quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Alcoolismo e obsessão

Especial
Ano 1 - N° 38 - 13 de Janeiro de 2008

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@yahoo.com.br Londrina, Paraná (Brasil)
Alcoolismo e obsessão 
O alcoolismo é considerado pela Organização Mundial de
 Saúde uma doença incurável, mas pode ser tratado
com sucesso com o apoio da terapia espírita 
O alcoolismo e a Medicina  Esteve em agosto de 1999 no Rio de Janeiro, para participar do 13o Congresso Brasileiro de Alcoolismo, o psiquiatra americano George Vaillant (foto), autor do livro A História Natural do Alcoolismo Revisitada, fruto da maior pesquisa feita até hoje sobre o alcoolismo, em que pesquisadores da Universidade de Harvard acompanharam a vida de 600 homens.
Em sua obra e na entrevista que concedeu a uma publicação brasileira, dr. Vaillant afirma que, ao contrário do que muitos pensam, não existe o gene do alcoolismo, mas sim um conjunto de genes que tornam o indivíduo vulnerável à dependência do álcool. O alcoolismo é, na verdade, uma doença provocada por múltiplos fatores e condições sociais e que, segundo a Organização Mundial de Saúde, é incurável, progressiva e quase sempre fatal.
Eis, de forma sintética, as principais informações e esclarecimentos dados por George Vaillant:
1. O alcoolismo é um problema de dimensões trágicas ainda subdimensionadas e seu maior dano é a destruição de famílias inteiras.
2. Metade de todas as crianças atendidas nos serviços psiquiátricos vem de famílias de alcoólatras e boa parte dos abusos cometidos contra crianças tem raiz no alcoolismo.
3. Sem qualquer sombra de dúvida, o alcoolismo é uma doença. É o resultado de um cérebro que perdeu a capacidade de decidir quando começar a beber e quando parar.
4. Não é possível detectar numa criança ou num pré-adolescente traço algum que permita antever que eles se tornarão alcoólatras. “Alcoolismo cria distúrbios da personalidade, mas distúrbios da personalidade não levam necessariamente ao alcoolismo.”
5. A principal diferença entre alcoolismo e outras dependências diz respeito ao tipo de droga. Opiáceos são tranqüilizantes, mas o álcool é um mau tranqüilizante, tende a fazer as pessoas infelizes ficarem mais infelizes e piora a depressão. A pequena euforia que o álcool proporciona é sintoma do início da depressão do sistema nervoso central.
6. Do ponto de vista da sociedade, o álcool é um problema muito grave. O alcoólatra provoca não somente acidentes de trânsito, mas problemas graves à sua volta, a começar por sua família.
7. As únicas pessoas que estão sob o risco de alcoolismo são as que bebem regularmente, mas, se nunca passar de dois drinques por dia, o indivíduo pode usufruir socialmente da bebida em festas, casamentos, carnaval, e não se tornar alcoólatra.
8. Há pouco a fazer para ajudar um alcoólatra, mas uma coisa é essencial: não se deve tentar proteger alguém de seu vício. Se uma mulher encontra seu marido caído no chão, desmaiado sobre seu próprio vômito, não deve dar banho e levá-lo para a cama. O único caminho para sair do alcoolismo é descobrir que o álcool é seu inimigo. Proteger uma pessoa nessa situação não ajuda.
9. Não é papel da família tentar convencer o alcoólatra de que o álcool é um mal para ele. Na verdade, em tal situação, a família precisa de ajuda, como a oferecida pelo Al-Anon, a divisão dos Alcoólicos Anônimos voltada ao apoio a famílias de alcoólatras.
10. A abstinência é fundamental no tratamento do alcoolismo. Um alcoólatra até pode beber socialmente, da mesma forma que um carro pode andar sem estepe, ou seja, é uma situação precária e um acidente é questão de tempo.
11. Num horizonte de seis meses, muitos alcoólatras conseguem manter seu consumo de álcool dentro de padrões socialmente aceitos, mas, se observarmos um intervalo maior de tempo, vamos verificar que a tendência é ir aumentando gradualmente o consumo, até voltar ao padrão antigo. Em períodos mais longos, normalmente, só quem pára de beber não sucumbe ao vício.
12. Em 1995, uma substância, a naltrexona, foi saudada como a pílula antialcoolismo, vendida no Brasil com o nome de Revia. Mas, em linhas gerais, drogas podem funcionar como apoio por, no máximo, um ano, visto que é muito difícil tirar algo de alguém sem oferecer alternativas de comportamento. Usar essas drogas equivale a tirar o brinquedo de uma criança e não dar nada no lugar.
13. A terapia oferecida pelos Alcoólicos Anônimos é parecida com as terapiasbehavioristas, que pretendem obter uma determinada mudança de comportamento. Mas, além de ser um tratamento barato e que dura para sempre, a terapia dos A.A. tem um componente espiritual importante. Terapias ajudam a não beber, mas os Alcoólicos Anônimos dão ao indivíduo um círculo de amigos sóbrios, dão-lhe significados, amigos, espiritualidade. “É o melhor tratamento que temos.”
14. Embora as estatísticas nesse campo não sejam precisas, sabe-se que cerca de 40% das abstinências estáveis são intermediadas pelos Alcoólicos Anônimos.  

Conseqüências do alcoolismo – Os efeitos do alcoolismo atingem não apenas a saúde do alcoólatra, mas igualmente a comunidade em que ele vive e, especialmente, sua família.

1.) Seus efeitos na saúde:
Físicos – afecções como a cirrose hepática e cânceres diversos.
Mentais – perda da concentração e da memória.
Neurológicos – prejuízos na coordenação motora e o caminhar cambaleante.
Psicológicos – apatia, tédio, depressão.
2.) Seus efeitos sociais:

Crimes – o número de homicídios detonados pelo álcool é surpreendente.

