domingo, 2 de novembro de 2014

O que será depois?

GUARACI DE LIMA SILVEIRA
glimasil@hotmail.com
Juiz de Fora, MG (Brasil)
 
 
Guaraci de Lima Silveira
O que será depois?
Há os que dizem nada haver após a morte do corpo. Há os que acreditam nalguma forma de vida, há os que entendem que após cumprido o ciclo terreno vamos nos juntar a um todo, perdendo nossa individualidade. Milenar são essas indagações ou conclusões doutrinárias, filosóficas ou mesmo individuais. O Dr. Raymond Moody, psiquiatra, psicólogo, parapsicólogo e filósofo, natural de Porterdale, Geórgia, Estados Unidos da América, publicou em 1975 o best seller: Vida Depois da Vida.  É um sucesso até nossos dias e o será sempre por se tratar de um assunto de extrema importância dentro do ideário humano. Ele inicia assim o primeiro capítulo do livro: “Como é que é morrer? Essa é uma questão sobre a qual a humanidade se tem debruçado desde que existem seres humanos. Durante os últimos anos tive oportunidade de levantar essa questão diante de um número considerável de audiências”... Demonstrou com isto que seu trabalho de pesquisa foi longo e bem fundamentado. Complementando seus apontamentos naquela Obra o autor nos diz: “Não posso pensar em nenhuma outra resposta senão mais uma vez indicar a preocupação humana universal com a natureza da morte. Acredito que qualquer luz que possa ser lançada sobre a natureza da morte é para o bem”.
A Doutrina Espírita vem desde 1857 tratando desse assunto com grande propriedade. O que será depois que desencarnarmos? Inferno, purgatório ou céu? A grande maioria das mentes ainda está acostumada com esta tríade do bem ou do mal. Muito confusa e estranha foi colocada goela abaixo dos crentes desde os primórdios da igreja católica. Não vai aqui nenhuma crítica pejorativa. Era o que se tinha, era o que se comentava. Allan Kardec bem o tratou em seu livro: O Céu e o Inferno, com lúcidos comentários e profícuas conclusões. Este estudo está em pauta permanente nos compêndios dos grandes ensinos iniciáticos das grandes civilizações passadas. Cada qual o tratava à sua maneira. Os que acreditavam em vida após a morte física faziam suas celebrações a favor dos antepassados, pedindo-lhes, inclusive, ajudas em suas decisões e, muitos só as tomavam, após terem certeza de que foram devidamente orientados pelos entes desencarnados. Ainda hoje se vê em residências ou templos um local definido para o culto aos antepassados, atestando, assim, a plena convicção de que eles continuam vivos. 
As festas dos bons Espíritos 
Havia na Europa antiga um curioso cerimonial durante o séquito que acompanhava o desencarnado até a sepultura ou cremação. Um grupo vinha ao encontro usando máscaras que imitavam fisionomias dos entes desencarnados. Em festa vinham receber o familiar, introduzindo-o a uma nova dimensão da vida. Interessante esta forma teatral de conviver com a morte. Aliás, o teatro imita a vida daí que os dramas e tragédias apresentados num palco podem representar o que de fato esteja acontecendo com o público ali presente, em parte ou como um todo. A argúcia do autor e diretor do espetáculo, aliada a interpretações pujantes dos atores, podem levar o público a um raciocínio sobre sua vida, seu momento. Pensando assim, aquela manifestação teatral no momento em que o morto era levado ao seu destino final, bem poderia ter a conotação de lembrar a todos que a morte física é um processo irreversível para os encarnados. Contudo, ela não é o fim, pois que os que o antecederam vinham-no receber.
Aqui, dada a semelhança do que citamos acima, vamos buscar importante comentário do Espírito Felícia, desencarnada e que, atendendo a uma evocação do seu esposo, ditou através da Sra. Cazemajoux em Bordéus – França – uma página por ela intitulada de “Festas dos Bons Espíritos”. Está na edição de maio de 1861 da Revista Espírita, publicada por Allan Kardec. E ela começa dizendo: “Também temos nossas festas e isto acontece com frequência, porque os Bons Espíritos da Terra, nossos bem-amados irmãos, despojando-se do invólucro material, nos estendem os braços e nós vamos, em grupo inumerável, recebê-los à entrada da estância que, daí em diante, vão habitar conosco”. Bela e confortadora esta informação de Felícia. Dá-nos uma sensação de continuidade e, mais que isto, coloca-nos a par do que realmente acontece após o desenlace físico. Às vezes, na hora extrema das despedidas, quando o féretro prossegue rumo à morada final daquele corpo, vemos desesperos, choros convulsos, lamentações... Sem dúvida é muito difícil aquele momento. Contudo, poderia ser mais ameno se nos preparássemos para ele. 
Na capela mortuária deve reinar a paz 
