quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A Lei de Amor

A Lei de Amor

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Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas.  (Mateus, 7:12.) 
- O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo XI -Itens 8 e 9
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O amor não dá para racionalizar.
O amor não dá para medir.
O amor não dá para pesar.
O amor não dá para prender.
O amor não dá para dar.
O amor não dá para fazer.

O que se pode é amar, simplesmente.

O amor não tem cor, mas pode ter todas as cores.
O amor não tem perfume, mas pode ter todos os aromas.
O amor não tem tamanho, mas pode abranger o Universo.

Jesus demonstrou como amar o próximo, mas poucos O compreenderam.
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Reflexão: Aqui não é o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas (1).

Quando Jesus pronunciou a divina palavra — amor —, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo (2).

Chamo homem vicioso a esse amante vulgar, que mais ama o corpo do que a alma (3).

O amor está por toda parte em a Natureza, que nos convida ao exercício da nossa inteligência; até no movimento dos astros o encontramos. É o amor que orna a Natureza de seus ricos tapetes; ele se enfeita e fixa morada onde se lhe deparem flores e perfumes. É ainda o amor que dá paz aos homens, calma ao mar, silêncio aos ventos e sono à dor (3).

Entretanto, por mais que façam [os homens], não logram sufocar o gérmen vivaz que Deus lhes depositou nos corações ao criá-los. Esse gérmen se desenvolve e cresce com a moralidade e a inteligência e, embora comprimido amiúde pelo egoísmo, torna-se a fonte das santas e doces virtudes que geram as afeições sinceras e duráveis e ajudam a criatura a transpor o caminho escarpado e árido da existência humana (4).

                                           * * *

Quanto tempo precisaremos ainda para compreender o que está exposto deste a antiguidade longínqua, Sócrates, Platão, Jesus, a Doutrina Espírita, a Ciência Moderna, a Tecnologia, as experiências atuais esmiuçadas pela imprensa – positivas e negativas, que somente o amor, aquele da Lei de Amor, poderá apaziguar a volúpia dos corações e mentes egoístas da sanha de poder?

É certo que o Planeta tem governança espiritual, mas a humanidade tem o direito ao livre-arbítrio, o que se espera dos homens é o aprimoramento intelectual e moral.  O que diz adiantamento intelectual caminhou significativamente, no entanto, compromete-se no campo moral em grande monta, relevando-se parcela de exceção, que evolui no anonimato, eliminando de si mazelas de outras épocas, embora sofrendo as consequências do desgoverno, da violência, da escassez de tudo, compondo as misérias que os portentosos do poder não desejam ver e examinar, porque lhes traz incômodo, não lhes é produtivo, não lhes é alvissareiro.

Ilusão alimentada pelo egoísmo exacerbado, de duração ínfima na vida terrena, que trará sofrimentos inenarráveis quando despertar, após a morte física, no mundo espiritual, onde a ilusão deixa sua máscara e terá que encarar a consciência, o juiz implacável. Examinará as minúcias da existência passada no corpo físico e suas consequências, dará crédito no que for de direito e exigirá correção naquilo em que se desviou, qualificando-se a gravidade.
 
Nova oportunidade se clamará. Será nas mesmas condições como na vida anterior? Será no mesmo local? Com as mesmas pessoas? O mesmo círculo social? Certamente não! A reencarnação é recurso evolutivo. Precisa que o Espírito encontre as circunstâncias necessárias e justas para a sua condição. Normalmente encontrará as adversidades como colheita do plantio que realizou na vida anterior se a consciência carrega o traço da irresponsabilidade conveniente. Assim, não poderá reclamar de seu próprio veredito, porque não há na Lei Divina vingança, mas justiça, exatamente de acordo com cada necessidade.

Deus é amor (Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.), como sintetizou com grandeza o apóstolo João.  (1 João 4:8)

A Lei de Amor está em toda a Natureza. É a vibração permanente do próprio Criador de Todas as Coisas.  Ficar distante dela é estar em sofrimento. Harmonizar-se com ela é encontrar a paz e a felicidade.
                                                                   Dorival da Silva

1)- O Evangelho Segundo Espiritismo. Capítulo XI, item 8.
2)- Idem.
3)- Idem, Introdução, Resumo da Doutrina de Sócrates e Platão, item XVI.

4)- Idem, capítulo XI, item 9, pelos Espírito Fénelon (Bordeaux, 1861)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Uma visão cristã da homossexualidade




Especial

Ano 2 - N° 85 - 7 de Dezembro de 2008

JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)


Uma visão cristã da homossexualidade
Ao serem identificados os pendores homossexuais das pessoas nessa dimensão de experiência, é imperioso se lhes oferte o amparo educativo pertinente, nas mesmas condições
com que se administra instrução à maioria
heterossexual da sociedade

As múltiplas experiências humanas pela reencarnação e os repetidos contatos com ambos os sexos proporcionam ao Espírito as tendências sexuais na feminilidade ou masculinidade e este reencarna com ambas as polaridades e se junge, às vezes, contrariado, aos impositivos da anatomia genital e ao da educação sexual que acolhe em seu ambiente cultural. Consoante essas experiências, tenderá para qualquer das duas opções e o fará nem sempre de acordo com sua aspiração interior, que poderá ser inversa ao que determina o meio sociocultural.  
Emmanuel ensina na obra "Vida e Sexo" que o "Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas". (1) Talvez ocorram fatores educacionais que possam contribuir para despertar no indivíduo as tendências sepultadas nas profundezas de seu inconsciente espiritual. E, ainda que desempenhe papéis de acordo com a sua anatomia genital, e que seu psiquismo se constitua de acordo com sua opção
sexual, poderá ocorrer que desperte com desejos de ter experiências com pessoas do mesmo sexo.  

