quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Análise do livro “A Vida Viaja na Luz”

Especial Inglês Espanhol    
Ano 9 - N° 451 - 7 de Fevereiro de 2016
JOSÉ PASSINI
passinijose@yahoo.com.br
Juiz de Fora, MG (Brasil)
 
 
José Passini
Análise do livro
“A Vida Viaja na Luz
 
Título do livro: A Vida Viaja na Luz 
Autor: Inácio Ferreira
Médium: Carlos A. Baccelli
Editora: LEEPP
Ao longo desta análise, deveriam ser colocados entre aspas os nomes dos Espíritos citados, pelo fato de suas palavras e atitudes não nos convencerem da identidade a eles atribuída. Entretanto, para facilitar a redação deste texto,
deixamos de fazê-lo.

Os textos do livro serão transcritos em
negrito, as páginas, entre parênteses.

Esse Espírito, que se fez passar pelo Dr. Inácio Ferreira, depois de achincalhar a mediunidade, de atacar os espíritas, de inventar materialização a partir de ectoplasma haurido de um cadáver de um bêbado, de inventar reencarnação no Mundo Espiritual, de usar uma linguagem absolutamente incompatível com a sobriedade, a dignidade e a nobreza da Doutrina Espírita, agora coloca-se, em linguajar bem mais moderado, como defensor de Chico Xavier, esquecido de que no livro “Chico Xavier Responde” colocou na boca do médium desencarnado uma clara defesa do aborto. 

Se esse Espírito fosse realmente o ilustre Dr. Inácio Ferreira, deveria valorizar a obra do médium Chico Xavier, estudando e desdobrando as teses apresentadas por André Luiz, que se apresentam como um complemento da Codificação. Mas, numa tentativa de valorizar o trabalho equivocado do médium que lhe serve de instrumento, primeiro defende a tese de que Chico Xavier foi Kardec, e agora apresenta Baccelli como médium de Chico, logo do próprio Kardec, que estaria voltando para completar a Codificação.

– Mas ninguém pode querer impor silêncio ao Chico! -, exclamou, indignado, o fiel amigo.
– É uma tentativa de lançar ao descrédito toda a mensagem dele, via mediúnica. Veja: contestam alguns livros de sua lavra psicográfica – tendo o visível intuito de que não sejam admitidos por complemento da Codificação... (22)

Quem estuda a obra de André Luiz tem uma visão clara de como se organiza a vida no Mundo Espiritual. O Dr. Inácio nunca se refere à bela organização delineada na comunidade “Nosso Lar” e noutras colônias, em que são ressaltados os valores espirituais, a vivência evangélica, a ordem, a seriedade, o merecimento, a obediência.

– No outro dia, bem cedo, na companhia de Modesta e Manoel Roberto, fui ver, nas imediações do Hospital, uma chácara que conseguíramos em regime de comodato, para a realização de velho sonho. (25)
– O Hospital dos médiuns será a instituição mantenedora da Sociedade Protetora dos Animais “Francisco de Assis”!
– Uma Sociedade Protetora dos Animais no Além! (27)
– O Hospital dos Médiuns, do ponto de vista jurídico, responderá pela Sociedade “Francisco de Assis”. (30)

O Dr. Inácio, em seu consultório, encontrou sobre sua mesa uma carta confidencial de Chico Xavier, como se houvesse lá um serviço postal. (33/35)

Essa, uma das inúmeras tentativas que faz no sentido de tornar a vida espiritual semelhante à vivida na Terra, numa tentativa clara de minimizar as revelações de André Luiz. Depois, recebe um homem que havia sido condenado a 200 anos de prisão no Mundo Espiritual, e que havia obtido licença do juiz para uma consulta:

– Jamais poderia supor que, na Vida de Além-Túmulo, a justiça funcionasse como funciona na Terra. Assim que me vi fora do corpo, deram-me voz de prisão e fui para uma penitenciária, onde fiquei aguardando julgamento. (49)

Observe-se a continuação do relato do madeireiro desencarnado:

– Conforme lhe disse, assim que me vi fora do corpo – tive oportunidade de ver meu corpo imóvel, caído no banheiro de uma das minhas propriedades -, dois detetives se aproximaram e me perguntaram se eu era o dono daquelas propriedades e da serraria.
– Os detetives pronunciaram o meu nome completo. Noutras circunstâncias, como fugi inúmeras vezes, eu teria fugido, mas... Eu tinha inúmeros contatos na polícia, Doutor! (50)
– Conforme lhe disse, deram-me voz de prisão e me algemaram.
– E você foi algemado?
– Conduzido na viatura?
– Levaram-me para o presídio. Tiraram-me as algemas, um médico me examinou e prescreveu alguns medicamentos. Devo ter dormido uns quatro ou cinco dias seguidos... (51)

A estória prossegue, dando-nos a impressão de que o Dr. Inácio tornou-se um novelista...

Mais adiante, diz que foi a Uberaba e, tendo materializado um ouvido e um olho (precisaria?), ouviu umas conversas de espíritas e presenciou algumas cenas triviais, cuja descrição, como muitas outras, serve apenas para encher páginas de livros.
(58)

Lecionando bons costumes, diz que leu nos jornais (sic) da localidade onde habita:

– Você leu, nos jornais, a lei que foi aprovada recentemente? – Quem for pego jogando papel no chão, ou cuspindo, além de ser multado, será condenado a um mês de serviços comunitários! (60)

Difícil de comentar é a afirmativa da possibilidade de afogamento seguido de morte na colônia “Nosso Lar”. Depois da morte, o sepultamento, ou a cremação.

– Será que, sem saber nadar, se algum de nós cair nas águas do Rio Azul, poderá se afogar e morrer?  Doutor, se o corpo espiritual é dotado de sistema pulmonar e tudo mais, se continuamos a inflar os pulmões de oxigênio, a resposta é lógica: sim, poderá se afogar e morrer ! (87)
E não só morre, mas é enterrado ou cremado...
– Morre e é enterrado! Vai para o cemitério, ou, como neste Outro Lado, é mais comum, para o forno crematório! (119)

Mas como pode haver desencarnação se não há carne? Apesar do absurdo, o Dr. Inácio prossegue no seu raciocínio falacioso, aproveitando para reafirmar sua tese da reencarnação no Mundo Espiritual, partindo de um sofisma criado por ele próprio:

– Minha gente, reflita comigo. Se do Lado de Cá se morre, ou seja, desencarna-se, o que impede que também se reencarne?