“Ainda em nossos dias o respeito aos mortos está envolvido numa forma velada de repulsa e depreciação. A morte transforma o homem em cadáver, risca-o do número dos vivos, tira-lhe todas as possibilidades de ação e, portanto, de significação no meio humano. “O morto está morto”, dizem os materialistas e o populacho ignaro”. Este texto está contido no capítulo primeiro do livro do Professor José Herculano Pires, intitulado: Educação para a Morte. Os que não conseguem enxergar a vida após esta vida transformam o momento do velório num réquiem que mais mata que consola. Felícia continua a nos acalentar quando diz: “Nessas festas (de recepção do desencarnado querido) não se agitam, como nas vossas, as paixões humanas que, sob rostos graciosos e frontes coroadas de flores, se ocultam a inveja, o orgulho, o ciúme, a vaidade, o desejo de agradar e de primar sobre rivais nesses prazeres fictícios, que não o são”.
Fausta lição ela nos dá. Diz-nos que há festas de recepções, mas que são compostas de verdades, de harmonia, de luminescências que partem de corações livres das agruras remanescentes em muitos, ainda. Ela cita rostos graciosos e frontes coroadas de flores. Apenas aparência. E, será que naquele momento dos choros e desesperos ante o féretro que sai também não estamos escondidos sob máscaras, agindo de tal forma apenas para impressionar? Felícia faz esta citação em sua mensagem possivelmente para nos alertar quanto aos nossos procedimentos naquele local onde o espírito está se despedindo do corpo. Na capela mortuária deve reinar a paz, mesmo perante a dor. A harmonia mesmo perante os dias que se seguirá sem a presença física do ente que de nós se despede. A paz e a harmonia juntas dão-nos a serenidade que nos faculta bem conduzir-nos perante qualquer situação difícil. Aliás, Deus permite que elas aconteçam para nos fazer amadurecer principalmente a fé em Seus Sábios Desígnios. 
A vontade de Deus a nosso respeito 
Se do lado de cá a tristeza pode invadir corações vejamos a seguir o que comenta nossa irmã Felícia sobre os acontecimentos do lado de lá: “Aqui reinam a alegria, a paz, a concórdia; cada um está contente com a posição que lhe é designada e feliz com a felicidade de seus irmãos. Então, meus amigos, com esse acordo perfeito que reina entre nós, nossas festas têm um encanto indescritível. Milhões de músicos cantam em liras harmoniosas as maravilhas de Deus e da Criação, com acentos mais deslumbrantes que vossas mais suaves melodias. Longas procissões aéreas de Espíritos volitam como zéfiros, lançando sobre os recém-chegados nuvens de flores cujo perfume e variadas nuanças não podeis compreender”.
Evidente que fatos assim acontecem para aqueles que venceram com galhardia suas provas terrenas. E aqui nos abre uma suave discussão acerca da Vontade de Deus a nosso respeito. Na Oração Dominical Jesus foi enfático quando disse: “Seja feita a Vossa Vontade assim na Terra como no Céu”. Ocorre, porém, que repetimos diuturnamente esta oração e fazemos valer sobre o céu e a terra a nossa vontade. Egoica vontade que alimenta o ego inferior, nosso velho companheiro de jornada, nosso velho ancião a ditar-nos sabedorias. Sabedorias ou textos antigos que guardamos em nossos altares íntimos e que já estão fora de moda? E o que de fato sabemos sobre a vida e a morte? Sobre os planos espirituais? André Luiz abriu-nos a janela do Nosso Lar, mas, ele mesmo disse que existem milhares de colônias, vilarejos, grupamentos e cada qual alinhado com os desejos dos seus habitantes. Diz-nos ainda o sábio mentor que dois terços da humanidade da Terra, cerca de vinte bilhões de Espíritos ainda transitam nas faixas inferiores do planeta reclamando ajustes, educação e mudanças de rumos a favor do bem em si. O velho sábio arquetípico, instalado em nós desde os primórdios da razão humana não consegue vislumbrar o que se passa além da sua caverna. Daí que dizemos a todo pulmão: eu não acredito nisto! Esta história não tem sentido! Morreu, morreu, acabou e pronto! Aproveita enquanto está vivo! E por aí vão os ditos populares ou individuais alimentando a ignorância enquanto Deus nos criou para a liberdade que o infinito contém.   
Os Espíritos não são mortos nem defuntos 
Os que assim pensam, corrompem corrompendo-se. Mentem quais crianças, entregam-se a prazeres grosseiros e primitivos jurando que são modernos e descolados. Ditam para si as mais obscuras linhas de comportamentos nos quais o materialismo atinge culminâncias pegajosas formando monturos psíquicos de difíceis erradicações. Acham que a vida é esta e nela tudo devemos fazer para flutuarmos soberanos sobre a matéria que passa e se transforma. A Terra nos é um plano de estudos ainda para iniciantes. Após ela, muitos outros astros desfilarão à nossa frente ofertando-nos suas hospitalidades, ensinamentos e propostas de trabalhos cada vez mais incríveis e sem a necessidade de executá-los em troca da sobrevivência. Aliás, tal fato aqui acontece unicamente porque o homem não conseguiria progredir se tudo lhe viesse gratuitamente às mãos. Seus esforços por conseguir o necessário, colocam-no junto ao progresso que, por Lei Divina, acontece em todos os ångströms do universo. 