Sobre essa perspectiva há também estudiosos que atestam a não interferência educacional para quaisquer das homossexualidades (2), de acordo com o consenso dos estudos psicológicos atuais, até porque o cerco em volta de todo o processo educacional é hétero, sustentam.  
Afirma-se, ainda, que o homossexual, quando desempenha papel heterossexual é sempre em função de conflitos provocados pelo meio social, no que não alcança realização e habitualmente recorre a fantasias homossexuais para alcançar efeitos heterossexuais. Quando há realização tanto homo quanto hétero, então aí estaremos diante da bissexualidade manifesta.  
Em que pese o apontamento da Psicologia para a positivação da identidade bissexual, pode ocorrer, não necessariamente, que na realidade a pessoa seja um homossexual tentando uma vivência dupla em função de algum fator de conflito. Tal ocorrência poderá lhe tumultuar a consciência caracterizando, por aquele motivo, um transtorno psíquico-emocional, embora os transtornos nunca sejam em função da homossexualidade em si, mas da ação dos preconceitos sofridos pelo indivíduo. 
Estudiosos sinceros explicam que a expressão opção sexual está abandonada pela Psicologia 
A convivência do Espírito com o sexo oposto ao que adotou em cada encarnação, bem como aquelas em que exerceu sua opção sexual, irão plasmar em seu psiquismo as tendências típicas de cada polaridade. Sabemos também existir estudiosos sinceros explicando que a expressão opção sexual está abandonada pela Psicologia, desde que a ocorrência é sempre de tendência manifesta; dessa forma, o meio em volta em nada colabora para a existência de opção. Afirma-se, ainda, que admitir opção para homossexualidade seria também admitir um enorme masoquismo, diante de toda a adversidade que cerca o indivíduo em relação à homossexualidade.  
Explica Emmanuel: "A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns círculos de ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas, mas é perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação”. (3) 
Na questão 202 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec indagou aos Espíritos: "Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?" "Isso pouco lhe importa”, responderam os Benfeitores; "o que o guia na escolha são as provas por que haja de passar." (4) 
A genética tem tentado encontrar genes que explicariam a homossexualidade como sendo desvio de comportamento sexual. A psiquiatria tentou encontrar enzimas cerebrais que poderiam influenciar no comportamento sexual. Alguns sexólogos explicam que é uma preferência sexual (lembrando aqui que oficialmente a expressão opção foi abolida). Mas a sede real do sexo não se acha no veículo físico, porém na estrutura complexa do espírito. É por esse prisma que devemos encarar as questões relacionadas ao sexo. "A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos." (5)  
Com a liberação sexual na sociedade contemporânea, a tolerância à homossexualidade aumentou 
Não podemos confundir homossexualidade com desvio de caráter, até porque os deslizes sexuais de qualquer tendência têm procedências diversas. Suas raízes genésicas podem vir de profundidades íntimas insondáveis. "A própria filogênese (6) do sexo, que começa aparentemente no reino mineral, passando pelo vegetal e ao animal, para depois chegar ao homem, apresenta enorme variação de formas, inclusive a autogênese [geração espontânea] dos vírus e das células e a bissexualidade dos hermafroditas" (7), o que para alguns pesquisadores justificaria o aparecimento do que seriam os desvios sexuais congênitos. Especialistas dizem também que atualmente o conceito de desvio mudou muito, e um homossexual que se force à heterossexualidade seria tido como um desvio. 
Com a liberação sexual e a ascensão do feminino na sociedade contemporânea, a tolerância à homossexualidade aumentou, permitindo que uma grande quantidade de pessoas que viviam no anonimato se expressasse naturalmente, graças à luta dos homossexuais por seus direitos em todo o mundo, forçando até mesmo a mudança de legislações. Chico Xavier explica, de forma clara, o seguinte: "Não vejo pessoalmente qualquer motivo para criticas destrutivas e sarcasmos incompreensíveis para com nossos irmãos e irmãs portadores de tendências homossexuais, a nosso ver, claramente iguais às tendências heterossexuais que assinalam a maioria das criaturas humanas. Em minhas noções de dignidade do espírito, não consigo entender por que razão esse ou aquele preconceito social impediria certo numero de pessoas de trabalhar e de serem úteis à vida comunitária, unicamente pelo fato de haverem trazido do berço características psicológicas e fisiológicas diferentes da maioria. (...) Nunca vi mães e pais, conscientes da elevada missão que a Divina Providencia lhes delega, desprezarem um filho porque haja nascido cego ou mutilado. Seria humana e justa nossa conduta em padrões de menosprezo e desconsideração, perante nossos irmãos que nascem com dificuldades psicológicas?" (8) Creio ser importante lembrar aqui que as dificuldades psicológicas são em decorrência de conflitos pelo preconceito. Vencido o preconceito, pelo próprio indivíduo, cessa o conflito psicológico. É claro que seria pedir demais que o Chico fosse a isso em suas declarações, mesmo porque pela época da entrevista, da forma como ele colocou já foi efetivamente uma atitude de muita autenticidade e coragem diante da verdade. 
A Doutrina Espírita não condena a homossexualidade;
ao contrário, a respeita
 
