quinta-feira, 3 de abril de 2014

O homem e a religião


EURÍPEDES KUHL
euripedes.kuhl@terra.com.br
Ribeirão Preto, SP (Brasil)

 


 
Eurípedes Kühl

O homem e a religião
Parte 1

 
 
Trarei para os leitores neste texto alguns respingos históricos sobre o Espiritismo. Antes, farei uma rápida reflexão sobre como e quando se iniciou o sentimento religioso na humanidade, até chegarmos à Codificação da Doutrina dos Espíritos, por Allan Kardec, no século XIX. 
8.000 a.C. – Supõem os historiadores, sem condições de confirmá-lo, que a crença no poder celestial teria surgido por volta do ano 8.000 a.C. A cada fenômeno da natureza criava-se um deus – via de regra autoritário (poder absoluto...), exigente (holocaustos...) e vingativo (causador até de mortes...). Igualmente, a cada atividade humana; depois, até mesmo os animais passaram a ser endeusados, sempre em linguagem simbólica.
Por séculos e séculos a humanidade viveu sob o politeísmo original, comandada por aqueles “deuses”, os quais seriam os responsáveis por tudo o que acontecia no mundo de então:
Deuses da natureza, um para cada um dos fenômenos geológicos, tais como:
– o raio, o relâmpago, o trovão, a chuva, o vento, o vulcão, inundações, terremotos etc.
Deuses dos atos humanos, de ação individualizada também, para:
– a caça, a pesca, a plantação, a colheita, a guerra, a cura de doenças, o nascimento, a morte etc.
Mais deuses, sempre individuais, para os animais:
– a íbis, o crocodilo, o gato, o boi etc.
Com o tempo, acoplando a data e a hora do nascimento à posição das estrelas, estabeleceu-se o horóscopo, dividindo-se a trajetória aparente do Sol em doze partes, cada uma com 30°. No horóscopo, o interesse pelo futuro era (como ainda é) estritamente individual. 
Os Profetas – Depois, vieram os Profetas... Sobrepuseram eles, às diversas crenças, a comunicação direta com Deus, segundo acreditavam. As profecias, todas, visavam ao bem coletivo.
A seguir, Espíritos missionários aportaram no planeta, com a incumbência de fundarem as religiões, que se reportariam (como se reportaram) ao estágio evolutivo de cada época. Todos esses Espíritos, sem exceção, trouxeram luzes para o futuro dos povos de então.
Focalizando agora nosso olhar na história das religiões, iremos sempre encontrar uma hierarquia social, induzindo os adeptos (promovidos a fiéis) – o povo, a rigor – à disciplina e submissão às classes dominantes. Isso, desde os imemoriais tempos do Egito, da Babilônia (país da Ásia antiga), Assíria e Roma.  Assim, unindo equivocadamente o Céu à Terra, muitos fiéis, desde há muito tempo, creem poder alcançar bens individuais em troca de sacrifícios, oferendas ou promessas outras. 
Jesus – O Cristo (ungido) de Deus, inegavelmente o maior de todos os missionários, legou à Humanidade o tesouro da Fé, por ter sido aquele que mais concedeu o Amor, de todos os tempos. Falou ao mundo do Reino de Deus, intangível e intocável na crença dos povos de então, arrastando milhões e milhões de Espíritos ao patamar em que reside a Esperança. Suas palavras, de duração eterna, tiveram, têm e terão o inigualável efeito de iluminar trevas externas e internas da mente. Necessário, apenas, ter “olhos para ver” e “ouvidos para ouvir”. Não criou nenhuma religião. Não deixou dogmas. A moral cristã, da primeira à última instância, fundamenta-se na Lei do Amor – amor a Deus e ao próximo. Por isso, acredito que Jesus é a maior de todas as incontáveis benesses que Deus, desde sempre, dispensa à humanidade inteira.
Darei agora rápido mergulho no passado da civilização, com o olhar voltado para o surgimento das religiões. Meu objetivo é chegar ao Espiritismo, caracterizando-o e às suas não poucas diferenças com o Candomblé e a Umbanda. Respeitáveis os três. Mas diferentes entre si! 
As Religiões – Vejamos o que a História registrou e o mundo de hoje nos mostra, quanto à relação criatura-Criador, filho-Pai, homem-Deus:
Judaísmo: Fundado no Oriente Médio pelo patriarca Abraão, por volta do séc. XVII a.C. O legislador de Israel foi Moisés. Para os judeus a Bíblia é formada unicamente pelos livros hebraicos e corresponde essencialmente ao Antigo Testamento dos cristãos. O judaísmo se fortaleceu ainda mais com a criação do Estado de Israel, em 1948. Possui fortes características étnicas, nas quais nação e religião se mesclam. O judaísmo é reconhecido como a primeira religião monoteísta da humanidade e cronologicamente a primeira das três religiões oriundas de Abraão, com o cristianismo e o islamismo. Adeptos: cerca de 14,8 milhões.
Hinduísmo (Bramanismo): Principal religião da Índia. Caracteriza-se pelo sistema de castas. Sucedeu ao vedismo (religião primitiva conhecida por quatro coleções de hinos – os Vedas –, entre 1.400 a.C. e o séc. VII a.C.). Reconhece a autoridade dos Vedas. O ser humano está sujeito ao sansara (sucessão de vidas e renascimento), regido pela lei do karma (ação e reação de toda ação, boa ou má). Posteriormente, incorporou o ideal de renúncia do budismo. Adeptos: 949 milhões.
Confucionismo: Data do séc. V a.C. Foi uma tentativa de estabelecer regras de comportamento, numa agitada época do mundo chinês, onde vários principados se destruíam mutuamente. Respeito aos mais velhos, amor ao trabalho bem executado, moral severa – eis os traços do Confucionismo. Adeptos: cerca de 8,1 milhões.
Budismo: Religião nascida na Ásia, fundada pelo príncipe hindu Sidarta Gautama, o Buda (560 e 480 a.C.).  Ensinamentos: tudo é transitório; a realidade é mutável; não existe nada em nós de realidade metafísica, nada de indestrutível. O ser está submetido ao ciclo de nascimentos e mortes, enquanto a consequência da ação (karma) não for interrompida. A existência está sujeita ao infortúnio, que se manifesta pelo sofrimento, doença e morte. Tem por ideal a renúncia. É na Ásia que se concentra a maioria dos seus adeptos (cerca de 494,9 milhões).
Xintoísmo: Religião do Japão, na qual os deuses são a personificação das forças naturais e os espíritos dos antepassados são igualmente considerados como deuses. A partir do séc. VI os budistas anexaram as divindades xintoístas ao seu panteão e pouco a pouco se formou um sincretismo. No séc. XVII novas seitas xintoístas recusaram qualquer compromisso com religiões estrangeiras. No séc. XIX tornou-se uma espécie de religião do Estado (adoração do imperador-deus). Adeptos: 2,7 milhões.
Cristianismo: Conjunto das religiões organizadas com base na pessoa de Jesus Cristo e nos escritos que relatam suas palavras e seus pensamentos. O Cristianismo, nascido na Judeia e difundido inicialmente no Oriente, foi pregado no mundo mediterrâneo pelos Apóstolos, depois da morte de Jesus. O Cristianismo, em sua origem uma seita surgida do judaísmo, afirma-se como religião revelada,  isto é, de origem divina, mas com a particularidade de que Jesus, seu fundador, não era um simples intermediário entre Deus e a humanidade, mas o próprio Deus.
