terça-feira, 26 de maio de 2020

A Beleza


A Beleza 

Desde os primórdios da existência, o homem sempre buscou expressar a beleza nas suas muitas formas de manifestação. Foram as pinturas primitivas da face e do corpo, os arranjos com roupas coloridas, acessórios diversos de ossos, penas e outros objetos retirados da natureza, adereços de mão, cabeça e pés, que enfeitavam a personalidade e davam a sua importância. 

Adveio, com a evolução cultural e dos costumes, a pedraria e os metais, o que ensejou a especialização de ourives e posteriormente a industrialização dos artefatos de enfeites pessoais e ambientais de múltiplos materiais, com formas e finalidades muito variadas, para atender gostos e intenções, desde os mais comedidos até os escândalos espetaculares. 

Há algumas décadas, a indústria diversificou os produtos de beleza, particularizando o uso, atendendo às particularidades do corpo, cabelo, rosto, braços e mãos, pernas e pés, com uma miscelânea de aplicações e propósitos de melhor embelezamento e de apresentação. 

Embora o reconhecimento da utilidade de toda a panaceia embelezadora do ser humano, da higiene, tudo para melhor figuração pessoal, sem se descurar das vantagens econômicas, há excessos e muitas fantasias, entorpecendo a percepção da beleza interior que se precisaria buscar, primacialmente.

A vida é lição ao alcance de todos os indivíduos, demonstra que o viço da forma física é notável na infância, na juventude, ainda numa parte da fase adulta, depois o curso natural é a decadência interna e externa do organismo. Chega um momento em que as forças exânimes se extinguem e a máquina carnal imobiliza-se, o seu condutor não tem alternativa, precisa abandoná-la.  Se a preocupação foi sempre se apresentar bem na sua indumentária, agora que ela não mais o acompanha, qual a apresentação?

Pela falta de conhecimento sobre a vida espiritual, uma parcela pequena da Humanidade entende que a preocupação maior deveria ser com a beleza da alma, embora o cuidado e o comedido aformoseamento do corpo demonstrar prerrogativas evolutivas, no entanto, se dá muita ênfase para o que perecerá em detrimento daquilo que é perene, sendo as qualidades intelectuais e morais que a luzirá. 

O embelezamento da alma precisa fazer parte dos movimentos da vida, em todos os instantes, pois, nas decisões diante de cada fato, precisa-se  lembrar que os resultados trarão consequências, não somente no campo das percepções habituais. Vai além, o registro favorável, ou não, permanecerá na alma, vez que  é ela que decide e realiza, utilizando-se do seu corpo no estado de vigília, no entanto, tem-se a impressão de que passado o caso nada mais existe.

Toda ação tem resultado, mesmo que permaneça no anonimato.  Não se pode esquecer de que é um Espírito, momentaneamente reencarnado, que vive o estágio material e espiritual ao mesmo tempo, embora tenha consciência, por ora, do primeiro. O Apóstolo dos Gentios informa aos Hebreus (12-1): “Estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas”

Os movimentos da vida que proporcionam desavença, acarretando mágoa, rancor, ódio, ou quaisquer prejuízos a quem quer que seja, enfeia a alma do responsável; os atendimentos aos desejos desnecessários, ou mesmo dos necessários, mas com excessos, abuso ou má-intenção, maculam a consciência, com desdobramentos lamentáveis que pedem reparação. 

O estudo e a meditação constante do Evangelho de Jesus, que retira das letras o essencial conteúdo para a modificação da vida, leva em conta o refazer-se consciente através das verdades acolhidas sem imposição, mas com o adentrar voluntário e sutil no terreno para além dos limites dos sentidos ordinários. Assim, avançando pelo mundo imaterial,  alcançável, por agora, nas asas do pensamento que levam a sensibilidade a acolher as claridades que farão o embelezamento do Espírito.

Deixando-se o indumento corporal, o seu morador será liberado para retornar ao mundo de onde veio, se apresentando com as qualidades intelectuais e as virtudes que conquistou, a beleza; ou, caso contrário, a fealdade; ambas poderão destoar consideravelmente da máscara que se habituara às ilusões alimentadas na Terra, que lá ficara.

A beleza da Alma é construção de todos os momentos da vida. 