A Doutrina Espírita é libertadora por excelência. Ela não tem o caráter tacanho de impor seus postulados às criaturas, tornando-as infelizes e deprimidas. A energia sexual pede equilíbrio no uso e não abuso ou repressão. A Doutrina Espírita não condena a homossexualidade; ao contrário, recomenda-nos o respeito e fraterna compreensão para com os que têm preferências homoafetivas. Muitas vezes, pode até ser alguém tangido pelo apelo permissivo que explode das águas tóxicas do exacerbado erotismo, somado aos diversos incentivadores pseudocientíficos da depravação, que podem estar desestruturando seu sincero projeto de edificação moral, através de uma conduta sexual equilibrada. (9) Por isso mesmo, não pode ser discriminado, nem rejeitado, pois a mensagem de Jesus é a de “amar o próximo como a si mesmo”. 
Como já vimos com Emmanuel no início desta exposição, não há masculinidade plena, nem plena feminilidade na Terra. Tanto a mulher tem algo de viril quanto o homem de feminil. Antigamente, a educação muito rígida e repressiva contribuía para enquadrar o indivíduo homossexual de acordo com a expectativa social em volta, contrariando suas tendências espontâneas. 
Assumir a homossexualidade não significa mergulhar em um universo de atitudes extremadas e desafiadoras perante seu grupo de relacionamento familiar ou profissional, "mas fazer um profundo exercício de auto-aceitação, asserenar-se por dentro, a fim de poder reconhecer perante si mesmo e todo seu círculo de amigos e parentes que vivem uma situação de desafio. O verdadeiro desafio é a construção interna para orientar saudável e equilibradamente os desejos. E não estamos aqui referindo-nos exclusivamente a desejo sexual e sim a toda espécie de desejos que comandam a vida das criaturas". (11) 
Emmanuel enfatiza: "O mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de irmãos em experiência dessa espécie [homossexual], somando milhões de homens e mulheres, solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade devidos às criaturas heterossexuais". (12) A homossexualidade não deve, pois, ser classificada como uma psicopatia ou comportamento merecedor de discriminação ou medidas repressivas. O homossexual, especialmente, ou o transexual, merece toda a nossa compreensão e ajuda, para que ele possa vencer sua luta de adaptação à identidade de agora ou ao novo sexo adquirido com o renascimento.  
Tanto o homossexual como o heterossexual devem buscar a sua reforma interior 
Outra questão extremamente controvertida, para muitos cristãos, é a possibilidade da união estável [casamento] entre duas pessoas do mesmo sexo. Ante a miopia preconceituosa do falso purismo religioso da esmagadora maioria de cristãos supostamente "puros", isso é uma blasfêmia. Isto torna o tema bastante complexo, e não ousaríamos opinar com a palavra definitiva. Estamos, portanto, aberto a discussões. Porém, após refletir bastante sobre o assunto e, sobretudo, tendo como alicerce as opiniões de Chico Xavier, entendemos que a união estável [casamento] entre homossexuais pode ser legítima, até porque cada um deve saber de si o que melhor norteia sua própria felicidade. Só conseguiremos entender melhor a questão homossexual depois que estivermos livres dos (pré) conceitos que nos acompanham há muitos milênios. Arriscaríamos afirmar que a legalização do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo é um avanço da sociedade, que estará apenas regulamentando o que de fato já existe.  
Tanto o homossexual como o heterossexual devem buscar a sua reforma interior, não cedendo aos arrastamentos provocados pelos impulsos instintivos e sensuais. Lembremos: o que é ilícito ao hétero, também o é ao homossexual. Ambos precisam "distinguir no sexo a sede de energias superiores que o Criador concede à criatura para equilibrar-lhe as atividades, sentindo-se no dever de resguardá-las contra os desvios suscetíveis de corrompê-las. O sexo é uma fonte de bênçãos renovadoras do corpo e da alma". (13)  
Mister, portanto, reconhecer que ao serem identificados os pendores homossexuais das pessoas nessa dimensão de experiência é imperioso se lhes oferte o amparo educativo pertinente, nas mesmas condições com que se administra instrução à maioria heterossexual da sociedade.  
Acreditamos, por fim, que estas idéias poderão levar, a quantos as lerem, a meditar, em definitivo, sobre o assunto, lembrando que a homossexualidade transcende em si mesmo a simples questão da permuta sexual.  

Fontes:
 
(1) Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001.
(2) A Ciência já encontrou a homossexualidade nas diversas espécies pesquisadas em seus habitats, excluindo as hipóteses de cativeiro ou interferências outras. Até nos insetos há homossexualidade. Isso mostra que a homossexualidade é uma manifestação como qualquer outra da Natureza, ou mais propriamente falando: faz parte da obra de Deus.
(3) Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001.
(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. Feb, 2000, perg. 202
(5) Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001.
(6) Filogenia (história evolucionária das espécies) opõe-se à ontogenia (desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação até a maturidade para a reprodução).
(7) Disponível em acessado em 21/04/06
(8) Publicada no Jornal Folha Espírita do mês de Março de 1984
(9) A recomendação do Espiritismo para o respeito e a compreensão para com os irmãos que transitam em condições sexuais inversivas (homossexualismo) ocorre em função do sentimento de fraternidade ou caridade que deve presidir o relacionamento humano, mas igualmente pelo fato de que nenhum de nós tem autoridade suficiente para condenar quem quer que seja, pois todos temos dificuldades morais e/ou materiais graves que precisam de educação.
(10) João, cap. VIII, vv. 3 a 11
(11) Disponível em acessado em 21/04/2006
(12) Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001.