Felícia prossegue em sua dissertação: “Depois o banquete fraterno a que são convidados os que com felicidade terminaram suas provas, e vêm receber a recompensa dos seus trabalhos”. Sim, aqueles libertos das paixões terrenas e dos apegos aqui empreendidos vão conhecer novas opções, novas entidades benfazejas, novos instrutores, mentores, novas dependências da Casa Paterna. Que belo deve ser! Que alegria surge naquelas almas vencedoras! Felícia conclui sua mensagem dizendo: “Oh meu amigo! Tu desejarias saber mais, mas a vossa linguagem é incapaz de descrever essas magnificências. Eu vos disse bastante, a vós que sois os meus bem-amados, para vos dar o desejo de as aspirar...”
Vamos refletir sobre esta última frase. Os Espíritos queridos, despojados das vestes físicas não são mortos, cadáveres, defuntos ou coisas assim. São Espíritos libertos dando plena continuidade em suas vidas. E eles nos querem também livres. Eles desejam preparar-nos uma festa de recepção naquele dia em que todos estarão tristes, consternados e nós e eles, felizes pelo retorno. Quanto ainda necessitamos saber sobre os mecanismos da vida!  
Quando eu era menino, falava como menino... 
Voltamos ao livro: Educação para a Morte do Prof. José Herculano Pires e vamos encontrar no capítulo quatorze que ele intitulou de Dialética da Consciência uma sábia colocação: “O estudo de um tema como o da educação para a morte exige incursões difíceis no pensamento antigo, moderno e contemporâneo, para o estabelecimento das conexões orientadoras. Não se pode entrar no labirinto sem o fio de Ariadne nas mãos, pois o Minotauro pode estar à nossa espera. Numa fase de transição cultural como a deste século o problema da morte exige de todos nós um esforço mental muitas vezes atordoante. Mas temos de fazer esse esforço, para que a vida não fracasse em nós”.
Certa feita, quando criança, vi um ente muito querido sendo velado na sala da sua casa. Olhei-o. Estava hirto, desfigurado como mármore. Antes, aquelas faces eram morenas e por elas a vida se transbordava através do seu sorriso franco e sua fala graciosa além de um olhar penetrante. Ali, estava imóvel, entregue e deitado sobre uma madeira coberto de flores que mais assustavam que enfeitavam.
– Esta é a realidade da morte. Pensei. Tudo acaba aqui.
Eu era apenas um menino. Hoje cresci e devo me lembrar de Paulo de Tarso, quando disse em sua primeira carta aos coríntios no capítulo 13 – versículo 11: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino”. É uma reflexão que a humanidade necessita fazer acerca da morte. Gradativamente ela desaparecerá dentre nós. A palavra “morte” vem do latim mors, significando óbito, que por sua vez vem igualmente do latim: abitus, significando: ir embora, passagem para fora, egresso. Fácil então verificarmos que morte não significa fim já na origem da própria palavra. O que ocorre com a maioria das pessoas é o mesmo que ocorreu comigo. Eu vi um corpo inerte e sem vida e achei que o espírito era ele, portanto também morto! 
O que será depois está em nossas mãos decidir  
Na questão número 27 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec indaga: “Haveria assim dois elementos gerais do Universo, a matéria e o espírito?” Respondendo, os Espíritos dizem que acima deles está Deus O Criador, pai de todas as coisas. Desta forma é-nos necessário separar as coisas: o que é matéria é matéria, o que é Espírito é Espírito e este não morre jamais. Na questão 149 do mesmo livro, Allan Kardec pergunta: “Em que se transforma a alma no instante da morte?” E como resposta obtém: “Volta a ser Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos que ele havia deixado temporariamente”. Na questão seguinte, a de número 150, os Espíritos Superiores nos esclarecem dizendo que a alma jamais perde a sua individualidade e coloca-nos para pensar quando nos propõe esta questão “o que seria dela se não a conservasse?” Kardec insiste no tema e pergunta na questão 150-a: “Como a alma constata a sua individualidade se não tem mais o corpo material?” Como resposta obtém: “Tem um fluido que lhe é próprio, que tira da atmosfera do seu planeta e que representa a aparência da última encarnação: seu perispírito”. A palavra perispírito vem de peri significando: “em torno de” e espírito. Desta forma todos somos Espíritos revestidos com uma representação fluídica que nos acompanha após o desencarne e o corpo físico do qual nos utilizamos quando estamos encarnados. Então, não existe morte. Existe um deixar o corpo físico e retornar aos planos espirituais, que são nossos planos de origem.
Assim, podemos responder a nós que o que será depois, está em nossas mãos decidir. Ainda no livro Educação para a Morte, o prof. José Herculano Pires o encerra com uma indagação: “De que elementos dispomos para rejeitar a nossa própria sobrevivência? Que contraprovas podemos opor ao nosso próprio direito de superar a morte — a destruição total do ser humano num Universo em que nada se destrói?” Eduquemos para a morte como nos propõe este insigne professor e façamos valer a nossa vontade de realizar o bem, aprimorando-nos para sermos recebidos com festas como a descrita por nossa irmã Felícia. Será muito bom, não acham? Afinal há vida e ela está em nós e por nós no infinito de Deus!