                                 Dorival da Silva.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

NA ESCOLA TERRESTRE




NA ESCOLA TERRESTRE

“Porém, os males mais numerosos são os que o homem cria pelos seus vícios, os que provêm do seu orgulho, do seu egoísmo, da sua ambição, da sua cupidez, de seus excessos em tudo: aí a causa das guerras e das calamidades que estas acarretam, das dissensões, das injustiças, da opressão do fraco pelo forte, da maior parte, afinal, das enfermidades. Deus promulgou leis plenas de sabedoria, tendo por único objetivo o bem; em si mesmo encontra o homem tudo o que lhe é necessário para cumpri-las; a consciência lhe traça a rota, a Lei Divina lhe está gravada no coração e, ao demais, Deus lha lembra constantemente por intermédio de seus messias e profetas, de todos os Espíritos encarnados que trazem a missão de o esclarecer, moralizar e melhorar e, nestes últimos tempos, pela multidão dos Espíritos desencarnados que se manifestam em toda parte. Se o homem se conformasse rigorosamente com as Lei Divinas, não há duvidar de que se pouparia aos mais agudos males e viveria ditoso na Terra. Se assim não procede, é por virtude do seu livre arbítrio: sofre então as consequências do seu proceder.”
(Allan Kardec, A Gênese, Cap. III, item 6)


Considerando que o planeta Terra é a obra do Criador elaborada através de Jesus Cristo para acolhimento de quantos Espíritos nela se depurariam para sua incursão nos planos divinos da Imensidade, todos os fenômenos que infelicitam e atormentam a família humana encarnada no globo, além de todas as almas que permanecem escravizadas à Crosta em situações desequilibradas e desequilibrantes são de sua responsabilidade, tendo em vista o livre arbítrio já conquistado por cada um.

Existem dois meios efetivos de influenciação do habitat terrestre: a ação direta do homem em a Natureza, dizimando-a ou viciando-a por efeito de suas ambições e desconhecimento das leis que a regem, e através das emissões mentais de seus pensamentos diários, constantemente repetidos. O efeito da ação humana sem estudo e por mero interesse comercial intoxica as fontes naturais e perverte a ordem harmônica da cadeia hoje denominada ecossistema. Esse, em termos objetivos, visível e previsível é o motivo material das catástrofes que se abatem sobre todos os países e todos os povos, com variantes segundo a natureza do meio em que sobrevivem. O outro motivo é a densidade e o teor venenoso dessa densidade laborada pelo conjunto de pensamentos liberados pela maioria ainda viciada ou pervertida pela manipulação inescrupulosa de governos, mídias e religiões sem alma, que apenas visam o interesse pessoal e de grupos elitistas, completamente entregues ao desrespeito pela obra do Criador.

No elenco das calamidades físicas, vemos o desequilíbrio das águas das chuvas, dos mares, das secas, do ar pela poluição, das terras intoxicadas e empobrecidas, da extinção de espécies vegetais e animais e a proliferação de pragas que respondem pelo excesso, já que a cadeia harmoniosa e controladora dessas ocorrências foi quebrada pelo homem, e daí por diante. Na outra órbita de ação nefasta, encontramos a psicosfera favorável à proliferação de obsessores desencarnados que estimulam a violência e o desnível moral entre os encarnados, autorizando enfermidades e mesmo a loucura, pois há vibriões e larvas psíquicas em atuação sobre as mentes humanas por efeito desse conluio tóxico e imoral entre desencarnados e encarnados. O poder variante e mutável de vírus diversos, de bactérias e congêneres – já bastantes estudados pela ciência do mundo – é efeito da proliferação desses elementos astrais que a psicosfera doentia e pesada do mundo, geralmente alimentada por ódios, ciúmes, invejas, sensualismo irresponsável, leviandade moral, indiferença, cupidez e todas as aberrações nascidas do egoísmo e do orgulho.

Os surtos psíquicos, quando coletivos, são expressões dessas intoxicações deletérias que, como ondas poderosas e avassaladoras, carregam consigo as almas empedernidas e folgadamente entregues à frouxidão moral, como forma de intensificar a sua enfermidade e obriga-la a providências saneadoras pelos sofrimentos impostos. Aí funcionam as obsessões e essas obsessões, se criteriosamente estudadas, revelarão a natureza moral em decadência e todas as consequências disso, envolvendo as forças orgânicas do indivíduo e as forças fisiopsíquicas do meio terreno, onde se poderá identificar os vibriões psíquicos e as larvas por matrizes dos vírus letais que assombram a História Humana de tempos a tempos.

