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segunda-feira, 2 de setembro de 2019

A nova geração em A Gênese


A nova geração em A Gênese *

                                                          Sandra Maria Borba Pereira

A temática da transição planetária está presente em nosso movimento espírita há algum tempo.  Eventos tratam do assunto, livros são publicados, palestras repetidas pelos quadrantes do país e fora dele.

Diante do quadro atual de violência em grande escala e fenômenos naturais destrutivos, ecoam as palavras: os tempos são chegados do fim do mundo!

Na quinta obra da Codificação Espírita, Kardec nos presenteia com o capítulo que encerra o livro, São chegados os tempos, nos oferecendo lúcidas e atuais reflexões em torno desse palpitante assunto para nos esclarecer e alertar, acalmar e motivar a nossa atitude perante a vida.

Sinais dos tempos

Partindo das previsões alarmantes de algumas denominações religiosas sobre os sinais dos tempos, assinalados por Deus, Allan Kardec, na sua natural argumentação dialética, começa por evitar posições antagônicas e radicais buscando compreender, antes de tudo, o sentido dessa expressão.  Homem de veia racional começa por tranquilizar o leitor -- espírita ou não – afirmando¹: se a nossa época está designada para a realização de certas coisas, é que estas têm uma razão de ser na marcha do conjunto.

O fio condutor de toda argumentação kardequiana diz respeito à lei à qual estamos todos submetidos: homens, sociedades, astros. É essa uma lei que atua tanto nas transformações físicas do nosso planeta quanto na depuração moral dos Espíritos, na sua destinação à perfectibilidade.  No campo mais propriamente material nos defrontamos com as sucessivas mudanças ocorridas em nosso orbe. No campo moral – e isso é por demais importante – algumas características revelam – ou poderão revelar – o alcance ou não de um certo progresso, a saber¹: desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes.

Não pensemos, porém, que esses progressos se deem de forma isolada. Na sua visão dialética, Kardec acentua que o homem é também artífice do progresso material do globo através de sua ação intelectual e pragmática, quando responsável e produtiva para as coletividades e para a própria Natureza. É o chamado de atenção para a educação ambiental já apresentada nos idos de 1868 pelo Codificador.

Analisando o tema, Kardec nos esclarece sobre o mecanismo da Lei do Progresso, situando-o em dois modus operandi¹: um lento, gradual e insensível e outro caracterizado por mudanças bruscas, a cada uma das quais corresponde um movimento ascensional mais rápido.

Entrelaçando Deus, as Leis Naturais e o Homem, nos esclarece o mestre lionês que o progresso da Humanidade se opera, no geral, obedecendo à Lei Divina e, nos detalhes, subordinando-se ao livre-arbítrio dos homens, o que explicaria a diversidade das consequências do progresso, de comunidade para comunidade.

Dizer que os tempos são chegados seria, pois, dizer que a humanidade está madura para subir um degrau¹.

Seguindo a linha de raciocínio kardequiano chegamos a um ponto fundamental da Lei do Progresso: a vontade divina, em meio aos desassossegos da Natureza e vontades/ações dos homens, é que mantém a Unidade do Universo ainda quando se nos apareçam destacadas as perturbações dos elementos naturais e desequilíbrios individuais e sociais, frutos das ações humanas na sua construção histórica.

A essa altura do texto situa o Codificador que a Humanidades terrena atingiu incontável progresso como resultado concreto do avanço da Ciência e das Artes, exigindo dos homens a enorme tarefa de realizar um outro progresso, o moral, que consiste em² fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral.

Destacando a necessidade de uma educação moral voltada para os bons sentimentos, afirma ainda²: Já não é somente de desenvolver a Inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho.

É essa a fase que devemos perseguir para assinalar de fato um novo período progressivo da Humanidade que deverá ser caracterizado por uma nova ordem social, caracterizada pelo progresso moral³, ou seja, por uma mudança radical na conduta moral dos homens.

Longe de condenar o bem-estar material (e nem o poderia dado ser o direito de viver o primeiro direito do Espírito encarnado e nisso está incluída a necessidade do bem-estar material, que não deve ser confundido com coisas supérfluas), Kardec esclarece que esse não basta para se garantir um mundo melhor. Segue-se à busca de um estado de bem-estar material a necessidade de se construir um bem-estar sociomoral.  O Codificador parecia ver o futuro que hoje nos mostra nações com alto nível de renda per capita e de riqueza em meio às drogas, ao suicídio, à pedofilia.

Para a Humanidade terrena chegou uma nova fase: a fase adulta, que reclama a superação de seus erros e ilusões pelo crescimento moral, único caminho capaz de assegurar a felicidade aos homens. As ideias se renovam com a renovação das próprias gerações que, lentamente, amadurecem, modificando aspirações, superando necessidades e métodos, ampliando os horizontes do futuro. Nesse trânsito, um paradigma novo sobre a vida e seu sentido precisa ser definido pela consolidação das ideias alicerçadas sobre uma nova visão de Deus, na aceitação da existência e da sobrevivência dos Espíritos. Isso fará com que se destruam por si sós os preconceitos de castas, os antagonismos de seitas.

A Nova Geração

Nesse momento do texto Kardec chama a atenção para o movimento de resistência daqueles que se mantêm no egoísmo e no orgulho, desejosos de parar a marcha do progresso.

Para superar tal resistência será necessária e inadiável a formação de uma nova geração que será responsável pela fundação da era do progresso moral que se distinguirá por ter Inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas. 4   É essa geração que definirá um novo perfil para as coletividades e para a própria Terra, secundando o movimento regenerador do planeta.

