quinta-feira, 7 de abril de 2016

Tenhamos paz



Tenhamos paz


“Tende paz entre vós.” – Paulo. (1ª Epístola aos Tessalonicenses, 5:13.)

     Se não é possível respirar num clima de paz perfeita, entre as criaturas, em face da ignorância e da belicosidade que predominam na estrada humana, é razoável procure o aprendiz a serenidade interior, diante dos conflitos que buscam envolvê-lo a cada instante.
     Cada mente encarnada constitui extenso núcleo de governo espiritual, subordinado agora a justas limitações, servido por várias potências, traduzidas nos sentidos e percepções.
    Quando todos os centros individuais de poder estiverem dominados em si mesmos, com ampla movimentação no rumo do legítimo bem, então a guerra será banida do Planeta.
     Para isso, porém, é necessário que os irmãos em humanidade, mais velhos na experiência e no conhecimento, aprendam a ter paz consigo.
     Educar a visão, a audição, o gosto e os ímpetos representa base primordial do pacifismo edificante.
     Geralmente, ouvimos, vemos e sentimos, conforme nossas inclinações e não segundo a realidade essencial. Registramos certas informações longe da boa intenção em que foram inicialmente vazadas e, sim, de acordo com as nossas perturbações internas. Anotamos situações e paisagens com a luz ou com a treva que nos absorvem a inteligência. Sentimos com a reflexão ou com o caos que instalamos no próprio entendimento.
     Eis por que, quanto nos seja possível, façamos serenidade em torno de nossos passos, ante os conflitos da esfera em que nos achamos.
       Sem calma, é impossível observar e trabalhar para o bem.
    Sem paz, dentro de nós, jamais alcançaremos os círculos da paz verdadeira.
Mensagem extraída da obra: Pão Nosso, Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, cap. 65 