A eugenia e todos os estudos científicos do mundo são importantes e válidos para coibir as proliferações danosas e inesperadas, mas o moral dos homens e mulheres da Terra será responsável efetivo por sanear a psicosfera tão doentia e permitir o verdadeiro progresso e bem-estar de todos, em todas as nações, porque então a justiça e a humanidade real serão implantadas, como plataforma ideal para o florescimento do Evangelho vivo!

YVONNE A. PEREIRA

(Mensagem psicografada por Wagner Paixão, em Mário Campos, MG, em 18/04/2020).

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Arte e vida


Arte e vida 

A Arte nos dias atuais, reservadas às exceções, causa preocupação, pois tem influenciado negativamente o estado espiritual da massa de gente que ainda carece de discernimento sobre a razão de sua existência na vida terrena.

Na época inicial da civilização as expressões artísticas naturais da dança, do som de instrumentos rudimentares, as pinturas de traços simples, o cantar sem a preocupação de técnica estudada eram riquezas próprias da ingenuidade espiritual daquele estágio.

Manifestava-se a Arte sem nenhum outro interesse, que não alegrar, motivar, adorar uma entidade de devoção, comemorar alguma vitória, colheita, uma caça ou pesca vantajosa, cura de doença...

 A contagem do tempo sempre avança e a humanidade vai conquistando inteligência, cultura, encontrando culminância na escultura, pintura, música, arquitetura...   Sendo que muitas obras estão expostas em museus, em praças, cidades e lugares tombados como Patrimônios Históricos Nacionais ou Internacionais, dispondo à Humanidade, conhecimentos e cultura, enaltecendo a elevação espiritual de muitas gerações.

Voltemos à preocupação assinalada no início desta página. A Arte da atualidade, em uma parte significativa, que atinge as massas de várias faixas etárias através da música, de filmes, novelas e outros que apresentam expressões sensualistas, sexistas, desconsiderações verbalistas e gestuais, a título de liberdade de manifestação, que numa análise mais acurada não fogem à libertinagem comportamental. 

Falta a consciência de que todos que estão transitando pela Terra são espíritos em oportunidade de conquistas nobres, mas também de expiação e resgate de experiências malsucedidas em vidas passadas com tais registros pormenorizados adormecidos na alma, no inconsciente, no entanto, exercem a sua força nessa nova experiência, influenciando a repetição de gozos que outrora foram perniciosos. 

As letras das músicas populares de baixo teor, com segundo sentido, quando não diretamente com ênfase às sensações obscenas, repetidas insistentemente, por artistas influenciadores que ignoram as responsabilidades diante da vida, considerando o que incute nas mentes viciadas ou naquelas insipientes de discernimento que carregarão as fantasias até que as frustrações e as loucuras tragam dor suficiente para o despertamento. 

Não se pode deixar de referir a filmes, novelas televisivas, literatura e programas chamados de entretenimento que exploram as misérias humanas, que, ao invés de alçar a alma para a real beleza da vida, mantém a mesmice comportamental, faceando a insensatez a título de arte. 

Longe de generalizar essas observações, entretanto, são elas que influenciam grandemente a criança e a juventude que inconscientemente respondem acatando a cultura do divertimento, sem reservas, que induzem às viciações de vários matizes, comprometendo a existência na carne e depois na vida espiritual, tendo que retornar em nova encarnação para repetir a lição e se corrigir no que não tinha necessidade de ter ocorrido. 

Perguntou-se ao Espírito Emmanuel¹: O que é a arte? “A arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das criaturas.  Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina manifestação desse “mais além” que polariza as esperanças da alma.
O artista verdadeiro é sempre o “médium” das belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráteis do sentimento humano, alcançando-o da Terra para o Infinito e abrindo, em todos os caminhos, a ânsia dos corações para Deus, nas suas manifestações supremas de beleza, de sabedoria, de paz e de amor.”.