Acidentes de trânsito – pelo menos 30% de todos os acidentes com vítimas que ocorrem no Brasil são motivados pelo álcool.
 produtividade no trabalho – além dos danos produzidos à empresa que paga o salário ao alcoólatra, o fato geralmente redunda na demissão e muitos não conseguem um novo emprego devido a isso.
Perda do senso do dever e dos bons costumes – falta ao trabalho, desemprego.
3.) Seus efeitos na família:
Comprometimento dos filhos – 80% dos filhos aprendem a beber em casa, diz a psicóloga Denise de Micheli.
Desestruturação do lar – o desemprego gera as dificuldades financeiras e as discussões inevitáveis.
As separações conjugais – a mulher não agüenta as conhecidas fases da euforia: a momice, a valentia e a indolência, popularmente simbolizadas na figura do macaco, do leão e do porco.
A violência doméstica – dois terços (2/3) dos casos de violência contra a criança ocorrem quando o agressor está alcoolizado. 

O alcoolismo na visão espírita  A exemplo de André Luiz (Espírito), que nos mostra em seu livro Sexo e Destino, capítulo VI, págs. 51 a 55, como os Espíritos conseguem levar um indivíduo a beber e, ao mesmo tempo, usufruir das emanações alcoólicas, José Herculano Pires também associa alcoolismo e obsessão.

No capítulo de abertura do livro Diálogo dos Vivos, obra publicada dez anos após o referido livro de André Luiz, Herculano assevera, depois de transcrever a visão do Espírito de Cornélio Pires sobre o uso do álcool:   “A obsessão mundial pelo álcool, no plano humano, corresponde a um quadro apavorante de vampirismo no plano espiritual. A medicina atual ainda reluta – e infelizmente nos seus setores mais ligados ao assunto, que são os da psicoterapia – em aceitar a tese espírita da obsessão. Mas as pesquisas parapsicológicas já revelaram, nos maiores centros culturais do mundo, a realidade da obsessão. De Rhine, Wickland, Pratt, nos Estados Unidos, a Soal, Carrington, Price, na Inglaterra, até a outros parapsicólogos materialistas, a descoberta do vampirismo se processou em cadeia. Todos os parapsicólogos verdadeiros, de renome científico e não marcados pela obsessão do sectarismo religioso, proclamam hoje a realidade das influências mentais entre as criaturas humanas, e entre estas e as mentes desencarnadas”.
A dependência do álcool prossegue além-túmulo e, como o Espírito não pode obtê-lo no local em que agora reside, no chamado plano extrafísico, ele só consegue satisfazer a sua compulsão pela bebida associando-se a um encarnado que beba. 
Um caso de enxertia fluídica  Eis como André Luiz relata, em sua obra citada, o caso Cláudio Nogueira:
Estando Cláudio sentado na sala de seu apartamento, aconteceu de repente o impre­visto. Os desencarnados vistos à entrada do apartamento penetraram a sala e, agindo sem-cerimônia, abordaram o chefe da casa. "Beber, meu caro, quero beber!", gritou um deles, tateando-lhe um dos ombros. Cláudio mantinha-se atento à leitura de um jornal e nada ouviu. Contudo, se não pos­suía tímpanos físicos para registrar a petição, trazia na cabeça a caixa acústica da mente sintonizada com o apelante. O Espírito repe­tiu, pois, a solicitação, algumas vezes, na atitude do hipnotizador que insufla o próprio desejo, reafirmando uma ordem. O resultado não demorou. Viu-se o paciente desviar-se do jornal e deixar-se envolver pelo desejo de beber um trago de uísque, convicto de que buscava a be­bida exclusivamente por si.
Abrigando a sugestão, o pensamento de Cláudio transmudou-se, rápido."Beber, beber!..." e a sede de aguar­dente se lhe articulou na idéia, ganhando forma. A mucosa pituitária se lhe aguçou, como que mais fortemente impregnada do cheiro acre que vague­ava no ar. O Espírito malicioso coçou-lhe brandamente os gorgomi­los, e indefinível secura lhe veio à garganta. O Espírito, sagaz, percebeu-lhe, então, a adesão tácita e colou-se a ele. De começo, a carícia leve; depois da carícia, o abraço envolvente; e depois do abraço, a associação recíproca. Integraram-se ambos em exótico sucesso deenxer­tia fluídica.
Produziu-se ali – refere André Luiz - algo seme­lhante ao encaixe perfeito. Cláudio-homem absorvia o desencarnado, à guisa de sapato que se ajusta ao pé. Fundiram-se os dois, como se mo­rassem num só corpo. Altura idêntica. Volume igual. Movimentos sincrô­nicos. Identificação positiva. Levantaram-se a um tempo e giraram in­tegralmente incorporados um ao outro, na área estreita, arrebatando o frasco de uísque. Não se podia dizer a quem atribuir o impulso ini­cial de semelhante gesto, se a Cláudio que admitia a instigação, ou se ao obsessor que a propunha. A talagada rolou através da garganta, que se exprimia por dualidade singular: ambos os dipsômanos estalaram a língua de prazer, em ação simultânea.
Desman­chou-se então a parelha e Cláudio se dispunha a sentar, quando o outro Espí­rito investiu sobre ele e protestou: "eu também, eu também quero!", reavivando-se no encarnado a sugestão que esmorecia. Absolu­tamente passivo diante da sugestão, Cláudio reconstituiu, mecanica­mente, a impressão de insaciedade. Bastou isso e o vampiro, sorri­dente, apossou-se dele, repetindo-se o fenômeno visto anteriormente.
André aproximou-se então de Cláudio, para avaliar até que ponto ele sofria mentalmente aquele processo de fusão. Mas ele continuava livre, no íntimo, e não experimentava qualquer espécie de tortura, a fim de render-se. Hospe­dava o outro simplesmente, aceitava-lhe a direção, entregava-se por deliberação própria.
Nenhuma simbiose em que fosse a vítima. A associação era implícita, a mistura era natural. Efetuava-se a ocorrência na base da percussão. Apelo e resposta. Eram cordas afi­nadas no mesmo tom. Após novo trago, o dono da casa estirou-se no divã e retomou a leitura, enquanto os Espíritos voltaram ao corredor de acesso, chas­queando, sarcásticos...  