Que se tranquilizem os apressados: esse movimento regenerador não será composto exclusivamente por Espíritos que já possuam processo consolidado anteriormente.  A nova geração pode se constituir tanto de novos Espíritos melhores como de antigos Espíritos melhorados, todos caracterizados pela disposição moral voltada para o bem e para o progresso, para a fé, a tolerância e a liberdade.

Lembrando a expressão crística do fermento na massa, essa nova geração terá a responsabilidade de levedar, com suas qualidades morais, a grande massa humana de insensatos, inseguros e imaturos, que tanto necessitam de exemplos e estímulos à superação de suas defecções morais.  

É essa nova geração que deverá fomentar, na massa social, os sentimentos de caridade, fraternidade, benevolência para com todos, tolerância para com todas as crenças, em substituição aos vícios que retardam o progresso da Humanidade 4: ciúme, apego às coisas materiais, sensualidade, cupidez, avareza e paixões degradantes.

“Há muito terreno a ser arroteado.

Mãos à obra!

Aremos!”

Ao concluir a leitura deste capítulo, restam-nos algumas questões que julgamos de capital importância:

·       Indicadas as características que deverá ter a nova geração fica a pergunta:  como proceder à sua educação?

·       Como nós, Espíritos imperfeitos e falíveis, podemos proceder a essa educação de Espíritos moralmente superiores a nós?

·       Que práticas educativas o Movimento Espírita poderá utilizar para o alcance desses elevados objetivos?

Em resposta à primeira questão já sabemos, conforme O Livro dos Espíritos, que será necessária uma educação moral baseada no exemplo e constituída por hábitos que exteriorizem sentimentos de elevação (ordem, previdência, respeito, solidariedade, fraternidade, autoconhecimento etc).  Se a nova geração encontrar esses encaminhamentos, encontrará também o solo propício para o desenvolvimento de suas boas sementes.

Quanto à segunda pergunta temos a considerar, a partir das elucidações kardequianas:

·       Somos educadores uns dos outros se entendemos por ação educativa a influência de um ser sobre outro, quer haja ou não uma supremacia, prevalecendo o caráter influenciador de nossas ações recíprocas.

·       Ainda que pequenos, espiritualmente falando, podemos, ao menos, não entravar a ação dos membros da nova geração. Podemos, por outro lado, colaborar, de forma ativa, pelo nosso esforço de renovação, pela ação evangelizadora que possamos desenvolver junto a esses Espíritos no lar, nas Casas Espíritas ou na sociedade. Embora pequenos, somos chamados à grande tarefa de evangelizar, educando, dando o testamento do trabalho redentor, oferendo ou recordando os subsídios evangélico-doutrinários aos irmãos que já galgaram outros degraus acima na escada evolutiva que nos aguarda a todos.

·       Não nos inibamos perante a nossa própria condição espiritual. Alegremo-nos. Sim, como o professor consciencioso se alegra diante do aluno prodígio que seguirá adiante, muito mais adiante que o mestre.

A última questão nos reporta a inúmeras mensagens ditadas pelos Espíritos enfatizando a tarefa educativa da Doutrina Espírita, com destaque para a página O Centro Espírita 5, da autoria espiritual de Djalma Montenegro de Farias, pela mediunidade de Divaldo Franco. Nela, o trabalhador do movimento espírita pernambucano caracteriza a casa espírita:  oásis, hospital, oficina, templo, escola. Em última instância: educação do corpo, da mente, da alma, das mãos, dos sentimentos.

O exemplo de dedicação e humildade de dirigentes e trabalhadores, a formação doutrinária sólida, o ambiente fraternal e instrutivo dos grupos de estudo e evangelização, a atmosfera de serviço redentor cooperativo, as possibilidades de integração em equipes de trabalho, os testemunhos de amor à causa do Bem são estratégias facilitadoras para a formação de uma nova geração nas fileiras espiritistas.

Evangelização Espírita Infantojuvenil

No quadro acima se destaca o trabalho da Evangelização Espírita Infantojuvenil destinado a todos, com vistas à formação do homem de bem, buscando, através de seus múltiplos núcleos, sensibilizar e esclarecer, amparar e iluminar, evangelizar e redimir, sem se preocupar exclusivamente com os da nova geração, confiante de que a semeadura pertence aos obreiros e o conhecimento sobre o tipo de solo e possibilidades de frutos pertence ao Senhor.

Preocupada com a mensagem espírita compreendida, sentida e vivenciada, a Evangelização Infantojuvenil e sua legião de trabalhadores anônimos, sem o aplauso do mundo, mas com a aprovação da própria consciência comprometida com a vivência evangélica, vem colaborando, há décadas, com a educação dos sentimentos junto à multidão de crianças e jovens que se aglutinam nos seus núcleos de trabalho.

Há muito o que fazer, conclui Kardec. Há muito terreno a ser arroteado. Mãos à obra! Aremos! Semeemos mas, sobretudo, procuremos dar o nosso testemunho pessoal de autoeducação moral, educando os nossos próprios sentimentos no Bem.

Utopia!** dirão alguns enfastiados pessimistas no plantão obscuro dos derrotados. Mas, o que será de nós sem a esperança, a utopia, o sonho?

Utopia hoje, sonho realizado... um dia...

Progresso sim, sempre, pela vontade de Deus... apesar dos homens, através da educação.



Referências:

1. KARDEC, Allan. A Gênese. Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro FEB,

    2002. cap. XVIII, item 2.

2. Op. cit.  cap. XVIII, item 5.

3. Op. cit. cap. XVIII, item 6

4. Op. cit. cap. XVIII, item28

5. FRANCO, Divaldo Pereira. Sementeira da Fraternidade   Por Espíritos Diversos. Salvador: LEAL, 2008,

     cap. 55.

(*) Capítulo constante do mais recente lançamento da FEP: Educação em Foco.