Em outro momento² Emmanuel faz o apontamento: “(…),  porque os raciocínios propriamente terrestres sempre se inclinam para a materialidade em seu arraigado egoísmo.” 
Conhecendo, mesmo que rudimentarmente, facetas da vida no campo espiritual, em conta a grande quantidade de obras psicografadas pelos Espíritos de elevada condição moral, que são os prepostos de Jesus, responsáveis pela condução da massa dos reencarnados, sem intervir no livre-arbítrio de nenhuma individualidade, mas sabendo que todos terão de encarar a própria consciência quando retornarem àquela paragem depois da morte, fazemos esses registros a título de colaboração, o que também nos serve grandemente.
As justificativas de que o povo acolhe porque gosta aquilo que se apresenta, mesmo de teor e modos inadequados, ou, ainda, a questão econômica, porque se consome em quantidade muito lucrativa desenvolvendo o comércio, proporcionando empregos, o que não encontra amparo onde haja bom senso, quando se pensa que a passagem neste mundo é transitória, tendo-se a lucidez de que passados os limites do túmulo a vida terá a qualidade do que se implementou desde o berço.
A Arte com qualidade nobre é ferramenta que tem força para a elevação do espírito no sentido de vencer as tendências negativas que traz consigo, vícios materiais e morais, comportamentos prejudiciais para si e para a sociedade, que lhe infelicitaram em vidas anteriores. Com assertiva, se está nesta vida para corrigir muito das coisas que incomodam na intimidade da alma, embora não se lembre, mas que podem ser superadas com a conquista de novos conhecimentos de melhores teores.
O ser humano é uma autoconstrução, entretanto, busca no ambiente de sua vivência sob a sua responsabilidade o que deseja e renuncia a tudo o que não lhe convém, para isso tem que ter clareza dos objetivos da vida.  Enquanto essa virtude não se faz presente é oportuno que os meios sociais oferecidos sejam sempre os melhores em qualidade moral, porque quem busca e ainda não tem discernimento, existindo aqueles que oferecem “produtos” impregnados de desvarios, a qualquer título, ou a qualquer justificativa, assumirão as responsabilidades na proporção que a Lei da Vida atribuir.
Todos os Espíritos são solidários e responsáveis pelo progresso geral, aprendendo e ensinando. Em conta o egoísmo existente no Mundo não se compreende a fraternidade que é Universal, mas sendo clara para aqueles que fizeram o seu progresso espiritual.
As Artes, as Ciências, tudo o que exerce influência na vida do ser humano está inserido na Lei de Causa e Efeito, é a Lei Divina que está escrita na consciência de cada criatura, ela levará naturalmente a reparação de todas as consequências de suas intenções em qualquer tempo.
Todo cuidado é necessário com o que se realiza na Arte, em qualquer de seus ramos, tanto quanto na Ciência, na Filosofia, na Religião…
Vantagens ilícitas, fama criada em bases ilusórias, riqueza a qualquer preço e poder negativo sobre as massas podem ser considerados dívidas de difíceis soluções a prazo razoável, em conta a grande impregnação negativa das Almas que precisavam de bons exemplos e a influência de qualidades morais para serem melhoradas.
Numa ocasião, Amigo Espiritual num Grupo de Estudos Espírita soprou: “Para os grandes problemas, Deus reserva grandes soluções! ”
A vida é uma Arte!
                                                              Dorival da Silva
¹- Obra: O Consolador, questão 161, Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ano 1940.
²- Obra: Caminho, Verdade e Vida, capítulo 156, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ano 1948.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Encontro em Hollywood


Encontro em Hollywood

Caminhávamos, alguns amigos, admirando a paisagem do Wilshire Boulevard,  em Hollywood, quando fizemos parada, ante a serenidade do Memoriam Park Cemetery, entre o nosso caminho e os jardins de Glendon Avenue.
A formosa mansão dos mortos mostrava grande movimentação de Espíritos libertos da experiência física, e entramos. 

Tudo, no interior, tranquilidade e alegria. 

Os túmulos simples pareciam monumentos erguidos à paz, induzindo à oração. Entre as árvores que a primavera pintara de verde novo, numerosas entidades iam e vinham, muitas delas escoradas umas nas outras, à feição de convalescentes, sustentadas por enfermeiros em pátio de hospital agradável e extenso. 

Numa esquina que se alteava com o terreno, duas laranjeiras ornamentais guardavam o acesso para o interior da pequena construção que hospeda as cinzas de muitas personalidades que demandaram o Além, sob o apreço do mundo. A um canto, li a inscrição: “Marilyn Monroe – 1926-1962”.  Surpreendido, perguntei a Clinton, um dos amigos que nos acompanhavam:

-- Estão aqui os restos de Marilyn, a estrela do cinema, cuja história chegou até mesmo ao conhecimento de nós outros, os desencarnados de longo tempo no Mundo Espiritual? 