Paulo, na sua Primeira Carta aos Coríntios (15: 40), faz distinção entre corpo carnal e corpo espiritual, demonstrando que este sobrevive à morte: “E há corpos celestes e corpos terrestres (...)”. Mas, O Dr. Inácio cita a passagem apenas pela metade, tentando confundir o leitor:

– “... também há corpos celestiais”! (121)

Continuando na sua campanha de disseminar descontentamento no meio espírita, faz acusações, como se houvesse algum órgão censor:

– Sim. Sob o pretexto, por exemplo, de pureza doutrinária, em substituição à fraternidade, a intolerância vem sendo adotada. Estamos quase a repetir os erros cometidos pela Igreja, no campo da censura às novas ideias com o cerceamento da liberdade de expressão. (133)

Logo adiante, o Dr. Odilon afirma justamente o contrário, ou estará fazendo um mea culpa em nome do Dr. Inácio e advertindo o seu médium?:

– É sumamente desagradável falarmos, mas os médiuns, notadamente os psicógrafos, deveriam ser mais comedidos. Nem todo médium nasceu para escrever sob a inspiração dos espíritos. Em consequência, pressionados pelas editoras, os médiuns perdem todo o critério de avaliação quanto ao que se refere à conveniência ou não de se publicar esta ou aquela obra de sua coautoria. (137)

No cap. 19, o Dr. Inácio faz uma interpretação curiosa da Parábola do Filho Pródigo, na qual se aventura como teólogo e produz afirmativas como esta, em que nega a encarnação como necessidade evolutiva, quando diz que só depois de o filho ter deixado a casa paterna é que necessitou da reencarnação (será esta uma nova versão da “queda dos anjos”?):

– Em tradução metafísica, deixando o Plano Etéreo, ele reencarna! Mergulha, de cabeça, na experiência da reencarnação! Até então, ele não possuía carma, estava isento! (158)

Note-se como é “terreno” o plano espiritual em que o Dr. Inácio se situa:

– Meu caro, por onde é que você andava? – perguntei ao Cássio.
– Por aí, Doutor.
– O que está fazendo agora?
– Lecionando e cuidando da Clínica.
– Você abriu uma clínica por aqui? (178)

Na obra “Nosso Lar” há uma observação de Lísias a André Luiz, no sentido de serem evitados comentários que não sejam construtivos. No livro “Fundação Emmanuel”, o Dr. Inácio faz referência a um jornal, intitulado “Resenha”, que circularia naquela região, veiculando comentários feitos na Terra. Ao tomar conhecimento de apreciações que lhe foram desagradáveis, o Dr. Inácio dá uma banana aos espíritas que não concordam com suas teses. No livro em estudo, há uma afirmação equivocada, afirmando a existência de imprensa na colônia “Nosso Lar”, o que não é verdade:

– A lembrança de Altiva é interessante, Inácio - falou Modesta -, o pessoal que lê a obra “Nosso Lar” pouco comenta sobre a Imprensa no Mundo Espiritual. (179)

O Dr. Inácio, sempre diminuindo o valor dos espíritas, e dando-se importância...

– Ultimamente, muitos espíritas recém-desencarnados marcam consulta comigo. Não que estejam propriamente doentes, mas desejam ajustar certas ideias em conflito com a realidade da Vida, ante a qual se deparam na existência de Além-Túmulo. (184)

Esse Espírito, que se diz Dr. Inácio, moderou um tanto os ataques aos espíritas e as piadas que fazia em seus livros anteriores, mas não as deixou de todo, como se vê nesses diálogos que diz ter tido com um espírita recém-desencarnado:

– Você não podia: sorrir era contra a pureza doutrinária! Aliás, para muitos espíritas, fumar é mais contra a pureza da Doutrina do que contra a pureza dos pulmões!
O amigo agora passou a rir sonoramente.
– Eu mesmo, Doutor – ponderou –, já combati muito o hábito de se comer carne... Chego a este Outro Lado e percebo que certos espíritos...
Espíritos , não – homens! – consertei.
– Correto. Percebo que muitos homens estão se desabituando aos poucos... (189)

Prosseguindo a conversa, passou a entrevistar o Espírito:

– Você é espírita?
– Sim, há mais de 40 anos...
– Desencarnou, e daí?
– Não aconteceu absolutamente nada. Estou na mesma.
– Não volitou?
– Mal me arrastei e estou me arrastando...
– Come e dorme?
– E bebo água!
– Faz sexo?
– Faço!
– Com o que?
– Doutor, o senhor é louco!
– Responda.
– Com as coisas, ué!
– Você é espírito vampiro?
– Não, eu sou normal.
– Então, você faz sexo é com desencarnado?
– É! Pensou o quê? Eu não sou íncubo...
– Tem orgasmo?...
Bem, desculpem-me, mas o restante da entrevista é proibido para menores e não quero poluir a cabeça desse nosso pessoal beato, que considera pecado ter orgasmo num só lado da Vida, quanto mais nos Dois! (190/191)

Numa entrevista concedida a um jornal (sic) da colônia espiritual onde se encontrava, o Dr. Inácio declara algo inusitado, como o fato de um Espírito desencarnado normalmente não se lembrar de sua última encarnação:

– Se estamos vindo da Terra – de sua contraparte mais materializada –, por que não nos lembramos?
– Pela mesma razão que, ao reencarnar, o espírito não se recorda de onde vem! (202)

Imaginemos a confusão que causa em alguém que se está iniciando no Espiritismo, ao ter conhecimento de que um Espírito, que se diz médico e orientador de grupos espirituais, se apresente resfriado, com o nariz escorrendo:

Percebendo que eu estava com o nariz escorrendo, o companheiro me perguntou:
– O senhor se resfriou?
– Não sei – respondi – se é a “suína”, com a qual o pessoal anda preocupado lá embaixo, mas estou todo entupido, a cabeça pesada, respirando mal... (209)

Em toda a obra de André Luiz não há nem um relato de doença em Espíritos trabalhadores do Bem. O Dr. Inácio apresenta essa novidade.

– Logo pela manhã daquela quinta-feira, depois de me ter afastado do consultório por três dias consecutivos, a fim de me recuperar de um forte resfriado, Nelson compareceu para mais uma consulta. (227)

A informação abaixo é errada, pois “Nosso Lar” é apenas uma dos milhares de cidades espirituais. De fato, não se pode fazer paralelo com a paródia apresentada na obra:

– A referida colônia é uma organização sui generis ! Não se tem paralelo a respeito em nenhuma outra obra de cunho espiritualista, transmitida para a Terra mediunicamente. (213)

O capítulo 28 é dedicado a uma crítica ao Movimento Espírita Unificado, e aos espíritas em geral. Depois de muito se queixar do trabalho que tem como Diretor-Médico de um hospital, recusa-se a filiá-lo a uma entidade de unificação existente no Mundo Espiritual. Seu interlocutor, buscando aproximar-se do Dr. Inácio, se declara, também ele, maçom (sic). Imaginando que seu interlocutor falasse em intervenção no hospital, o Dr. Inácio não perdeu a oportunidade para uma bravata:

– Não é meu receio, porque, primeiro, vocês teriam que passar por cima de mim. Enquanto eu estiver na direção deste nosocômio, exceto Jesus e os Maiores que nos orientam, ninguém se intromete. Nesse sentido, se fosse o caso, não hesitaria em recorrer aos préstimos de um bom advogado! (240)

Parece que o Dr. Inácio quer materializar o Mundo Espiritual a ponto de torná-lo inverossímil... Finalmente, depois de muita conversa, o Dr. Inácio sai-se com esta, como se circulasse dinheiro no Mundo Espiritual:

– Vocês podem contar conosco, inclusive, se for o caso, com dinheiro para as promoções em pauta, mas não nos filiaremos. (243)

E continua com seus ataques à Unificação:

– Quase me arrisquei a dizer que nos moldes com que vem sendo conduzido, o Movimento de Unificação é mais prejudicial do que útil ao Espiritismo. (244)

Usa todo o capítulo 29 para descrever uma conversa informal com a cozinheira do sanatório, o que dá ao leitor ideia de que o hospital está no plano físico... Além do mais, diz que a cozinheira chegara com a criança pela mão, com fome! Não é isso que se aprende com André Luiz, notadamente nas obras “Entre a Terra e o Céu” e “Libertação”, relativamente a crianças desencarnadas.

– Lembra-se de como cheguei aqui, trazendo o Benedito pela mão? Medrosa e retraída feito uma cadelinha assustada... O senhor me olhou, brincou com o Benedito, perguntou se estávamos com fome e nos trouxe justamente para cá, a Cozinha – o senhor mesmo fez o prato do Benedito!...
– ... que comeu feito um leão!
– Estávamos com fome, Doutor. A maioria das pessoas não sabe o que é passar fome e chegar escorraçada do mundo... (260)

Algo que não encontra explicação no livro é o fato de o Dr. Inácio receber cartas de encarnados e de desencarnados, como essa que ele responde abaixo:

“Confesso que as suas obras muito me têm auxiliado a entender o que André Luiz escreveu através de Chico Xavier. (...) E o senhor é o único espírito a defender a obra mediúnica de Chico Xavier – Não generalizando, a maioria não diz uma única palavra, a não ser para exaltar a si mesma! Receba meu abraço e bola para a frente!” (264/265)

Respondendo a carta recebida, ataca médiuns e o Movimento Unificador:

– O Espiritismo, meu amigo, para muita gente, hoje virou meio de vida. A inquisição que os “cardeais” do movimento vêm fazendo aos novos médiuns, no fundo, é luta pelo poder e – pasme! – pelo vil metal! Muitos deles, sem que percebam, estão sendo usados pelos lobos disfarçados de ovelhas... (268)

Mais adiante, continuando a resposta à “carta” que recebera, faz uma defesa da obra mediúnica de Chico Xavier, como se aquela que ele recebeu quando encarnado, como médium, estivesse sendo contestada. Mas a defesa que ele faz é dessas obras pretensamente atribuídas ao Chico desencarnado, recebidas por Baccelli, materializadas em aberrações como “Chico Xavier Responde”:

– Mas, antes do ponto-final, preciso lhe dizer mais uma coisa: não duvide de que, no próprio meio espírita, haja uma conspiração contra as obras mediúnicas da lavra de Chico Xavier! (270)

No final de sua resposta, retoma aquele linguajar rasteiro dos seus primeiros livros:

– Seja você mesmo e, conforme disse, ”bola para a frente”! Permita-me apenas pluralizar a palavra “bola”, concitando-o a ser digno representante dos que, sem serem machistas, são machos o suficiente para dizerem o que pensam.
P.S: No que se refere à coragem do testemunho e verdadeiro amor à Causa, não posso deixar de reconhecer que, por seus ovários, muitas mulheres possuem mais “bolas” do que muitos homens! (271)

Depois de falar, noutras obras, em reencarnação no Mundo Espiritual, Dr. Inácio agora tenta amenizar a tese, misturando reencarnação com materialização, argumentando com o que relata André Luiz em “Nosso Lar” e em “Libertação”:

– Em suas bases o fenômeno é o mesmo; o que difere é o processo... daí, en passant, nós podermos conjeturar em torno da reencarnação nos diferentes planos espirituais da Vida, sem que, para tanto, o sexo concorra, nos padrões com que concorre na Terra, noutros mundos e dimensões. (287)

No cap. 36 há uma curiosa carta que Chico, desencarnado, teria dirigido ao Dr. Inácio. Sempre a tentativa do Dr. Inácio de “materializar” o Mundo Espiritual.
(314)

Sempre atacando e ridicularizando os espíritas que estudam e que seguem uma linha moral:

– Os ortodoxos, no campo da Filosofia Espírita, estão impedindo o nosso povo de pensar – estão cometendo um crime! Essa turma de clérigos reencarnados, que se cansou de ajoelhar, mas não de ter os outros ajoelhados diante de si, acha que a Lei de Causa e Efeito funciona sozinha! Se fosse assim, também a Lei da Reencarnação também funcionaria – não haveria necessidade nem de relação sexual! O espermatozoide – eu não sei por que orifício –, sairia sozinho perguntando em cada esquina: – “Vocês viram um óvulo dando sopa por aí?...” Ora, não façam pouco da minha já tão pouca inteligência...
– Os espíritas precisam mesmo atualizar sua concepção de vida além da morte! (318/319)

Noutra tentativa de “materializar” a Vida Espiritual, fala de força policial no Além, que viria à Terra aprisionar Espíritos:

– Iremos, mas vou entrar em contato com o Dr. Elpídio, amigo meu e Delegado de Polícia, para que providencie um destacamento policial. Aquelas entidades necessitam ser presas! (319)
– Conforme combinado, Odilon veio me encontrar no hospital e, em companhia de Elpídio, previamente contatado por mim e mais três detetives sob o seu comando, partimos em direção à Crosta (324)
– Enquanto “descíamos”, fomos, naturalmente, integrando-nos no ambiente, de tal maneira a sermos identificados na condição de entidades recém-desencarnadas. Inalando fluidos menos rarefeitos, na atmosfera da Terra, promovemos relativa condensação em nossos corpos espirituais e, então, confundimo-nos com os transeuntes da cidade que visitávamos. (324)

Confundimo-nos com os transeuntes”. Então materializaram-se, como disse no livro “Por Amor ao Ideal”, referindo-se a Edgar Alan Poe, que se teria materializado com o ectoplasma do cadáver de um bêbado e teria andado pelas ruas de Uberaba, a fim de consultar-se, como se fosse um paciente encarnado. Se é assim como fala o Dr. Inácio, fica difícil saber se estamos vendo um Espírito encarnado ou um desencarnado materializado!