(**) Do grego ou+topos, lugar que não existe



Texto extraído do Jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do Paraná, agosto de 2019, número 1621, Curitiba (PR)

sábado, 13 de abril de 2019

Complexidades do fenômeno mediúnico

Complexidades do fenômeno mediúnico

À primeira vista, o intercâmbio seguro entre os Espíritos desencarnados e os homens parece revestir-se de muita simplicidade.
Considerando-se que, após a morte do corpo, o ser apresenta-se com todos os atributos que lhe caracterizavam a existência física, é de crer-se que o processo da comunicação mediúnica torna-se natural e rápido, fácil e simples.
Como em qualquer procedimento técnico, no entanto, vários requisitos são-lhe exigíveis, o que torna a sua qualidade difícil de ser conseguida, ao mesmo tempo complexa para a sua realização.
O processo de comunicação dá-se somente através da identificação do Espírito com o médium, perispírito a perispírito, cujas propriedades de expansibilidade e sensibilidade, entre outras, permitem a captação do pensamento, das sensações e das emoções, que se transmitem de uma para outra mente através do veiculo sutil.
O médium é sempre um instrumento passivo, cuja educação moral e psíquica lhe concederá recursos hábeis para um intercâmbio correto. Nesse mister, inúmeros impedimentos se apresentam durante o fenômeno, que somente o exercício prolongado e bem dirigido consegue eliminar.
Dentre outros, vale citar as fixações mentais, os conflitos e os hábitos psicológicos do sensitivo, que ressumam do seu inconsciente e, durante o transe, assumem com vigor os controles da faculdade mediúnica, dando origem às ocorrências anímicas.
Em si mesmo, o animismo é ponte para o mediunismo, que a prática do intercâmbio termina por superar. Todavia, vale a pena ressaltar que no fenômeno anímico ocorrem os de natureza mediúnica, assim como nos mediúnicos sucedem aqueles de caráter anímico.
Qualquer artista, ao expressar-se, na música, sempre dependerá do instrumento de que se utilize. O som provirá do mecanismo utilizado, embora o virtuosismo proceda de quem o acione.
O fenômeno puro e absoluto ainda não existe no mundo orgânico relativo...
Os valores intelectuais e morais do médium têm preponderância na ocorrência fenomênica, porquanto serão os seus conhecimentos, atuais ou passados, que vestirão as ideias transmitidas pelos desencarnados.
Desse modo, a qualidade da comunicação mediúnica está sempre a depender dos valores evolutivos do seu intermediário.
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Não há dois médiuns iguais, qual ocorre em outras áreas das atividades humanas, nas quais cada pessoa apresenta-se com os seus próprios recursos, assinalada pelas suas particulares características.
Quando se tratar de médium com excelentes registros e grande fidelidade no conteúdo da mensagem recebida, eis que defrontamos alguém que repete experiências transatas, havendo sido instrumento mediúnico anteriormente.
Na variada gama das faculdades, as conquistas pessoais armazenadas contribuem para que o fenômeno ocorra com o sucesso desejado.
Seja no campo das comunicações intelectuais, seja naqueles de natureza física, o contributo do médium é relevante.
Não seja, portanto, de estranhar que um médium, psicógrafo ou psicofônico, tenha maior facilidade para o registro de mensagens de um tipo literário ao invés de outro, logrando, por exemplo, admiráveis romances e deploráveis poemas, belas pinturas e más esculturas, facilidade para expressar-se em idiomas que não apenas aquele que hoje lhe é familiar, em razão de experiências vivenciadas em reencarnações anteriores.
Também há médiuns com aptidão para receber Espíritos sofredores, o que lhes deve constituir uma bênção, facilitando-lhes a aquisição de títulos de enobrecimento, pela ação caridosa que desempenhem. Não obstante, haverá, igualmente, a mesma predisposição para sintonizar com as Entidades Nobres, delas haurindo e transmitindo a inspiração, a sabedoria e a paz.
A ideia, o impulso procedem sempre do Espírito desencarnado, porém o revestimento, a execução vêm dos cabedais arquivados no inconsciente do médium.
A luz do Sol ou outra qualquer, ao ser coada por uma lâmina transparente, reaparecerá no tom que lhe é conferido pelo filtro.
No fenômeno mediúnico sucede da mesma forma.
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Tendo em vista que a faculdade é orgânica, os recursos da aparelhagem exercem grande influência na ocorrência do fenômeno.
Assim considerando, o exercício, que educa os impulsos e comanda a passividade, é de capital importância.
À medida que vão sendo eliminados os conflitos pessoais, mais transparentes e fiéis se farão as mensagens, caracterizando os seus autores pelo conteúdo, estilo, elaboração da ideia e, nas manifestações artísticas, pelas expressões de beleza que apresentam.
A educação mediúnica, à semelhança do desenvolvimento de qualquer aptidão, impõe tempo, paciência, perseverança, estudo, interesse.
O investimento de cuidados específicos, na mediunidade, será compensado pelos resultados comprovadores da sua legitimidade, como também pelos ensinamentos e consolos recebidos na sua aplicação.
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Faculdade neutra, do ponto de vista moral, pode o indivíduo ser portador de conduta irregular com largo campo de registro, em razão do seu pretérito, enquanto outros, moralizados, não possuem as mesmas possibilidades, o que não os deve desanimar.
A moral, no entanto, é exigível, em razão dos mecanismos de sintonia que a conduta proporciona.
Uma existência assinalada pela leviandade, por abusos de comportamento, por atitudes vulgares, atrai Espíritos igualmente irresponsáveis, perversos, perturbadores e zombeteiros.
A convivência psíquica com essas mentes e seres costuma por afetar as faculdades mentais do individuo, que termina vitimado por lamentáveis processos de obsessão, na sua variada catalogação.
As comunicações sérias e nobres somente têm lugar por instrumentos dignos e equilibrados.
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Na sua condição de instrumento e na sua postura de passividade, o médium não pode provocar determinadas comunicações, mas sim, criar as condições e aguardar que ocorram.
Cabe-lhe estar vigilante para atender as chamadas que se originam no mundo espiritual, fazendo-se maleável e fiel portador da responsabilidade que lhe diz respeito.
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O fenômeno mediúnico, para suceder em condições corretas, necessita que o organismo do instrumento se encontre sem altas cargas tóxicas de qualquer natureza, porquanto as emoções em desalinho, o cansaço, as toxinas resultantes dos excessos alimentares bloqueiam os núcleos de transformação do pensamento captado nas mensagens, o que equivale a semelhantes acontecimentos em outras atividades intelectuais, artísticas e comportamentais.
Atitude física, emocional e mental saudáveis, são a condição ideal para que o fenômeno mediúnico suceda com equilíbrio e rentabilidade.
Quando acontece pela violência, sem a observância dos requisitos essenciais exigíveis, alguns dos quais aqui exarados, já que outros ainda existem e merecem estudos, estamos diante de manifestações obsessivas, de episódios mediúnicos perturbadores, nunca, porém, de fenômenos que se expressem com a condição espírita para uma vivência mediúnica dignificadora.
 Manoel Philomeno de Miranda
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, em
1º.11.1993, no Centro Espírita Caminho da
Redenção, em Salvador, Bahia.
Em 2.4.2019