Mensagem extraída da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada no endereço:   http://www.oconsolador.com.br/ano8/387/especial.html

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Suicídio Assistido

Suicídio Assistido

Lemos na imprensa que jovem de 29 anos, americana, com um câncer no cérebro e a expectativa da doença avançar rapidamente, com o fim de livrar-se de possíveis sofrimentos,  programou morrer no dia primeiro de novembro de 2014, pelo suicídio assistido.

Em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec,  encontramos na questão 957: – Quais são, em geral, com relação ao estado do Espírito, as consequências do suicídio?
“As consequências do suicídio são muito diversas. Não há penas fixadas e, em todos os casos, são sempre relativas às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência à qual o suicida não pode escapar: o desapontamento. Ademais, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam sua falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam. ”

A doença surge por uma necessidade do Espírito, que ora está reencarnado, sendo que o corpo físico funciona como um mata-borrão da alma que está maculada com os erros de vidas passadas.  Não temos lembrança, é certo, mas se estudamos com afinco a Lei da Reencarnação compreendemos sem dificuldades essas questões, que tanto aturdem as pessoas nos dias atuais.

As consequências dos atos antigos, que não aconteceram nessa vida, grassam na consciência exigindo reparação, pagamento, para liberá-la de seu sofrimento.  Isso é muito vivo, intensivamente presente quando estamos na vida errante, fora da matéria, depois do falecimento do corpo, quando o Espírito está livre e sofre constantemente com a lembrança de suas pendências. Sendo que fora da matéria os fatos são uma realidade e estão no próprio indivíduo, por isso o sofrimento intenso.

Quando se pretende resolver a suas aflições, toma resolução, e solicita aos orientadores Espirituais responsáveis pelo progresso de cada um de nós o retorno à vida material, isto é, renascer em um novo corpo, para esquecermos, através do processo da reencarnação, quando teremos a oportunidade de vivenciar uma nova realidade, nos aperfeiçoando através dos esforços no bem.

Sendo que na nova existência material, muito se aprende, há renovação de sentimentos, conquistamos virtudes, no entanto, existem situações que não somos capazes de nos livrar, dada a gravidade; e é objetivo da vida física proporcionar condições, mesmo que haja dificuldades no campo físico, tais como as doenças graves, para sanear a nossa consciência das perturbações que eram superlativas quando da vida na espiritualidade. Lá está a vida real, para lá retornaremos, seja na juventude ou na velhice; aqui, na vida física é a oportunidade de resolvermos as nossas dificuldades mais rapidamente, se soubermos vivenciar as circunstâncias geradas pelo planejamento que fizemos, ou pelo menos concordamos com ele, antes da atual existência aportarmos.

Repetimos, a doença é uma necessidade do Espírito para solucionar seus problemas de consciência. Assim não existe justificativa de buscar diante dos momentos decisivos a nosso favor, quer dizer a favor do saneamento de nossa consciência, nos liberando do sofrimento, que é mais aturdidor do que quaisquer sofrimento no campo material – porque o sofrimento espiritual é ininterrupto --, sendo que por maior seja o  sofrimento causado com a doença física isso pode ser minorado com os medicamentos e procedimentos médicos disponíveis, mesmo que não seja em sua totalidade, mas sempre há recurso para diminuir-se o sofrimento, é a misericórdia de Deus em favor do devedor da Lei Divina imutável e justa.

