação pela honestidade comprovada." Deflui-se que devemos tomar a decisão justa diante das coisas da vida, independentemente de serem vantajosas aos nossos interesses. O que importa é o dever cumprido; a consciência limpa.  O exemplo é a melhor escola. 

        Além da asa da inteligência temos a da moral. Como nos ensina a Espiritualidade Maior, não poderemos alçar voo sem que as asas estejam equilibradas, para planarmos na faixa vibratória própria de plenitude espiritual. 

         O trânsito enriquecedor na vida só é possível com os passos bem calculados, analisados, medindo-se os desdobramentos; o que deve começar na infância, porque a construção inicia-se pela base.

         E depois? 

Dorial da Silva

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Auditórios Sofisticados


            Em todos os tempos, os oradores mais hábeis, sempre que convidados a discursar nos auditórios que se celebrizaram por aqueles que por ali passaram, tiveram a preocupação de dar à sua palavra os tons insuperáveis da sabedoria, em formulações cultas, que produzissem impacto e admiração inicial nos seus ouvintes.
            Apelavam para as técnicas do discurso, citando personagens célebres e suas palavras, em tonalidades harmoniosas unidas à gesticulação bem estudada, de forma que pudessem produzir o desejado anelo de simpatia geral.
        Era sempre muito grande a preocupação com o estilo e a forma, sem olvido, naturalmente, do conteúdo.
            Nada obstante esses cuidados, quando as ideias não lhes eram conhecidas ou não lhes despertavam o interesse imediato, os presentes desviavam a atenção, demonstrando enfado ou desprezo pelo orador e sua mensagem.
            O caso típico desse comportamento encontra-se na apresentação do Apóstolo Paulo, no  Areópago, em Atenas.
            A presunção e a falsa cultura que predominavam entre os intelectuais gregos, distantes dos postulados éticos de muitos dos seus nobres ancestrais, apesar de leve condescendência para com o expositor malvestido, deixaram de aceitar-lhe as informações, logo que ele aprofundou-se no tema, revelando a grandeza da personalidade de Jesus.
            Empanturrados do hedonismo uns, e do cinismo filosófico outros, não dispunham de espaço mental para novas formulações em torno da vida e dos seus objetivos essenciais.
            O tédio e a futilidade dominavam-lhes o comportamento, reservando a Inteligência para os sofismas, silogismos e debates intermináveis quão inúteis, em que se exibiam, cada qual pretendendo ser mais hábil e profundo conhecedor  do que o outro.
            Perderam, pela vã filosofia, extraordinária oportunidade de travar  contato com o Nazareno que desprezaram, porque ele ressuscitara, o que lhes parecia mitológico, absurdo, insensato...
            Antes havia sido Estêvão que, obrigado a defender-se das acrimoniosas e injustas acusações a respeito do seu ministério na Casa do Caminho, viu-se agredido fisicamente por Saulo, o arrogante doutor da Lei, que lhe não participava das ideias, porque aferrado ao Judaísmo decadente.
            Entre apupos e vociferações de toda ordem, o jovem cristão enfrentou os tiranos sem disfarçar a nobreza dos postulados que abraçava, abordando com lógica irretorquível as lições libertadoras de Jesus, por aquele mesmo sodalício condenado à morte pouco antes, porque se não submetera às suas tricas e objurgatórias.
            A simplicidade e profundeza dos conceitos emitidos irritavam os opositores que, incapazes de debater no campo das ideias, apelavam para a desordem e a força, em vãs tentativas de intimidar o apóstolo preparado para o martírio.
            Ainda hoje encontram-se no mundo os grandiosos auditórios onde desfilam as vaidades e multiplicam-se os déspotas disfarçados de portadores do conhecimento e formadores de opiniões.
            Normalmente asfixiados pelo soez materialismo ou pelo daninho fanatismo religioso, consideram-se os únicos pensadores capazes de traçar comportamentos culturais para os demais, situando-se acima daqueles que não compartem as suas opiniões. E aureolando-se dos louros da vitória em simulacro de parceiros das musas e dos deuses do Olimpo da cultura.
            Parecem impassíveis às propostas de desenvolvimento intecto-moral fora das suas escolas de pensamento e de fé, combatendo com acrimônia tudo e todos que se proponham a melhorar a situação espiritual da sociedade.
            Suas tribunas e cátedras estão sempre reservadas aos pares, àqueles que são portadores dos títulos lisonjeiros que se permutam na disputa do estrelado magnífico da exaltação do ego.
            Não que sejam escassos aqueloutros que, igualmente portadores dos louvores dos centos de cultura e de ciência, estão abertos a novas reflexões e análises do que ignoram, abraçando os resultados defluentes da investigação que se permitem afanosamente, de imediato transmitidos aos demais.
            São esses verdadeiros estoicos da abnegação e da coragem que mantêm acesa a claridade do conhecimento livre, que se reconhecem como aprendizes da Vida, sempre crescendo no rumo da plenitude intelectual, sem a perda dos elevados compromissos éticos indispensáveis à existência enobrecida.
            Diante dos paradoxos de tal natureza, torna-se imprescindível a todo aquele que divulga as incomparáveis lições em torno da imortalidade da alma não temer a presunção e o fastio da falsa e dourada cultura, usando cátedras, tribunas ou os singelos recintos de edificação espiritual, qual o fizeram a princípio, Estêvão na Casa do Caminho e Paulo nas mais diversas situações, inclusive na Domus Aurea, em Roma, diante da truculência de Nero, cirurgiando os tumores malignos da hipocrisia e da promiscuidade, enquanto aplicava o mercúrio cromo para a cura desses males, em forma da mensagem de Jesus.
            Provavelmente, os untuosos dominadores mundanos rejeitarão a partitura musical da inolvidável Palavra, mas nunca se olvidarão desses momentos sinfônicos em que a escutaram, apesar dos ouvidos entorpecidos pela mentira e a mente atribulada pelos interesses subalternos.
            Nunca preocupar-se em demasia, portanto, todo aquele que se dispõe a elucidar a ignorância e disseminar a verdade em nome de Jesus, especialmente através do Espiritismo, com os cultores da Inteligência trabalhada pelo academicismo tradicional, mais preocupado em dar brilho ao conhecimento, colocando os seus iluminados distante das necessidades humanas, que alguns se recusam atender.
            As tribunas clássicas dos debates culturais vêm sendo corroídas pelo tempo, que lhes tem imposto novos comportamentos, enquanto os exemplos daqueles que usam a palavra na construção e manutenção da ética da solidariedade e do amor permanecem solucionando os graves problemas que afligem a sociedade.
            A palavra espírita é simples e desataviada, tendo como escopo conduzir as mentes e os sentimentos às esferas da harmonia mediante a razão e o discernimento, porque totalmente livre de adereços e dependências do status quo.
            Ela é destinada a todos os indivíduos que se encontram na Terra, sejam eles intelectuais ou modestos cultivadores do solo, administradores poderosos ou mendigos, exemplos de saúde ou enfermos, possuidores de riquezas materiais ou despojados de todos os bens, qual ocorreu com os ensinamentos de Jesus que foram direcionados para todos os biótipos humanos. Entretanto, não será ouvida pelos discutidores inveterados, pelos que se encontram empanturrados de presunção e se acreditam bem situados nos acolchoados da inutilidade.
            Verberando o erro e orientando a conduta saudável, a Mensagem deve chegar aos ouvidos das necessidades como brisa perfumada em plena primavera, que impregna e nunca mais desaparece.
            Em qualquer lugar, portanto, seja a nobre sala das conferências, o modesto recinto da Casa Espírita, o santuário da Natureza, o confortável areópago das grandes cidades, o contanto com o transeunte, o verbo eloquente e abençoado poderá atender os transeuntes carnais, para os quais os Espíritos nobres elaboraram, com Allan Kardec, a Codificação.