Esta mensagem foi extraída  da  página de Divaldo Franco, que poderá ser acessada através do endereço: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=566

sexta-feira, 31 de março de 2017

Suicídio




Suicídio
 

No suicídio intencional, sem as atenuantes da moléstia ou da ignorância, há que considerar não somente o problema da infração ante as Leis Divinas, mas também o ato de violência que a criatura comete contra si mesma, através da premeditação mais profunda, com remorso mais amplo.

Atormentada de dor, a consciência desperta no nível de sombra a que se precipitou, suportando compulsoriamente as companhias que elegeu para si própria, pelo tempo indispensável à justa renovação.

Contudo, os resultados não se circunscrevem aos fenômenos de sofrimento íntimo, porque surgem os desequilíbrios consequentes nas sinergias do corpo espiritual, com impositivos de reajuste em existências próximas.

É assim que após determinado tempo de reeducação, nos círculos de trabalho fronteiriços da Terra, os suicidas são habitualmente reinternados no plano carnal, em regime de hospitalização na cela física, que lhes reflete as penas e angústias na forma de enfermidades e inibições.

Ser-nos-á fácil, desse modo, identificá-los, no berço em que repontam, entremostrando a expiação a que se acolhem.

Os que se envenenaram, conforme os tóxicos de que se valeram, renascem trazendo as afecções valvulares, os achaques do aparelho digestivo, as doenças do sangue e as disfunções endocrínicas, tanto quanto outros males de etiologia obscura; os que incendiaram a própria carne amargam as agruras da ictiose(1)ou do pênfigo; os que se asfixiaram, seja no leito das águas ou nas correntes de gás, exibem os processos mórbidos das vias respiratórias, como no caso do enfisema ou dos cistos pulmonares; os que se enforcaram carreiam consigo os dolorosos distúrbios do sistema nervoso, como sejam as neoplasias diversas e a paralisia cerebral infantil; os que estilhaçaram o crânio ou deitaram a própria cabeça sob rodas destruidoras, experimentam desarmonias da mesma espécie, notadamente as que se relacionam com o cretinismo, e os que se atiraram de grande altura reaparecem portando os padecimentos da distrofia muscular progressiva ou da osteíte difusa.

Segundo o tipo de suicídio, direto ou indireto, surgem as distonias orgânicas derivadas, que correspondem a diversas calamidades congênitas, inclusive a mutilação e o câncer, a surdez e a mudez, a cegueira e a loucura, a representarem terapêutica providencial na cura da alma.

Junto de semelhantes quadros de provação regenerativa, funciona a ciência médica por missionária da redenção, conseguindo ajudar e melhorar os enfermos de conformidade com os créditos morais que atingiram ou segundo o merecimento de que disponham.

Guarda, pois, a existência como dom inefável, porque teu corpo é sempre instrumento divino, para que nele aprendas a crescer para a luz e a viver para o amor, ante a glória de Deus.

                                                Emmanuel. 
(1) Ictiose: dermatose caracterizada pela secura e aspereza da pele, a qual, por hipertrofia de sua camada córnea, se torna escamosa como a dos peixes. 
 


Do livro Religião dos Espíritos, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Mensagem extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço: 
http://www.oconsolador.com.br/ano9/432/emmanuel.html

quinta-feira, 16 de março de 2017

Microcefalia não é pena de morte

Microcefalia não é pena de morte


            Os que defendem a legalização do aborto encontraram na associação do aumento da microcefalia com o surto de zika uma oportunidade para retomar a discussão da liberação do procedimento no Brasil. Querem transformar o diagnóstico de microcefalia em atestado de morte para todas as crianças das mães que contraíram o vírus e que optarem pela interrupção da gravidez, mesmo com possibilidades de nascerem sem sequelas neurológicas graves.


               Com o avanço da medicina fetal e da genética médica, hoje é possível a detecção, ainda no útero, de várias anomalias fetais. Querer considerar apenas as crianças saudáveis com direito à vida é retomar a prática da eugenia feita na Grécia antiga e pelo nazismo, abrindo um precedente para a liberação do aborto em outros casos de microcefalia.