(13) Xavier, Francisco Cândido. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001.



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Texto extraído da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço: http://www.oconsolador.com.br/ano2/85/especial.html

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Na intimidade do ser


Na intimidade do ser

“Vós, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade.” - Paulo. (Colossenses, 3:12.)

Indubitavelmente, não basta apreciar os sentimentos sublimes que o Cristianismo inspira.
É indispensável revestirmo-nos deles.
O apóstolo não se refere a raciocínios.
Fala de profundidades.
O problema não é de pura cerebração.
É de intimidade do ser.
Alguém que possua roteiro certo do caminho a seguir, entre multidões que o desconhecem, é naturalmente eleito para administrar a orientação.
Detendo tão copiosa bagagem de conhecimentos, acerca da eternidade, o cristão legítimo é pessoa indicada a proteger os interesses espirituais de seus irmãos na jornada evolutiva; no entanto, é preciso encarecer o testemunho, que não se limita à fraseologia brilhante.
Imprescindível é que estejamos revestidos de “entranhas de misericórdia” para enfrentarmos, com êxito, os perigos crescentes do caminho.
O mal, para ceder terreno, compreende apenas a linguagem do verdadeiro bem; o orgulho, a fim de renunciar aos seus propósitos infelizes, não entende senão a humildade. Sem espírito fraternal, é impossível quebrar o escuro estilete do egoísmo. É necessário dilatar sempre as reservas de sentimento superior, de modo a avançarmos, vitoriosamente, na senda da ascensão.
Os espiritistas sinceros encontrarão luminoso estímulo nas palavras de Paulo. Alguns companheiros por certo observarão em nossa lembrança mero problema de fé religiosa, segundo o seu modo de entender; todavia, entre fazer psiquismo por alguns dias e solucionar questões para a vida eterna, há sempre considerável diferença.

Mensagem extraída da obra: Vinha de Luz, Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 89.

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(Reescrito com algumas correções)

Reflexão: Dos vários ensinamentos que Emmanuel registra no capítulo acima, um deles precisamos, nesta oportunidade, dar ênfase: "(...), entre fazer psiquismo por alguns dias e solucionar questões para a vida eterna, há sempre considerável diferença."

O verdadeiro cristão sabe que aquilo que é nobre modifica a alma para melhor, que são os conhecimentos e as ações construtivos. Estes permanecerão para sempre, farão parte do edifício de si mesmo. Também sabe que tudo o que é dispensável é como a impureza do metal precioso que deverá ser expungida através do calor do cadinho, ou conscientemente revendo os próprios defeitos corrigindo-os voluntariamente. Ninguém alcançará as alturas evolutivas sem a purificação da alma. 

Não é possível saltar etapas. É preciso vivenciar cada instante. A edificação que perpetuará é erigida gradativamente. Trabalha-se a aquisição de conhecimentos, vive-se as experiências. Os resultados negativos serão expiados e provados.  Os positivos acumulados para forrar a sustentação de novas etapas evolutivas mais complexas e de maior responsabilidade.
Sem estudar e compreender as Leis Naturais da Reencarnação e do Progresso fica difícil vislumbrar o caminho da eternidade. Como as almas não morrem e precisam evoluir constantemente, para alcançar a tão desejada felicidade plena, a melhor escolha é evoluir, simplesmente. 

Independentemente de aceitar a existência da reencarnação e as demais Leis Naturais, elas sempre existiram, são as Leis de Deus, não dependem da criatura saber que existem, elas sempre estarão cumprindo as suas funções. No entanto, com o conhecimento delas, o passo evolutivo fica mais veloz, tornando o andar consciente. Existe assim uma meta conhecida. Não se anda em círculo. Embora sempre fomos guiados de alguma forma. Nunca estivemos sozinhos. Apesar disto temos o livre-arbítrio, é uma Lei da Natureza, que por questão de hábito nos leva a repetir o que estamos acostumados. "A educação é uma soma de hábitos", que poderão ser positivos ou não.

Conhecendo-se as Leis Naturais temos as rédeas da vida em nossas próprias mãos e sabendo o rumo chegaremos mais rapidamente. 

Estudar sempre! Meditar também.
                                                   Dorival da Silva


domingo, 29 de janeiro de 2017

Suicídio. Matar-se! É possível?


                           Suicídio. Matar-se! É possível?


Falamos espiritualmente. O ser pensante, o que tem sensações e sentimentos é imortal. O que se pode apreender disto? O máximo possível seria inutilizar o equipamento manifestador daquele que detém a ideação, manifesta desejo, expressa emoção...  Ou seja, destrói-se somente o corpo físico.

Como nos sentimos quando iniciamos uma viagem há muito programada e cheia de expectativas de realizações felizes e no percurso diante de fato imprevisto vemos frustrada a possibilidade da sua continuidade, sendo isto totalmente alheia à nossa vontade? Sobrevém grande incômodo emocional, prejuízo financeiro... Consequências indesejáveis, mas superáveis num prazo previsível.

