terça-feira, 30 de agosto de 2016

Conflito


Conflito


“Acho então esta lei em mim: quando quero fazer o bem, o mal está comigo.” – Paulo. (Romanos, 7:21.)

Os discípulos sinceros do Evangelho, à maneira de Paulo de Tarso, encontram grande conflito na própria natureza.

Quase sempre são defrontados por enormes dificuldades nos testemunhos. No instante justo, quando lhes cabe revelar a presença do Divino Companheiro no coração, eis que uma palavra, uma atitude ligeira os traem, diante da própria consciência, indicando-lhes a continuidade das antigas fraquezas.

A maioria experimenta sensações de vergonha e dor.

Alguns atribuem as quedas à influenciação de espíritos maléficos e, geralmente, procuram o inimigo no plano exterior, quando deveriam sanar em si mesmos a causa indesejável de sintonia com o mal.

É indubitável que ainda nos achamos em região muito distante daquela em que possamos viver isentos de vibrações adversas, todavia, é necessário verificar a observação de Paulo, em nós próprios.

Enquanto o homem se mantém no gelo da indiferença ou na inquietação da teimosia, não é chamado à análise pura; entretanto, tão logo desperta para a renovação, converte-se o campo íntimo em zona de batalha.

Contra a aspiração bruxuleante do bem, no dia que passa, levanta-se a pesada bagagem de sombras acumuladas em nossas almas desde os séculos transcorridos. Indispensável, portanto, grande serenidade e resistência de nossa parte, a fim de que o progresso alcançado não se perca.

O Senhor concede-nos a claridade de Hoje para esquecermos as trevas de Ontem, preparando-nos para o Amanhã, no rumo da luz imperecível.

Mensagem extraída da obra: Pão Nosso, Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 136.
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Reflexão: Conquanto os conhecimentos dos homens nos dias atuais, sobre a questão espiritual permanecem os conflitos num processo íntimo em cada um daqueles que se dão ao trabalho do autoconhecimento.
          Conhecer-se é se descobrir, desvendar um mundo novo, apesar da antiguidade, que atravessa os milênios e milênios de vivências, com experiências negativas e grande quantidade experiências positivas. São as negativas que nos incomodam mesmo inconscientemente, porque surgem para a nossa realidade de agora como tendências ou mesmo como aptidões que nos levam à realização negativa, se não refletirmos antes de nossas decisões, para avaliarmos as possíveis consequências, assim, com muito esforço, às vezes impedimos que nossa própria "influenciação" perniciosa nos induza repetir atitude que nos leva ao sofrimento.
      Mesmo assim, com esforço e medidas as consequências não evitamos a nova queda, em muitos casos, porque a nossa resistência moral ainda é frágil, inconsistente, apesar de tudo nos mostrar a inconveniência de tal ou tal atitude.  O que se verifica com muita clareza na questão da infidelidade conjugal, o desrespeito àquilo que é direito comum, como as sonegações, a vantagem desleal sobre o mais fraco...
           Sabe-se que não se deve realizar esta ou aquela ação, no entanto, na ânsia de repetir sensações, de prevalecer sobre outrem, na ilusão de poder, de uma falsa elevação da autoestima, um engrandecimento de si mesmo, num achar vantajoso o soerguimento da vaidade e do orgulho. Logo verá que o troféu que brilha por um instante, desfaz-se logo depois, maculando irremediavelmente a consciência.  Isto porque infringiu lamentavelmente a Lei Divina, que está na sua consciência¹.
        Dessa forma, como meditamos e medimos as possíveis consequências, sabíamos o que estávamos fazendo, aí a realidade para o Espírito é danosa, porque não tem a justificativa da ignorância, foi algo premeditado, as consequências serão sofrimentos que teremos que suportar por tempo que somente nós mesmos poderemos por fim, com a decisão firme de renovação.
       O grande antídoto ao sofrimento da Alma é a evangelização, não aquilo que se deu por entender por evangelização, o que não passa de muita falácia, repetições frasais, comportamentos fingidos a título de santidade que não se adquiriu, com a intenção de impressionar a outrem. 
       A evangelização é uma mudança profunda da alma, estabelecendo em si a lucidez diante da vida, que não se encerra na matéria, mas que transcende os seus limites, avançando para a Espiritualidade, tendo na mensagem de Jesus um caminho norteador, o rumo, e não a barreira psicológica do decorar e repetir verbalmente, com demonstrações excêntricas de comportamento.
        Os conflitos que nos surgem é ponto para análise, reflexão e decisão, nem sempre atendendo nosso interesse, porque o interesse predominante poderá estar sendo a repetição inconsciente de erros de outras existências, que embora negativos nos deram satisfação.
          Conflitos, conflitos...
                                                                                                                                                                                                                      Dorival da Silva