               Não se pode falar na opção de abortamento, pois não se trata de patologia letal que inviabilize a vida extrauterina. A discussão do aborto em casos de microcefalia retrata bem o momento pós-moderno em que vivemos.


               Para a maioria dos autores, a pós-modernidade é marcada como a época das incertezas, das fragmentações, do narcisismo, da troca de valores, do vazio, do niilismo, da deserção, do imediatismo, da efemeridade, do hedonismo, da substituição da ética pela estética, da apatia, do consumo de sensações e do fim dos grandes discursos.


               Na sociedade pós-moderna, predomina a permi
ssividade que justifica que tudo é bom desde que eu me sinta bem. É um relativismo no qual não há nada absoluto, nada totalmente bom ou mau, onde as verdades são oscilantes.


               Vive-se numa época de grande competitividade e de pouca solidariedade. Em nome dessa nova ideologia, os indivíduos se permitem agir passando por cima de valores fundamentais.


               A coisificação da vida e o predomínio dos interesses pessoais em detrimento do coletivo são bem característicos dessa fase em que vivemos.


               Entretanto, aprendemos com a genética que a diversidade é a nossa maior riqueza coletiva. E o feto anômalo, mesmo o portador de grave deficiência, como é o caso da microcefalia, faz parte dessa diversidade. Deve ser, portanto, preservado e respeitado.


               Necessário se faz proteger também a gestante, dando-lhe apoio em sua gravidez e proporcionando tratamento ao seu futuro filho.


               O aborto provocado é um procedimento traumático, com repercussões gravíssimas para a saúde mental da mulher, que geralmente aparecem tardiamente. Produz um luto incluso, devido à negação da ocorrência de uma morte real, mas esse aspecto é totalmente desconsiderado.


               As mulheres sofrem uma perda, e suas necessidades emocionais são relegadas ou escondidas. Esse processo vai gerar profundas marcas e favorecer o surgimento da síndrome pós-aborto.

               A evolução de uma sociedade é medida pela sua capacidade de amparar os mais frágeis. A sociedade que apela para o aborto se declara falida em suas bases educacionais, porque dá guarida à violência no que ela tem de pior, que é a pena de morte para inocentes. Compromete, portanto, o seu projeto mais sagrado, que é o da construção da paz.


Gilson Luís Roberto é presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil.

Mensagem extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço:
 http://www.oconsolador.com.br/ano9/454/cartas.html

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

DIVULGAÇÃO ESPÍRITA

DIVULGAÇÃO ESPÍRITA

Bezerra de Menezes

Filhos, o Senhor nos abençoe. Efetivamente, as vossas responsabilidades no plano terrestre vos concitam a trabalho árduo no que se refere à implantação das ideias libertadoras da Doutrina Espírita a que fomos trazidos a servir.

Em verdade, nós outros, os amigos desencarnados, até certo ponto, nos erigimos em companheiros da inspiração, mas as realidades objetivas são vossas, enquanto desfrutardes as prerrogativas da encarnação.

Compreendamos que a vossa tarefa na divulgação do Espiritismo é ação gigantesca, de que não vos será lícito desertar.

Nesse aspecto do assunto, urge considerarmos o impositivo da distribuição equitativa e plena dos valores espirituais, tanto quanto possível, em benefício de todos.

Devotemo-nos à cúpula, uma vez que, em qualquer edificação o teto é a garantia da obra, no entanto, é forçoso recordar que a estrutura e o piso são de serventia preciosa, cabendo-lhes atender à vivência de quantos integram no lar a composição doméstica.

Em Doutrina Espírita, encontramos a Terra toda por lar de nossas realizações comunitárias e, por isso mesmo, a cúpula das ideias é conclamada a exercer a posição de cobertura generosa e benéfica em auxílio da coletividade.

Não vos isoleis em quaisquer pontos de vista, sejam eles quais forem.

Estudai todos os temas da humanidade e ajustai-vos ao progresso, cujo carro prossegue em marcha irreversível.

Observai tudo e selecionai os ingredientes que vos pareçam necessários ao bem geral.

Nem segregação na cultura acadêmica, nem reclusão nas afirmativas do sentimento.

Vivemos um grande minuto na existência planetária, no qual a civilização, para sobreviver, há de alçar o coração ao nível do cérebro e controlar o cérebro, de tal modo que o coração não seja sufocado pelas aventuras da inteligência.

Equilíbrio e justiça.

Harmonia e compreensão.

Nesse sentido, saibamos orientar a palavra espírita no rumo do entendimento fraternal.

Todos necessitamos de luz renovadora.

Imperioso saber conduzi-la, através das tempestades que sacodem o mundo de hoje, em todos os distritos da opinião.

Congreguemo-nos todos na mesma formação de trabalho, conquanto se nos faça imprescindível a sustentação de cada um no encargo que lhe compete.

Nenhuma inclinação à desordem, a pretexto de manter coesão, e nenhum endosso à violência sob a desculpa de progresso.

Todos precisamos penetrar no conhecimento da responsabilidade de viver e sentir, pensar e fazer.

Os melhores necessitam do Espiritismo para não perder o seu próprio gabarito nos domínios da elevação.

Os companheiros da retaguarda evolutiva necessitam dele para se altearem de condição.

Os felizes reclamam-lhe o amparo, a fim de não se desmandarem nas facilidades que transitoriamente lhes enfeitam as horas.

Os menos felizes pedem-lhe o socorro, a fim de se apoiarem na certeza do futuro melhor.

Os mais jovens solicitam-lhe os avisos para se organizarem perante a experiência que lhes acena ao porvir e os companheiros amadurecidos na idade física esperam-lhe o auxílio para suportar com denodo e proveito as lições que o mundo lhes reserva na hora crepuscular.