No entanto, quando frustramos a viagem da nossa vida pelo caminho da reencarnação (viver novamente num corpo físico) e em virtude de uma deliberação voluntária e morigerada por muito tempo, gera grande sofrimento.  A começar pela percepção de que não morreu, os problemas não ficam esquecidos, os incômodos que achávamos intransponíveis continuam muito mais intensos, porque perdemos o abafador carnal que minimizava os sofrimentos. 

Além de tudo isso, o fenômeno da morte física não ocorre com o cessar da respiração e dos batimentos cardíacos no corpo, esse fato é preliminar.  É preciso o desvencilhar dos liames que ligam o ser espiritual, que somos nós mesmos, das células constituintes do organismo, no entanto, estão imantados em consequência da intensa energia vital. Permanecendo o autocida perturbado com os acontecimentos dos momentos que se seguem ao ato extremo por tempo indeterminado.

O sofrimento é superlativo.  Vários fatos são narrados na Codificação Espírita, em contatos provocados por Allan Kardec, para fins de estudo, com suicidas de várias circunstâncias, que estão registrados na obra: “O Céu e o Inferno”, no capítulo V.

Em peça publicitária o CVV -- Centro de Valorização da Vida -- informa que a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio no Mundo e cerca de 10 a 20 milhões de pessoas tentam o suicídio por ano. No Brasil, 25 morrem dessa forma por dia.
Considerando a estatística estarrecedora, registramos essas poucas linhas sobre o tema, dando oportunidade à reflexão sobre a epidemia que contraria todas as regras do bem viver exaradas por Jesus.

A vida da alma jamais terá fim. Fugir dos problemas é adiar solução.

Sempre nos encontraremos com o patrimônio moral que construímos na esteira das vidas sucessivas (entendido aqui vidas em corpos físicos). Nunca estaremos longe de nossas mazelas cultivadas, da mesma forma, das virtudes conquistadas. 

A permanência no corpo físico é experiência, sofremos provas e expiações. O objetivo é o aprimoramento do ser espiritual. Suportar dificuldades com resignação e com confiança na vitória sobre os momentos de sofrimento é conquistar a libertação de um estado de consciência maculado por atitudes negativas de alguma época, é fortalecer-se moralmente. 

Depois do trânsito pela vida material, retornaremos para a nossa vida real, porque de lá viemos, estaremos felizes ou infelizes, de acordo com as nossas possibilidades. 

Matar-se é o pior caminho. O sofrimento suportável de agora, torna-se irremediavelmente aumentado por nossa conta. Assim nos instrui a Espiritualidade Superior, através da Doutrina Espírita.

                                        Dorival da Silva    

sábado, 28 de janeiro de 2017

A desencarnação de Allan Kardec

Especial
Ano 1 - N° 49 - 30 de Março de 2008

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO 
aoofilho@yahoo.com.br

Londrina, Paraná (Brasil)

 

A desencarnação de
Allan Kardec

Ocorrida há 139 anos, no dia 31 de março de 1869, a
desencarnação do Codificador do Espiritismo se deu
quando ele contava apenas 64 anos de idade

A jornalista Ana Blackwell, que traduziu para o inglês as principais obras de Kardec, assim descreveu o codificador:

"Kardec era de estatura média. Compleição forte, com uma cabeça grande, redonda, maciça, feições bem marcadas, olhos pardos, mais se assemelhando a um alemão do que a um francês. Enérgico e perseverante, mas de temperamento calmo, cauteloso e não imaginoso até a frieza, incrédulo por natureza e por educação, pensador seguro e lógico e eminentemente prático no pensamento e na ação, era igualmente emancipado do misticismo e do entusiasmo...

"Grave, lento no olhar, modesto nas maneiras, embora  não   lhe  faltasse  uma  certa  dignidade,
resultante da seriedade e da segurança mental, que eram traços distintivos de seu caráter. Nem provocava nem evitava a discussão, mas nunca fazia voluntariamente observações sobre o assunto a que havia devotado toda a sua vida. Recebia com afabilidade os inúmeros visitantes de todas as partes do mundo que vinham conversar com ele a respeito dos pontos de vista nos quais o reconheciam um expoente, respondendo a perguntas e objeções, explanando as dificuldades e dando informações a todos os investigadores sérios, com os quais falava com liberdade e animação, de rosto ocasionalmente iluminado por um sorriso genial e agradável, conquanto tal fosse a sua habitual seriedade de conduta, que nunca se lhe ouvia uma gargalhada..." (Do livro "História do Espiritismo", de Arthur Conan Doyle.)

Quem foi Kardec?
Nascido em Lyon, França, a 3 de outubro de 1804, Kardec recebeu na pia batismal o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail. No dia 6 de fevereiro de 1832, casou-se com Amélie Gabrielle Boudet (foto). Sua desencarnação ocorreu em Paris em 31 de março de 1869, quando contava 64 anos e meio.
Filho de tradicional família francesa que se destacara na magistratura, Kardec nasceu em ambiente católico, mas
foi educado no protestantismo. Aluno e depois discípulo de Pestalozzi, foi uma pessoa devotada à educação e um entusiasta do sistema de ensino criado por seu mestre, que exerceu grande influência na França e na Alemanha. Falava fluentemente o alemão, o inglês, o italiano e o espanhol, assim como o holandês. Tradutor das obras de Fénelon para o alemão, verteu também para o francês diversas obras inglesas e alemãs, mas foi no magistério que estava a sua indiscutível vocação.