Vianna de Carvalho
(Página psicografa pelo médium Divaldo Pereira Franco,
 no dia 10 de junho de 2011, no G-19, em Zurique, Suíça.) –
Extraída da revista REFORMADOR, da FEB, nº 2.193,
  dezembro de 2011.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Chamamento


            Os Céus nos chamam para a felicidade. Quantos ouvem? Esse chamar tem voz?

            Sempre esperamos que atraiam nossa atenção aos berros, nos despertem aos safanões, mesmo para que cumpramos nossas obrigações.

            Temos dificuldade, resguardadas as exceções, de cumprir com as coisas do cotidiano, simples, tais como: pagar voluntariamente os impostos, paga-se porque a lei exige e tem multa, então somos coagidos a cumprir a nossa obrigação. Chegar no horário compromissado...

            O chamamento dos Céus, que não é material e está na própria intimidade do “ser” exige melhor ouvido de cada um, é o do sentimento. Precisa-se de calma, serenidade, meditação e ação no bem, a tão decantada caridade, que poucos a entendem.

            Este processo para o homem comum em ascensão é custoso. É uma espécie de apequenamento de suas ambições materiais. Contrariando o seu gosto de vangloriar suas conquistas. O que exercitou enormemente na esteira do tempo.

            Agora é época de silenciar as vaidades, o que demanda força hercúlea, gera conflito aterrador: o orgulho e o egoísmo versus o dever e a obrigação, mediados pela consciência, que ora parece estar dormindo ora despertando, porque a lucidez espiritual é conquista de muitos esforços, ninguém a tem plenamente de imediato.

            Essa transformação do homem “terra a terra” em espiritualizado pede tempo e muitas lutas, não contra os outros, mas consigo mesmo, aí estão às necessidades e as soluções.

            Na antiguidade havia um ensinamento: “conheça-te a ti mesmo”, àqueles que entenderam essa mensagem e a aplicaram em sua vida estão a anos-luz dos que ainda acham que são os donos do mundo.

            O grande facilitador para esse despertar é o esquecimento do passado, no mecanismo da reencarnação, somente assim temeremos menos a nós mesmos e poderemos levantar a cortina do tempo lentamente e acostumarmos com a complexidade da própria individualidade, para que não soframos impacto enlouquecedor, sendo isto totalmente indesejável e improdutivo para os interesses espirituais. A finalidade da vida física é auxiliar o ser pensante alcançar a lucidez espiritual, aproximando-se do Criador, trilhando o caminho do mérito, a conquista do aprimoramento de si mesmo.

            Quando se diz: a Natureza não dá saltos, precisamos entender que se fala da justiça de verdade, que não se verga a interesses particulares, como é vício no homem; ainda o privilégio, a facilidade, o conforto, nem sempre calcado no mérito.

            Salvação Divina não se dá fora do Espírito, é um eclodir em si mesmo. Conquanto as ferramentas sejam as mãos no trabalho da caridade entendida e que representa o desabrochar da divindade que está adormecida na profundidade do “ser”, herança do Criador na criatura, aguardando quando a ambiência espiritual estiver adequada para isso e se dá num parto lendo. 

Dorival da Silva