São 2,3 bilhões de cristãos no planeta. Assim, o Cristianismo é a religião que conta com o maior número de fiéis no mundo. No decorrer da história, o Cristianismo dividiu-se em três correntes principais: Igreja Católica, Protestantismo e Igreja Ortodoxa, além de outras linhas como a Igreja Anglicana e os credos chamados de “cristianismo de fronteira” (grupos que estão na intersecção entre o Cristianismo e outra doutrina, como por exemplo, a Igreja Adventista, Mórmons e Testemunhas de Jeová).
Islamismo: Religião e civilização dos mulçumanos, fundada por Maomé, tendo surgido no séc. VII, na península arábica, é a última das religiões monoteístas. Maomé recebeu de Deus a revelação corânica [O Corão ou Alcorão e o hadith (tradição do Profeta) formam a tradição, verdadeira constituição que serve de modelo imperativo para os mulçumanos]. Não existe um clero mulçumano. Dogma principal do Islã: a existência de Deus (Alá), ser supremo único, infinitamente perfeito, criador do universo e juiz soberano dos homens. Para os mulçumanos, Maomé é o enviado de Alá. Adeptos: 1,5 bilhão.
Religiões populares chinesas: Crenças e práticas que podem incluir divindades locais e elementos budistas, confucionistas e taoistas. Adeptos: 434,6 milhões.
Animismo e Xamanismo: Crença de que tudo o que existe – seres vivos, objetos inanimados, lugares e até fenômenos naturais – tem alma. Adeptos: 242,5 milhões.
Siquismo: Religião monoteísta criada no século XV, na Índia. Surge como uma dissidência do Hinduísmo. Adeptos: 24 milhões.
Há no mundo os que não seguem nenhuma religião: perfazem eles cerca de 813 milhões de pessoas. Quanto ao ateísmo – doutrina que nega a existência de qualquer divindade e dispensa a ideia de uma justificativa divina para a vida – seus adeptos somam 136,6 milhões. Um dos argumentos utilizados pelos ateus para sustentar sua posição é a suposta incompatibilidade da coexistência de Deus e do sofrimento humano.(1) 
Organização da Terra – Como assinalei anteriormente nestes meus comentários, de tempos em tempos aportam no planeta Espíritos missionários, com a tarefa específica de erigir colunas mestras da religação do homem a Deus. Todos, sem exceção, esclarecem que o comportamento humano – bom ou mau – terá sempre como resultante, respectivamente, aproximação ou afastamento da felicidade. Invariavelmente esses tarefeiros do Bem, prepostos de Jesus – tanto os que vieram antes quanto depois d’Ele – empunharam a bandeira do amor a Deus e ao próximo como principal via de acesso ao Reino Celestial.
Jesus, falando a um povo seguidor da religião dogmática da recuada época em que o Império Romano era o “dono do mundo”, não poderia dizer a esse povo coisas que naquele tempo não fariam sentido. Exemplos? Vejamos alguns. Antes, lembremo-nos do registro sobre o Mestre dos mestres feito pelo Espírito Emmanuel em “A Caminho da Luz”, Cap. I, p.17/18, 13ª Ed., 1985, FEB, RJ/RJ: Jesus participou da organização da Terra, desde quando o planeta ainda não existia. Com efeito, a Terra, há cerca de 4,5 bilhões de anos, nasceu de uma nuvem solar. De início não tinha forma regular. À proporção que atraiu maior quantidade de matéria, começou a tomar a forma esférica.
Isto posto, é de se perguntar:
– Será que Jesus, quando aqui esteve, encarnado, desconhecia a existência do continente americano, que só seria descoberto dali a 15 séculos, passando a ser lar de milhões de Espíritos? (2)
– A imprensa, a eletricidade, a aeronáutica, a eletrônica, a energia atômica, a informática, a biogenética e tantos outros avanços científicos: eram ou seriam desconhecidos de Jesus?...
De forma alguma! Todas essas questões, necessariamente, eram do conhecimento do Cristo. Mas como anunciá-las àquela época e àquele povo? Como? E quanto ao Espiritismo?
Com a previsibilidade própria de quem, do alto, descortina a paisagem à sua frente (o futuro), Jesus noticiou sim sobre o Espiritismo, por ele pedagogicamente denominado e avalizado como o futuro “consolador”, segundo João registrou (14:15,16,17 e 26).
No tempo (século XIX) e lugar (França) adequados, surge Allan Kardec, pseudônimo adotado por Hippolyte Léon Denizard Rivail, eminente pedagogo que não desejava fazer prevalecer a força de seu nome sobre o conteúdo da obra que lançava a público, fruto de uma meticulosa codificação das informações vindas dos Espíritos: sendo o primeiro, “O Livro dos Espíritos”, pedra fundamental da Doutrina dos Espíritos – seguido das outras obras.
O Espiritismo demonstra o Amor de Deus com a lógica irretorquível da reencarnação e da Lei Divina de Ação e Reação: sofrimentos, hoje, são frutos amargos de equivocada plantação, ontem. Aí, o sofredor compreende a razão do sofrer. E mais: sabendo-se em temporário resgate, consola-se e parte para reconstrução moral. Tal o aspecto consolador da Doutrina dos Espíritos!
Com Kardec cumpriu-se a previsão-promessa do Cristo! “O Consolador” aportou no plano terreno. Com efeito, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no sexto capítulo – O Cristo Consolador –, item 3, encontramos: “O Espiritismo vem, no tempo previsto, realizar a promessa do Cristo e o Espírito da Verdade preside ao seu estabelecimento”.
 Em “O Que é o Espiritismo” (no “Preâmbulo”) Allan Kardec definiu o Espiritismo e comentou:
– O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal;
– (...) o Espiritismo é, ao mesmo tempo, ciência de observação e doutrina filosófica. Como ciência prática, tem a sua essência nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações;
Na “Revista Espírita” de dezembro/1868, num longo discurso de abertura sobre o tema “O Espiritismo é uma religião?”, Allan Kardec explanou sua opinião, da qual pinçamos pequenas notas, extraídas das páginas 358 e 359:
– o Espiritismo não pode ser considerado “religião”, por não ter culto, casta sacerdotal, cerimônias e privilégios; todavia há nele o sentido nitidamente religioso quando estabelece um laço moral entre os homens, quando os une, como consequência da comunidade de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas.
Em “Obras Póstumas” (no capítulo “Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo”) anotou:
– o Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos (...) vai às bases de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo sacerdote.
Apenas por essas premissas já se vê como o Espiritismo não pode ser confundido com quaisquer outras correntes religiosas, conquanto todas as religiões (Judaísmo, Catolicismo, Confucionismo, Protestantismo, Teosofismo, Esoterismo, Budismo, Bramanismo etc.) sejam espiritualistas, isto é, aceitam a imortalidade do Espírito e a existência de Deus. Também não pode ser confundido nem mesmo entre aquelas que: a.) aceitam a reencarnação; b.) em suas práticas, marcadas pelo sincretismo, exercitam o mediunismo.
Tão logo o Brasil foi descoberto iniciou-se sua colonização. No caso, “colonizar” significou a vinda de portugueses, mandatários. E como quem manda precisa de quem obedeça, Portugal sequer pensou duas vezes: por três séculos providenciou a criminosa importação de “obedientes” criaturas, buscadas à força, na África.  Está em “Estatísticas Históricas do Brasil”/IBGE: vieram para o Brasil 4.009.400 escravos, entre 1531 a 1855.  Estarrecedor! (Continua na próxima edição desta revista.)
              Notas: 