quinta-feira, 31 de março de 2016

Ouve a tua consciência


Ouve a tua consciência

A Lei de Deus está escrita na consciência da criatura humana.*
Essa lúcida contestação dos Mentores da Humanidade ao codificador do Espiritismo, Allan Kardec, abre espaço à Psicologia para melhor entender os conflitos e os comportamentos complexos que enfrenta.
Para que a consciência possa contribuir saudavelmente em favor da conduta humana torna-se indispensável o hábito da reflexão, a fim de que os níveis primários em que se apresenta ceda lugar à iluminação em estágio mais avançado.
É compreensível que o Espírito em condições aflitivas tenha dificuldade de identificar a Lei de Deus nele ínsita. Porque predomina a matéria, as sensações mais grosseiras na sua existência, permanece como solo crestado que não permite à semente nele plantada romper-lhe a couraça,  facultando que desabrochem as potências adormecidas.
Em razão da sensualidade e dos apegos aos prazeres imediatos e desgastantes, continua em germe a essência divina nos refolhos dessa área superior da psique – a consciência.
O hábito, porém, de silenciar a ansiedade e os tormentos íntimos, de buscar entender-lhes a procedência e a presença nos painéis mentais, faculta perceber os conteúdos de que se constituem, para discernir com segurança o que é edificante e o que lhe é prejudicial.
Acostumado a agir por impulsos, quase automáticos, dá vigor à natureza animal de que se reveste, quando deveria promover a espiritual, que germina e avança atraída pelo Deotropismo no rumo da plenitude.
Condicionamentos impostos pelos instintos básicos que governam a existência na sua fase inicial de desenvolvimento intelecto-moral, à medida que adquire conhecimentos para a lógica existencial, experiência os lampejos da consciência digna que libera a Lei de Deus, que está sintetizada no amor.
Na razão direta em que o amor sobrepõe-se à violência e aos fatores da agressividade, mais valiosos contributos são cedidos com o consequente enriquecimento de paz e de alegria de viver.
Ninguém existe destituído de consciência, exceção feita àqueles que expiam graves delitos em renascimentos assinalados pelas limitações e deformidades cerebrais...
Todos os seres que pensam dispõem do auxílio da consciência para fazer o que pode e deve, sempre quando se lhe torne lícita a realização.
A acomodação defluente da preguiça mental em alguns indivíduos impedem-no de avançar nos comportamentos corretos.
Deus, a todos os Seus filhos concedeu consciência do dever, que proporciona as habilidades indispensáveis à conquista da iluminação.
Essa sublime herança vincula todos os membros da Criação ao Genitor Celeste.
*
Ouve a tua consciência sempre que te encontres em conflito, em dificuldade de definir rumos e comportamentos adequados.
Reflexiona em silêncio e com calma, permitindo que a inspiração superior seja captada e o discernimento te aponte a melhor conduta a seguir.
Evita o costume doentio de transferir para os outros a tarefa de decidir por ti, de viver sob os conselhos dos demais como se fosses um parasita psíquico.
Liberta-te do morbo da queixa e desperta para entender que todos sofrem, têm problemas, mesmo que os não demonstrem, porque a sabedoria que possuem ao aconselhar é resultado dos caminhos percorridos, das aflições superadas e dos testemunhos ultrapassados.
Por outro lado, evita o costume de aconselhamentos e de orientações, de narrar as tuas vivências, como se fossem as mais importantes do mundo.
O que hajas vivenciado é importante para ti e nem sempre será regra geral de bom proceder para todos.
Cada ser humano é uma unidade muito complexa e especial, que faz parte da unidade universal, com as características próprias e as conquistas positivas e negativas adquiridas.
Quando delegas a outrem aconselhar-te, não estás disposto realmente a seguires a diretriz que te seja oferecida. Normalmente, buscas conselhos e bengalas psicológicas até encontrares o que realmente gostaria que te dissessem aquilo que te é agradável e compensador. Esse comportamento inconsciente é uma forma autodefensiva, porque aquilo que te venha a acontecer não será somente de tua responsabilidade.
O crescimento intelectual, assim como o de natureza moral, é trabalhado continuamente, sem interrupção nem saltos gigantes.
A cada momento uma conquista nova, um descobrimento que se incorpora aos conteúdos arquivados na mente.
Permitindo-te ouvir a consciência, serás inspirado à oração que te fortalecerá o ânimo e te auxiliará a fruir paz.
Quanto mais auscultes a consciência e exercites a reflexão do pensamento, mais se expandirão as possibilidades e os registros legais se te farão claros e lúcidos, e te auxiliarão na conquista da felicidade e da harmonia interior, estimuladoras para os avanços a níveis superiores da evolução.
Não te detenhas, pois, em queixumes e rogativas de orientação, como se estivesses desequipado dos instrumentos para alcançar a vitória sobre as circunstâncias e provações necessárias.
Confia em Deus, na proteção dos teus Amigos espirituais e também nos teus valores, esses que vens amealhando durante a reencarnação.
*
Jesus, que é o Guia da Humanidade, sempre buscava a solidão para reabastecer a consciência com a Lei de Deus, e permanecer como o amor na expressão máxima que se conhece, mesmo quando não amado.
Não tenhas sofreguidão para tudo resolver sem pensar, sem aprofundar a concentração.
Diante de todo e qualquer aconselhamento que peças e recebas, não deixes de consultar a tua consciência.

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na
reunião mediúnica da noite de 17 de março de 2014, no
Centro Espírita Caminho da Redenção, Salvador, Bahia.
Em 1.8.2014.

*KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos, questão 621.
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Extraído do endereço: http://divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=371

quinta-feira, 24 de março de 2016

Paz e plenitude

Paz e plenitude

Não vos desespereis.

Não permitais que o desencanto abra fendas no âmago do ser.

Tende bom ânimo e confiai Naquele que é a Vida das nossas vidas.

Hoje sabeis que o corpo é o instrumento do Espírito, que nos merece respeito e carinho, para que desenvolvamos a vida na plenitude que lhe está reservada.

Mudemos o conceito espírita reflexionando profundamente nas lições do Evangelho de Jesus.

Deixemo-nos conduzir pela sabedoria filosófica de O Livro dos Espíritos, elucidando-nos as incógnitas existenciais. Eduquemos a mediunidade nas lições kardequianas, na abordagem científica dos fenômenos paranormais. E cantemos Jesus.

A sociedade, que conquistou as galáxias e as micropartículas, nunca necessitou de Jesus tanto quanto hoje.

Ide e amai. Não vos permitais ser inimigos de ninguém, mesmo que tenhais aqueles que se tornaram adversários vossos.