Afinal, trata-se de um trabalho grosseiro, emanado de um Espírito que pretende informar equivocadamente aqueles que estão se interessando pelo Espiritismo, ao tempo que conta com a falta de cuidado daqueles que, conhecendo a Doutrina, nada fazem para coibir sua ação nefasta.

Com a palavra principalmente os responsáveis por centros, livrarias e clubes de livros espíritas pela divulgação de livros como esse.

                                                   ****************
Extraído da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada pelo endereço:  http://www.oconsolador.com.br/ano9/451/especial.html

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

CUIDADO DE SI

CUIDADO DE SI

       “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina: persevera nestas coisas; porque, fazendo Isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA A TIMÓTEO, capítulo 4, versículo 16.) 

Em toda parte há pelotões do exército dos pessimistas, de braços cruzados, em desalento.

Não compreendem o trabalho e a confiança, a serenidade e a fé viva, e costumam adotar frases de grande efeito, condenando situações e criaturas.

As vezes, esses soldados negativos são pessoas que assumiram a responsabilidade de orientar.

Todavia, embora a importância de suas atribuições, permanecem enganados.

As dificuldades terrestres efetivamente são enormes e os seus obstáculos reclamam grande esforço das almas nobres em trânsito no planeta, mas é imprescindível não perder cada discípulo o cuidado consigo próprio. É indispensável vigiar o campo interno, valorizar as disciplinas e aceitá-las, bem como examinar as necessidades do coração. Esse procedimento conduz o espírito a horizontes mais vastos, efetuando imensa amplitude de compreensão, dentro da qual abrigamos, no íntimo, santo respeito por todos os círculos evolutivos, dilatando, assim, o patrimônio da esperança construtiva e do otimismo renovador.

Ter cuidado consigo mesmo é trabalhar na salvação própria e na redenção alheia. Esse o caminho lógico para a aquisição de valores eternos.

Circunscrever-se o aprendiz aos excessos teóricos, furtando-se às edificações do serviço, é descansar nas margens do trabalho, situando-se, pouco a pouco, no terreno ingrato da critica satânica sobre o que não foi objeto de sua atenção e de sua experiência

Obra: Caminho, Verdade e Vida, Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 148

                                                                  *******************

Reflexão: Todos os momentos da vida são de grande importância para cada uma de nós, seres que vivemos a experiência carnal. No entanto, o presente momento é o de maior relevância, pois nos conecta o passado e o futuro, sendo que agora podemos reflexionar o que somos e preparar um depois para alcançarmos os objetivos primaciais da missão que assumimos diante da consciência, a nossa e a consciência cósmica. 

Observamos com ênfase tudo o que está ao nosso redor e, com a tecnologia da comunicação, visitamos todas as partes do Mundo, mas não deixa de ser uma percepção do que se encontra no nosso exterior.  Assim, não estamos cuidando de nós, como anota São Paulo, no versículo inicial. O cuidado a que se refere é interno é a construção não material, àquela incorruptível pelo desgaste do tempo, é atemporal, porque viajará com o seu detentor pelas Eras que se perderão no infinito. 

Sem a construção imperceptível aos olhos da matéria não será possível indicar o caminho para o próximo que ainda não pode perceber a transitoriedade do seu presente, tempo que escoa sem o proveito à sua causa essencial, porque ainda não acordou, tateia na escuridão, encharcado de ilusões pelas ofertas que a vida material disponibiliza, atrasando o seu acordar.  

Aquele que compreendeu deve ajudar aos que querem, porque as dificuldades são enormes, como registra o Espírito Emmanuel: "As dificuldades terrestres efetivamente são enormes e os seus obstáculos reclamam grande esforço das almas nobres em trânsito no planeta, mas é imprescindível não perder cada discípulo o cuidado consigo próprio."

Devemos acolher a orientação desse Amigo da Humanidade, que deixa transcender do registro espiritual, através do medianeiro excelente, Francisco Cândido Xavier, verdades constatadas por quem gravou em si mesmo as conquistas espirituais que é compromisso de todos os seres humanos. 

O cuidado próprio é: o se conhecer, o se corrigir, é o se aprimorar, é o se discernir, é o amadurecimento consciente de sua perpetuidade nos tempos, que correm na eternidade, tornando-se coautor no engrandecimento da alma humana em qualquer tempo ou estância universal. 

Precisamos nos descolar do chão da vida material, que prende com as suas oferendas como o visgo que tolhe o voo do pássaro invigilante com a sua segurança, este por ignorância, o homem pelo egoísmo e o orgulho. 

                                                             Dorival da Silva

                                                                    

domingo, 31 de janeiro de 2016

Pode Acreditar




Pode Acreditar


* Falará você na bondade a todo instante, mas, se não for bom, isso será inútil para a sua felicidade.

* Sua mão escreverá belas páginas, atendendo a inspiração superior; no entanto, se você não estampar a beleza delas em seu espírito, não passará de estafeta sem inteligência.

* Lerá maravilhosos livros, com emoção e lágrimas; todavia, se não aplicar o que você leu, será tão-somente um péssimo registrador.

* Cultivará convicções sinceras, em matéria de fé; entretanto, se essas convicções não servirem à sua renovação para o bem, sua mente estará resumida a um cabide de máximas religiosas.

* Sua capacidade de orientar disciplinará muita gente, melhorando personalidades; contudo, se você não se disciplinar, a Lei o defrontará com o mesmo rigor com que ela se utiliza de você para aprimorar os outros.

* Você conhecerá perfeitamente as lições para o caminho e passará, ante os olhos mortais do mundo, à galeria dos heróis e dos santos; mas, se não praticar os bons ensinamentos que conhece, perante as Leis Divinas recomeçará sempre o seu trabalho e cada vez mais dificilmente.

* Você chamará a Jesus: Mestre e Senhor... se não quiser, porém, aprender a servir com Ele, suas palavras soarão sem qualquer sentido.

Francisco Cândido Xavier - Agenda Cristã - pelo Espírito André Luiz - capítulo 40



Reflexão: Muitas vezes, na nossa vida, somos o transportador de conhecimentos, porque os levamos em nossa memória e distribuímos para àqueles em que objetivamos, até nos dá uma certa alegria quando um ou outro demonstra ter acolhido o que disponibilizamos.

Ocorre até que apliquem efetivamente esses conceitos à sua vida e se transformem. Em se tratando de mensagem do Evangelho de Jesus, e bem compreendido, é o esperado.