(1) Os números de adeptos das diferentes religiões, com dados de 2010, foram extraídos do ALMANAQUE ABRIL-2013, p.130, Ano 39, Editora Abril, SP/SP; à p. 132 consta o número de espíritas no Brasil: 3.848.876, segundo o Censo Demográfico 2010/IBGE. 

(2) Nas Américas, hoje, estão cerca de 948,3 milhões de Espíritos encarnados (dados à p. 344 do ALMANAQUE ABRIL, já citado).
 
Extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço:
              http://www.oconsolador.com.br/ano7/354/especial.html

 

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Eurípedes Kühl

O homem e a religião
Parte 2 e final

 
 
Em face do poder da Igreja Católica, representantes das suas várias ordens religiosas vieram de Portugal, com a missão “oficial” de dar assistência religiosa aos colonizadores, além de catequizar e “salvar” os índios. Mas, aventureiros europeus, por vezes também em caráter oficial, para aqui vieram, com interesses...
Não é difícil depreender que no Brasil-criança passaram a conviver criaturas de costumes e sentimentos religiosos diferentes. E não só diferentes: conflitantes...  O caldeamento de raças foi inevitável...
Assim, durante e por cerca dos três primeiros séculos da nossa história, conviveram aqui no Brasil:
- colonizadores europeus (não apenas portugueses, mas também franceses, holandeses, espanhóis);
- padres (de várias ordens religiosas);
- indígenas (de várias tribos) e
- escravos africanos (de várias partes do grande continente).
Detentores do poder, os europeus impuseram sua religião (o Catolicismo) e isso explica porque o Brasil ainda hoje é majoritariamente um país católico.
Lendo sobre o Censo 2002 na Internet, no item “Religiões”, deparei-me com a informação de que nos censos do Brasil-colônia, todos os escravos africanos eram tidos como “católicos”.
Os escravos (bantos, sudaneses, nagôs e iorubanos) que mais tempo conviveram com seus senhores, à força assistiam e participavam dos cultos católicos, imposição gerando obediência... Mas tal obediência era por obrigação, não professavam aquela crença por devoção, já que na intimidade da senzala, às ocultas, é que extravasavam sua fé... E ali, o mediunismo, entre eles, era um antigo e singelo exercício espiritual aprendido e praticado desde os tempos na terra-mãe, agora lhes aliviando a cruel realidade — a escravidão. 
O Brasil-candomblé – Por acomodação parcial, a pouco e pouco os rituais, sacramentos, paramentos, imagens, altares etc. do Catolicismo foram agregados ao seu culto, porém sob roupagem própria, adequada, isto é, africana. Essa, a origem do chamado Brasil-candomblé.
Com a abolição da escravatura e com a liberdade constitucional de credo religioso, parte das pessoas que se identificavam com o Candomblé, no início do séc. XX, sem deixar parte dos seus fundamentos, a ele incorporaram novas práticas. Muitas dessas pessoas, tomando conhecimento da obra de Allan Kardec, passaram a frequentar Centros Espíritas, então emergentes no Brasil. Dentre esses, logo porém, houve quem se desligasse, indo fundar uma religião, agora, genuinamente brasileira: a Umbanda. E em 1941, no Rio de Janeiro, realizou-se o Primeiro Congresso Umbandista, visando estruturar uma prática religiosa já de trinta anos. Ali foram delimitados os elementos de cujo sincretismo surgiu a Umbanda nas suas diversas apresentações, sendo o imediatismo (a possibilidade do crente resolver seus problemas em curto prazo) uma delas.
O desligamento que citei talvez tenha decorrido da dificuldade ou desinteresse em seguir as recomendações espíritas de estudo permanente, mudança de comportamento (melhoria moral), ausência de quaisquer rituais, adereços, hierarquia, promessas etc. Mas, principalmente, porque o Espiritismo não se aplica a resolver problemas materiais, senão sim, educar, esclarecer e fortalecer ao Espírito, para que ele se renove e, apoiado na fé em Deus, cujo amparo é permanente, encontre, ele próprio, a buscada solução. 
Práticas estranhas ao Espiritismo – Fiel a Kardec, a Federação Espírita Brasileira, em reunião do Conselho Federativo Nacional de 02/05/1953 (Espiritismo Prático, Pedro F.Barbosa, p. 13 e 14, 4ª Ed., 1995, FEB, RJ/RJ), recomenda aos Centros Espíritas, para a prática espírita e em suas reuniões, a total ausência de:
- paramentos, ou quaisquer vestes especiais;
- vinho, ou qualquer bebida alcoólica;
- incenso, mirra, fumo, ou substâncias outras que produzam fumaça;
- altares, imagens, andores, velas e quaisquer objetos materiais como auxiliares de atração do público;
- hinos ou cantos em línguas mortas ou exóticas, só os admitindo, na língua do país, exclusivamente em reuniões festivas realizadas pela infância e pela juventude e em sessões ditas de efeitos físicos;
- danças, procissões e atos análogos;
- atender a interesses materiais terra-a-terra, rasteiros ou mundanos;
- pagamento por toda e qualquer graça conseguida para o próximo;
- talismãs, amuletos, orações miraculosas, bentinhos, escapulários ou quaisquer objetos e coisas semelhantes;
- administração de sacramentos, concessão de indulgências, distribuição de títulos nobiliárquicos;
- confeccionar horóscopos, exercer a cartomancia, a quiromancia, a astromancia e outras “mancias”;
- rituais e encenações extravagantes de modo a impressionar o público;
- termos exóticos ou excêntricos para a designação de seres e coisas;
- fazer promessas e despachos, riscar cruzes e pontos, praticar, enfim, a longa série de atos materiais oriundos das velhas e primitivas concepções religiosas.
A partir dessas recomendações, que nos reportam a práticas contrárias à Doutrina Espírita, entendemos quanto a Umbanda e o Candomblé – religiões espiritualistas e praticantes do mediunismo – diferem substancialmente do Espiritismo.
E mais: no Candomblé há sacrifício de animais. Na Umbanda, não: ela contempla os banhos de ervas e orações. Por tudo isso bem se vê que, embora espiritualistas, Candomblé e Umbanda não podem ser consideradas espíritas. E isso sem qualquer demérito, pois o Espiritismo – doutrina dos Espíritos – enaltece o livre-arbítrio, respeita e considera a autonomia de todas as religiões, jamais se julgando superior a qualquer delas. 
Metapsíquica e Parapsicologia – Estabelecidas as bases fundamentais que diferenciam o Espiritismo das sempre respeitáveis religiões do Candomblé e da Umbanda (como assinalei), passarei de agora em diante a caracterizar a Doutrina dos Espíritos. Antes, porém, permitam-me os leitores, se faz necessária uma pequena exposição sobre outras duas correntes “quase” religiosas do pensamento humano, as quais, de alguma forma, se aproximam do Espiritismo. Refiro-me à Metapsíquica e à Parapsicologia. Os leitores certamente hão de compreender que o espaço me induz à síntese, motivo pelo qual, em linhas gerais, referentes a ambas, apenas registro que:
a. Metapsíquica
- fundada por Charles Robert Richet (1850-1935), notável cientista francês, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina/1913 (Fisiologia). Visava à pesquisa e análise científica dos fenômenos mecânicos ou psicológicos de todos os tempos, ditos paranormais (mediunidade), devidos a forças que parecem ser inteligentes ou a poderes desconhecidos latentes na inteligência humana;
- assim, metapsíquica não é Espiritismo — é ciência puramente investigativa;
- o termo metapsíquica não foi bem aceito pelos pesquisadores; hoje, quase não é mais usado.
b. Parapsicologia
- impulsionada por Joseph Banks Rhine (1895-1980), teólogo e cientista norte-americano, que a atrelou ao campo das ciências e particularmente à Psicologia;