1. O Livro dos Espíritos, questão 621: Onde está escrita a Lei de Deus? "Na Consciência."

                                                        


                                                                 
                
                 

           
           
           


terça-feira, 16 de agosto de 2016

Paz do mundo e paz do Cristo

Paz do mundo e paz do Cristo

“A paz vos deixo, a minha paz vos dou; não vô-la dou como o mundo a dá.” - Jesus. (João, 14:27.)


É indispensável não confundir a paz do mundo com a paz do Cristo.

A calma do plano inferior pode não passar de estacionamento.

A serenidade das esferas mais altas significa trabalho divino, a caminho da Luz Imortal.

O mundo consegue proporcionar muitos acordos e arranjos nesse terreno, mas somente o Senhor pode outorgar ao espírito a paz verdadeira.

Nos círculos da carne, a paz das nações costuma representar o silêncio provisório das baionetas; a dos abastados inconscientes é a preguiça improdutiva e incapaz; a dos que se revoltam, no quadro de lutas necessárias, é a manifestação do desespero doentio; a dos ociosos sistemáticos é a fuga ao trabalho; a dos arbitrários é a satisfação dos próprios caprichos; a dos vaidosos é o aplauso da ignorância; a dos vingativos é a destruição dos adversários; a dos maus é a vitória da crueldade; a dos negociantes sagazes é a exploração inferior; a dos que se agarram às sensações de baixo teor é a viciação dos sentidos; a dos comilões é o repasto opulento do estômago, embora haja fome espiritual no coração.

Há muitos ímpios, caluniadores, criminosos e indiferentes que desfrutam a paz do mundo. Sentem-se triunfantes, venturosos e dominadores no século. A ignorância endinheirada, a vaidade bem vestida e a preguiça inteligente sempre dirão que seguem muito bem.

Não te esqueças, contudo, de que a paz do mundo pode ser, muitas vezes, o sono enfermiço da alma. Busca, desse modo, aquela paz do Senhor, paz que excede o entendimento, por nascida e cultivada, portas a dentro do espírito, no campo da consciência e no santuário do coração.

Obra: Vinha de Luz, Emmanuel, Francisco Cândido Xavier, cap. 105.

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Reflexão:  A paz, como a de Jesus, é construída na intimidade da Alma, no Céu de cada um. Não se perderá, sempre se ampliará, acompanhará quando retornar à espiritualidade, quer dizer quando morrer sob os olhos do Mundo, que fatalmente se morre fisicamente, liberando a Vida do corpo, que somos nós mesmos.

As convenções, os modismos, as presunções, o poder, enfim todas as vaidades do Mundo, no que há de negativo, somente avançará os sentimentos que disso resultar, geralmente nocivos aos interesses da paz daquele que a cultiva, muito embora, possa ter proporcionado uma sensação de paz enquanto ombreia os interesses passageiros da vida terrena. 

O olhar sobre a vida de agora apenas mirando o limite que o materialismo oferece, embora possa parecer infinito, sempre terá a amplidão que lhe dermos; no entanto, quando colocamos o componente espiritual na vida existe uma ampliação significativa dos horizontes do ser que pensa, que vive conscientemente uma realidade que passa, sem as ilusões que entorpecem o objetivo espiritual da vida, porque entende a razão de sua passagem pela vida material que momentaneamente exerce.

Quase sempre procurando a paz, como a entendemos na vida material, assim acumulando para o futuro motivos de sofrimento, porque a realidade que precisamos preservar para depois desta vida, sempre nos proporcionará incômodo, tirando-nos a zona de conforto, aquela que pensamos proporcionar paz, sendo que momentaneamente seja verdade, conquanto fugaz, que qualquer movimento que nos desagrade a dilui e desfaz. 

Muito embora, a construção da paz que perdurará pelos tempos a fora quase sempre proporciona desconforto, trabalho, esforço, superação e exigem desprendimento, compreensão, tolerância, perdão, renúncia e muita reflexão, o que quer dizer uma fé que raciocina, o amor que se movimenta, a caridade de todas as formas. É a construção que o mundo não vê,  o aplauso não existe, o elogio passa distante, com frequência paira a ingratidão, a crítica ácida, a desconfiança, a incompreensão. 