Tratamento do alcoolismo  Embora o alcoolismo tenha sido definido pela Organização Mundial de Saúde como uma doença incurável, progressiva e quase sempre fatal, o dependente do álcool pode ser tratado e obter expressiva vitória nessa luta, que jamais será fácil e ligeira.

Sintetizando aqui os passos recomendados pelos especialistas na matéria e as recomendações específicas do Espiritismo a respeito da obsessão, nove são os pontos do tratamento daquele que deseja, no âmbito espírita, livrar-se dessa dependência:
1. Conscientização de que é portador de uma doença e vontade firme de tratar-se.
2. Mudança de hábitos para assim evitar os ambientes e os amigos que com ele bebiam anteriormente.
3. Abstinência de qualquer bebida alcoólica, convicto de que não bebendo o primeiro gole não haverá o segundo nem os demais.
4. Buscar apoio indefinidamente num grupo de natureza idêntica à dos Alcoólicos Anônimos, que proporcionam, segundo o dr. George Vaillant, o melhor tratamento que se conhece.
5. Cultivar a oração e a vigilância contínua, como elementos de apoio à decisão de manter a abstinência.
6. Utilizar os recursos oferecidos pela fluidoterapia, a exemplo dos passes magnéticos, da água fluidificada e das radiações.
7. Leitura de páginas espíritas, mensagens ou livros de conteúdo elevado, que possibilitem a assimilação de idéias superiores e a renovação dos pensamentos.
8. A ação no bem, adotando a laborterapia como recurso precioso à saúde da alma.
9. Realizar pelo menos uma vez na semana, na intimidade do lar, o estudo do Evangelho, prática que é conhecida no Espiritismo pelo nome de culto cristão no lar. A família que lê o Evangelho e ora em conjunto beneficia a si e a todos os que a rodeiam.  
O recado de Cornélio Pires – No capítulo 1 do livroDiálogo dos Vivos, José Herculano Pires transcreve a resposta em versos que Cornélio Pires (Espírito) enviou a um amigo que o interpelou, através de Chico Xavier, sobre o problema do alcoolismo na visão dos Espíritos. IntituladaInformações do Além, a mensagem diz o seguinte:

“Recebi o seu bilhete,

Meu amigo João da Graça,


Notícias sobre a cachaça.

                   O assunto não é difícil.
                   Cachaça, meu caro João,
                   Recorda simples tomada
                   Que liga na obsessão.
Você sabe. Aí na Terra,
Nas mais diversas estradas,
Todos temos inimigos
Das existências passadas.
                   Muitos deles se aproximam
                   E usando a idéia sem voz
                   Propõem cousas malucas
                   Escarnecendo de nós.
Nas tentações manejamos
Nossa fé por luz acesa,
Mas se tomamos cachaça
Lá se vai nossa firmeza.
                   Olhe o caso de Antoninha.
                   Não queria desertar,
                   Encafuou-se na pinga,
                   Hoje é mulher sem lar.
Titino, homem honesto,
Servidor de tempo curto,
Passou a viver no copo,
Agora vive de furto.
                   Rapaz de brio e saúde
                   Era Juca de João Dório,   
                   Enveredou na garrafa,
                   Passou para o sanatório.
Era amigo dos mais sérios
Silorico da Água Rasa,
Começou de pinga em pinga,
Acabou largando a casa.
                   Companheiro certo e bom
                   Era Neco de Tião,
                   Afundou-se na garrafa,
                   Aleijou o próprio irmão.
Cachaça será remédio,
É o que tanta gente ensina...
Mas álcool, para ajudar,
É cousa de Medicina.
                   Eis no Além o que se vê.
                   Seja a pinga como for,
                   Enfeitada ou caipira,
                   É laço de obsessor.
Nas velhas perturbações,
Das que vejo e que já vi,
Fuja sempre da cachaça,
Que cachaça é isso aí.”


Página extraída da Revista Eletrônica: O Consolador, que pode ser acessada através do endereço:  http://www.oconsolador.com.br/38/especial.html