- dedicou-se Rhine, em particular, ao estudo do transe anímico na telepatia e na clarividência; pesquisou a “ESP” (extra sensory perception = percepção extrassensorial), termo que criou em 1935 e que é mundialmente empregado nos tratados sobre Parapsicologia;
- o termo parapsicologia é mais usado nos países anglo-saxônicos e germânicos;
- talvez seja possível dizer que a Parapsicologia procede como a Metapsíquica, sendo-lhe herdeira em vários aspectos.
c. Considerações gerais sobre a Metapsíquica e a Parapsicologia
- tanto uma quanto a outra, enquanto Ciência, seguiram os mesmos passos de todas as demais ciências, isto é, buscaram pelo método experimental definir leis de acontecimentos que observaram na natureza;
- deixaram de ser exponenciais porque o cientista só aceita um fenômeno como verdadeiro se puder explicá-lo e reproduzi-lo, desde que ofertadas as mesmas condições ambientais em que ele se deu — não conseguiram...
- surgiu-lhes intransponível barreira pelo fato de que a maioria dos fenômenos analisados caracterizam-se como mediúnicos, isto é, têm origem no Plano Espiritual (ação de Espíritos desencarnados), com manifestação no plano material, por meio da intermediação de médiuns (Espíritos encarnados). Ora, ação espiritual é algo que a ciência não consegue manipular numa proveta...
A mim, espírita, o que me causa pena é verificar que tais pesquisadores (poucos, hoje em dia) não se deram ou não se dão conta de que, na verdade, apenas se apropriaram de termos científicos para substituir a nomenclatura tão bem delineada, pioneiramente, por Allan Kardec. E mais: somente encontrarão o que procuram quando, com bom senso, se convencerem da impotência humana para explicar in vitro aquelas ocorrências que se originam in spiritus.  Aí, sem abandonar seus cuidados, irão ao humilde Centro Espírita, onde poderão verificar que ali há outra espécie de laboratório, ofertando novos aprendizados, àqueles que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir. 
O Espiritismo – Passo agora a falar plenamente do Espiritismo, cujos códigos de moral, de ciência e de filosofia foram tão bem estruturados por Allan Kardec, em cinco obras: “O Livro dos Espíritos”/1857, “O Livro dos Médiuns”/1861, “O Evangelho segundo o Espiritismo”/1864, “O Céu e o Inferno”/1865 e “A Gênese”/1868.
Nós, espíritas, certamente devemos gratidão ao fenomenal trabalho kardequiano em estabelecer contato com médiuns de vários países, para deles receber as lições do Plano Espiritual, as quais eram meticulosamente filtradas e selecionadas, gerando a Codificação. Por isso é que se diz que Kardec codificou o Espiritismo. Tais mensagens foram os tijolos, com os quais o “grande edifício” Espiritismo foi erguido, qual farol, para permanentemente clarear caminhos.
Kardec era pedagogo por excelência, comprovando-se que o acaso não existe, eis que tão importante cometimento teria mesmo que aportar no plano material via uma inteligência invulgar, fluindo de inspiração celestial. E apenas com cinco livros! (Atualmente, a Literatura Espírita já editou cerca de dez mil títulos – sendo cerca de 412 via Chico Xavier e 202, por intermédio de Divaldo Pereira Franco, além de vários outros médiuns e escritores.)
Para melhor entendermos o conteúdo moral (revelações e ensinos) da Doutrina dos Espíritos — o Espiritismo —, nada melhor do que alinhavar suas premissas e abrangência. Em primeiro lugar, não como definição, mas apenas conceituando-o, podemos dizer que:
“O Espiritismo é o conjunto de princípios e leis, revelados pelos Espíritos Superiores, contidos nas obras de Allan Kardec, constituindo tais obras o que se denomina Codificação Espírita”.
Uma vez conceituado, genericamente, vejamos suas particularidades morais:
Revelação – Revela o que somos, de onde viemos, para onde vamos, qual o objetivo da nossa existência e qual a justificada razão da dor e do sofrimento. E oferta à análise e reflexão, expondo consequências, conceitos novos e mais aprofundados a respeito de Deus, do Universo, dos Homens, dos Espíritos e das Leis que regem a vida. 
Ensinamentos – Deus (em primeiríssimo lugar das considerações) é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. É eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
E mais:
- o Universo: é criação de Deus. Abrange todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais;
- Leis Divinas: todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o seu autor. Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais; são inalteráveis, perfeitas, imutáveis no Universo todo;
- os mundos: além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados;
- Jesus: é o guia e modelo para toda a Humanidade — a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus;
- a moral do Cristo, contida no Evangelho, é o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela Humanidade;
- evolução: no Universo há outros mundos habitados, com seres de diferentes graus de evolução: iguais, mais evoluídos e menos evoluídos que os homens;
- os Espíritos: são os seres inteligentes da criação. Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo:
a. são criados simples e ignorantes, como já citei (questão 115 de “O Livro dos Espíritos). Evoluem intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade;
b. preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada encarnação;
c. reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento;
d. evoluem sempre: em suas múltiplas existências corpóreas (reencarnações) podem estacionar, mas nunca regridem; a rapidez do seu progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição;
e. os bons Espíritos nos atraem para o bem, sustentam-nos nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os imperfeitos nos induzem ao erro;
- o perispírito: é o corpo semimaterial que reveste o Espírito e une-o ao corpo material;
- o homem: é um Espírito (revestido de perispírito) encarnado em um corpo material:
a. tem o livre-arbítrio para agir, mas responde pelas consequências de suas ações;
b. a vida lhe reserva penas e gozos compatíveis com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus (Lei de Justiça, nesse caso caracterizando causa e efeito, ação e reação);
- a prece: é um ato de adoração a Deus. Torna melhor o homem. Está na lei natural e é o resultado de um sentimento inato no homem, assim como é inata a ideia da existência do Criador. Ao pedido feito com sinceridade Deus envia sempre a assistência dos bons Espíritos;
- mediunidade: o intercâmbio dos Espíritos com os homens sempre existiu.
Apenas por essas revelações e ensinamentos já se deduz que o Espiritismo abre uma nova era para a regeneração, primeiro, de uma minoria, mas, a seguir, da Humanidade inteira.
Há muito mais. O estudo das obras de Allan Kardec é fundamental para o correto conhecimento e a prática da Doutrina Espírita, dentro do princípio cristão de que Deus deve ser adorado em espírito e verdade. 
Conclusão – O Espiritismo não impõe os seus princípios e respeita, incondicionalmente, todas as religiões e seus adeptos.
Convida os interessados em conhecê-lo a submeterem os seus ensinos ao crivo da razão, antes de aceitá-los. Aí, entendendo o porquê de tudo que o cerca, em todas as suas atividades, o indivíduo se capacita a administrar com bom senso, compreensão e resignação as naturais dificuldades que se lhe apresentam – as provações ou expiações que o visitam na presente existência terrena. 

Extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano7/355/especial.html

 

quarta-feira, 26 de março de 2014

Como sofres?


Como sofres?


“Mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte.” - Pedro. (I Pedro, 4:16.)

Não basta sofrer simplesmente para ascender à glória espiritual. Indispensável é saber sofrer, extraindo as bênçãos de luz que a dor oferece ao coração sequioso de paz.
Muita gente padece, mas quantas criaturas se complicam, angustiadamente, por não saberem aproveitar as provas retificadoras e santificantes?
Vemos os que recebem a calúnia, transmitindo-a aos vizinhos; os que são atormentados por acusações, arrastando companheiros às perturbações que os assaltam; e os que pretendem eliminar enfermidades reparadoras, com a desesperação.
Quantos corações se transformam em poços envenenados de ódio e amargura, porque pequenos sofrimentos lhes invadiram o círculo pessoal? Não são poucos os que batem à porta da desilusão, da descrença, da desconfiança ou da revolta injustificáveis, em razão de alguns caprichos desatendidos.
Seria útil sofrer com a volúpia de estender o sofrimento aos outros? não será agravar a dívida o ato de agressão ao credor, somente porque resolveu ele chamar-nos a contas?
Raros homens aprendem a encontrar o proveito das tribulações. A maioria menospreza a oportunidade de edificação e, sobretudo, agrava os próprios débitos, confundindo o próximo e precipitando companheiros em zonas perturbadas do caminho evolutivo.
Todas as criaturas sofrem no cadinho das experiências necessárias, mas bem poucos espíritos sabem padecer como cristãos, glorificando a Deus.