Pretender escapar às consequências libertadoras da alma, através do suicídio, independentemente do método, é pura ilusão, é agravar imensamente o estado espiritual doente. Como alerta! os Espíritos reveladores da Doutrina Espírita, na questão citada inicialmente, ao suicida virá o desapontamento; pois, a morte para o Espírito não existe, restando-lhe o remorso diante das consequências do suicídio, que ao invés de sanar a dor que era remediada, agora se tornou irremediável com a oportunidade jogada fora, podendo os sofrimentos se tornarem superlativos.

A morte é fato natural, mas se faz necessário que trabalhemos, quer dizer: que façamos tudo ao nosso alcance para cumprir com o nosso dever, em todas as circunstâncias da vida, mesmo a de lutar para nos manter vivos no corpo físico, até quando o Anjo libertador, que cumprindo ordem Divina, venha nos desobrigar dessa tarefa regeneradora da alma.

É bom relembrar de que não somos o corpo, somos a vida que o utiliza para se cumprir a Lei de Progresso Espiritual, não é o corpo o responsável pela doença é o Espírito que está doente, eliminar o corpo não soluciona o sofrimento, na verdade amplia a dívida.


                                                                        Dorival da Silva

Políticos, todo cuidado é pouco!

Editorial

Ano 8 - N° 385 - 19 de Outubro de 2014


 
Políticos, todo cuidado
é pouco!

Os escândalos de corrupção que vêm sendo desvelados nas últimas semanas em nosso país confirmam duas teses que nos obrigam a refletir seriamente a respeito dos políticos brasileiros e daquilo que deles podemos esperar.

A primeira: o impeachment de um presidente da República e a condenação dos chamados mensaleiros em nada serviram como exemplo do que não se deve fazer no exercício de um mandato outorgado pelo povo.

A segunda: muitos políticos, senão a maioria, pelo menos grande parte deles, não temem a justiça humana e, com toda a certeza, a justiça divina, como se a vida de uma pessoa se encerrasse com a inumação do seu corpo.

A situação chegou a tal ponto no Brasil, que honestidade e idoneidade moral passaram a ser tidas como virtude, tal a sua escassez na vida política deste país.

Com respeito à justiça dos homens, a certeza da impunidade é a base do destemor com que agem os políticos corruptos, um fato inquestionável porquanto, dentre eles, são pouquíssimas as pessoas que têm chegado às barras do tribunal. E quando isso se dá, os condenados recebem penas pífias, como vimos no processo do chamado mensalão, em que os operadores do esquema receberam penas altas e adequadas à gravidade dos seus crimes, não se verificando o mesmo com relação aos supostos mandantes e aos beneficiários dos recursos desviados.

No tocante à justiça divina, quem se diz adepto do Cristianismo deveria ter mais cuidado. Todo aquele que matar com a espada, da espada será vítima. A cada um segundo as suas obras. A semeadura é livre, mas a colheita é compulsória.

A chamada lei de causa e efeito, que era conhecida desde o tempo de Jeremias, constitui um dos princípios fundamentais da doutrina espírita e nada mais é que a confirmação do que Jesus nos ensinou.

Não podemos brincar com coisas sérias. A passagem pela experiência da vida num plano material como este em que vivemos não tem por fim a curtição ou o gozo, como muitos imaginam, mas objetivos definidos que não é bom menosprezar. 
 
Daquilo que fizermos aqui teremos de prestar contas e, queiramos ou não, esse momento do ajuste pode ser bem desagradável.

Processa-se neste momento no Brasil a definição dos que vão estar à frente da administração pública da União e dos Estados, como se definiu no início do mês a composição de parte do Senado da República e das câmaras legislativas de âmbito estadual e federal.

Nosso colaborador José Lucas relatou há pouco, em artigo publicado nesta revista, que o conhecido médium e orador José Raul Teixeira foi certa vez efetuar uma palestra numa importante cidade brasileira. Quando se dirigia, com seus anfitriões, ao restaurante onde iriam almoçar, enquanto esperavam que o semáforo abrisse para atravessarem larga avenida, ele viu uma mulher andrajosa perto dali, a procurar comida num cesto de lixo. A cena causou-lhe tamanha impressão que ele perdeu a vontade de almoçar, embora necessitasse fazê-lo. 
 