No período de 1835 a 1840, organizou em sua casa em Paris cursos gratuitos de química, física, astronomia e anatomia comparada, que eram muito freqüentados. Aos 27 anos, em 1831, foi premiado em concurso pela apresentação de um trabalho intitulado: "Qual o sistema de estudo mais em harmonia com as necessidades da época?" Nessa mesma época, ele preparava todos os cursos de Levy-Alvares, freqüentados por discípulos de ambos os sexos do "fauborg" Saint-Germain.
Voltado para a educação, escreveu inúmeras obras didáticas no período de 1824 a 1849, tais como: "Curso prático e teórico de Aritmética", segundo o método de Pestalozzi, para uso das mães e dos profes­sores (ele contava então 20 anos de idade); "Plano apresentado para o melhoramento da instrução pública" (aos 24 anos); "Gramática Francesa Clássica" (aos 27 anos); "Manual dos exames para obtenção dos diplomas de capacidade, soluções racionais das questões e problemas de Aritmética e Geometria" (aos 42 anos); "Catecismo gramatical da língua francesa" (aos 44 anos); "Ditados normais dos exames na municipalidade e na Sorbonne"  e "Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas" (aos 45 anos). Nessa época (1849), Kardec lecionava no Liceu Polimático de Paris, regendo as cadeiras de fisiologia, astronomia, física e química.
Uma carta consoladora
O primeiro contato do professor com os fenômenos espíritas se deu em maio de 1855. Ele já era, então, aos 50 anos de idade, um indivíduo maduro e experimentado, além de talhado para a tarefa de codificação da Doutrina, cujo fato inicial marcante foi a publicação em 18 de abril de 1857 da conhecida obra que ele intitulou O Livro dos Espíritos. A ela seguiram-se outras obras, as palestras, as reuniões, a fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e as edições mensais da Revista Espírita.
O resultado do seu trabalho como codificador do Espiritismo é algo difícil de avaliar. Eis, no entanto, uma pequena amostra dele no relato que se segue.
Numa manhã muito fria de abril de 1860, Kardec estava triste e só, em seu escritório. Idéias de desânimo perpassavam sua mente. Escasseavam os recursos financeiros. Críticas ferinas, até de companheiros da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, ele vinha recebendo de todos os lados. Bem que os espíritos o haviam alertado!
De repente, Amélie penetra o recinto e lhe entrega um pacote que alguém havia remetido. Kardec o abre e vê que dentro dele havia uma carta e um outro pacote fechado. O codificador abre a carta e lê:
"Sr. Allan Kardec.
Respeitoso abraço.
Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da humanidade, pois tenho fortes razões para isso.
Sou encadernador desde a meninice, trabalhando em grande casa desta capital.
Há cerca de 2 anos, casei-me com aquela que se revelou minha companheira ideal. Nossa vida corria normalmente e tudo era alegria e esperança, quando, no início deste ano, de modo inesperado, minha Antoniete partiu desta vida, levada por sorrateira moléstia. Meu desespero foi indescritível e julguei-me condenado ao desamparo extremo. Sem confiança em Deus, sentindo as necessidades do homem do mundo e vivendo com as dúvidas aflitivas de nosso século, resolvera seguir o caminho de tantos outros, ante a fatalidade...
A prova da separação vencera-me, e eu não passava, agora, de trapo humano. Faltava ao trabalho e meu chefe, reto e ríspido, ameaçava-me com a dispensa. Minhas forças fugiam..."
O missivista relatou então que passou a acalentar a idéia do suicídio, jogando-se no Sena, projeto que pôs em execução em determinada madrugada, quando o desespero lhe tomou por completo a alma. Buscou a ponte Marie e, no momento em que colocou a mão sobre o parapeito da ponte, um objeto caiu-lhe aos pés: era um livro. Ele procurou a luz de um poste próximo, achou estranho o título do livro e viu que na sua primeira página havia uma nota: ESTA OBRA SALVOU-ME A VIDA. LEIA-A COM ATENÇÃO E TENHA BOM PROVEITO. - A. Laurent.
"Li aquele livro com redobrada atenção: era O Livro dos Espíritos, que encadernei e lhe envio, anexo, como um presente."
Kardec desembrulhou o pacote anexo à carta e viu ali o livro a que se referia o missivista, luxuosamente encadernado, com o nome do autor e o título gravados a ouro. O codificador, ao abri-lo, encontra a citação de A. Laurent, mencionada na carta, e debaixo dela, uma outra inscrição: SALVOU-ME TAMBÉM. DEUS ABENÇOE AS ALMAS QUE COOPERARAM EM SUA PUBLICAÇÃO. - Joseph Perrier.
Kardec respirou a longos haustos e, antes de retomar o serviço, levou o lenço aos olhos e limpou uma lágrima." (Hilário Silva, cap. 52 d' "O Espírito da Verdade", FEB.)
O reconhecimento de sua obra: Emmanuel fala
sobre Kardec
Após 150 anos desde o lançamento d’ O Livro dos Espíritos, Kardec é hoje conhecido e respeitado mundialmente pelos espiritistas. A reverência à sua obra, vencedora no tempo, está expressa nas seguintes palavras de Emmanuel, a mesma entidade que recomendara a Chico Xavier comparar os seus escritos com o Evangelho de Jesus e Kardec, antes de torná-los públicos:
"Antes de Kardec, embora não nos faltasse a crença em Jesus, vivíamos na Terra atribulados por flagelos da mente, quais o que expomos:
o combate recíproco e incessante entre os discípulos do Evangelho;
o cárcere das interpretações literais;
o espírito de seita;
a intransigência delituosa;
a obsessão sem remédio;
o anátema nas áreas da filosofia e da ciência;
o cativeiro aos rituais;
a dependência quase absoluta dos templos de pedra para a tarefa da edificação íntima;
a preocupação da hegemonia religiosa;
a tirania do medo, ante as sombrias perspectivas do além-túmulo;
o pavor da morte, por suposto fim da vida.
Depois de Kardec, porém, com a fé raciocinada nos ensinamentos de Jesus, o mundo encontra no Espiritismo Evangélico benefícios incalculáveis, como sejam:
a libertação das consciências;
a luz para o caminho espiritual;
a dignificação do serviço ao próximo;
o discernimento;
o livre acesso ao estudo da lei de causa e efeito, com a reencarnação explicando as origens do sofrimento e as desigualdades sociais;
o esclarecimento da mediunidade e a cura dos processos obsessivos;
a certeza da vida após a morte;
o intercâmbio com os entes queridos domiciliados no Além;
a seara da esperança;
o clima da verdadeira compreensão humana;
o lar da fraternidade entre todas as criaturas;
a escola do Conhecimento Superior, desvendando as trilhas da evolução e a multiplicidade das "moradas" nos domínios do Universo.
Jesus - o amor. Kardec - o raciocínio.
Jesus - o Mestre. Kardec - o apóstolo.
Seguir o Cristo de Deus, com a luz que Kardec acende em nossos corações, é a norma renovadora que nos fará alcançar a sublimação do próprio espírito, em louvor da Vida Maior.” (Mensagem psicografada por Chico Xavier em 24/1/1969.)
O retorno à pátria espiritual
"Ele morreu esta manhã, entre 11 e 12 horas, subitamente, ao entregar um número da "Revista Espírita" a um caixeiro de livraria que acabava de comprá-lo; ele se curvou sobre si mesmo, sem proferir uma única palavra: estava morto.
Sozinho em sua casa (rua de Sant'Anna), Kardec punha em ordem seus livros e papéis para a mudança que se vinha processando e que deveria terminar amanhã. Seu empregado, aos gritos da criada e do caixeiro, acorreu ao local, ergueu-o.. nada, nada mais. Delanne acudiu com toda presteza, friccionou-o, magnetizou-o, mas em vão. Tudo estava acabado.
Venho de vê-lo. Penetrando a casa, com móveis e utensílios diversos atravancando a entrada, pude ver, pela porta aberta da grande sala de sessões, a desordem que acompanha os preparativos para uma mudança de domicílio; introduzido numa pequena sala de visitas, que conheceis bem, com seu tapete encarnado, e seus móveis antigos, encontrei a sra. Kardec assentada no canapé (espécie de sofá com costas e braços), de face para a lareira; ao seu lado, o sr. Delanne; diante deles, sobre dois colchões colocados no chão, junto à porta da pequena sala de jantar, jazia o corpo, restos inanimados daquele que todos amamos. Sua cabeça, envolta em parte por um lenço branco atado sob o queixo, deixava ver toda a face, que parecia repousar docemente e experimentar a suave e serena satisfação do dever cumprido.
Nada de tétrico marcara a passagem de sua morte; se não fosse a parada de respiração, dir-se-ia que ele estava dormindo.
Cobria-lhe o corpo uma coberta de lã branca, que, junto aos ombros dele, deixava perceber a gola do "robe de chambre", a roupa que ele vestia quando fora fulminado; a seus pés, como que abandonadas, suas chinelas e meias pareciam possuir ainda o calor do corpo dele.
Tudo isto era triste e, entretanto, um sentimento de doce quietude penetrava-nos a alma; tudo na casa era desordem, caos, morte, mas tudo aí parecia calmo, risonho e doce e, diante daqueles restos, forçosamente meditamos no futuro." (Trecho da carta escrita por E. Muller ao sr. Finet, em 31/3/1869, logo após o falecimento de Kardec.)
Conta-se que logo após a sua desencarnação, quando o corpo ainda não havia baixado ao Cemitério de Montmartre (a trasladação dos despojos para o dólmen do Pére-Lachaise ocorreu um ano depois), uma multidão de Espíritos veio saudar o mestre no limiar do sepulcro. Eram antigos homens do povo, seres infelizes que ele havia consolado e redimido com as suas ações prestigiosas e, quando se entregavam às mais santas expansões afetivas, uma lâmpada maravilhosa caiu do céu sobre a grande assembléia dos humildes, iluminando-a com uma luz que, por sua vez, era formada de expressões do seu "Evangelho segundo o Espiritismo", ao mesmo tempo que uma voz poderosa e suave dizia do Infinito:
"Kardec, regozija-te com a tua obra! A luz que acendeste com os teus sacrifícios na estrada escura das descrenças humanas vem felicitar-te nos pórticos misteriosos da Imortalidade... O mel suave da esperança e da fé que derramaste nos corações sofredores da Terra, reconduzindo-os para a confiança na minha misericórdia, hoje se entorna em tua própria alma, fortificando-te para a claridade maravilhosa do futuro.
"No Céu estão guardados todos os prantos que choraste e todos os sacrifícios que empreendeste... Alegra-te no Senhor, pois teus labores não ficaram perdidos. Tua palavra será uma bênção para os infelizes e desafortunados do mundo, e ao influxo de tuas obras a Terra conhecerá o Evangelho no seu novo dia!..." (Trecho do cap. 21 do livro "Crônicas de Além-Túmulo", por Humberto de Campos, por meio de Chico Xavier.)