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Vírus destruidor

Vírus destruidor

A intriga é semelhante a um vírus destruidor que se multiplica rapidamente, aniquilando a organização de que se nutre.
Imiscui-se sutilmente e prolifera com volúpia, irradiando a sua morbidez devastadora.
Com facilidade transfere-se de uma para outra vítima, conseguindo gerar o ambiente pestífero que lhe é próprio.
O intrigante, por sua vez, é enfermo da alma, portando graves distúrbios emocionais e morais.
É invejoso, e transfere-se da conduta deplorável que lhe é característica para a das acusações perniciosas; é portador de complexo de inferioridade, mantendo sentimentos competitivos com os demais, e porque não possui os requisitos hábeis para vencer, oculta-se na intriga, mediante a qual denigre aquele de quem se faz opositor; é perverso, porque respira mágoas a respeito do seu próximo, que procura anular através das covardes assacadilhas...
Urde planos nefastos e mascara-se com sorrisos pérfidos com que engana as suas vítimas, enquanto as combate com ferocidade.
Sempre armados, a sua imaginação corrompe tudo quanto ouve e vê, adaptando à vérmina que traz no pensamento. Ninguém se livra da intriga insidiosa e cruel.
São célebres na História da Humanidade as intrigas palacianas...
Nas cortes, onde a frivolidade e o ócio predominavam, as intrigas no passado, assim como no presente, têm sido o alimento mantenedor dos parasitas morais que as constituem.
Quase todas as criaturas têm sido abaladas pela insídia da sua maldade, derrubando potentados e afastando pessoas nobres da execução dos seus elevados ideais.
Tronos são derruídos pela insídia da intriga; reis e potestades tombam nas malhas que as asfixiam.
A intriga é irmão gêmea da traição que se homizia no âmago dos Espíritos infelizes.
Todo grupamento social, político, acadêmico, popular, religioso, cultural ou de trabalho e de lazer, é vítima dos profissionais da intriga, neles integrados com os nefandos objetivos de os desagregar.
...E a intritga campeia a soldo da insegurança, da imaturidade psicológica das criaturas humanas.
O intrigante é instrumento dócil das Trevas que pretendem manter a sociedade na ignorância, no atraso moral, a fim de nutrir-se das emanações humanas que vampirizam.
Movimenta-se com facilidade porque é pusilânime, tornando-se hoje amigo daquele que no passado feriu, e assim, sucessivamente, em relação às pessoas que, no futuro, serão suas vítimas.
Alegra-se ao ver os distúrbios que provoca sem deixar-se trair, sorrindo de prazer ante as injunções penosas que a sua conduta reprochável dá lugar.
Encontra-se em toda parte, por constituir larga fatia da sociedade inditosa que se compraz na maledicência, nas observações distorcidas...
São necessários antídotos vigorosos para sanar essa epidemia ou muita água em forma de paciência e compaixão para apagar os incêndios morais que provoca.
A intriga é semelhante a cupim que destrói a fonte de onde retira o alimento, sem deixar vestígios externos, até o momento em que se desorganizam as estruturas nas quais se refugia.
*   *   *
Fecha os ouvidos à persuasiva palavra simulada do intrigante, que te escolhe para a catarse da própria desdita.
Não passes adiante a informação infeliz que ele te transmite com o objetivo de envenenar-te o que, invariavelmente, consegue.
Abafa a intriga que te chega ao conhecimento no poderoso algodão do silêncio e da dignidade.
Desarma-te, em relação ao teu irmão, adquire autoconfiança e autoconsciência, que te instrumentalizam para não aceitares a morbidez da intriga destruidora.
Mesmo no colégio galileu, a intriga e o ciúme campeavam, culminando na traição de Judas e em negação de Pedro em referência a Jesus, que sempre os amou.
Sê fiel ao teu ideal, mantendo lealdade com relação àqueles que constituem a tua família biológica, quanto a espiritual.
Não agasalhes informações nefastas, deixando-te contaminar pelo morbo sempre ativo da intriga.
Respeita a concha dos teus ouvidos, preservando-a da intriga e dignifica a tua voz não a propagando, dessa maneira deixando-a diluir-se no oceano da tua conduta moral.
Aqueles que se permitem criar embaraços ao seu próximo, acusando-os, indevidamente, tecendo as redes das informações malsãs,  vigiando-os de forma implacável, empurrando-os na direção do abismo do desânimo e do sofrimento, tornam-se responsáveis pelo mal que lhes venha acontecer.
São as mãos invisíveis que os asfixiam e as forças infelizes que os comprimem, derrubando-os pelo caminho da evolução.
Se alguém, por acaso, não corresponde à tua confiança, nem retribui o teu comportamento sadio, não te aflijas, porque o infeliz é ele que, ingrato, não é capaz de compreender a beleza nem o significado da amizade legítima.
Em qualquer circunstância, sê aquele que vive com elevação e honradez, a fim de que longos e saudáveis sejam os teus dias na viagem abençoada pela Terra.
Divulga o bem e canta a glória da afeição pura, entronizando na mente e na emoção, os valores da alegria defluente dos deveres retamente cumpridos.
Embora aceito pelos frívolos, o intrigante é detestado e temido por todos, que lhe conhecem o caráter e percebem que, de um para outro momento, poderão ser-lhes vítimas também.
O que fazem com os outros, certamente farão contigo, sem compaixão.
*   *   *
Jesus recomendou a vigilância e a oração como terapia preventiva e curadora, para uma existência digna e feliz.
Vigia as nascentes do coração para que nelas brote a água lustral do amor que se expande, enquanto orarás, arando com os tratores da caridade, os solos humanos que a vida te oferece.
Intriga, jamais!
Joanna de Angelis
Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica
da noite de 10 de setembro de 2012, no Centro Espírita Caminho da Redenção,
em Salvador, Bahia.
Em 24.09.2012.

Mensagem extraída do sítio: http://www.divaldofranco.com/mensagens.php?not=301

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Síndrome do Pânico

Síndrome do Pânico

Entre os transtornos de comportamento que tomam conta da sociedade hodierna, com enormes prejuízos para a saúde do indivíduo e da comunidade geral, a síndrome do pânico apresenta-se, cada vez, mais generalizada.

Vários fatores endógenos e exógenos contribuem para esse distúrbio que afeta grande e crescente número de vítimas, especialmente a partir dos vinte anos de idade, embora possa ocorrer em qualquer período da existência humana.

A descarga de adrenalina, avançando pela corrente sanguínea até o cérebro no ser humano, produz-lhe o surto que pode ser de breve ou de larga duração.

Trata-se de um problema sério que merece tratamento especializado, tanto na área da psicologia quanto da psiquiatria, mediante os recursos psicoterapêuticos a serem aplicados, assim como os medicamentos específicos usados para a regularização da serotonina e de outros neurocomunicadores.

No momento em que ocorre o surto, o sofrimento do paciente pode alcançar níveis quase insuportáveis de ansiedade, de desespero e de terror. Nada obstante, o fenômeno, invariavelmente, é de breve duração, com as exceções compreensíveis.

Podem ocorrer poucas vezes, o que não constitui um problema de saúde, mas, normalmente é recorrente, portanto, necessitado de tratamento.