Já no restaurante, enquanto tentava recompor-se mentalmente, pensando naquele ser que nada tinha, e ele ali num restaurante com seus amigos, apareceu-lhe um Espírito amigo que o acompanha nas tarefas doutrinárias. O benfeitor espiritual o acalmou, dizendo que mesmo que ele fosse dar comida limpa àquela senhora, ela recusaria. E, em breves pinceladas, narrou-lhe a história daquela mulher, que nesta existência era a reencarnação de um famoso político brasileiro, ainda hoje muito conceituado, que, por haver prejudicado tanto o povo, tinha reencarnado numa condição miserável, devido ao mecanismo do complexo de culpa que o acometeu após a morte do corpo. Voltara assim à existência corpórea numa condição miserável para aprender a valorizar aquilo que ele tanto desprezara na vida anterior: as dificuldades financeiras do próximo. Curiosamente, o nome do famoso político a que ele se referira estava afixado na esquina próxima, dando nome à avenida, motivo pelo qual aquela mulher, por um mecanismo de fixação inconsciente, não se afastava do local, onde outrora lhe prestaram grandes homenagens. 
 
Não se tratava de um castigo divino, mas sim o cumprimento da lei de causa e efeito, segundo a qual cada pessoa colhe na vida aquilo que plantou na vida com seus atos, pensamentos e sentimentos.

Em face desse e de tantos casos semelhantes que deparamos na literatura espírita, não nos custa lembrar aos políticos que assumirão em breve seus postos de trabalho: – Amigos, tomem tento: todo cuidado é pouco!


Editorial extraído da Revista Eletrônica "O Consolador", que poderá ser acessada através do endereço:
 http://www.oconsolador.com.br/ano8/385/editorial.html

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

EVOCAÇÕES GRATULATÓRIAS

EVOCAÇÕES GRATULATÓRIAS


Queridas irmãs, queridos irmãos,


                   Suplico a Jesus as Suas bênçãos para todos nós.

                   Muito difícil descrever emoções, especialmente aquelas que nos dominam após o despertamento além do vaso carnal, ao constatarmos a imortalidade em triunfo.

                   Coroamento da crença enraizada na mente e no coração, o reencontro com os seres queridos que nos precederam na formosa viagem de retorno ao Grande Lar, é de indefinível descrição.

                   Tudo quanto imaginávamos antes do processo desencarnatório é insignificante ante a grandeza da vida triunfante.

                   Poderíamos comparar o despertar no Além-túmulo como o sair de modesta aldeia tribal e despertar numa região ditosa onde uma megalópole feita de luz, cor e som viceja a contemplação de Deus.

                   De imediato exulta o coração e a mente desencadeia lembranças, impondo-nos lamentar não havermos feito o máximo que nos credenciaria a fruir da plenitude do que encontramos.

                   Vale, portanto, todo o empenho na construção do Bem interior, na pacificação dos sentimentos, porque cada qual desperta do letargo corporal com os títulos de enobrecimento ou de queda que foram acumulados durante a trajetória material.

                   Reconheço o pouco que pude armazenar. Assim mesmo agradeço a Deus por haver travado contato com o Espiritismo que me facultou melhor adaptação ao plano perene da vida, mantendo o coração pacificado e vivo de esperança e a mente devotada ao Bem, cantando hinos intérminos de gratidão.

                   Anoto muitas saudades das horas de trabalho e de consciência, dos sonhos que cultivamos juntos pensando no Senhor da Vida e nos filhos do Seu calvário que Ele nos legou.
                   Estremeço ante os pequenos delitos que poderia ter evitado e não o fiz, mas, exulto de contentamento pelas renúncias, insignificantes é certo, mas significativas para entesourar a paz no coração.


                   Volto, mais uma vez, para abraçar os irmãos na fé renovada e pedir que não se permitam sofrimentos desnecessários, filhos da ingratidão, do desequilíbrio, da loucura dos corações ainda em aturdimento emocional.

                   Continuemos lutando juntos nesse intercâmbio extraordinário em que os nossos pensamentos fundem-se no ideal de servir e de amar Jesus.

                   Nossa Casa pode ser comparada a um farol aceso na penedia à orla do mar tempestuoso, facultando aos navegadores evitar os choques com os arrecifes ou com os imensos depósitos de areia impeditivos no transporte para atingir o porto de segurança.

                   Também é o abrigo seguro onde nós, os sofredores do Além, encontramos repouso, esperança e orientação para a conquista dos lauréis da Misericórdia Divina.

                   Que o mal dominador na convivência social, ainda remanescente da inferioridade do nosso planeta, não nos constitua impedimento para o avanço ou nos desoriente no rumo que abraçamos.

                   Comovido, agradeço as evocações carinhosas com que me envolvem a memória e peço perdão por alguma decepção que haja causado, embora não intencional.

                   Sustentemo-nos uns aos outros, nesta formosa travessia do processo evolutivo, e o Senhor, que nos aguarda paciente e misericordioso, completará aquilo que não nos seja possível conseguir.

                   Queridas irmãs, queridos irmãos, cantemos juntos o hino da imortalidade, agradecendo a honra imerecida de nos encontrarmos na luta redentora, embora a condição de trabalhadores da última hora.