Tendes convosco todo um mundo de realizações a mentalizar, preparar, levantar, construir.

Não nos iludamos.

Hoje dispondes da ação, no corpo que envergais; amanhã seremos nós, os amigos desencarnados, que vos substituiremos na arena de serviço.

A nossa interdependência é total.

Ante a imortalidade, estejamos convencidos de que voltaremos sempre à retaguarda para corrigir-nos, retificando os erros que tenhamos, acaso, perpetrado. Mantenhamo-nos vigilantes.

Jesus na Revelação e Kardec no Esclarecimento resumem para nós códigos numerosos de orientação e conduta.

Estamos ainda muito longe de qualquer superação, à frente de um e outro, porque, realmente, os objetivos essenciais do Evangelho e da Codificação do Espiritismo exigem ainda muito esforço de nossa parte para serem, por fim, atingidos.

Reflitamos: sem comunicação não teremos caminho.

Estudemos e revisemos todos os ensinos da Verdade, aprendendo a criar estradas espirituais de uns para os outros.

Estradas que se pavimentem na compreensão de nossas necessidades e problemas em comum, a fim de que todas as nossas indagações e questões sejam solucionadas com eficiência e segurança.

Sem intercâmbio, não evoluiremos; sem debate, a lição mora estanque no poço da inexperiência, até que o tempo lhe imponha a renovação.

Trabalhemos servindo e sirvamos estudando e aprendendo. E guardemos a convicção de que, na bênção do Senhor estamos e estaremos todos reunidos uns com os outros, hoje quanto amanhã, agora como sempre.


Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, recebida em 6 dez. 1969 e publicada em Reformador, abr. 1977. (Extraída o livreto: Orientação à Comunicação Social Espírita, FEB, 2ª edição – 9/2013, pág. 13/15)

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

MANSOS DE CORAÇÃO

MANSOS DE CORAÇÃO

Quando Jesus proclamou a felicidade nos mansos de coração, não se propunha, de certo, exaltar a ociosidade, a hesitação e a fraqueza.

Muita gente, a pretexto de merecer o elogio evangélico, foge aos mais altos deveres da vida e abandona-se à preguiça e à fé inoperante, acreditando cultivar a humildade.

O Mestre desejava destacar as almas equilibradas, os homens compreensivos e as criaturas de boa vontade que, alcançando o valor do tempo, sabem plantar o bem e esperar-lhe a colheita, sem desespero e sem violência.

A cortesia é o primeiro passo da caridade.

A gentileza é o princípio do amor.

Ninguém precisa, pois, aguardar o futuro, a fim de possuir a Terra. É possível orientá-la hoje mesmo, detendo-lhe os favores e talentos, entre os nossos semelhantes, cultuando a bondade fraternal.

As melhores oportunidades de cada dia no mundo pertencem àqueles que melhores se fazem para quantos lhes rodeiam os passos. E ninguém se faz melhor, arremessando pedras de irritação ou espinhos de amargura na senda dos companheiros.

A sabedoria é calma e operosa, humilde e confiante.

O espírito de quem ara a Terra com Jesus compreende que o pântano pede socorro, que a planta frágil espera defesa, que o mato inculto reclama cuidado e que os detritos do temporal podem ser convertidos em valioso adubo, no silêncio do chão.

Se pretendes, pois, a subida evangélica, aprende a auxiliar sem distinção.

A pretexto de venerar a verdade, não aniquiles as promessas do amor. Abraça o teu roteiro, com a alegria de quem trabalha por fidelidade ao Sumo Bem, estendendo a graça da esperança, a benefício de todos, e, um dia, todos os que te cercam e te acompanham entoarão o cântico de bem-aventurança que o teu coração escreveu e compôs nos teus atos, aparentemente pequeninos de fraternidade e sacrifício, em favor dos outros, em tua jornada de ascensão à Divina Luz.


Mensagem extraída da obra O Evangelho por Emmanuel, psicografia, de Francisco Cândido Xavier, página 60, também consta da Obra: Escrínio de Luz, editada pelo O Clarim.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Partindo da paz interior e da tolerância

15/03/2015 -- 00h00

Partindo da paz interior e da tolerância


O principal médium brasileiro explica como as religiões, respeitando as outras, podem auxiliar no combate à violência e ao materialismo


Gina Mardones
Divaldo Pereira Franco, médium e orador espírita

Quando se trata de paz, o baiano Divaldo Pereira Franco, 87 anos, domina o assunto. Nomeado Embaixador pela Paz da Organização das Nações Unidas (ONU), o médium e orador espírita que já psicografou mais de 200 obras no País veio a Londrina na semana passada compartilhar seu ideal de não-violência com a comunidade. Ele participou da abertura do Movimento Você e a Paz, campanha que teve início em Salvador e objetiva mobilizar cidadãos como agentes multiplicadores de uma cultura de tolerância e amor ao próximo. 
Além da teoria espírita, ideias de Gandhi, Martin Luther King Jr., Carl Jung e Viktor Frankl permearam a conversa do médium, considerado por muitos como o sucessor de Chico Xavier, com a reportagem da FOLHA. Para ele, a integração ecumênica entre os povos faz parte do caminho para se reduzir a agressividade, tanto que ele próprio se encontrou recentemente com o papa Francisco, no Vaticano. 

O orador também discorreu sobre o papel das religiões no combate ao materialismo, o preconceito envolvendo algumas denominações neopentecostais e mazelas que atingem a população mundo afora, sob o ponto de vista do espiritismo. Confira os principais trechos da entrevista. 

O senhor veio a Londrina participar de um evento em prol da paz. Por onde podemos começar para tentar alcançar esta condição de não-violência? 