Graças aos avanços da ciência médica, nas áreas das doutrinas psicológicas, o mal pode ser debelado com assistência cuidadosa e tranquila.

No entanto, casos existem que não cedem ante o tratamento específico, ao qual o paciente é submetido, dando lugar a preocupações mais sérias.

Sucede que, em todo problema na área da saúde ou do comportamento humano, o enfermo é sempre o Espírito que se encontra em processo de recuperação do seu passado delituoso, experienciando as consequências das ações infelizes que se permitiu praticar antes do berço atual.

Renascendo com a culpa insculpida nos tecidos sutis do ser, temores e inquietações aparentemente injustificáveis, surgem de inopino, expressando-se como leves surtos do pânico.

Em consequência, por haver gerado animosidade e ressentimento, as suas vítimas, que o não desculparam pelas atitudes perversas que lhe padeceram, retornam pelo impositivo das afinidades psíquicas e morais, estabelecendo conúbios de vingança por intermédio das obsessões.

O número de pessoas em sofrimento sob os acúleos das obsessões produzidas por desencarnados é muito maior do que parece.

É natural, portanto que, nesses casos, a terapêutica aplicada mais eficaz não resulte nos propósitos desejados, tais sejam, a cura, o bem-estar do paciente...

Torna-se urgente o estudo mais cuidadoso da fenomenologia mediúnica, das interferências dos Espíritos nas existências humanas, a fim de serem melhor compreendidos os distúrbios psicopatológicos, dessa maneira, facultando-se existências saudáveis e comportamentos equilibrados.


*   *   *

Anteriormente confundido com a depressão, o distúrbio do pânico foi estudado mais detidamente e, após serem analisadas todas as síndromes, foi reclassificado, a partir de 1970, como sendo um transtorno específico, recebendo orientação psicoterapêutica de segurança.

Pode acontecer que, num surto do distúrbio do pânico, de natureza fisiológica, os inimigos espirituais do paciente aproveitem-se do desequilíbrio emocional do seu adversário e invistam agressivamente, acoplando-se-lhe no perispírito e produzindo, simultaneamente, a indução obsessiva.

Trata-se, portanto, de uma problemática mais severa porque são dois distúrbios simultâneos, que exigem mais acurada atenção.

Nesse sentido, a psicoterapia espírita oferece recursos valiosos para a recuperação da saúde do enfermo.

Concomitante ao tratamento especializado na área da medicina, as contribuições fluídicas, mediante os passes, a água magnetizada ou fluidificada, as leituras edificantes e a meditação, a prece ungida de amor e de humildade, os socorros desobsessivos em reuniões especializadas, sem a presença do paciente, oferecem os benefícios de que necessita.

Face ao débito moral ante as Leis da Vida, é indispensável que o padecente recupere-se espiritualmente, por meio da vontade para alterar a conduta para melhor, envidando esforços para sensibilizar a sua vítima antiga, afastando-a através da paciência, da compaixão e da solidariedade.

O distúrbio do pânico é transtorno cruel, porque durante o surto pode induzir o paciente ao suicídio, conforme sucede com relativa frequência, em razão do desespero que toma conta da emoção do mesmo.

O hábito da oração e o recurso das ações em favor do próximo em sofrimento constituem uma admirável medicação preventiva às investidas dos Espíritos inferiores, equilibrando as neurotransmissões e facultando a manutenção da harmonia possível.

A reencarnação é, graças a isso, o abençoado caminho educativo para o Espírito que, em cada etapa, desenvolve os tesouros sublimes da inteligência e da emoção, da beleza e do progresso, avançando com segurança na conquista da plenitude que a todos está reservada.

As enfermidades, especialmente as de caráter emocional e psiquiátrico constituem, assim como outras orgânicas de variadas expressões, desde as degenerescências genéticas até as de caráter infeccioso, os métodos educativos e reeducativos para o discípulo da Verdade.

A cada erro cometido tem lugar uma nova experiência corretiva, de forma que a consciência individual, em se harmonizando, possa sintonizar com a Consciência Cósmica, numa sinfonia de incomparável beleza.

Somente, portanto, existem as doenças porque permanecem enfermos em si mesmo os Espíritos devedores.


*   *   *

Seja qual for a situação em que te encontres na Terra, abençoa a existência, conforme se te apresente.

Se dispões de saúde e desfrutas de bem-estar, multiplica os dons da bondade e serve, esparzindo alegria, sem o desperdício do tempo em frivolidades e comprometimentos perturbadores.

Se te encontras enjaulado em qualquer forma de sofrimento, bendize o cárcere que te impede piorar a situação evolutiva, evitando que novamente derrapes nos desaires e alucinações.

O corpo é uma dádiva superior que Deus concede a todos os infratores, a fim de que logrem a superação da argamassa celular para cantar as glórias imarcescíveis do Amor completamente livre.
Joanna de Ângelis
Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na
manhã do dia 30 de outubro de 2012, em Sydney, Austrália.
Em 9.11.2012.
Extraída do endereço: http://www.divaldofranco.com/mensagens.php?not=305 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Você é Você Mesmo?



Grande parte das pessoas não se conhece, vive ou imita a realidade dos outros. Forma, assim, uma massa amorfa, sem personalidade definida, “conhecida como massa de manobra”.

Fica muito longe a realidade preconizada, há dois mil anos, por Jesus: “Amar ao próximo como a si mesmo” (1). Sócrates, o filósofo grego, acerca de quatrocentos anos antes de Cristo, já ensinava: “Conheça-te a ti mesmo.”  Quanto é difícil o aprimoramento da alma humana!  Por que demorar tanto? A resposta é simples: Porque tem o livre-arbítrio. Para que se tenha mérito faz-se imprescindível a conscientização do indivíduo. Cada um tem o seu tempo de despertamento para o que transcende os limites da materialidade. Tudo o que é material é impermanente, inclusive o corpo físico, a finalidade é a de servir de suporte para a elevação espiritual.  
O patrimônio que se leva para o outro lado da vida é somente o resultado das experiências vividas. Quando positivas proporcionam a paz e a satisfação do dever cumprido; quando de resultado infeliz, a insatisfação e o arrependimento da oportunidade desperdiçada.