A instalação das virtudes, o patrimônio incorruptível, que alçará a Alma no Reino da Paz, esta sim não será a paz do Mundo, deste mundo do faz de conta, onde a ilusão impera, pela ausência de uma consciência de espiritualidade, um conhecer-se a si mesmo, o saber porque estou aqui, de onde vim e para onde vou, após a falência da carne.

Após a morte do corpo a Vida existe, permanecerá sempre, e terá paz, se a construirmos como Jesus indicou e não como o mundo a impôs.

O mundo a apresenta de acordo com a soma de suas imperfeições, seus vícios, seus interesses, atendendo as satisfações imediatas, sem perspectiva de longanimidade, porque é estanque, finito, terminável, tal como toda matéria.  

Jesus, através do Evangelho, mostra uma realidade transcendente aos limites da matéria, porque não terá fim, porque fala a realidade do Espírito, do que não é material, e transita pelos tempos infinitos, rumo ao fulcro essencial, a origem, que é Deus, onde a paz é permanente, imperecível.

Fiquemos com a paz do Cristo, embora não atenda aos interesses imediatos que o Mundo exige. O nosso olhar deverá ultrapassar as convenções deste momento...

Dorival da Silva 




segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Unir para sobreviver

Unir para sobreviver
    Na conjuntura atual em que a Humanidade vive momentos cruciantes em busca de caminhos que a aliviem das torturas angustiosas que a envolvem; no instante em que o homem de posse de tantos conhecimentos que lhe chegam às mãos após pesquisas ingentes; na hora em que a criatura vislumbra o seu destino grandioso em face das conquistas tecnológicas, convêm analisar que está havendo a necessidade urgente de rumos definidos para que o esforço comum não se venha a perder.

        Como antecipação às necessidades espirituais que se acentuariam na época em que vivemos, o Cristo de Deus determinou que a Consoladora Doutrina da Terceira Revelação viesse ao homem para servir-lhe de bússola orientadora a fim de que os perigos da grande viagem fossem evitando e todos, sem mais perda de tempo, aportássemos em lugar seguro.

        Sem ser obra dos homens, surge o Espiritismo como resultante do trabalho de uma plêiade de entidades desencarnadas e encarnadas, sob a tutela maior do Mestre Galileu, para nortear o caminho de todos nós.

        Chegando pela via fenomênica, que já era milenarmente usada para atestar a veracidade do chamado mundo espiritual, a torrente não se deteve apenas na comprovação da existência e possibilidade de ação sobre a matéria por parte dos desencarnados.

        Abriu extenso campo de cogitações a juízos filosóficos que deram motivo a formação de um granítico corpo doutrinário calcado na lógica e na razão.

        Como se não bastasse ter o movimento de iluminação se servido da porta fenomênica, alcançando as conclusões filosóficas, eis que a mensagem desemboca na revivescência dos ensinamentos puros vividos e deixados pelo Mestre de Nazaré – o Cristianismo.

        Com tríplice aspecto, assim, a Doutrina Espírita veio constituir o edifício granítico de três andares, formando uma unidade indivisível.

        O fenômeno é a prova, o raciocínio o caminho, a moralização a meta.

       Sem dúvida, com estas características, o Consolador veio para ficar pela eternidade afora com os homens, conforme prometera Jesus.

        No entanto, vemos hoje, com muita preocupação, que hostes* ligadas a interesses contrários ao estabelecimento do Reino Espiritual na Terra se movimentam sorrateiramente, buscando minar a obra grandiosa, a partir dos elementos que a devem viver e divulgar.

        Casados da luta ostensiva em que sempre saem derrotados, a técnica dos inimigos da Luz não é mais atacarem a descoberto.

        Usando do campo favorável que a invigilância dos espíritas permite, se imiscuem nos grupos e associações fazendo sua semeadura de cizânia.

        Instilam a vaidade aqui; espicaçam o orgulho ali; estimula a desconfiança acolá; reforçam a antipatia lá adiante, encontrando na passividade de grande parte de nossos irmãos do movimento, o caldo revigorante necessário para se fortificarem mais e mais.

        Procurando dar proporções catastróficas a pequenos incidentes naturais na marcha de almas inferiores, como somos todos nós, aumentam as predisposições de antipatia que uns passam a nutrir pelos outros...

        Utilizando os recursos da hipnose durante as horas de sono, atuam sobre as mentes desavisadas, criando-lhes quadros sugestivos de variada ordem, em que sempre buscam jogar uns contra os outros, porque têm plena consciência de que toda casa dividida não sobreviverá.