E, se continuarmos apenas transportando conhecimentos, o que se construirá em nós.  Certamente um vazio existencial. Vez que existe uma distância enorme entre reter conhecimentos e vivenciar o que se sabe. Sendo o principal objetivo da vida vivenciar o que se sabe. Pois, quando se viver o que intelectualmente apreendeu já não se lembra mais do que se sabe. Não é mais uma carga a ser carregada, a ser defendida, ou demonstrada. O conteúdo do intelecto tornou-se sentimento, é a realidade que vive. Por isso, quem é sábio não sabe que o é.

                                                              Dorival da Silva

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

LEVANTEMO-NOS

LEVANTEMO-NOS

       “Levantai-vos, vamo-nos daqui.” — Jesus. (JOÃO, capítulo 14, versículo 31.) 

Antes de retirar-se para as orações supremas no Horto, falou Jesus aos discípulos longamente, esclarecendo o sentido profundo de sua exemplificação.

Relacionando seus pensamentos sublimes, fez o formoso convite inserto no Evangelho de João: — “Levantai-vos, vamo-nos daqui.”

O apelo é altamente significativo.

Ao toque de erguer-se, o homem do mundo costuma procurar o movimento das vitórias fáceis, atirando-se à luta sequioso de supremacia ou trocando de domicilio, na expectativa de melhoria efêmera.

Com Jesus, entretanto, ocorreu o contrário.

Levantou-se para ser dilacerado, logo após, pelo gesto de Judas. Distanciou-se do local em que se achava a fim de alcançar, pouco depois, a flagelação e a morte.

Naturalmente partiu para o glorioso destino de reencontro com o Pai, mas precisamos destacar as escalas da viagem...

Ergueu-se e saiu, em busca da glória suprema. As estações de marcha são eminentemente educativas: — Getsêmani, o Cárcere, o Pretório, a Via Dolorosa, o Calvário, a Cruz constituem pontos de observação muito interessantes, mormente na atualidade, que apresenta inúmeros cristãos aguardando a possibilidade da viagem sobre as almofadas de luxo do menor esforço.

Página extraída da obra: Caminho, Verdade e Vida, psicografada por Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel, capítulo 84.

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Reflexão:  A vinda do Espírito ao Mundo material é para facilitar o aprendizado espiritual, a educação do Espírito. Essa educação não ocorre sem a reflexão, sem a apreensão, sem o julgamento de si mesmo, sem a travessia das limitações, e a comprovação do que é capaz. É certo que a marcha educativa que Jesus vivenciou para demonstrar o caminho a percorrer por todas as almas para se livrarem do jugo da matéria foi superlativa, não é que Ele precisasse para se salvar de alguma mazela, porque nada O prendia, por ser Espírito perfeito, totalmente desmaterializado. Era o Mestre que apresentava a lição na sua inteireza, fazia coar do plano infinito, que não era perceptível para o homem de carne – possivelmente não seria até os dias atuais -, a aula viva, num brevíssimo espaço de tempo, para ficar nos registros da Humanidade e ecoasse por todos os tempos em todos os recantos da Terra.

É ilusão esperar uma ascese espiritual acomodadamente, apenas aguardando que líderes religiosos, filosóficos... venham  solucionar os problemas individuais, no campo da fé e na tão referida “salvação”. Salvação do quê? Salvação de quem?

Palavras ditas e escritas podem dar orientação e motivação, no entanto, a caminhada é de cada um, “Levantai-vos, vamo-nos daqui.”.  Jesus convidou que levantassem e fossem para os seus compromissos. Como Ele foi para os seus, que não eram tarefas quaisquer. Eram exemplos vivos daquilo que o homem deveria aprender para também encontrar a plenitude da vida. Sem sombra de dúvida, na proporcionalidade de sua força moral, a lição não pode ser maior que a condição do aluno.

A coloração da lição de Jesus foi intensa para que o conteúdo permanecesse no tempo, não caísse no esquecimento, que pudesse ser recobrada a qualquer hora.

Como referenda o Espírito Emmanuel, no texto inicialmente posto, que: “(...) mormente na atualidade, que apresenta inúmeros cristãos aguardando a possibilidade da viagem sobre as almofadas de luxo do menor esforço.” Visto que a exemplificação do Mestre está presente e intensa como na sua origem, e prestando atenção à observação inserida no início deste parágrafo, não é difícil acolher ao convite: “Levantemo-nos”.  

Dorival da silva         

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Vida inextinguível


Vida inextinguível

O objetivo essencial da existência humana é a conquista da plenitude. Mediante continuado esforço, o Espírito desenvolve as aptidões que se lhe encontram em latência, de modo que se conheça a si mesmo, enriquecendo-se de instrumentação para os enfrentamentos naturais no processo evolutivo.

Atravessando as experiências do instinto ao longo do tempo, passa a compreender as emoções que acompanham as sensações, libertando-se das amarras dos automatismos orgânicos para a administração saudável dos sentimentos.

Envolto na tecelagem complexa da matéria, trabalha-a, a fim de bem conduzir o carro orgânico enquanto aspira às delícias da imortalidade.

Etapa a etapa, deve aprimorar-se, sublimando as paixões primitivas e transformando-as em beleza e alegria indispensáveis ao êxito do empreendimento.

Reencarnando-se por necessidade de crescimento íntimo, dá sentido à existência física, aformoseando o planeta e a existência em esforço contínuo e enriquecedor.

O conhecimento do sentido de viver favorece-o com a lucidez para superar as tendências primárias, que permanecem em largo período agrilhoando-o ao passado.

Essas injunções, às vezes, penosas, impulsionam-no à autoiluminação, de modo que se operem as transformações morais no íntimo para a vitória sobre a ignorância, a dor, o desequilíbrio.

É todo um processo de crescimento, no qual todas as conquistas de enobrecimento ampliam-lhe os horizontes para a espiritualização.

Impulsos e reações dos instintos básicos que lhe serviram de suporte para vencer as fases iniciais, são transformados em métodos seguros para as experiências libertadoras através das quais o sentido existencial supera todos os outros.

Autor dos conhecimentos que defronta, cabe-lhe recuperar-se, agindo corretamente, de modo que a paz que deflui da consciência dignificada constitua-lhe a razão primordial da jornada evolutiva.

Enquanto a ignorância das Divinas Leis predomina, o ser permanece mergulhado no primarismo, necessitado do buril do sofrimento para romper o envoltório grosseiro que abafa as aspirações e impede-lhe a ruptura de dentro para fora, mediante o conhecimento da verdade.

A dor, desse modo, é instrumento do Bem para despertar todos aqueles que se encontram submetidos ao sono do desconhecimento.

Bendize, pois, esses fatores-sofrimento que te induzem à reflexão e ao encontro da liberdade.

*
Nasceste ou renasceste para morrer no momento quando concluíres o trâmite carnal. Isso é inevitável, pois que é fatalidade da vida.

O fenômeno da morte é parte fundamental do programa da existência.