A governança de uma pessoa sobre outra somente é compreensível se esta for incapaz, limitada, nonsense.  Não cabe à pessoa sadia aceitar o que vem de fora de si, sem análise e sem reflexão.   As conhecidas peneiras de Sócrates ajudam consideravelmente: É verdade? É bom? É necessário?  Quem se dá a esse trabalho diante das ofertas e das imposições do Mundo?  Estas que podem levar o indivíduo a sofrer algum revés, com a possível consequência de lhe custar altos estipêndios, quando não monetários, emocionais? É preciso apanhar para aprender? Necessariamente não!

Fiar-se em tudo o que se oferece, sem reflexão já não pode ser admitido pelo homem e mulher destes tempos modernos, de tanta inteligência e tecnologia, no entanto, o senso moral amolentado, que aparece avultado; respeitadas às exceções.

Achar que pode aquilo ou aquilo outro porque todo mundo faz. Achar que deve possuir isso ou aquilo porque todo mundo tem. É bem próprio da insensatez. A expressão todo mundo faz ou tem é apenas uma força de expressão que não significa nada. Não tem nenhuma sustentação. Não se pode mirar a tranquilidade e a lucidez da consciência em base tão inútil. O tal do niilismo.

Não há possibilidade de amar ao próximo antes de amar a si mesmo. Ninguém pode oferecer a outrem o que não possui.  Portanto, ninguém faz amor. Na essência, o que se denomina amor é conquista que requer muito esforço e sacrifício e só é existente no exercício do bem.

A fé é algo de foro íntimo que pode ser manifestada coletivamente, no entanto, ninguém precisa ser guiado, não há necessidade de intermediário, cada indivíduo é autônomo. O deotropismo é natural.  As lideranças devem demonstrar exemplos através dos recursos morais e condutas retas, segui-las é sempre decisão particular. Não se pode atribuir a outrem a responsabilidade pela condução da própria vida.

A mensagem de Jesus e o pensamento de Sócrates, embora, antigos no tempo, são tão atuais que parecem que foram ensinados agora mesmo.

(1)    – Mateus, 22:39

Dorival da Silva

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O Mundo em Transição



Vivemos num mundo de expiação e provas, o que quer dizer que o mal predomina entre a sua população. Na continuidade do tempo, o próximo estágio será o de regeneração – onde as almas que ainda têm o que expiar adquire novas forças, repousando das fadigas da luta. (1) Como e quando se dará essa mudança?  Se existe uma transição fatos serão notados. Alguma coisa se modificará. Algo novo deverá surgir.

O Planeta na sua constituição física também é um elemento vivo.  Sofre modificações constantes, evolui incessantemente.  Considerando os habitantes, centrando análise somente nos seres humanos, tudo se dá em dinamismo frenético. Nenhuma pessoa é exatamente igual no próximo minuto em relação ao que era no minuto anterior, mesmo dormindo.  Há modificações intermináveis na estrutura física e há vibrações inexplicáveis, por ora, na estrutura espiritual.

Existe o reflexo de uma estrutura na outra, mas sempre prevalece a espiritual, vez que esta carrega a inteligência, a vontade e a consciência.  O ser espiritual sobrevive à matéria, no entanto, precisa dela para sua experimentação.  No atendimento às suas necessidades desenvolve a inteligência e para conviver com seus iguais -- em melhores condições -- cria ambiente de confiança, de segurança, através do respeito aos outros, desenvolvendo o sentimento e a emoção, suportando e sendo suportado, avançando e recuando em seus ímpetos, dominando o orgulho e o egoísmo.

Por isso se nasce muitas vezes, para vivências e ajustes, vive-se no ambiente que construiu ou ajudou a fazê-lo, sofrendo as consequências do que  implementou direta ou indiretamente.  É a escola da vida.  Aprendendo com as suas próprias construções, experimentando o resultado de seus próprios feitos. Seja na vida presente ou futura, o ser pensante, o ser espiritual é o mesmo, sempre reencontra com suas obras.

Chega um momento que tanto o Planeta como os habitantes sofrem uma modificação de maior intensidade, um ciclo novo, porque tudo evolui, é da Lei de Progresso. Esta ocorre independente da vontade ou entendimento de qualquer criatura.

A transição da Terra para a condição de mundo regenerado está em andamento, muitos de seus moradores, com milênios de experiência e que não mais se enquadram nas condições do novo ambiente, porque renitentes no mal e sem expectativa de modificação moral dentro desse novo contexto, serão exilados para mundo em início de trajetória evolutiva, como este Orbe foi em era recuada, aos tempos do homem da pedra lascada. 

Toda reformulação, em qualquer coisa estabelecida, requer um revolução, um remover das coisas antigas prestáveis ou não, que gera incômodo aos envolvidos, como numa reforma de casa, e como todos os habitantes da Casa-Terra estão comprometidos nessa melhoria, então todos sofrem os seus efeitos, cada um à sua cota de comprometimento.

O tempo passa, dos desarranjos e dos desconfortos da reforma ninguém se importa mais, se estiverem residindo em morada mais bonita, confortável e feliz, mesmo que essa demora trabalhosa e de muito sacrifício seja de décadas ou séculos.  O importante é a conquista dos recursos morais suficientes para merecer a moradia feliz.  Quem não se propuser à conquista de valores através dos esforços no bem e preferir a renitência no mal, naturalmente se elege para buscar paragem correspondente à sua condição. Não será mais no planeta Terra.  Sempre haverá a oportunidade do recomeço em algum lugar. Deus é misericórdia.  Oferece o que é justo ao aprimoramento de seus filhos.