        Em face de tais ciladas, nas quais muitos têm caído ingenuamente, é que nos permitimos, em nome do Amor Cristão, a vir-vos dizer:

        Espíritas, alertai-vos contra a semente da cizânia...

        Cuidai cada um de sua leira*, não vos achando o melhor ou o imprescindível...

        Não penseis, nem por um momento que seja, que a obra é vossa e que sem o vosso concurso tudo se esboroará...

        Cristo que representa a vontade do Pai...

        Deixemos de lado posições pessoais, opiniões particulares e modos individualistas de ser, renunciando ao endeusamento do nosso eu para mergulharmos de corpo e alma na tarefa abençoada para qual todos fomos convocados e na qual todos temos o que fazer.

        Que ninguém subestime a tarefa alheia, nem procure engrandecer-se, porque no fundo, funcionamos como vasto mecanismo que às vezes não desenvolve sua ação adequadamente por falta de simples implemento como um pequeno parafuso...

        Vede com alegria o que já conseguistes realizar, mas não vos acomodeis porque ainda há muito a fazer.

        A Casa Espírita é o corpo que a Bondade Divina nos permitiu erguer. Que a façamos habitada pelo espírito do Cristo, a transparecer de nossos gestos e ações.

        Honremo-la com nossa presença frequente; iluminemo-la com o nosso estudo doutrinário constante; fortalecemo-la com nosso testemunho de trabalho permanente.

        Não foi por mero acaso que o insigne Codificador – inspirado pelo Espírito Verdade – escolheu como epíteto* doutrinário o Trabalho, a Solidariedade e a Tolerância.

        O Trabalho é a seiva de nossa vida; a Solidariedade, a manifestação do amor fraterno em nós e a Tolerância é o reconhecimento de que todos precisamos uns dos outros, como somos, para avançar.

        Grandes dificuldades já foram superadas e novas lutas se avizinham porque a leira se alarga à medida que progredimos.

        A união é palavra de ordem, nem que para tanto tenhamos que renunciar a nossas posições pessoais.

        Lembremo-nos de que a Doutrina deve estar acima de tudo.

        Sem os seus ensinos, sua ordem lógica e palavra disciplinadora, toda nossa ação pode parecer eficiente, mas não estará concorrendo para enriquecer o movimento espírita.

        O aplauso é manifestação humana perigosa porque anestesia as nossas potencialidades profundas, aprisionando-nos na jaula da vaidade.

        Recordemos que antes de mais nada é preciso buscar o reino de Deus e suas virtudes, e o resto nos virá por acréscimo...

        E o Reino de Deus não está nem ali, nem acolá, senão dentro de nós mesmos.

        Como o alcançaremos sem o exercício da dignidade cristã?

        Saibamos, por fim, que sem a união das partes, o todo perece.

        A força e a vitalidade do todo estão na razão direta da articulação harmoniosa e amorosa de todos os componentes.

        Lutai e Vigiai.

        Estudai e Amai.

        Perdoai e Trabalhai.

        Fazendo a vossa parte, tende certeza de que faremos a nossa, e unindo os nossos esforços faremos nascer mais depressa o sol da Felicidade Espiritual sobre a Terra.

Lins de Vasconcelos.
Mensagem psicografada pelo médium Alexandre Sech, no dia 29.06.1975, na cidade de Paranavaí (PR).
(*)  Hoste – que denota inimizade ou rivalidade; quem é inimigo; adversário. Leira – sulco ou rego aberto na terra que nele se deposite semente ou muda.

Epíteto – palavra ou expressão que se associa a um nome ou pronome para qualificá-lo.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

A questão 385 de O Livro dos Espíritos é bastante esclarecedora sobre as mudanças comportamentais do adolescente, como verificaremos na transcrição abaixo:


Qual o motivo da mudança que se opera no seu caráter a uma certa idade, e particularmente ao sair da adolescência? É o Espírito que se modifica?

-- É o Espírito que retoma a sua natureza e se mostra tal qual era.

Não conheceis o mistério que as crianças ocultam em sua inocência; não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão; e no entanto as amais e acariciais como se fossem uma parte de vós mesmos, de tal maneira que o amor de uma mãe por seus filhos é reputado como o maior amor que um ser possa ter por outros seres. De onde vem essa doce afeição, essa terna complacência que até mesmo os estranhos experimentam por uma criança? Vós sabeis? Não; e é isso que vou explicar.