O Mestre nos espera. Filhas e filhos da alma, sede felizes aceitando os testemunhos cristãos. Sem as condecorações do sofrimento sois belas orquídeas que não têm beleza senão na tonalidade, mas não têm perfume.

Que o vosso perfume seja o exalar da caridade. Jesus em nós é o amor de Deus construindo a Era Nova.

Edificai-a porque voltaremos à Terra melhorada e feliz. Ouvistes e participastes deste banquete, em que venerandos Apóstolos do Cristianismo estiveram atendendo-vos e a palavra inspirada de companheiros de jornada convocaram-vos ao conhecimento, à alegria, à ética do Cristianismo.

Não busqueis fugir à realidade da Lei Soberana de Causa e Efeito. A dor é mensageira de Deus, é a bênção que Deus reserva aos Seus eleitos.

Isto posto, ide em paz e semeai o Reino de Deus em todos os corações. Em nome dos Espíritos espíritas que aqui estamos, desejamos-vos paz e plenitude.

Vosso amigo humílimo e paternal,

          Bezerra.
          Muita paz

Mensagem psicofônica através do médium Divaldo Pereira Franco, no encerramento da XVIII Conferência Estadual Espírita, em 6.3.2016, em Pinhais/PR.
Em 10.3.2016.



quinta-feira, 17 de março de 2016

BENEFÍCIOS ADVINDOS DO SOFRIMENTO

Sem nenhuma apologia ao sofrimento, é incontestável o benefício de que ele se reveste no processo da evolução da criatura humana.

Herdando os hábitos ancestrais, normalmente aqueles que defluem da preservação da existência física, é natural que haja predominância em a sua natureza, aqueles instintos agressivos, responsáveis pela sobrevivência da espécie, que constituem o ego dominador e tenaz.

Esse ego é responsável pela presunção e prepotência que se manifestam no caráter moral como mecanismos agressivos, em detrimento dos sentimentos de compreensão e de solidariedade, que deveriam viger no seu íntimo.

Certamente surgem com o despertar da consciência, quando o Espírito começa a identificar os valores éticos indispensáveis a uma existência feliz, assinalada pela compreensão dos seus direitos, mas também dos seus valiosos deveres para consigo, para com o próximo, para com a sociedade e para com Deus.

Essa conscientização opera-se mediante a sua transformação moral para melhor, a sua necessidade da comunhão dos ideais com o próximo, a sua busca da convivência fraternal, em cujo comportamento são transformados os impulsos de dominação e de morte, nos de solidariedade e de vida.

Nada obstante a compreensão de que a evolução intelectomoral é processo que resulta do incomparável amor de Deus, remanescem no cerne do ser os mecanismos defensivos e agressivos, mantendo-o, não poucas vezes, arrogante e celerado, que se compraz em afligir e malsinar os demais, preservando o comportamento primário do qual procede.

Em face do inevitável processo da reencarnação, as experiências iluminativas apresentam-se diversificadas, proporcionando ajustamentos e recomposições que facultam o crescimento interior. Nesse capítulo, tem lugar a presença do sofrimento, como resultado dos atos praticados anteriormente e que deixaram marcas infelizes pelo caminho percorrido. É a dor que dobra a cerviz dos soberbos, demonstrando-lhes a fragilidade na qual operam, e que a força de que se parecem constituir, nada mais é do que capricho do egotismo que os elege como centro da vida, portanto, credores exclusivos de tudo em detrimento dos demais.

Nessa conceituação primária, ocultam-se muitos conflitos que não foram solucionados e pressionam o homem na direção da conduta presunçosa, em razão dos medos inconscientes que lhe remanescem, ora mascarados de poder e de querer.

Insinuando-se de maneira sutil a angústia e a melancolia, a solidão e a ansiedade se lhe instalam, fragilizando-o e empurrando-o para comportamentos patológicos, quando ainda não é possuidor de sentimentos relevantes, tornando-se mais perverso e insensato...

É nesse momento que as enfermidades orgânicas ou psíquicas se instalam produzindo os sofrimentos que supunha nunca teria que experimentar, demonstrando que é constituído da mesma argamassa daqueles aos quais vilipendia e maltrata.

Desacostumado ao flagício da aflição, porque escondido nos gozos aparentes e ilusórios, cerca-se de cuidados extravagantes e superlativos, sem que tenha diminuídos os gravames como qualquer outra pessoa a quem jamais considerou.