                   Com especial carinho e imensa gratidão, o abraço afetuoso do amigo, do irmão e do servidor,

                                                                  Nilson

Página psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, em 1º de outubro de 2014, na reunião mediúnica do Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador – BA.


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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

KARDEC e INTEGRIDADE

KARDEC E INTEGRIDADE
  Nada é mais sagrado do que a integridade de nosso próprio espírito.
Ralph Waldo Emerson
         Integridade é qualidade do que é íntegro; de uma probidade absoluta; honesto, incorruptível, imparcial.
         O homem íntegro não está dividido em si mesmo, e não há nele nenhuma distância entre o pensar, o sentir e o agir, porque ele é uno. O homem íntegro não disputa, pois a sua parte mais importante, que é o espírito, comanda as paixões e as submete à razão e ao bom senso; ele não se agasta com as provocações que lhe chegam do exterior, por que é guiado pela própria consciência, sempre reta.    
         A mansuetude que caracteriza o viver de um homem íntegro, é poderosa força de atração, de convencimento. Foi a integridade de Allan Kardec que fez acreditadas as suas obras.
         Para ressaltar o caráter daquele que legou ao mundo a Ciência Espírita, e para que aqueles que admiram suas obras possam também conhecer o caráter do homem, nós transcrevemos aqui uma nota de alguém que frequentou seu lar, esteve a observá-lo de muito perto, e que hoje nos possibilita conhecer um pouco mais o ser humano que foi Allan Kardec.
         Eis o que diz o Dr. Grand, antigo vice-cônsul da França, em uma nota sobre o Livro dos Espíritos, em sua brochura intitulada: Carta de um Católico sobre o Espiritismo: [1]
         “Lendo esta obra sente-se que o autor fala, não apenas como homem convicto, mas como homem de experiência que a tudo observou com uma perfeita independência de ideias. Tudo ali é discutido friamente, sem exageração. Todas as consequências ali são deduzidas de argumentos tão justos que se poderia dizer que a filosofia ali é tratada matematicamente. Quando mais tarde tive a ocasião de ver o Sr. Allan Kardec, e de ler seus outros escritos, reconheci que estava ali o fundo de seu caráter e o próprio de seu espírito. É um homem essencialmente positivo, que não se emociona com nada, e discute os fenômenos mais extraordinários com tanto sangue frio como se se tratasse de uma experiência comum. ‘Para se apreciar de maneira correta as coisas, disse ele, é preciso observar sem entusiasmo, pois o entusiasmo é fonte da ilusão e de muitos erros.’ Ele discorre sobre as coisas do outro mundo como se as tivesse sob os olhos, e no entanto ele não fala delas como inspirado, mas como daquilo que existe de mais natural no mundo. Ele no-las torna, por assim dizer, palpáveis, pois possui, sobretudo, a arte de fazer compreender as coisas mais abstratas; é, pelo menos, a impressão que senti ao ouvi-lo falar, e que muitas outras pessoas, como eu, também sentiram. O caráter dominante de seus escritos é a claridade e o método; se a isto ajuntarmos um estilo que permite lê-los sem fadiga, ao contrário da maioria das obras de filosofia, que exigem penosos esforços para serem compreendidas, não se ficaria admirado pela influência que seu estilo exerceu sobre a propagação da Doutrina Espírita.
         A esta explicação, que em poucas palavras julguei importante dar, acrescentarei uma simples observação sobre uma das causas que, na minha opinião, contribuíram poderosamente para dar o crédito de que gozam as obras do Sr. Allan Kardec: é a ausência de todo sentimento de aspereza para com seus adversários. Um homem não se coloca em evidência, como ele o fez, sem suscitar muitos ciúmes, muita animosidade; entretanto, em nenhuma parte se encontra o mínimo traço de rancor ou de malevolência, a mínima recriminação endereçada àqueles dos quais ele poderia se queixar. Desde a minha iniciação no Espiritismo tenho frequentemente tido a ocasião de vê-lo na intimidade, e posso dizer que jamais o vi se preocupar com seus detratores; é como se eles não existissem. Ora, confesso que o caráter do homem não contribuiu pouco para corroborar a opinião que eu tinha concebido em favor da Doutrina, quando li seus escritos. É evidente que se eu tivesse reconhecido nele um homem ambicioso, intrigante, ciumento e vingativo, teria dito que ele mentia aos princípios que professa, e desde então minha confiança na verdade dessa Doutrina teria sido abalada.
         Essas reflexões, em forma de parênteses, me pareceram úteis para motivar uma das causas que mais fortemente me levaram a prosseguir, com comprometimento, meus estudos espíritas.