Tudo que nasce tem o seu período próprio de existir no invólucro material, para logo depois experimentar a consumpção orgânica através da desencarnação.

Em razão da afetividade e da imensa necessidade de união e de comunhão de uns Espíritos com os outros, a morte representa uma dor moral quase que insuperável.

Embora todos os seres humanos tenham conhecimento de que acontecerá em momento determinado, quando ocorre em algum lar, também despedaça os sentimentos daqueles que permanecerão na roupagem física.

Importante considerar como despertará esse viajante de retorno ao Grande Lar, quando terá que contabilizar os resultados da experiência vivenciada.

Por outro lado, aqueles que lhe perderam a presença padecem a dor da ausência material, da convivência abençoada dos sonhos e anelos programados para o que se denomina como felicidade.

A morte, em consequência, é detestada; no entanto, é a grande libertadora, porque propicia o encontro com a paz, desencarcerando o ser da prisão sem grades das doenças degenerativas, daquelas incuráveis e de muitas situações penosas.

A certeza de que o reencontro é inevitável, porque o amor jamais separa aqueles que se vinculam, constitui um bálsamo, uma esperança anunciada para depois.

A imortalidade é a expressão da sábia misericórdia de Deus, propiciando vida exuberante, quando o corpo de constituição transitória consome-se.

Não te desesperes ante a morte do ser amado. Ele vive e logo readquire a lucidez, passado o período de ajustamento, volve a visitar-te, a estar contigo, inspirando-te nas injunções da carne.

Por tua vez, envolve-o em lembranças afetuosas e gratulatórias que eles captam e sentem-se bem pelas evocações amadas.

Não te permitas revoltar ou sucumbir pela dor da sua viagem. Se as lágrimas da saudade visitarem-te, verte-as com ternura e amor, e eles se sentirão queridos, também emocionados.

Em situação nenhuma te permitas a rebeldia, considerando que também desencarnarás.

Vive de tal forma que, ao chegar o teu momento de retorno, exultantes, os seres queridos que te anteciparam venham receber-te cantando um hino de alegria inefável, homenageando-te.

Como jamais te esqueceram, no Além-túmulo trabalham para a continuação da afetividade, preparando-te o lar, novas realizações que ignoras, de forma que vivas o banquete de luz e de paz que está prometido a todos aqueles que são fiéis ao Bem e à Verdade.

*

À dor da separação do Mestre Jesus na crucificação, aqueles que O amavam reativaram as alegrias ante a Sua ressurreição luminosa.

Aquela madrugada de bênçãos foi a resposta de Deus à tarde-noite de sombras e morte.

Tem paciência quando desencarne um ser querido, considerando os júbilos que te tomarão oportunamente, por ocasião do reencontro, quando fores recebido por quem agora choras...


Joanna de Ângelis.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite
de 2 de setembro de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, 
em Salvador, Bahia.
Em 28.12.2015.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O Ano Novo e o Tempo


O Ano Novo e o Tempo.



Ano Novo!  É esperança.  É o calendário que se renova, no entanto, o tempo continua na sua jornada infindável. A vida escolar se reinicia, as empresas encerram seus balanços e continuam a caminhada, as lavouras são transformadas e renovadas, os governos realizam novos planejamentos, as sociedades superam algumas dificuldades e se defrontam com outras exigências. A criança cresce, os adultos envelhecem... O tempo vai passando ou tudo passa pelo tempo? O tempo é algo imutável?  O que é o tempo?



Percebemos o tempo quando analisamos o que foi realizado, o realizado traz a marca de um tempo. Temos a noção de tempo verificando a sucessão de realizações. São as ocorrências. São os fatos vividos ou observados. Tempos passados longínquos, que não presenciamos, mas contamos as suas marcas. São as camadas de terras, de minérios, de fósseis, são gravuras e fotografias, filmes e escritos... Os vincos das faces, e o nevar dos cabelos...  Tudo algo realizado, existente. São os marcadores do tempo. Tudo observável pelas muitas possibilidades desenvolvidas pela Ciência.



E o tempo para a consciência. Para a vida essencial. Aquilo que não terá um fim: a alma.  Como será isto?



Entramos e saímos da vida física sucessivamente. Somos crianças, somos adultos, somos velhos, "remorremos" e renascemos... Comparativamente somos como as camadas de terras, são as muitas vidas, como um seriado dentro de uma única vida, porque nunca a nossa vida sofreu interrupção, desde a sua origem, quando o Criador nos deu o sopro existencial, desde quando existimos como Espírito, que jamais deixaremos de existir. A vida é infinita.  Como contar esse tempo, da vida que não terminará? Com qual calendário?



Concluímos que é cada qual um mundo singular, com suas camadas, seus fósseis, que não sendo matérias, são morais.  São os registros da construção que estamos realizando, tem entulhos, tem descartes, tem reciclados, tem readequações, tem partes bonitas e outras feias, tem desejos, tem perspectivas, tem esperanças. São as muitas experiências vividas. O resultado dessa composição de eras e vivências, vidas e vidas, vivências e vivências, realizações e frustrações, reflexões e reflexões.  A grande construção, a única porque somos singulares, nos mostra como nos apresentamos, felizes ou infelizes.



No entanto, a vida espírita não tem fim, sendo sua construção exclusivamente nossa, com um único objetivo, chegar à felicidade plena. É uma construção íntima, é um estado d'alma. A materialidade não faz parte dela. O egoísmo e o orgulho já não marcam presença, possivelmente estão na condição de fósseis. Não há mais corpo físico, não há mais renascimento... A preocupação particular já não se faz presente, não precisa mais, porque alcançou-se o objetivo da vida, mas também não existe uma vida de contemplação, de êxtase ociosa, mas sim, a vida altruística em favor daqueles que ainda não alcançaram a plenitude da vida. O trabalho e as construções continuam sempre.



Onde o tempo?
                                                            Dorival da Silva

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Vida, sempre a vida!