Conta-se, ainda, que grandes legiões de Espíritos entoaram na imensidade um hino de hosanas ao homem que organizara as primícias do Consolador para o planeta terreno e que, escoltado pelas multidões de seres agradecidos e felizes, foi o mestre, em demanda das esferas luminosas, receber a nova palavra de Jesus. 

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Matéria extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço:
http://www.oconsolador.com.br/49/especial.html 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Candeia sob o alqueire


Candeia sob o alqueire

1. Ninguém acende uma candeia para pô-la debaixo do alqueire; põe-na, ao contrário, sobre o candeeiro, a fim de que ilumine a todos os que estão na casa.  (Mateus, 5:15.)

2. Ninguém há que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; põe-na sobre o candeeiro, a fim de que os que entrem vejam a luz; pois nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente.  (Lucas, 8:16 e 17.)

O Evangelho Segundo o Espiritismo -  Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – capítulo XXIV



Reflexão:

       Dois registros de ensinamento verbal de Jesus, que os evangelistas Mateus e Lucas escreveram posteriormente, sendo que Lucas não conviveu pessoalmente com Jesus, fez suas anotações em pesquisa que realizou depois da morte do Senhor em suas jornadas junto aos Apóstolos e outras pessoas que tiveram proximidade com Ele e Dele ouviram ensinamentos.

       A candeia precisa estar sobre o candeeiro, para que ilumine a todos que estão na casa. A candeia podemos considerar todas as pessoas que compreenderam a mensagem de Jesus e faz esforço para vivê-la, se transformando em verdadeiro Cristão. Assim, estarão naturalmente elevadas até ao candeeiro, que são as lideranças de grupos pequenos ou grandes, íntimos ou públicos, onde exercerão as influências modificadoras com esclarecimento, consolo, orientação, sem, no entanto, pretender tomar conta da vida das pessoas, pois esta não é a condição do verdadeiro líder cristão.

      Em se tratando da Doutrina Espírita, precisa-se considerar a sua condição de consoladora pelos conhecimentos e libertadora pela lucidez.

       Antes de desejar iluminar os outros é necessário iluminar-se, conquistar virtudes pelo trabalho no bem, pelos esforços de angariar recursos espirituais. A caridade ensinada por Jesus é o caminho.

       O único combustível capaz de alimentar a luz da candeia cristã é a verdade que flui do Criador, através dos corações enobrecidos, que superaram o egoísmo, a vaidade, a presunção, o desejo de poder, o vício do aplauso, a necessidade de reconhecimento.     É o vencedor do mundo.

         Preparemo-nos para que possamos arder com o combustível Divino, levando a luz da mensagem do Cristo, não somente com as letras do Evangelho, mas como archote luzente de valores que contagia outros corações a seguirem o rastro luminoso iniciado pelo Divino Pastor.

          A candeia precisa estar no candeeiro...

                                     Dorival da Silva

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Exortação ao amor

Exortação ao amor


Todos vós, que tendes a honra de conhecer o Evangelho de Jesus, parai por um momento e reflexionai.
A vida tem um sentido ético-moral de profundidade. O fenômeno vegetativo pertence à organização material. Somos seres imortais, mesmo quando a desencarnação posterga o momento da chegada, anuncia que virá logo mais, e arrebatando-nos para o país da consciência livre, esse ser angélico que é a morte libertadora, fará que, no exame de consciência, repassemos os nossos atos pregressos numa maravilhosa manifestação de lembranças que nos darão a plenitude ou o tormento.
Filhos da alma! Tendes conhecimento dos valores da vida. Não vos encontrais no planeta terrestre por capricho do acaso, mas, graças a uma Causa consciente, que é a Divindade, que criou-vos para a glória estelar. 
Se caminhais pelas ínvias estradas do mundo sob chuvas de dores, bendizei-as; se marchais sobre pedrouços e tendes os pés crivados de espinhos, bendizei a dor, agradecei a Deus a dádiva da purificação espiritual. 
Nascestes para a glória de vossa existência. Amai quanto puderdes, amai um grão de areia que pode refletir uma estrela ou o luar em grande plenilúnio; servi, porque o serviço é a característica da inteligência, desde os fenômenos mais primários da domesticação até os mais sublimes da integração da criatura com o Criador.
O serviço é a paz de Deus deslocando-se, desdobrando-se para o reino dos Céus.
Ide para os vossos lares e levai a certeza de que a vossa vida deve experimentar essa profunda mudança para o amor, para a verdade, para a Vida em si mesma.

Em nome de vossos Espíritos guias e das Entidades venerandas que aqui estão conosco, dos Espíritos-espíritas, rogamos a Deus que vos abençoe, que nos abençoe, com os melhores votos de ternura e paz.
Do servidor humílimo e paternal de sempre,
Bezerra de Menezes.

Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, no
 encerramento da conferência proferida em 27 de setembro de 2015, na
Instituição Assistencial e Educacional Amélia Rodrigues, em Santo André, SP.
Em 1.10.2015.