As crianças são os seres que Deus envia a novas existências, e para que não possam acusá-Lo de demasiada severidade, dá-lhes todas as aparências de inocência. Mesmo numa criança de natureza má, suas faltas são cobertas pela não-consciência dos atos. Esta inocência não é uma superioridade real, em relação ao que elas eram antes; não, é apenas a imagem do que elas deveriam ser, e se não o são, é sobre elas somente que recai a culpa.

Mas não somente por elas que Deus lhes dá esse aspecto, é também e sobretudo por seus pais, cujo amor é necessário à fragilidade infantil. E esse amor seria extraordinariamente enfraquecido pela presença de um caráter impertinente e acerbo, enquanto que, supondo filhos bons e ternos, dão-lhes toda a afeição e os envolvem nos mais delicados cuidados. Mas, quando as crianças não mais necessitam dessa proteção, dessa assistência que lhes foi dispensada durante quinze a vinte anos, seu caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez: permanecem boas, se eram fundamentalmente boas, mas se irizam sempre de matizes que estavam ocultos na primeira infância.

Vedes que os caminhos de Deus são sempre os melhores, e que, quando se tem o coração puro, é fácil conceber-se a explicação a respeito.

Com efeito, ponderai que o Espírito da criança que nasce entre vós pode vir de um mundo em que tenha adquirido hábitos inteiramente diferentes; como quereríeis que permanecesse no vosso meio esse novo ser, que traz paixões tão diversas das que possuís, inclinações e gostos inteiramente opostos aos vossos; como quereríeis que se incorporasse no vosso ambiente, senão como Deus quis, ou seja, depois de haver passado pela preparação da infância? Nesta vêm confundir-se todos os pensamentos, todos os caracteres, todas as variedades de seres engendrados por essa multidão de mundos em que se desenvolvem as criaturas. E vós mesmos, ao morrer, estareis numa espécie de infância, no meio de novos irmãos, e na vossa nova existência não terrena ignorareis os hábitos, os costumes, as formas de relação desse mundo, novo para vós, manejareis com dificuldade uma língua que não estais habituados a falar, língua mais vivaz do que o é atualmente o vosso pensamento.

A infância tem ainda outra utilidade: os Espíritos não ingressam na vida corpórea senão para se aperfeiçoarem, para se melhorarem; a debilidade dos primeiros anos os torna flexíveis; acessíveis aos conselhos da experiência e daqueles que devem fazê-los progredir. É então que se pode reformar o seu caráter e reprimir as suas más tendências. Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual terão de responder.
É assim que a infância não é somente útil, necessária, indispensável, mas ainda a consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo.


O Livro dos Espíritos
Questão 385.
Tradução: J. Herculano Pires, 42ª edição.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

A glossolalia e a xenoglossia...

Crônicas e Artigos
Ano 10 - N° 474 - 17 de Julho de 2016
JOSÉ REIS CHAVES
jreischaves@gmail.com
Belo Horizonte, MG (Brasil)

 
A glossolalia e a xenoglossia dos carismáticos católicos
e pentecostais
 

Os fenômenos com os grupos de carismáticos católicos e dos pentecostais protestantes e evangélicos incomodam os seus líderes religiosos mais esclarecidos. É que, com razão, eles desconfiam que sejam fenômenos mediúnicos!

Entre eles há médiuns ostensivos ou especiais. E a mediunidade não escolhe religião.

Entre os fenômenos que ocorrem com os citados grupos, há o de glossolalia e o de xenoglossia. O primeiro consiste em o indivíduo ser dominado por uma grande emoção provocada por uma forte crença em estar num contato com Deus, que, no caso, eles chamam de Espírito Santo. As pessoas ficam eufóricas, dançam, choram, dão risadas, gritam, e o mais comum: ficam fazendo murmúrios ou soltando frases espontâneas. E eles creem, como já dissemos, que se trata da manifestação do próprio Deus ou Espírito Santo. E os que são médiuns podem incorporar ou imantar Espíritos e até serem lançados ao chão, conforme seja o Espírito manifestante. Muitas pessoas caíam no chão na hora da missa, e acreditava-se que seria por fraqueza, mas hoje se sabe que, muitas vezes, é porque recebem um Espírito.

O segundo fenômeno é o de xenoglossia, que consiste em o indivíduo falar realmente uma língua estrangeira. Aliás, pode ser um Espírito que fala através de um médium que, antigamente, era chamado de profeta e vidente, como se lê em 1 Samuel 9: 9. (Para saber mais: “Xenoglossia”, de Ian Stevenson, diretor do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Virgínia, USA, Ed. Vida & Consciência, SP, 2012.)