Especial
  
Ano 9 - N° 444 - 13 de Dezembro de 2015
GEBALDO JOSÉ DE SOUSA 
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)

 
Gebaldo José de Sousa
Vida,
sempre a vida!
“Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”
I Co 15-55.
Somerset Maugham – citado pelo escritor goiano Eli Brasiliense – refere-se a uma lenda oriental que ilustra o fatalismo da morte e a inutilidade de temê-la.
Na cidade de Bagdá, negociante envia servo ao mercado para comprar alimentos. Momentos após, retorna ele apavorado, pedindo um cavalo, para fugir rumo à cidade de Samarra, pois vira a morte, no meio da multidão, olhando-o com gesto ameaçador. O patrão o atende e ele parte, celeremente.
O próprio comerciante, indo às compras, encontra também a morte e indaga-lhe:
– “Por que ameaçaste meu servo?” –, ao que esta responde, com ar de inocência:
– “Eu?! Não o ameacei! Apenas demonstrei espanto de encontrá-lo em Bagdá, uma vez que temos encontro marcado hoje à noite, em Samarra”.(1)
Temor e dúvida quanto à sobrevivência do ser sempre inquietaram o ser humano. Ao longo dos milênios, pensadores e filósofos debruçaram-se sobre esse tema.
A Doutrina Espírita, desde a segunda metade do século XIX, lançou luzes que iluminam o entendimento do assunto, comprovando a sobrevivência do ser, com depoimentos daqueles que se apresentaram sob a denominação de Espíritos, afirmando haverem vivido na Terra, em corpos de carne, além de revelarem inúmeras verdades que o homem desconhecia e  comprovando outras, tais como: a existência de Deus, a reencarnação, as vidas sucessivas, a Lei de Causa e Efeito etc.
Allan Kardec, o Codificador dessa Doutrina, dissecou o assunto no livro O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo(2), cuja primeira edição se deu a 1º de agosto de 1865, em Paris, França.
Após nossa desencarnação, teremos alegria ou sofrimento. Se amamos e aprendemos, seremos felizes. Se orgulhosos, egoístas, ignorantes e maus, sofreremos. 
Em seguida à morte, a separação nunca é brusca 
Na segunda parte da obra a que nos referimos, intitulada “Exemplos”, Kardec enfoca o tema sob vários ângulos, em oito capítulos:
1 - A extinção da vida orgânica separa a alma do corpo: e essa separação nunca é brusca. Só é completa quando não mais houver um átomo do perispírito ligado a uma molécula do corpo (item 4, p. 167).
2 - Se na separação a coesão entre esses elementos está no auge da força, a morte é dolorosa. Assim, geralmente o Espírito sofre a decomposição do corpo em mortes trágicas: acidentes, assassinatos, suicídios etc.
3 - Se a coesão for fraca, a separação é fácil e sem abalo: na morte por velhice ou doença prolongada (item 5, p. 168).
4 - Nessa transição de uma vida (corporal) para outra (espiritual), o Espírito passa por uma perturbação; experimenta torpor que lhe paralisa as faculdades: “É como se disséssemos um estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca testemunha conscientemente o derradeiro suspiro”.
Essa perturbação pode perdurar por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos. A libertação desse estado é igual ao despertar de sono profundo; as ideias são vagas, confusas, até que o Espírito se conscientiza de sua condição. O despertar é calmo para uns, mas “(...) tétrico, aterrador e ansioso, para outros, é qual horrendo pesadelo”. (item 6, p. 168/9).
5 - O desprendimento é mais fácil ou difícil, conforme o estado moral da alma: o apego à matéria, ou aos gozos materiais, dificulta a separação e a torna dolorosa e prolongada. “Ao contrário, nas almas puras, que antecipadamente se identificam com a vida espiritual, o apego é quase nulo.” E os laços se rompem facilmente (item 8, p. 169). 
Há Espíritos que, embora desencarnados, não sabem disso 
Depende de nós, pois, tornar fácil ou penoso esse desprendimento. Purificar-se; eliminar más tendências; desapegar-se das coisas do mundo; sofrer com resignação e humildade – eis os meios de facilitar esse desenlace, tornando-o indolor.
Às vezes o Espírito acha que ainda está encarnado: julga material o seu corpo fluídico (perispírito). Conversa com um, com outro, ninguém responde. Irrita-se, quando devia orar, buscar ajuda de amigos espirituais e aceitar o fato consumado.
Referida obra traz, ainda, mensagens de Espíritos, agrupadas segundo sua natureza: Espíritos felizes; Espíritos em condições medianas; Espíritos sofredores; suicidas; criminosos arrependidos; Espíritos endurecidos; e de muitos que passaram por expiações terrestres. Merece estudada e meditada por todos nós, que já temos a passagem de retorno à pátria espiritual, embora ignoremos a data da partida.
A Doutrina Espírita é esclarecedora: estudá-la, compreendê-la, ajuda a nós mesmos, àqueles com quem convivemos e aos desencarnados. Por isso, os espíritas não vamos aos túmulos uma vez por ano. Oramos pelos desencarnados todos os dias, ou sempre que seu nome nos vem à lembrança, onde quer que estejamos, sem horário ou local determinado. O Amor dispensa quaisquer formalidades!
Em 1936, a publicação de Cartas de uma morta, obra ditada ao médium Francisco C. Xavier pelo Espírito daquela que foi sua mãe carnal, em sua mais recente encarnação, trouxe novas e inúmeras revelações.
Em 1944, a FEB edita Nosso Lar, do Espírito André Luiz, na psicografia de Francisco C. Xavier, e novos informes sobre a vida após a morte são trazidos ao conhecimento do grande público, tanto nesse como nos demais livros da mesma série. Tal como um repórter que vai a terra estrangeira, o autor fala de sua experiência no plano espiritual. 
Livros inúmeros tratam da morte e dos fatos que se seguem 
Em 1949, a FEB, com o livro Voltei(3), adita novos dados, não só quanto ao momento mesmo da “morte”, mas das experiências que se lhe seguem.
A partir de 1974, com o livro Astronautas do Além(4), editado pelo GEEM Editora, multiplicaram-se livros de consoladoras mensagens particulares, de Espíritos desencarnados a seus familiares, não só pelas mãos generosas do médium de Pedro Leopoldo, mas pelas de tantos outros.
Paralelamente, a partir da década de 60, livros escritos por médicos(as) e psicólogos(as) trouxeram a contribuição do lado profano, não religioso, através de relatos obtidos a partir da regressão de memória, que conduziam os sujets a mencionarem fatos ocorridos em encarnações anteriores vividas por eles, bem como de pessoas que passaram pela experiência da morte clínica, por poucos minutos. O estudo dessas experiências, vividas e narradas por centenas de indivíduos, enquanto sua morte clínica era confirmada, resultou na publicação de inúmeras obras sobre o intrigante e sedutor assunto.
A comparação desses relatos – de regressão de memória e de Experiência de Quase Morte (EQM) – com aqueles dos Espíritos desencarnados, através da psicografia, desde o século XIX, guarda espantosa concordância, pelas grandes semelhanças que apresentam.
Dentre eles, destacamos os contidos nalgumas obras: Vida Depois da Vida(5),A Luz do Além (6)Recordando Vidas Passadas(7)Voltar do Amanhã(8),Espiritismo e Vida Eterna(9) e Depois Desta Vida(10)
O que os Espíritos experimentam ao desencarnar 
O Espírito, ao desencarnar, segundo esses relatos de variadas origens, experimenta o seguinte:
1 – Vê-se fora do corpo.
2 – Não percebe o momento da transição desta para a outra vida: passa por estado de torpor, de sono profundo, de desmaio; uns veem entidade espiritual serena, fraterna, antes e/ou depois do sono.
3 – Experimenta sentimentos de paz e quietude, uns; de sofrimentos, outros.
4 – Vê-se num túnel.
5 – Passa por recapitulação da vida, na presença de Ser de Luz: revê toda sua última existência, nos mínimos detalhes. Desnuda-se diante de si mesmo. Avalia sua conduta, seus pensamentos e ações.
“Vi-me diante de tudo o que eu havia sonhado, arquitetado e realizado na vida. Insignificantes ideias que emitira, tanto quanto meus atos mínimos, desfilavam, absolutamente precisos, ante meus olhos aflitos, como se me fossem revelados de roldão, por estranho poder, numa câmara ultrarrápida instalada dentro de mim. Transformara-se-me o pensamento num filme cinematográfico misteriosa e inopinadamente desenrolado, a desdobrar-se, com espantosa elasticidade, para seu criador assombrado, que era eu mesmo.”(3)
“Nesta situação, a pessoa não apenas vê todas as ações por ela perpetradas, mas, também e de imediato, percebe os efeitos de cada uma delas sobre a vida dos demais. (...) se eu me vejo cometendo um ato odioso, (...) posso sentir sua tristeza, sua dor e seu pesar. (...) se pratico ato generoso, (...) sinto sua alegria e felicidade.”(6)
6 – Recebe ajuda de Espíritos, familiares e amigos; antes e/ou depois do sono profundo.
7 – Sente os reflexos da causa da morte do corpo material.
8 – Conscientiza-se do seu estado e da nova fase da vida que se lhe apresenta.
“A morte foi a melhor parte da viagem.” (Ele refere-se à regressão.) “Morrer era como ser libertado, voltar novamente para casa.”(7) 
Efeitos sobre a vida de quem passou pela experiência de quase morte 
Os efeitos são muitos e diversos:
1 – Não temem mais a morte. Todos mudaram para melhor. Acreditam na vida depois da vida.
2 – Todos aqueles que passaram por esta experiência (de “quase morte”) retornaram acreditando que a coisa mais importante da vida é o AMOR.
3 – Sensação de união com todas as coisas (interdependência = quando ferimos alguém é a nós mesmos que o fazemos).
4 – Valorização do conhecimento: para a maioria deles, a segunda coisa em grau de importância na vida é o conhecimento.(6)
5 – Têm novo conceito de responsabilidade: “A coisa mais importante que aprendi com esta experiência foi que sou responsável por tudo o que faço. Desculpas e outros subterfúgios eram impossíveis, enquanto estive lá, com ele (o ser de luz), recapitulando minha vida”.
6 – Apreço pela vida: eles afirmam que a “vida é preciosa, que são as ‘pequenas coisas’ que contam e que a vida é para ser vivida na sua plenitude. (...) os simples atos de bondade que vêm do coração são os mais importantes, porque são os mais sinceros”. “Ele desejava saber como era o meu coração, e não a minha cabeça.”
7 – Voltam-se para o lado espiritual: estudam e aceitam os ensinamentos espirituais.
8 – Mudam sua conduta e passam a ser:
– Mais brandas e a ter calor humano, bondade, bom humor.
– Mais desprendidas dos bens materiais.
– Mais sinceras e honestas.
“(...) vivo minha vida, sabendo que algum dia terei de submeter-me a uma outra revisão de todos os meus atos.”(6)
“Você pode dar e receber perdão. Pode libertar-se de vícios, apegos e raivas – isto é, de qualquer bagagem que você não deseje conduzir para um lugar onde tudo é Luz.”(8)
– Trabalham mais em benefício do próximo; são mais generosas e confiantes.
– Estudam mais. (“Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.”)(11)
– São mais otimistas e mais agradáveis; é boa a convivência com eles.
– Passam a se preocupar mais com os outros, em ouvi-los, em servi-los, em vê-los felizes.
Irmão X, na bela crônica “Treino para a morte”, dá-nos algumas dicas importantes sobre o assunto. É importante conhecê-las.(12) 
Os fatos comprovam que a imortalidade é inquestionável 
Diante do exposto, podemos deduzir algumas conclusões:
1 – o estado de felicidade ou infelicidade do Espírito depende:
– Do desprendimento da vida material.
– Da conduta moral, durante a vida na fase de encarnado.
– Do grau de elevação do Espírito e de possibilidades e faculdades do corpo espiritual.
– De atitudes e comportamentos de familiares encarnados, no velório e depois: prece, resignação, aceitação.
2 – A imortalidade da alma é inquestionável (a regressão de memória confirma sua continuidade).
3 – O homem não deve temer a morte; mas viver bem, sendo útil, fraterno, amoroso, estudioso.
4 – Todos os desencarnados são amparados por Espíritos familiares e amigos – os rebeldes, no futuro, quando se transformarem, ainda que após muitas encarnações. Deus a ninguém abandona.
Claramente, Jesus nos adverte: “(...) o Filho do homem (...) retribuirá a cada um conforme as suas obras”. (Mateus 16-27.)
Que temos feito de nossas vidas?
Aprendamos a valorizar cada minuto, cada oportunidade de sermos úteis. Vamos prestar contas de tudo, diante de nossa consciência. Busquemos ser dignos desse dom imperecível e maravilhoso que Deus nos concedeu: a vida! 