 

Página extraída da obra: Vinha de Luz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel, capítulo 80.

quinta-feira, 13 de março de 2014

O Espiritismo Responde



 
O Espiritismo responde
Ano 7 - N° 352 - 2 de Março de 2014
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)


BLOG
ESPIRITISMO SÉCULO XXI



Um leitor pergunta-nos qual é a explicação espírita das chamadas expiações coletivas, que atingem grupos de pessoas, às vezes uma família inteira, uma cidade, uma etnia, sem distinção entre bons e maus, inocentes e culpados.

Segundo a doutrina espírita, as faltas dos indivíduos, de uma família, ou de uma nação, qualquer que seja o seu caráter, se expiam em virtude da mesma lei. O criminoso revê sua vítima, seja no plano espiritual, seja vivendo em contato com ela numa ou em várias existências sucessivas, até a reparação de todo o mal cometido. Dá-se o mesmo quando se trata de crimes cometidos solidariamente, por um certo número de pessoas. As expiações são, então, solidárias, o que não aniquila a expiação simultânea das faltas individuais. 

Lembra-nos Kardec que em todo homem há três caracteres: o do indivíduo, do ser em si mesmo, o de membro de família, e, enfim, o de cidadão. Sob cada uma dessas três faces pode ele ser criminoso ou virtuoso, quer dizer, pode ser virtuoso como pai de família, ao mesmo tempo que criminoso como cidadão, e reciprocamente. Disso derivam as situações especiais em que ele irá se encontrar em suas existências sucessivas. 

Salvo as naturais exceções, pode-se admitir como regra geral que todos aqueles que têm uma tarefa comum, reunidos numa existência, já viveram juntos para trabalharem pelo mesmo resultado, e se acharão reunidos ainda no futuro, até que tenham alcançado o objetivo, quer dizer, expiado o passado ou cumprido a missão aceita. 

Graças ao Espiritismo, compreendemos a justiça das aflições ou vicissitudes que não resultam de atos da vida presente, porque sabemos que se trata da quitação de dívidas perante a Lei contraídas no passado. Por que não ocorreria o mesmo com as dívidas coletivas? 

Diz-se, comumente, que as infelicidades gerais atingem o inocente como o culpado; mas pode ser que o inocente de hoje tenha sido o culpado de ontem. Tenha ele sido atingido individualmente ou coletivamente, certamente é que assim mereceu. Ademais, há faltas do indivíduo e do cidadão. A expiação de umas não livra a pessoa da expiação das outras, porque é necessário que toda dívida seja quitada até o último centavo. 

As virtudes da vida privada não são as da vida pública. Um indivíduo que seja excelente cidadão pode ser um mau pai de família, e outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios, pode ser um péssimo cidadão e haver soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em crimes de lesa-sociedade. São essas faltas coletivas que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se reencontram para sofrerem juntos a pena de talião ou terem a ocasião de reparar o mal que fizeram, provando o seu devotamento à coisa pública, socorrendo e assistindo aqueles que outrora maltrataram. 
 
Um expressivo exemplo de expiações coletivas nos é mostrado por André Luiz no cap. 18 do livro Ação e Reação, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, no qual é descrita a ocorrência de um desastre de avião e relatadas as providências tomadas pelos benfeitores espirituais com o objetivo de socorrer as vítimas. 

Em face desse caso e de outros semelhantes, Hilário, amigo de André, perguntou ao instrutor Druso se a dor dos pais das pessoas que perecem nas lutas expiatórias coletivas é considerada pelos poderes que controlam a vida. A resposta, além de elucidativa, é profundamente consoladora, porque comprova que a nave Terra não se encontra à deriva e tem, portanto, alguém no seu comando.

Respondeu-lhe o instrutor Druso: "Como não? as entidades que necessitam de tais lutas expiatórias são encaminhadas aos corações que se acumpliciaram com elas em delitos lamentáveis, no pretérito distante ou recente, ou, ainda, aos pais que faliram junto dos filhos, em outras épocas, a fim de que aprendam na saudade cruel e na angústia inominável o respeito e o devotamento, a honorabilidade e o carinho que todos devemos na Terra ao instituto da família. A dor coletiva é o remédio que nos corrige as falhas mútuas". (Ação e Reação, capítulo 18, pp. 249 a 251.)
 
Ninguém se elevará a pleno Céu, sem plena quitação com a Terra. "Quanto mais céu interior na alma, através da sublimação da vida, mais ampla incursão da alma nos céus exteriores, até que se realize a suprema comunhão dela com Deus, Nosso Pai", asseverou o instrutor espiritual.

Texto extraído da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessado através do endereço:
 http://www.oconsolador.com.br/ano7/352/oespiritismoresponde.html


O livro Ação e Reação está disponível para ser baixado no endereço:
 http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/chicoxavier/listaalfabetica.html

 

quinta-feira, 6 de março de 2014

O Cristo operante

 

“Porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com os gentios.” – Paulo. (Gálatas, 2:8.)


A vaidade humana sempre guardou a pretensão de manter o Cristo nos círculos do sectarismo religioso, mas Jesus prossegue operando em toda parte onde medre o princípio do bem.

Dentro de todas as linhas de evolução terrestre, entre santuários e academias, movimentam-se os adventícios inquietos, os falsos crentes e os fanáticos infelizes que acendem a fogueira da opinião e sustentam-na. Entre eles, todavia, surgem os homens da fé viva, que se convertem nos sagrados veículos do Cristo operante.

Simão Pedro centralizou todos os trabalhos do Evangelho nascente, reajustando aspirações do povo escolhido.

Paulo de Tarso foi poderoso ímã para a renovação da gentilidade.

Através de ambos expressava-se o mesmo Mestre, com um só objetivo – o aperfeiçoamento do homem para o Reino Divino.

É tempo de reconhecer-se a luz dessas eternas verdades.

Jesus permanece trabalhando e sua bondade infinita se revela em todos os setores em que o amor esteja erguido à conta de supremo ideal.