E também para Paulo existe o dom de xenoglossia ou de falar realmente línguas estrangeiras: “Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis, pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar para que a Igreja receba edificação” (1 Coríntios 14: 5). Não se trata, pois, de glossolalia (murmúrio ou blá, blá, blá sem nenhum sentido), mas de xenoglossia ou de falar de fato uma língua estrangeira e até já morta, sem conhecimento dela, e até mesmo desconhecida de todos os presentes.

Também em Pentecostes (Atos, capítulo 2), os apóstolos falaram realmente línguas estrangeiras, que foram entendidas pelos respectivos estrangeiros presentes e que as conheciam. Os defensores do Dogma do Espírito Santo, como acontece com outras passagens bíblicas envolvendo Espíritos, creem que é o Espírito Santo que se manifestou falando línguas estrangeiras através dos apóstolos, o que, porém, não resiste a uma análise mais séria e criteriosa. Foram vários Espíritos que se manifestaram em Pentecostes falando nas línguas de suas nações. Inclusive, a favor disso, houve como que várias línguas de fogo, quando se sabe que é muito comum Espíritos se manifestarem em forma de fogo. Ademais, pela Bíblia, não pelo Dogma, que respeitamos, o Espírito Santo é como se fosse um substantivo coletivo, que designa o conjunto dos Espíritos. (Daniel 13: 45, da Bíblia Católica, pois Lutero tirou os capítulos 13 e 14 da Bíblia Protestante.) Alguns dos presentes, zombando, diziam que os apóstolos estavam embriagados, na verdade estavam em transe mediúnico ou em êxtase, segundo a Igreja.

Como ficou claro, não devemos confundir xenoglossia com glossolalia!

------------------------------------------------------------------------------------------------Página extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço:http://www.oconsolador.com.br/ano10/474/ca2.html

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Responsabilidade espiritual

Responsabilidade espiritual

Toda e qualquer atividade que se assume converte-se num dever que exige responsabilidade.

A existência física é portadora de múltiplos programas educativos que contribuem para o desenvolvimento intelecto-moral do Espírito.

A reencarnação, por isso mesmo, é sublime oportunidade para reparação de erros, correção de irregularidades, reabilitação moral. De acordo com a gravidade de cada ocorrência, há uma pauta específica de reequilíbrio lúcido, disciplinador e próprio para a felicidade.

Nesse capítulo, as dores e problemas de vária ordem constituem o processo terapêutico para a cura real, portanto, na origem do mal praticado. No entanto, a finalidade dos renascimentos não tem caráter punitivo, o que significaria um castigo à ignorância, pela qual se atravessa na sucessão dos acontecimentos.

A aflição defluente do sofrimento é o desconforto que se experimenta, chamando a atenção à ordem, à disciplina, ao dever.

Tudo evolve.

O ser humano, superando as fases iniciais das necessidades básicas, alcança os patamares da inteligência, da emoção, do discernimento.

Nesse período, todas as ações fazem parte do processo de futura iluminação, dando lugar às experiências da solidariedade, do amor e da lídima fraternidade. Em consequência, os atos produzem ressonância de onda equivalente, que promovem os valores inatos ou que perturbam as aspirações de plenitude.

Surgem as provas, os testemunhos, os necessários corretivos aos erros e as expiações, com caráter severo e restritivo à movimentação.

Como a lei de amor é soberana, predomina no universo, favorece a conquista da paz, mediante a resignação durante a difícil aprendizagem evolutiva.

Utilizando-se das suas diretrizes afetuosas, reabilita o infrator, burila-lhe as imperfeições, emula-o ao avanço espiritual, sublima os instintos primários, enquanto aumentam as aspirações de paz e de bem-estar.

Alteram-se os focos existenciais, nos quais o primitivismo cede lugar ao aperfeiçoamento moral.
Servir, pois, é a meta da existência humana, desde o momento em que se lhe detecta a finalidade imortalista.

Engajando-se no objetivo de viver-se com alegria e bem-estar, mesmo por ocasião das situações menos joviais, deve ser o comportamento ético de todo aquele que encontrou Jesus, o exemplo máximo de perfeição na Terra.

Esse despertar da divina essência interna constitui razão básica para a existência feliz, aumentando a responsabilidade do candidato à plenitude.

Não são impostos sacrifícios ou holocaustos, que podem ocorrer por necessidades especiais.