-- Sim – respondeu ele, e acentuou com expressão significativa: -- não se detenha, porém, a tatear-lhe  a legenda mortuária... Ela está viva e você pode encontrá-la, aqui e agora...

-- Como?

O amigo indicou frondoso olmo chinês, cuja galharia compõe esmeraldino refúgio no largo recinto, e falou:

-- Ei-la que descansa, decerto em visita de reconforto e reminiscência...

A poucos passos de nós, uma jovem desencarnada, mas ainda evidentemente enferma, repousava a cabeleira loura no colo de simpática senhora que a tutelava. Marilyn Monroe, pois era ela, exibia a face desfigurada e os olhos tristes. Informados de que nos seria lícito abordá-la, para alguns momentos de conversa, aproximando-nos, respeitosos. 

Clinton fez a apresentação e aduzi:

-- Sou um amigo do Brasil que deseja ouvi-la.

-- Um brasileiro a procurar-me, depois da morte? 

-- Sim, e porque não? – acrescentei – a sua experiência pessoal interessa a milhões de pessoas no mundo inteiro...

E o diálogo prosseguiu:

-- Uma experiência fracassada...

-- Uma lição talvez.

-- Em que lhe poderia ser útil?

-- A sua vida influenciou muitas vidas e estimaríamos receber ainda que fosse um pequeno recado de sua parte para aqueles que lhe admiraram os filmes e que lhe recordam no mundo a presença marcante...

-- Quem gostaria de acolher um grito de dor?

-- A dor instrui...

-- Fui mulher como tantas outras e não tive tempo e nem disposição para cogitar de filosofia. 

-- Mas fale mesmo assim...

-- Bem, diga então às mulheres que não se iludam a respeito de beleza e fortuna, emancipação e sucesso... Isso dá popularidade e a popularidade é um trapézio no qual raras criaturas conseguem dar espetáculos de grandeza moral, incessantemente, no circo do cotidiano. 

-- Admite, desse modo, que a mulher deve permanecer no lar, de maneira exclusiva? 

-- Não tanto. O lar é uma instituição que pertence à responsabilidade tanto da mulher quanto do homem. Quero dizer que a mulher lutou durante séculos para obter a liberdade...  Agora que a possui nas nações progressistas, é necessário aprender a controlá-la. A liberdade é um bem que reclama senso de administração, como acontece ao poder, ao dinheiro, à inteligência...

Pensei alguns momentos na fama daquela jovem que se apresentara à Terra inteira, dali mesmo, em Hollywood, e ajuntei:

-- Miss Monroe, quando se refere à liberdade da mulher, você quer mencionar a liberdade do sexo?

-- Especialmente. 

-- Porquê?

-- Concorrendo sem qualquer obstáculo ao trabalho do homem, a mulher, de modo geral, se juga com direito a qualquer tipo de experiência e, com isso, na maioria das vezes compromete as bases da vida. Agora que regressei à Espiritualidade, compreendo que a reencarnação é uma escola com muita dificuldade de funcionar par o bem, toda vez que a mulher foge à obrigação de amar, nos filhos, a edificação moral a que é chamada.

-- Deseja dizer que o sexo...

-- Pode ser comparado à porta da vida terrestre, canal de renascimento e renovação, capaz de ser guiado para a luz ou para as trevas, conforme o rumo que se lhe dê. 

-- Ser-lhe-ia possível clarear um pouco mais este assunto? 

-- Não tenho expressões para falar sobre isso com o esclarecimento necessário; no entanto, proponho-me a afirmar que o sexo é uma espécie de caminho sublime para a manifestação do amor criativo, no campo das formas físicas e na esfera das obras espirituais, e, se não for respeitado por uma sensata administração dos valores de que se constitui, vem a ser naturalmente tumultuado pelas inteligências animalizadas que ainda se encontram nos níveis mais baixos da evolução. 

-- Miss Monroe – considerei, encantado, em lhe ouvindo os conceitos --, devo asseverar-lhe, não sem profunda estima por sua pessoa, que o suicídio não lhe alterou a lucidez.

-- A tese do suicídio não é verdadeira como foi comentada – acentuou ela sorrindo. – Os vivos falam acerca dos mortos o que lhes vem à cabeça, sem que os mortos lhes possam dar a resposta devida, ignorando que eles mesmos, os vivos, se encontrarão, mais tarde, diante desse mesmo problema... A desencarnação me alcançou através de tremendo processo obsessivo. Em verdade, na época, me achava sob profunda depressão. Desde menina, sofri altos e baixos, em matéria de sentimento, por não saber governar a minha liberdade... Depois de noites horríveis, nas quais me sentia desvairar, por falta de orientação e de fé, ingeri, quase semi-inconsciente, os elementos mortíferos que me expulsaram do corpo, na suposição de que tomava uma simples dose  de pílulas mensageiras do sono...