É inexorável a presença do sofrimento na criatura terrestre, em face dos fenômenos orgânicos de que se utiliza o Espírito no trânsito material.

Suscetível à degenerescência e à diluição, a aparência forte e bela, harmônica e invejável cede lugar à deformidade e às conjunturas deformantes, mantendo encarcerado o responsável pela sua ocorrência -- o Espírito endividado!

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Reflexiona em torno das existências perversas de ditadores e chefes cruéis que desfilam na História, e vê-los-ás, caso não tenham sido apeados do poder temporal pelos seus coetâneos, vivendo enfermidades prolongadas e deploráveis, anulando-lhes toda a prepotência e fereza.

Antes temidos e detestados, nessa fase inspiram compaixão e misericórdia, quando deploram os dias do passado que transformaram em cruz terrível para os outros, não fugindo, eles próprios, aos efeitos danosos da sanha doentia em que se compraziam.

Indivíduos que, uma dia, foram símbolos da beleza e do sexo, bajulados por verdadeiras multidões, atravessando períodos sombrios de sofrimentos silenciosos, fugindo para a drogadição e o vício, a fim de não enfrentarem as inesperadas situações que sobre eles se abateram.

Mulheres e homens milionários, que jamais se detiveram a pensar que eram humanos sujeitos à mesmas condições dos pobres e dos miseráveis, que nem se quer contemplaram durante a saga dos seus triunfos de mentira, reduzidos ao abandono, esquecidos e desconsiderados pelos antigos fanáticos que seguiam em delírio, afundando no poço de depressões terríveis ou evadindo-se do corpo através do nefando suicídio...

Artistas e executivos famosos que desfilavam nos veículos da fama e da glória, inesperadamente reduzidos à condição de párias pelas quedas nas bolsas e pelos problemas das crises financeiras que, periodicamente, demonstram a debilidade das construções econômicas do mundo, padecendo insuportáveis situações de desespero e revolta que os consomem.

Tudo, na Terra, é transitório, impermanente, abençoado curso para a aprendizagem e descoberta dos tesouros existenciais.

Sem o sofrimento se prolongariam as situações invejáveis de uns, enquanto outros choram, as terríveis jactâncias de muitos com olvido pelo trabalho daqueles que os sustentam, vivendo em situações penosas... A todos o sofrimento alcança e reduz-lhes a vaidosa conduta, despertando-os para a realidade do ser que são e não da situação em que se encontram.

Martelando incessantemente a sensibilidade obnubilada, o sofrimento exerce a função de buril que trabalha o envoltório grosseiro, a fim de fazer brilhar a gema preciosa que se lhe encontra oculta no cerne, facultando-lhe a luminosidade para a qual está destinada.

Bendito, pois, o sofrimento que a todos alcança e iguala, à semelhança do túmulo que devora a roupagem material e a todos reduz à condição inicial de humanidade.


Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco
Obra: Atitudes Renovadas, capítulo 29

quinta-feira, 10 de março de 2016

Momento difícil


Momento difícil

                       

O mundo está em crise, e o Brasil estertora, conforme o noticiário de todo instante. Sucedem-se os escândalos, e as surpresas com as pessoas envolvidas produzem um duplo efeito: desencanto em confiar em indivíduos de aparente apresentação digna, inimputável, mantenedores, no entanto, de conduta vulgar e criminosa, assim como a perda da esperança em dias melhores ante a cultura da desonestidade que campeia à solta. A questão, no entanto, é mais ampla porque se apresenta com caráter internacional. O ser humano parece ter perdido o rumo ético, entregando-se aos excessos de toda ordem, revivendo preconceitos bárbaros que se repetem causando lástima e compaixão.



Haja vista o que o Estado Islâmico está realizando em uma cidade do Iraque onde se encontram cristãos. Além de destruir todos os monumentos que honram o passado e são patrimônio da Humanidade, estão degolando selvagemente os adeptos do Cristo, em espetáculo de hediondez, repetindo com mais crueldade as perseguições promovidas pelo Império Romano durante os três primeiros séculos do nosso calendário.