O cumprimento reto dos deveres de cidadania, de família, de consciência, contribui para a aquisição da responsabilidade espiritual.
*
Fascinado pela possibilidade de um mundo melhor e por uma sociedade justa e próspera, encontras, no Espiritismo, campo vasto a joeirar, a fim de prepará-lo para ensementar o amor.

Assumes compromissos com entusiasmo; dedica-te, por algum tempo e, depois, experimentas tédio ou desencanto.

Por que será? - interrogas.

Por falta de motivação, de afeto. Necessário se torna que te mantenhas entusiasmado, em tudo quanto fazes. Coloca um toque de alegria nas tuas atividades e reflexiona no significado das tuas ações.

Não permitas que o automatismo te conduza ao trabalho, que te induzirá à inércia ou à indiferença, pelo que realizas.

O teu próximo precisa de ti, reencarnado ou não. Ele conta contigo, com a tua solidariedade, a tua assistência fraternal.

Ama-o, conscientemente, o que fará um grande bem.

Atividades espirituais multiplicam-se à espera de dedicação.

Reuniões mediúnicas sérias exigem participantes conscientes e responsáveis, para a sua execução.

Atendimento fraterno abre as portas do sentimento alheio à iluminação e à libertação de consciências.
A terapia dos passes aguarda comportamentos nobres e compadecidos, para o socorro oportuno à aflição.

Divulgação doutrinária é indispensável, dentro de padrões especiais, para esclarecer e tocar os ouvintes que precisam encontrar o roteiro, para a existência ativa e saudável.

Todos eles e outros mais serviços espirituais aguardam responsabilidade, consciência de dever.

O passe evoca Jesus, atendendo as multidões e curando-as.

Se eleges a aplicação da bioenergia, torna-te digno de exercê-la, não apenas com a conduta moral e mental saudável, mas também, com o sentimento de dever bem desenvolvido.

Não atues, esporadicamente, como alguém descomprometido com a caridade fraternal.    .

Quando te candidataste, Espíritos guias interessaram-se em ajudar-te. Se perseveras com responsabilidade, eles ampliam os teus recursos terapêuticos e utilizam-se, com amor e ternura. Se não cumpres o programa estabelecido, afastas-te do seu auxílio e ficas à mercê de outros, frívolos e levianos...

O passe é veículo das energias do Céu, para apaziguar as dores terrestres.

Não te esqueças.
*
Quando Jesus enviou os Setenta da Galileia, para que lhe preparassem o caminho concedeu-lhes a faculdade de curar, de afastar os Espíritos perversos e de enfrentar as dificuldades sob a Sua proteção.

E, assim, aconteceu.

Hoje, Ele te chama, para que prossigas auxiliando o teu próximo, e confia em ti; faculta-te o valioso recurso do passe.

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 28 de dezembro de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA.

Em 11.7.2016.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

“lei de causa e efeito” e “lei de ação e reação”

Uma leitora de Curitiba pergunta-nos se as expressões “lei de causa e efeito” e “lei de ação e reação” são, na conceituação espírita, equivalentes.
           
A resposta é sim. Trata-se de expressões que têm o mesmo significado e sintetizam como funciona, em verdade, a justiça divina.

Emmanuel revela em seus textos clara preferência pela primeira – “lei de causa e efeito” –, o que é fácil verificar compulsando sua vasta obra.

J. Herculano Pires, um dos autores espíritas mais aclamados, prefere a expressão “lei de ação e reação”, com o mesmo sentido da primeira. Curiosamente, no cap. 20 do livro Na Era do Espírito, Herculano utiliza ambas as expressões numa mesma frase. Ei-la: “(...) como vemos na mensagem de Emmanuel, o Espiritismo só admite o divórcio nos casos extremos, ensinando que as obrigações morais assumidas na vida terrena têm a sanção da lei divina de causa e efeito, de ação e reação”.

A preferência pela expressão “lei de ação e reação” é visível também na obra de André Luiz, que até a aproveitou para título de um de seus livros, Ação e Reação, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1957 pela Federação Espírita Brasileira.