Ninguém se prenda ao domínio das queixas injustas, encarando os discípulos sinceros e devotados por detentores de privilégios divinos. Cada aprendiz se esforce por criar no coração a atmosfera propícia às manifestações do Senhor e de seus emissários. Trabalha, estuda, serve e ajuda sempre, em busca das esferas superiores, e sentirás o Cristo operante ao teu lado, nas relações de cada dia.


Mensagem extraída do capítulo 35 - do livro "O Pão Nosso" - Espírito Emmanuel - psicografia de Francisco Cândido Xavier

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Obediência e resignação

Obediência e resignação


 A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, se bem os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porquanto carregam o fardo das provações que a revolta insensata deixa cair. O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes. Jesus foi a encarnação dessas virtudes que a antiguidade material desprezava. Ele veio no momento em que a sociedade romana perecia nos desfalecimentos da corrupção. Veio fazer que, no seio da Humanidade deprimida, brilhassem os triunfos do sacrifico e da renúncia carnal.

Cada época é marcada, assim, com o cunho da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual; seu vício é a indiferença moral. Digo, apenas, atividade, porque o gênio se eleva de repente e descobre, por si só, horizontes que a multidão somente mais tarde verá, enquanto que a atividade é a reunião dos esforços de todos para atingir um fim menos brilhante, mas que prova a elevação intelectual de uma época. Submetei-vos à impulsão que vimos dar aos vossos espíritos; obedecei à grande lei do progresso, que é a palavra da vossa geração. Ai do espírito preguiçoso, ai daquele que cerra o seu entendimento! Ai dele! porquanto nós, que somos os guias da Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos a vontade rebelde, por meio da dupla ação do freio e da espora. Toda resistência orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida. Bem-aventurados, no entanto, os que são brandos, pois prestarão dócil ouvido aos ensinos.
                                                                                                         - Lázaro. (Paris, 1863.)

Extraído de O Evangelho Segundo o Espiritismo  -  CAPÍTULO IX  -  BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDO E PACÍFICOS – item 8.

Pode ser lido também no endereço: http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/bibliotecavirtual/principal.html

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Dinheiro

Elucidações de Emmanuel
Ano 7 - N° 350 - 16 de Fevereiro de 2014

Dinheiro

Abençoa o dinheiro para que o dinheiro te abençoe.

Em verdade, não temos nele a vida, mas em si mesmo se erige por valioso sustentáculo do progresso, sobre o qual a vida se aperfeiçoa.
 
Não é o amor; entretanto, suscita a simpatia e o reconhecimento em que, muitas vezes, o amor aparece em fontes de luz.
 
Não é a saúde; todavia, assegura o medicamento que combate a enfermidade.
 
Não é a paz; contudo, é fator de equilíbrio, promovendo o trabalho ou extinguindo muitos dos débitos que atormentam o espírito.
 
Não é a felicidade; no entanto, pode criar a felicidade a nosso favor, através do bem que é capaz de esparzir.
 
“Talvez… Talvez…”, dirás, com amargura de quantos viste no resvaladouro da delinquência por não saberem usufruí-lo com segurança e proveito.
 
De nossa parte, porém, tomamos a liberdade de perguntar se conheces todo o inventário:
das dores que o dinheiro suprime;
das lágrimas que enxuga;
das aflições que desfaz;
das empresas culturais que sustenta;
do reconforto que espalha;
das esperanças que semeia;
das boas obras que realiza;
das vidas que salva;
dos suicídios e delitos outros que consegue evitar;
das indústrias que incentiva e mantém;
das inteligências que aprimora; ou
das bênçãos de alegria que distribui.
 
Não censures a fortuna amoedada e nem condenes aqueles que a conservam, carregando responsabilidades e dirigindo-se a fins que ignoramos.
 
Na Terra o dinheiro é uma alavanca que a Divina Providência nos coloca nas mãos; manejando-a, tanto se pode marginalizar o coração nas trevas quanto edificar o luminoso caminho para a Vida Maior.
 
Dinheiro, em suma, vem de Deus, mas é forçoso reconhecer que a aplicação dele vem de nós.

 

Do cap. 6 do livro Diálogo dos Vivos, obra de autoria de Francisco Cândido Xavier, J. Herculano Pires e Espíritos diversos.
 
Mensagem extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que pode ser acessada no endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano7/350/emmanuel.html