Os crimes crescem assustadoramente, e os cidadãos nos encontramos amedrontrados, receando as ruas e também a intimidade dos lares, onde os bandidos se adentram e cometem arbitrariedades. Como mecanismo de fuga, os brasileiros sorrimos dos comportamentos anedóticos de autoridades que deveriam zelar pelo idioma pátrio, sem aventureirismos ridículos, através dos veículos da comunicação virtual. Não serão resolvidos os dramas existenciais com a zombaria, as reclamações, os doestos. Tornam-se indispensáveis comportamentos corretos, conscientização de possibilidades de ação através das leis que vigem no país.



Se cada cidadão e cidadã brasileiros cumprirem com o seu dever, poderemos restabelecer a ordem e voltar a confiar no futuro. Jesus estabeleceu uma ética desafiadora que serve de bastão psicológico de segurança: Não fazer a outrem o que não gostaria que outrem lhe fizesse.



    Divaldo Pereira Franco.

Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em  27.8.2015.

Em 31.8.2015.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Diferenças e convivência

ORSON PETER CARRARA
orsonpeter92@gmail.com
Matão, SP (Brasil)
 
 
Orson Peter Carrara


Diferenças e convivência
Sobre as diferentes aptidões dos seres humanos, os Espíritos foram claros na Codificação. À indagação de Allan Kardec sobre as razões das desigualdades dessas aptidões, eles responderam que “Deus criou todos os Espíritos iguais, mas cada um deles tem maior ou menor vivência e, por conseguinte, maior ou menor experiência. A diferença está no grau da sua experiência e da sua vontade, que é o livre-arbítrio: daí, uns se aperfeiçoam mais rapidamente e isso lhes dá aptidões diversas. A variedade das aptidões é necessária, a fim de que cada um possa concorrer aos objetivos da Providência no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais: o que um não faz, outro faz. É assim que cada um tem um papel útil (...)”.(1)

Ora, a resposta acima enseja vários desdobramentos. A própria indicação de maior ou menor vivência, de menos ou mais experiência, que naturalmente vai determinar o grau de vontade e liberdade, abre imensos espaços de atuação material e moral. Sim, porque cada um de nós só poderá agir com desenvoltura na área que conhece, em que tem experiência, que domina por vivência anterior, não necessariamente de existência passada.

Isso também leva a refletir que não se está impedido de iniciar campo novo de atuação, cuja constância e perseverança também levará a novas experiências e acúmulo de outras vivências, igualmente úteis em todo o processo evolutivo.

Na mesma resposta igualmente há a indicação do aperfeiçoamento mais rápido (que gera novas e constantes aptidões, nas diversas áreas) ou mais lento, a depender do esforço despendido e da movimentação da vontade nesse objetivo. 

O que causa os conflitos 

Porém, os Espíritos são muito claros. Como ensinam, “a variedade das aptidões é necessária”. Cada um trará sua cota de contribuição, cada experiência será utilizada, cada força física ou intelectual concorrerá para o bem coletivo e todos têm um papel a desempenhar, sempre útil no conjunto geral, sempre bem de acordo com a Vontade Divina, útil e sábia.

O interessante, porém, é que nem sempre as diferenças – que devem concorrer para um objetivo útil, como bem indicado em O Livro dos Espíritos(1) – conseguem estabelecer elos de harmonia. Muitas vezes as diferenças individuais são causadoras de conflitos, fruto, é óbvio, da influência do orgulho e do egoísmo que ainda dominam a condição humana.
Allan Kardec, porém, traz a lucidez de seu pensamento em duas colocações – entre tantas no mesmo sentido – que transcrevemos parcialmente aos leitores:

a) “Se um grupo quer estar em condições de ordem, de tranquilidade e de estabilidade, é preciso que nele reine um sentimento fraternal.  Todo grupo ou sociedade que se forma sem ter a caridade efetiva por base não tem vitalidade; ao passo que aqueles que serão fundados segundo o verdadeiro espírito da Doutrina se olharão como membros de uma mesma família, que, não podendo todos habitar sob o mesmo teto, moram em lugares diferentes.”

A observação está dirigida aos grupos espíritas (em resposta a requerimento dos espíritas de Lyon, por ocasião do Ano Novo) e consta da Revista Espírita de fevereiro de 1862 (2), mas vale para qualquer grupamento. Onde há o sentimento de tolerância e benevolência estarão presentes a ordem, a tranquilidade, a estabilidade.