A transição para a Nova Era está em andamento, quem tem olhos de ver...

(1)   -  O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. III, item 4 – Allan Kardec


                                                                                 Dorival da Silva
                                                                               
           

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O Evangelho fora dos templos

JOSÉ PASSINI
passinijose@yahoo.com.br Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)
 

 

José Passini

O Evangelho fora dos templos
“Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar.” – I Co, 1:17.

Nas várias religiões cristãs, o termo evangelizar define o entendimento e a aplicação dos ensinamentos contidos no Novo Testamento de modo particular. No Espiritismo, essa particularidade se revela na ênfase que é dada à vivência, à exemplificação dos ensinamentos de Jesus e dos Apóstolos, não só nos momentos de prática religiosa, mas em todas as situações de sua vida.
O próprio entendimento do que significa religião foi modificado a partir dos ensinamentos de Jesus. Com Ele, aprende-se que religião não é algo mágico a ser vivenciado no interior dos templos. Não mais aquela ideia de que religião é prática mística, contemplativa, ritualística, cheia de oferendas e fórmulas repetitivas levadas a efeito no interior das assim chamadas “Casas de Deus”. Religião, conforme seus ensinamentos e, principalmente seus exemplos, passou a ser, para aquele que lhe entendeu as lições, um novo modo de viver, de se relacionar com o próximo, em todos os ambientes, em todos os momentos. Ensinando que Deus está presente em todo o universo, alargou os limites dos templos, mostrando o Universo como um templo imenso: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo, 14: 2).
Jesus libertou, assim, a criatura humana da necessidade do comparecimento ao templo, a fim de ali encontrar-se com Deus. O Mestre jamais convidou alguém a orar num templo. Pelo contrário, quando a Samaritana manifestou-se no sentido de adorar a Deus no Templo de Jerusalém, o Mestre desautorizou tal atitude, dizendo-lhe: "Mulher, crede-me que a hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Deus é Espírito e importa que os que O adoram, O adorem em espírito e em verdade" (Jo, 4: 21 e 24). Para Jesus não havia santuários, lugares especiais. Seus ensinamentos, suas curas, suas orações sempre foram levados a efeito onde quer que ele se encontrasse. 
Jesus foi um educador de almas 
Entretanto, uma concepção religiosa libertadora não agrada àqueles que desejam exercer o poder religioso, dominando consciências. Estes procuram conservar a religião como algo mágico, místico, extático, complexo a ponto de a ela só terem acesso os doutos e os sábios, pessoas pretensamente especiais, que estariam mais habilitadas a intermediarem as mensagens das criaturas ao Criador, e vice-versa. Jesus concedeu carta de alforria à Humanidade, em relação à intermediação sacerdotal, ao informar a criatura humana de que ela tem o direito legítimo e inalienável de se comunicar com seu Criador, diretamente, em qualquer lugar onde se encontre: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê secretamente, te recompensará” (Mt, 6: 6).
Ele foi crucificado exatamente pela coragem de contrapor-se ao poderio sacerdotal, àquela verdadeira ditadura religiosa.
Jesus foi um educador de almas, que sempre enfatizou a necessidade do empenho da criatura no sentido de educar-se, de progredir, conforme ensinou no Sermão do Monte: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens (...)” (Mt, 5: 16). Toda a mensagem religiosa do Mestre fundamenta-se no esforço da criatura no sentido de revelar essa herança divina que todos trazemos. Nada de graças, além da graça da vida. Nada de privilégios: “(...) e então dará a cada um segundo as suas obras” (Mt, 16: 27).
Sua mensagem é um verdadeiro desafio, no sentido de transcender os limites da lei antiga, que preconizava “olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Ex, 21: 24).  
O Mestre não desejou discípulos passivos 
Jesus delineia um novo horizonte na concepção religiosa do Mundo: “(...) se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt, 5: 20). “Ouvistes o que foi dito: amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos. Eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam; (...)” (Mt, 5:42 e 43).
Como educador que foi, Jesus não desejou discípulos passivos, encantados, deslumbrados. Pelo contrário, sempre buscou tocar o sentimento, juntamente com o apelo para que a criatura raciocinasse, a fim de saber, de compreender por que deveria agir desse ou daquele modo.
O Sermão da Montanha, que para muitos é apenas um hino ao sentimento, é, também, uma vigorosa mensagem à inteligência, ao raciocínio: “E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus dará bens aos que lhos pedirem?” (Mt, 7: 9 a 11).
Entendendo que o sistema pedagógico de Jesus fundamenta-se no binômio sentimento/razão, o Espiritismo ensina que a evangelização não se restringe unicamente ao campo do sentimento, pois a fé raciocinada começou, inquestionavelmente, com Jesus: “Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?” (Mt, 6: 26). Ao ensinar a criatura a não criar fantasias sobre a fé, mostra a linha divisória entre aquilo que deve ser objeto da preocupação do homem, e o que deve ser entregue a Deus, perguntando: “E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?” (Mt, 6: 27). 
A importância do bom relacionamento 
A educação religiosa que Jesus propicia ao homem leva-o a conscientizar-se de que não será através de orações repetidas que estaremos agradando a Deus: “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos” (Mt, 6: 7). Nem através de oferendas ou bajulações: “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta” (Mt, 5: 23 e 24).
No Seu trabalho educativo do Espírito humano, Jesus mostrou a importância do bom relacionamento com o próximo como caminho para Deus, conforme bem entendeu o Apóstolo João, que registrou: “Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (I Jo, 4: 20).
Mas, com o passar dos tempos, o eixo da mensagem cristã foi-se desviando, saindo da área do estudo, da meditação à luz da oração consciente, passando às práticas exteriores.
Essas verdades religiosas simples, que estiveram ao alcance de humildes pescadores, de viúvas e de deserdados, foram, com o passar do tempo, relegadas a segundo plano, tendo sido postos em primeiro lugar o ritual, a solenidade, o manuseio de objetos de culto, a vela, o vinho, a fumaça, os cantochãos, todo um conjunto imenso de práticas exteriores alienantes, buscadas no paganismo romano, que distanciavam o homem cada vez mais do esforço de autoaprimoramento preconizado pelo Mestre.
Infelizmente, os pronunciamentos libertadores de Jesus não foram objeto de estudo pelos teólogos, que criaram as liturgias, os sacramentos, e, pior ainda, a hedionda teoria das penas eternas, desfazendo a imagem do Deus Misericordioso, tão bem delineada pelo Mestre. 
A evangelização é um processo contínuo 
A mensagem cristã foi apequenada, podada, enxertada por aqueles que dela se apossaram, construindo uma religião atemorizadora e salvacionista, com base em atitudes místicas e na crença de que seria o sangue de Jesus o remissor dos pecados da Humanidade. Foi enfatizada a adoração extática a Jesus-morto, em detrimento do esforço em seguir Jesus-vivo. Evangelizar passou a significar o encaminhamento da criatura ao interior dos templos, onde deveria assumir uma atitude inteiramente passiva, ficando no aguardo das bênçãos de Deus, que seriam conseguidas através de rezas intensamente repetidas, quando não de longas penitências.
Mas o Mestre, conhecedor da fragilidade humana, sabia que, de alguma forma, isso iria acontecer, por isso, prometeu o Consolador: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo, 14: 26).
Cumprindo sua promessa, enviou-nos o Espiritismo, que não é apenas mais uma religião cristã, mas o próprio Cristianismo Primitivo, que ressurge na sua pureza, pujança e objetividade originais, destacando-se das demais religiões, pelo menos das do Ocidente, pelo seu aspecto altamente educativo.
Dentro dessa perspectiva, fica claro que evangelizar, na concepção espírita, tem um sentido muito mais amplo do que aquele que é entendido por outras correntes cristãs, pois tem como componente básico, indissociável, o elemento educação.
Evangelizar, na conceituação espírita, representa não só informar alguém a respeito da vida, dos ensinamentos e dos exemplos de Jesus, mas, principalmente, conscientizar a respeito da necessidade da aplicação constante desses conhecimentos teóricos à vida diária.
A evangelização, assim compreendida, não se dá num determinado período de tempo: é um processo contínuo de despertamento da criatura para a necessidade do esforço, no sentido de promover a sua transformação moral, numa busca de autoaprimoramento, que se inicia num determinado momento da vida, mas que não tem data alguma que lhe marque o fim. 