-- Conseguiu dormir na grande transição?

-- De modo algum. Quando minha governanta bateu à porta do quarto, inquieta ao ver a luz acesa, acordei às súbitas da sonolência a que me confiara, sentindo-me duas pessoas a um só tempo... Gritei apavorada, sem saber, de imediato, identificar-me, porque lograva mover-me e falar, ao lado daquela outra forma, a vestimenta carnal que eu largara...  Infelizmente para mim, o aposento abrigava alguns malfeitores desencarnados que, mais tarde, vim a saber, me dilapidavam as energias. Acompanhei, com indescritível angústia, o que se seguiu com o meu corpo inerme; entretanto, isso faz parte de um capítulo do meu sofrimento que lhe peço permissão para não relembrar...

-- Ser-lhe-á possível explicar-nos porque terá experimentado essa agudeza de percepção, justamente no instante em que a morte, de modo comum, traz anestesia e repouso?

-- Efetivamente, não tive a intenção de fugir da existência, mas, no fundo, estava incursa no suicídio indireto. Malbaratara minhas forças, em nome da arte, entregando-me a excessos que me arrasaram as oportunidades de elevação... Ultimamente, fui informada por amigos daqui de que não me foi possível descansar, após a desencarnação, enquanto não me desvencilhei da influência perniciosa de Espíritos vampirizadores a cujos propósitos eu aderira, por falta de discernimento quanto à leis que regem o equilíbrio da alma. 

-- Compreendo que dispõe agora de valiosos conhecimentos, em torno da obsessão...

-- Sim, creio hoje que a obsessão, entre as criaturas humanas, é um flagelo muito pior que o câncer. Peçamos a Deus que a ciência no mundo se decida a estudar-lhe os problemas e resolvê-los...

A entrevistada mostrava sinais de fadiga e, pelos olhos da enfermeira que lhe guardava a cabeça no regaço amigo, percebi que não me cabia avançar.

-- Mis Monroe – concluí --, foi um prazer para mim este encontro em Hollywood. Podemos, acaso, saber quais são, na atualidade, os seus planos para o futuro?

Ela emitiu novo sorriso, em que se misturavam a tristeza e a esperança, manteve silêncio por alguns instantes e afirmou:

--Na condição de doente, primeiro, quero melhorar-me... Em seguida, como aluna no educandário da vida, preciso repetir as lições e provas em que fali...  Por agora, não devo e nem posso ter outro objetivo que não seja reencarnar, lutar, sofrer e reaprender...

Pronunciei algumas frases curtas de agradecimento e despedida e ela agitou a pequenina mão num gesto de adeus. Logo após, alinhavei estas notas, à guisa de reportagem, a fim de pensar nas bênçãos do Espiritismo Evangélico e na necessidade da sua divulgação.

Escrito extraído da obra:  Estante da Vida, pelo Espírito Irmão X,  psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 1, publicada em 1969.
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NOTA:


  Iniciando a leitura da obra referida, deparei de início com essa “reportagem do além” com entrevista de personagem de grande influência na arte cinematográfica do século XX, pelo Espírito Irmão X, que foi jornalista no Brasil, que apresenta muitos pontos para análise na atualidade da nossa sociedade, o que faremos apenas referência, deixando a reflexão a critério dos leitores.


1. Relato pelo próprio Espírito de como realmente se deu a sua morte na última existência na Terra.


2. Os cuidados que o Espírito recebe para o seu restabelecimento e a consciência de seu retorno nas lides onde faliu.


3. A consciência de que o seu comportamento e os excessos na vida lhe trouxeram desequilíbrio que a levaram à morte.


4. Dá clareza à questão da liberdade da mulher, apontando: “A liberdade é um bem que reclama senso de administração, como acontece ao poder, ao dinheiro, à inteligência...”


5. Avalia a questão da morte, de que nem tudo o que se diz ou se conclui sobre certas ocorrências, embora as aparências, são verdadeiras. 


Outros pontos poderiam ser levantados, mas ficaremos com esses que anotamos.


                                       Dorival da Silva