A fraternidade e sua importância

Da mesma forma, no exemplar de dezembro de 1868(2), página 392, na Constituição Transitória do Espiritismo (item IX – Conclusão), Kardec volta a afirmar:

b) “(...) mas pretender que o Espiritismo seja por toda a parte organizado da mesma maneira; que os espíritas do mundo inteiro estejam sujeitos a um regime uniforme, a uma mesma maneira de proceder, que devam esperar a luz de um ponto fixo para o qual deverão fixar seus olhares, seria uma utopia tão absurda quanto pretender que todos os povos da Terra não formem um dia senão uma única nação, governada por um único chefe, regida pelo mesmo código de leis, e sujeitos aos mesmos usos. Se há leis gerais que podem ser comuns a todos os povos, essas leis serão sempre, nos detalhes, na aplicação e na forma, apropriadas aos costumes, aos caracteres, aos climas de cada um. Assim o será com o Espiritismo organizado. Os espíritas do mundo inteiro terão princípios comuns que os ligarão à grande família pelo laço sagrado da fraternidade, mas cuja aplicação poderá variar segundo as regiões, sem, por isto, que a unidade fundamental seja rompida, sem formar seitas dissidentes se atirando  pedras e o anátema, o que  seria antiespírita (...)”.

Ora, é essa a questão das diferenças nos relacionamentos, na convivência. Há diferenças, óbvio, até por questão de entendimento nos diferentes estágios em que também nos encontramos, os adeptos do Espiritismo. Isto, todavia, não elimina a fraternidade que deve reinar para construção da paz no planeta e na intimidade individual.

Sem fraternidade, que vemos?

Bem a propósito, como destaca a mensagem Fundamentos da ordem social (3):

“(...) A fraternidade pura é um perfume do Alto, é uma emanação do infinito, um átomo da inteligência celeste; é a base das instituições morais, e o único meio de elevar um estado social que possa subsistir e produzir efeitos dignos da grande causa pela qual combateis. Sede, pois, irmãos, se quiserdes que o germe depositado entre vós se desenvolva e se torne a árvore que procurais. A união é a força soberana que desce sobre a Terra; a fraternidade é a simpatia na união. (...) É preciso estardes unidos para serdes fortes, e é preciso ser forte para fundar uma instituição que não repouse senão sobre a verdade tomada tão tocante e tão admirável, tão simples e tão sublime. Forças divididas se aniquilam; reunidas elas são tantas vezes mais fortes. (...)”.

E conclui com sabedoria:

“(...) Sem a fraternidade, que vedes? O egoísmo, a ambição. Cada um em seu objetivo; cada um persegue-o de seu lado; cada um caminha à sua maneira, e todos são fatalmente arrastados no abismo onde são tragados, depois de tantos séculos, todos os esforços humanos. Com a união, não há mais que um único alvo, porque não há mais do que um único pensamento, um único desejo, um único coração. Uni-vos, pois, meus amigos; é o que vos repete a voz incessante de nosso mundo; uni-vos, e chegareis bem mais depressa ao vosso alvo (...)”.

O que um não faz, outro faz 
           
E qual seria o alvo, para nós que professamos o Espiritismo?

Permitimo-nos reproduzir a clareza da resposta com que iniciamos o presente comentário: A variedade das aptidões é necessária, a fim de que cada um possa concorrer aos objetivos da Providência no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais: o que um não faz, outro faz. É assim que, cada um tem um papel útil (...)”.(1)

Concentremos atenção no final da frase: o que um não faz, outro faz. É assim que cada um tem um papel útil (...).

Compreendendo este esclarecimento vital, desaparecem as diferenças e a convivência toma seu verdadeiro rumo: o da fraternidade. (Os destaques são nossos.)
 
Notas:  
(1) Questão 804 de O Livro dos Espíritos, 8ª edição IDE-Araras-SP, out/79, tradução de Salvador Gentile.

(2) Edição IDE-Araras-SP, nov./92, tradução Salvador Gentile.

(3) Mensagem obtida em reunião presidida por Allan Kardec, ditada pelo Espírito Léon de Muriane, e publicada na edição de novembro de 1862 da Revista Espírita (edição IDE-Araras-SP, tradução Salvador Gentile, páginas 345 e 346). 

                                                           **************** 

Extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço:
http://www.oconsolador.com.br/ano9/449/especial.html