Página extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", no endereço:

sábado, 27 de outubro de 2012

Finados! Dias dos Mortos?



Fisicamente, aquele que visitamos em câmara ardente e despedimos em exéquias, realmente não está mais ombreando conosco, permanece-nos na lembrança. É correto homenageá-los em dias próprios?  Nada a reprovar. No entanto, podemos fazer isso diariamente ou em muitas oportunidades, através da prece diária, quando não, em datas outras, como aniversário, período Natalino...

“Os Espíritos são sensíveis à lembrança que deles guardam os que lhes foram caros na Terra? ‘Muito mais do que podeis imaginar. Se são felizes, essas lembranças lhes aumenta a felicidade; se são infelizes, serve-lhes de lenitivo.’  ‘O dia da comemoração dos mortos tem algo de mais solene para os Espíritos? Eles se preparam para visitar os que vão orar sobre os seus despojos? ‘Os Espíritos atendem ao chamado do pensamento, tanto nesse dia como nos outros’. ‘O dia de finados é, para eles, um dia especial de reunião junto de suas sepulturas? Nesse dia, eles se reúnem em maior número nos cemitérios, porque maior é o número de pessoas que os chamam.  Mas cada Espírito só comparece ali pelos seus amigos e não pela multidão dos indiferentes.’  ‘Sob que forma aí comparecem e como os veríamos, se pudessem tornar-se visíveis? Aquela sob a qual eram conhecidos em vida.” (1)

As indagações acima e as respostas dos Espíritos reveladores da vida em outra dimensão são muito esclarecedoras, mas outras conjecturas surgem que nos levam à reflexão.  E no caso daquele em que lembramos no dia convencionado à homenagem dos chamados mortos estiver reencarnado e convivendo junto aos seus entes queridos, agora como um neto ou um bisneto? Como seria? Agora tem outro nome? É outra personalidade?

A fé raciocinada (a Doutrina Espírita) nos permite a reflexão.  Outrora era conhecido como José, nesta oportunidade se chama Antônio, conquanto as personalidades diferentes tratam-se do mesmo ser espiritual.  Se lá à beira da lápide homenageamos o ente que conhecíamos com um nome e ele tem outro, numa nova existência física, que não temos conhecimento, a prece, o pensamento de saudade atinge-o de mesma forma, porque não importa como ou onde esteja, é a mesma individualidade.

Como se daria isso?  Estando o Espírito na vida errante (espiritual), que lhe é a natural, estaria ciente: veria os seus homenageadores e sentiria as suas intenções emocionais; e estando num outro corpo (reencarnado), não estaria consciente da ocorrência como na situação anterior, mas sentiria a emoção, ou a alegria benfazeja que não saberia explicar, independentemente de ser criança ou adulto. Será que nunca sentimos uma emoção ou uma alegria que desconhecemos de onde surgiu?  Os que estão na vida espiritual também oram por nós.  A vida é via de duas mãos!

A homenagem aos que amamos é muito importante, em qualquer circunstância é uma demonstração de afeto, doação de amor, sem nenhuma outra conotação que não seja a de amar.

(1)   O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Questões: 320, 321 e 321 - a e b.

Dorival da Silva