Bibliografia
01. BRASILIENSE, Eli. A Morte do Homem Eterno, 1 ed. Goiânia, Edição do Autor, 1970, p. 50.
02. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 37 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991.
03. XAVIER, Francisco Cândido. Voltei. Pelo Espírito Irmão Jacob. 7 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979.
04. PIRES, J. Herculano-Espíritos Diversos/XAVIER, Francisco Cândido. Astronautas do Além. 3 ed. São Bernardo do Campo: GEEM, 1974.
05. MOODY JR., Raymond. Vida Depois da Vida. São Paulo: Círculo do Livro.
06. MOODY JR., Raymond. A Luz do Além. 1 ed. Rio de Janeiro: NÓRDICA, 1988.
07. WAMBACH, Helen. Recordando Vidas Passadas. 1 ed. São Paulo: PENSAMENTO, 1978.
08. RITCHIE, George G. Voltar do Amanhã. 6 ed. Rio de Janeiro: NÓRDICA, 1980.
09. CAVERSAN, Ariovaldo. Espiritismo e Vida Eterna. 3 ed. Capivari: EME Editora, 1994.
10. ANDRADE, Geziel. Depois desta vida. 1 ed. Capivari: EME Editora, 1996.
11. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 105 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, p. 136.
12. XAVIER, Francisco Cândido. Cartas e Crônicas. Pelo Espírito Irmão X. 7 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1988, cap. 4, p. 21-24.

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