Nosso movimento tem características especiais. Se trata de atividade ao alcance de todas as pessoas. Todos somos unânimes em achar que a violência atingiu índices insuportáveis, porém a maioria cruza os braços. Martin Luther King Jr. dizia que pior que a gritaria dos maus, é o silêncio dos bons. Porque é exatamente o nosso silêncio que permite que sejam ouvidas as vozes do desespero. Pensamos durante muito tempo como contribuir para mudar ou abrir espaço para uma visão diferente, em fazer da paz coletiva. Já havíamos nos dedicado há mais de 50 anos à educação e quando eu completei 70 anos, eu pude visitar quase 100 penitenciárias, presídios, lugares para crianças em risco e achei que poderia contribuir nesta área. Sob a inspiração dos bons espíritos, veio a ideia de uma proposta nos seguintes termos: você e a paz. Isto é realizar primeiro a paz interior, o indivíduo que não tem paz interna, ele não pode de maneira nenhuma colaborar numa sociedade equilibrada porque ele está em desajuste. Não adianta o mundo estar em paz e estar guerreando em casa. Esta guerra da afetividade, pais e filhos, parceiros, amigos, amantes, é essencial trabalhar em favor do bem estar pessoal, com os pais voltando para casa para educar o filhos. Mais importante do que dar um presente é fazer-se presente. Esse presente é trabalhar pela afetividade. Nós somente amamos o que conhecemos, o que não conhecemos nós nos fascinamos, nos apaixonamos. Mas é coisa muito rápida, como um grande incêndio com combustível sem reserva. Acabou o combustível, acabou o incêndio. 

Ainda sobre paz interior, que ferramentas as pessoas podem usar para chegar a esta condição? 

Meditação, a busca de uma religião, seja ela qual for, que não leve ao fanatismo nem ao combate de outras religiões. A presença de Deus é muito importante no íntimo do ser humano, é uma verdadeira meta. Frankl e Jung diziam que a vida tem que ter sentido. A vida sem sentido é uma vida morta e o indivíduo sem incentivo é um parasita social, que vive às custas dos outros. Se nós colocarmos nossa imortalidade como meta, porque todo aquele que tem religião acredita na imortalidade, vamos nos esforçar. Pode ser uma pessoa sem cultura, mas ela tem consciência do dever, sabe do elemento básico de todas as religiões que é o amor ao próximo, o amor a Deus. Então fazemos uma proposta utilizando os dois verbos – o reagir e o agir. Aprendemos a reagir pela força do instinto. Alguém pisa no nosso pé, a gente reage e dá um soco. A gente pisa na pata do cavalo, ele dá um coice; na pata do cão, ele morde. É o instinto. Se alguém pisar em nosso pé, não reajamos, mas ajamos. Peçamos para tirar o seu pé de cima do nosso. Parece uma coisa banal, mas é muito importante. Voltemos ao dialogo, ao convívio, à compaixão, dando ao outro o direito de ser como é. Mas a nós, exigindo de nós mesmo sermos cada vez melhores. No ano 2000, a Unesco apresentou um memorando com cinco itens para a paz mundial. Se as nações preservassem esses itens haveria paz mundial. O primeiro deles, preserve a paz. Segundo: não dê margem à violência. Se lhe atiram um diamante no rosto, não fique ferida. Embrulhe o diamante em uma peça de veludo e entregue. Atirar a verdade no rosto do outro fere, então a verdade tem que ser diluída. Jesus contou a verdade usando parábolas, Buda contando histórias, Maomé com outros textos. O terceiro: seja tolerante. O quarto: proteja o planeta; e o quinto, vamos voltar à solidariedade. Quer dizer que em alguma época, fomos solidários. Hoje, somos solitários. O gesto da Al-Qaeda, em 2001, contra os Estados Unidos, ataca estes cinco itens. Mas não posso acabar com o Estado Islâmico. Posso ser bom amigo dentro de casa e isso vai mudando. Gandhi tinha uma frase fantástica: numa casa com uma pessoa de paz, a casa é pacífica. Numa rua que tem uma casa pacífica, a rua fica pacificada. Num bairro com rua de paz, ele fica em paz. Uma cidade com um bairro de paz fica também pacífica. E assim por diante. Se cada um de nós fizer um pouco de esforço e descobrirmos que a paz está dentro de nós, é fantástico. Jesus, o vulto mais notável da humanidade do ponto de vista filosófico, sintetizou toda a sua doutrina em duas frases: "Ama o teu próximo como a ti mesmo" e "Não faças a outrem o que não desejares que outro te faça". 

O senhor falou sobre a importância da consciência da imortalidade, independente da religião. Ações ecumênicas são importantes para evitar episódios de intolerância e fundamentalismo? 

O problema não está na religião, está nos religiosos. O religioso é um ser que necessita de Deus, mas ele se tem muitos conflitos pessoais, cria um Deus dele e não o Deus universal. E quer impor esse Deus aos outros. Daí o diálogo inter-religioso é saudável. Porque não importa a religião que o outro tem. Importa a conduta que a religião preconiza para ele e todas preconizam a mesma coisa: o amor a Deus, ao próximo, o trabalho do bem. Mas os mecanismos diferem porque nós somos diferentes, cada um de nós está num nível de consciência, então necessitamos de tantas religiões quantas são as nossas necessidades. 

O senhor fez uma visita ao papa Francisco recentemente. Isso faz parte desta integração ecumênica? Como foi? 