No cap. 9 dessa obra, comentando uma observação feita por André Luiz, o assistente Silas afirmou:  

"Você tem razão, André, a lei é de ação e reação... A ação do mal pode ser rápida, mas ninguém sabe quanto tempo exigirá o serviço da reação, indispensável ao restabelecimento da harmonia soberana da vida, quebrada por nossas atitudes contrárias ao bem... Por isso mesmo, recomendava Jesus às criaturas encarnadas: `reconcilia-te depressa com o teu adversário, enquanto te encontras a caminho com ele...' É que Espírito algum penetrará o Céu sem a paz de consciência, e, se é mais fácil apagar as nossas querelas e retificar nossos desacertos, enquanto estagiamos no mesmo caminho palmilhado por nossas vítimas na Terra, é muito difícil providenciar a solução de nossos criminosos enigmas, quando já nos achamos mergulhados nos nevoeiros infernais". (Ação e Reação, capítulo 9, pp. 128 a 130.) (Grifamos)

Eis alguns exemplos de uso das expressões ora examinadas:

1) “Todos precisamos de misericórdia, mas a misericórdia, como Deus nos mostra em sua lei de ação e reação, não é a aprovação de erros e ilusões – e sim a correção e o esclarecimento.” (J. Herculano Pires, em Astronautas do Além, cap. 1.)

2) “As enfermidades congênitas nada mais são que reflexos da posição infeliz a que nos conduzimos no pretérito próximo, reclamando-nos a internação na esfera física, às vezes por prazo curto, para tratamento da desarmonia interior em que fomos comprometidos. Surgem, porém, outras cambiantes dos reflexos do passado na existência do corpo, da culpa disfarçada e dos remorsos ocultos. São plantações de tempo certo que a lei de ação e reação governa, vigilante, com segurança e precisão.” (Emmanuel, em Pensamento e Vida, cap. 14.)

3) “Efetivamente, amas aos filhos adotivos com a mesma abnegação com que te empenhas a construir a felicidade dos rebentos do próprio sangue. Entretanto, não lhes ocultes a realidade da própria situação para que não te oponhas à Lei de Causa e Efeito que os trouxe de novo ao teu convívio, a fim de olvidarem os desequilíbrios passionais que lhes marcavam a conduta em outro tempo.” (Emmanuel, em Astronautas do Além, cap. 4.)

4) “O parente que se te instalou no caminho por obstáculo dificilmente transponível… Abençoa-o e ampara-o, quanto puderes. As leis de causa e efeito, tanto quanto os princípios de afinidade, não funcionam sem razão.” (Emmanuel, em Astronautas do Além, cap. 24.)

5) “Nada acontece por acaso. Tudo resulta da lei de causa e efeito. E todo efeito tem um sentido: o da evolução. Todos somos Espíritos faltosos e sofremos as provas que pedimos antes de encarnar. Temos dívidas coletivas a resgatar. Mas além do resgate espera-nos a liberdade, a paz, o progresso. Os jovens que morreram foram poupados de sofrimentos futuros numa vida em que a doença, a velhice e a morte são o salário de todos nós.” (J. Herculano Pires, em Na Era do Espírito, cap. 3.)

6) “Por outro lado, os princípios de causa e efeito dispõem da sua própria penalogia ante a Divina Justiça. Cada qual de nós traz em si e consigo os resultados das próprias ações. Ninguém foge às leis que asseguram a harmonia do Universo.” (Emmanuel, em Na Era do Espírito, cap. 12.) (Grifamos)

Embora Kardec não tenha utilizado as expressões citadas, o princípio que as rege está claramente colocado no seguinte texto constante do cap. V d´O Evangelho segundo o Espiritismo

“Todavia, por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente. Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na presente vida, tê-lo-emos feito noutra. É uma alternativa a que ninguém pode fugir e em que a lógica decide de que parte se acha a justiça de Deus.

O homem, pois, nem sempre é punido, ou punido completamente, na sua existência atual; mas não escapa nunca às consequências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea; se ele não expiar hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que sofre está expiando o seu passado. O infortúnio que, à primeira vista, parece imerecido tem sua razão de ser, e aquele que se encontra em sofrimento pode sempre dizer: Perdoa-me, Senhor, porque pequei.

Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a consequência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros. Se foi duro e desumano, poderá ser a seu turno tratado duramente e com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em humilhante condição; se foi avaro, egoísta, ou se fez mau uso de suas riquezas, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer pelo procedimento de seus filhos, etc.

Assim se explicam pela pluralidade das existências e pela destinação da Terra, como mundo expiatório, as anomalias que apresenta a distribuição da ventura e da desventura entre os bons e os maus neste planeta. Semelhante anomalia, contudo, só existe na aparência, porque considerada tão só do ponto de vista da vida presente. Aquele que se elevar, pelo pensamento, de maneira a apreender toda uma série de existências, verá que a cada um é atribuída a parte que lhe compete, sem prejuízo da que lhe tocará no mundo dos Espíritos, e verá que a justiça de Deus nunca se interrompe.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, itens 6 e 7.) (Grifamos)

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

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