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O Desafio da Educação

Marta Antunes de Moura

Doutrina Espírita: Filosofia, 

Ciência e Religião

Colunistas

28/01/2014 07h16 - Atualizado em 28/01/2014 07h24

O Desafio da Educação

A forma como representamos o mundo que nos rodeia interfere diretamente nos processos educativos, visto que, à medida que o conhecimento é ampliado, modifica-se a visão da realidade na qual nos encontramos inseridos, como se observa nos registros que se seguem. (1)
      1. Pré-história – o surgimento da escrita foi fator impactante e facilitador do ensino e da aprendizagem. As primeiras representações escritas aconteceram no neolítico, na Idade de Bronze, sob a forma de sinais e ideogramas que evoluíram para registros linguísticos simples, denominados cuneiformes. (2)
        2. Idade Antiga ou Antiguidade (4000 a 3500 a.C.) – os processos educativos mais relevantes ocorrem  na Mesopotâmia, Egito, Grécia e  Roma.  Eram elitizados e focados na solução dos problemas cotidianos. (2)
        3. Idade Média (século V a parte do século XV) – a educação, de responsabilidade exclusiva da Igreja Católica, era de acesso difícil e restrito, priorizando-se o prestígio, a influência política e a riqueza dos alunos, integrantes da realeza, nobreza e do clero.  As escolas funcionavam anexas às catedrais e aos monastérios ou  em alguns mosteiros, onde se lecionavam as sete artes liberais: gramática, retórica, lógica, aritmética, geografia, astronomia e música. (3) A metodologia do ensino resumia-se às extensas preleções de temas previamente preparados pelos religiosos, submetendo  alunos e professores a uma rígida e irracional disciplina, sobretudo quanto a horários, assiduidade, atitudes, comportamentos e avaliações da aprendizagem.
Neste horizonte de intolerância, contudo, surgem duas importantes  contribuições: a de Santo Agostinho (350-430 d.C.) que seguia o ideal platônico, defendia  a ideia de que a aprendizagem só pode ser satisfeita por Deus e recomendava  “(…) aos educadores jovialidade, alegria, paz no coração e ás vezes também alguma brincadeira” (4); e a de Thomas de Aquino (1224-1274 d.C.) que, rompendo o paradigma vigente, introduz debates em sala de aula, a fim de  “(…) evitar o tédio e despertar a capacidade de admirar e perguntar.” (5) A sua metodologia, então denominada Escolástica ou Escolasticismo (do latimscholasticus = que pertence à escola, instruído), favoreceu a criação de diversas universidades na Europa, como as de Paris, Oxford, Cambridge, Salerno, Bolonha, Nápoles, Roma, Pádua, Praga e Lisboa. (3)
  1.  Renascença (período situado entre século XV e o XVI) – a educação renascentista priorizava o estudo da filosofia grega, a matemática e as ciências da natureza. A exatidão do cálculo chegou até mesmo a influenciar o projeto estético dos artistas desse período. A razão foi eleita como a forma de adquirir conhecimento do mundo e das coisas.  (5)
     5. Idade Moderna (1453 a 1789) – o processo educativo passa por profundas modificações, sendo o ensino caracterizado pelo didatismo, adoção de diferentes  matérias (disciplinas) no currículo escolar e concedendo-se maior  liberdade aos alunos. São ideias advindas dos princípios da reforma protestante, da contrarreforma católica com a fundação da Companhia de Jesus, dirigida pela ordem jesuíta; do pensamento difundido pelo matemático René Descartes (1596-1650) — que cultuava a razão como o único instrumento da aprendizagem —, e do iluminista Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que  pregava um ensino mais leve e livre, de contato com a Natureza, distante das amarras das reforma protestante, da contrarreforma católica e dos exageros do racionalismo.  (6)
       6. Idade Contemporânea (após 1789) – predomina-se o culto à razão, resultante do amálgama de ideologias, princípios, métodos e recursos do tecnicismo e do didatismo, a maioria conflitante entre si. Mas, face o redesenhamento da sociedade, determinado pelas sucessivas e cumulativas descobertas científicas e inovações tecnológicas, associadas às revoluções liberais e às duas guerras mundiais  profundos abalos ocorrem na educação que, em decorrência,  é submetida a extenso e profundo desafio. (7)
Importa considerar que a Doutrina Espírita,  transmitida em 1857 com a publicação de O Livro dos Espíritos, conceitua educação como “(…) a arte de formar caracteres (…)” (8) que é, justamente, o sentido que os estudiosos atualmente estão propondo para a  construção do modelo educativo do milênio. Todavia, um dos maiores desafios da educação nos dias atuais é saber  enxergar a pessoa como um ser integral. E mais: que  o afeto, a ética e a moral devem, sim, governar o comportamento humano, em qualquer local e sob quaisquer circunstâncias. Hoje, sabe-se que não se pode  conceber um processo de ensino e aprendizagem que priorize apenas o intelectualismo e a razão. Este foi o erro de Descartes que, ao anunciar sua célebre frase “penso, logo existo”, estabeleceu. dicotomia entre o pensar e o existir, pois é quase impossível pensar e existir exclusivamente de forma racional, ignorando os sentimentos e as emoções. Rousseau, neste aspecto,  foi além ao afirmar que a principal característica que não pode faltar em um professor é a sua capacidade de educar o aluno para transformá-lo em um homem de bem, tal como orienta a Doutrina Espírita.
Outro desafio, não menos importante, está relacionado ao ambiente da  aprendizagem: sufocante e improdutivo no passado, ainda é reproduzido, no presente, em certas sociedades fechadas, sobretudo nas religiosas. Neste sentido, não podemos ignorar que o estudo desenvolvido no meio espírita ainda  apresenta características que lembram as práticas da escolásticas (não há um livre debate, pois este é preparado de acordo com as regras do didatismo, e nem todos os assuntos podem ser discutido); o estudo doutrinário ou apresenta perfil conteudista e racionalista, desenvolvido em cursos de longa duração. Trata-se de uma triste constatação porque toda e qualquer orientação espírita deveria, necessariamente, pesar  as consequências morais, referendadas pelo Evangelho de Jesus, e serem transmitidas de forma simples, ainda que apoiadas nos meios tecnológicas e nas dinâmicas pedagogias, utilizadas meramente como meios didáticos. Vemos, assim, que o.  ambiente de aprendizagem do Centro Espírita precisa ser repensado, estabelecendo-se um espaço de verdadeira interação sociocultural, acolhedor por excelência, mesmo que as condições ambientais sejam modestas. Ambiente em que a pessoa se sinta bem-vinda, respeitada, aceita, estimada, livre para participar dos encontros de estudos, sem constrangimentos e imposições, que desconsiderem as diferenças individuais e a diversidade cultural e econômica. Daí ser importante manter-se atento a estes esclarecimento de Allan Kardec: .
Todos falam da importância da educação, mas esta palavra é,  para a maioria, um significado excessivamente impreciso. (…) A educação é a arte de formar homens, isto é, a arte de neles fazer surgir os germes das virtudes e reprimir os do vício; de desenvolver sua inteligência e dar-lhes instrução adequada às necessidades. (…) Em uma outra palavra, o objetivo da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais. (9)
Referências Bibliográficas
1 MORIN, Edgar. A religação dos saberes.  O desafio do século XXI. Trad. de Flávia Nascimento. 5.ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, cap. 1, pag.29-32.
2 Educação na Antiguidade. http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3920034
3 Educação  na Idade Média. www.brasilescola.com
4 GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas.São Paulo: Ática, 2008, cp.4, pág. 56.
5 ______, p. 58..
6 A História da Educação/Período Moderno http://www.pedagogia.com.br/historia/moderno.php Nascimento, Claudia T. A história da educação ao longo dos tempos… Uma viagem histórica. Parte V – a Educação contemporânea.
8 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 4 ed. Brasília: FEB, 2013, q. 685-a, pág.306.
9 RIVAIL, Hippolyte léon Denizard. Plano proposto para a melhoria da educação pública. Trad de  Albertina Escudeiro Seco. 1ª ed. Rio de Janeiro: Edições Léon Denis, 2005, p. 11-12.

Coluna extraída do portal da Federação Espírita Brasileira, no endereço eletrônico:
http://www.febnet.org.br/blog/sem-categoria/o-desafio-da-educacao/