O papa é uma das pessoas mais notáveis do século. É um jesuíta com uma conduta franciscana. Ele reflete, de alguma forma, os ensinamentos de Jesus na visão de São Francisco. Quando ele foi passando, o saudei: "Sou brasileiro". Ele sorriu e continuou. Não houve margem para conversarmos. Pode-se compreender o número de pessoas importantes a quem ele tem que atender. Mas foi muito gratificante estar ali e sentir o amor, porque lá fora tinha mais de 10 mil pessoas, na sala tinha 5 mil. Ele fez um discurso que foi fascinante, pedia aos pais para voltarem para casa para tirarem seus filhos das mãos dos traficantes de drogas, que eram seus verdadeiros pais, com quem eles conviviam.

O Brasil é um país com uma gama de religiões, algumas com mais seguidores, outras com menos. O senhor avalia que ainda existe preconceito contra determinadas religiões? 

De nós para eles não. Quanto ao comportamento de alguns pastores, nós lamentamos. Mas é um problema pessoal deles, porque todos os que estão vinculados a religiões, ao chamado neopentecostalismo, se voltam para Deus. Imaginemos se estas 20 milhões de pessoas não tivessem religião e se encontrassem nas ruas, o que seria de nós? Consideramos, do ponto de vista filosófico, alguns comportamentos exóticos, que não coincidem, pelo contrário, colidem com o Evangelho de Jesus. Mas é uma questão que diz respeito a eles e não a nós. 

Que tipos de comportamento seriam esses? 

O Evangelho recomenda que tudo deve ser dado grátis. Mesmo o dízimo, Jesus pagou e não cobrou. Dar de graça o que de graça recebemos. Depois não agredir o próximo, não atacar as diferenças religiosas. Só lamentamos, nós, espíritas, quando eles têm esses comportamentos, mas achamos naturais porque são resultado de conflitos pessoais. 

Na visão do senhor, como podemos lidar com a questão do materialismo na sociedade de hoje? As religiões podem ajudar a combater isso? 

Elas ajudam a combater. Vivemos um contexto individualista, sexista, consumista, de alguma forma a nossa postura hoje é uma postura de valorizar apenas o corpo e interesses muito imediatos. Então nos desviamos nessas buscas da realidade que somos, seres imortais. A pessoa jovem e bela de hoje amanhã estará, haja o que houver, envelhecida, doente, caso a morte não a arrebate antes. Devemos pensar na estrutura de uma sociedade prática, lógica, que cuide do corpo, que é um dever, mas, sobretudo, que coloque o corpo como sendo instrumento de uso e não o essencial para viver. O corpo perece, mas o espírito permanece. As religiões ensinam exatamente isso. Ao excesso de poder, o distribuir. Ao invés de reter, ser, transformar-se para melhor. 

O senhor poderia explicar qual a noção de céu e inferno no entendimento espírita? 

A tradição religiosa herdou do Antigo Testamento a mitologia ancestral a respeito de um lugar de penas punitivas e de um lugar de delícias. Quando veio o cristianismo, inevitavelmente, esta herança foi adaptada aos novos moldes. Como havia um desconhecimento a respeito do universo, estabeleceu-se que o inferno estava abaixo, no sentido geográfico, e o céu estava acima. Hoje com a visão que temos do universo, nós acreditamos que o inferno é a consciência de culpa e o céu é a consciência de dever cumprido. Haverá lugares de sofrimento, é natural. Pela Lei da Afinidade, aqueles que têm problemas são atraídos pelas mesmas vibrações e formam comunidades, que Joanna de Ângelis denominou como umbrais, uma região de dores, mas não eterna. Seria um purgatório transitório porque Deus jamais aplicaria uma pena eterna por um erro transitório. As pessoas não são más, são ignorantes. Mandela tem uma frase muito interessante: ninguém nasce mau, exceto os psicopatas, mas (os indivíduos) se tornam maus ou bons de acordo com o meio social no qual são gerados. Em todo criminoso, diz a psicologia, há uma criança maltratada, ferida. Então punir alguém eternamente vai além da misericórdia e definição de um pai que nos criou para o bem e nos deixou cair no abismo por uma emoção, um transtorno de comportamento, uma paixão. Não existe inferno eterno, existe inferno interior. A divindade nos dá oportunidade de encarnar, voltar para poder aprender e corrigir. 

O senhor citou a questão do sofrimento e da correção dos erros, por meio da reencarnação. Assistimos a uma série de adversidades acontecendo mundo afora, com pessoas ainda vivendo em guerra, como refugiadas ou em meio à fome e à miséria. Isso seria uma espécie de carma ou faz parte das mudanças na Terra? 

Digamos que seria um carma da humanidade. Porque a humanidade está em níveis diferentes de evolução. Vamos dizer que estes espíritos mais primários, sem experiências, os que cometeram atrocidades através da história vêm hoje para esses países que são verdadeiros purgatórios, vêm na condição de refugiados, apátridas, sem qualquer proteção aparente, mas sob o comando divino. Agora, nos cabe ajudá-los, criar situações que lhes sejam favoráveis. O fato de serem devedores não justifica que não sejamos bons construtores para ajudá-los. Por nossa vez, estamos também em outro nível em que existem também sofrimentos, de outra natureza, mas que também são punitivos. 

O senhor gostaria de acrescentar alguma coisa? 

Eu gostaria de deixar uma mensagem: vale a pena amar, em qualquer circunstância. O amor é sempre melhor para quem ama. Se alguém não me ama, o problema é da pessoa. Quando sou eu quem não ama, o problema é meu. Se alguém me odeia, pior para este alguém, porque vive atormentado. Mas quando sou eu quem odeia, pior para mim porque sou razão de tormentos. O amor é a essência da vida. Quem ama é feliz, saudável e grato a Deus. Se tem qualquer dúvida, experimente amar.

Antoniele Luciano
Reportagem Local

Reportagem do jornal Folha de Londrina, que poderá ser acessada através do endereço adiante: http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--1481-20150315