         Uma outra circunstância, não menos preponderante, vem se juntar às demais e me explicar, ao mesmo tempo, a profunda indiferença do autor para com as diatribes de seus antagonistas. Eu estava um dia na casa dele no momento em que ele recebia sua correspondência, muito numerosa como de hábito. Encontrava-se ali um jornal em que notadamente o Espiritismo e ele próprio eram amplamente escarnecidos. Havia também muitas cartas que ele leu igualmente para mim, dizendo: ‘Ireis agora ver a contrapartida, e podereis julgar o que é o Espiritismo.’ Entre as cartas, algumas eram pedidos de conselhos sobre os atos mais íntimos e frequentemente os mais delicados da vida privada. A maioria continha a expressão de indizível felicidade, do reconhecimento mais tocante pelas consolações que se havia encontrado na Doutrina; pela calma que ela havia proporcionado; pela força que ela havia dado nas circunstâncias mais afligentes; pelas boas resoluções que havia feito tomar. ‘O que vedes aqui, me disse ele, se renova quase diariamente. Os autores dessas cartas me são, na sua maioria, desconhecidos, mas eis aqui um, e eu conheço muitos que estão na mesma situação, que sem o Espiritismo se teriam suicidado.
         Acreditais que a satisfação de ter arrancado homens ao desespero, ter trazido a paz a uma família, feito pessoas felizes, não me compensa largamente por algumas pequenas e tolas críticas da parte de pessoas que falam de uma coisa sem a conhecer? Acreditais que uma só dessas cartas não compensam, de sobra, algumas maldades das quais fui alvo? Aliás, teria eu tempo de me ocupar com aqueles que zombam? Eu prefiro, bem mais, dar meu tempo àqueles a quem eu posso ser util. Não tenho somente para mim a consciência de minhas boas intenções; Deus, em sua bondade, reservou-me um gozo bem maior, que é o de ser testemunha do bem que a Doutrina Espírita produz; e eu julgo, pelo que vejo, sobre a influência que ela exercerá quando estiver generalizada. Não se trata de uma utopia, pois ela é essencialmente moralizadora; vede por vós mesmo a reforma que ela opera sobre os indivíduos isolados; o que ela faz sobre alguns, o fará sobre cem, sobre mil, sobre um milhão, pouco a pouco, compreende-se.
         Ora, supondes uma sociedade penetrada dos sentimentos do dever que vedes expressos nessas cartas; credes que ela não extraísse daí elementos de ordem e de segurança? As cartas que vindes de ouvir são todas de pessoas esclarecidas, mas vede esta: é de um simples operário, outrora imbuído das ideias sociais mais subversivas. Ele figurou, de maneira lamentável, em nossas lutas civis, e havia dedicado um ódio implacável aos que ele acreditava serem favorecidos às suas expensas, e sonhava coisas impossíveis. Agora, que diferença de linguagem! Hoje ele compreende que a passagem pela Terra é uma prova e, buscando um bem-estar muito natural, não pede nada às expensas da justiça. Ele não inveja a felicidade aparente do rico, porque sabe que há uma justiça divina, e que essa felicidade, se ele não a mereceu aqui na Terra, terá terríveis reveses numa outra vida. E por que pensa ele assim? Porque lhe dissemos? Não, mas porque ele adquiriu, pelo Espiritismo, a certeza dessa vida futura na qual não acreditava, e que pôde convencer-se por si mesmo, pela situação daqueles que nela se encontram, e porque seu pai, que o entretinha nessas ilusões veio, ele mesmo, lhe dar conselhos plenos de sabedoria. Ele blasfemava contra Deus, que achava injusto por haver favorecido algumas de suas criaturas; hoje ele compreende que esse mesmo favor é uma prova, e que sua justiça se estende sobre o rico como sobre o pobre. Eis o que o torna submisso à vontade de Deus, bom e indulgente para seus semelhantes, feliz em seu modesto trabalho. Credes que o Espiritismo não lhe prestou maiores serviços do que aqueles que se esforçam para lhe provar que não há nada após esta vida, princípio que tem por consequência que se deve buscar aqui sua felicidade a qualquer preço? Eis, Senhor, o que é o Espiritismo. Aqueles que o combatem é porque não o conhecem. Quando ele for compreendido, nele se verá uma das mais sólidas garantias de felicidade e de segurança para a sociedade, pois não serão os seus adeptos sinceros que a perturbarão.’
         Eu confesso que jamais havia encarado o Espiritismo sob esse ponto de vista. Agora eu lhe compreendo o alcance, e lamento aqueles que ainda veem nele apenas um fenômeno curioso de mesas girantes. Eu me perguntava se a doutrina dos diabos e dos demônios, do Sr. de Mirville,[2] poderia dar semelhantes consolações; se ela seria de natureza a conduzir os homens ao bem e à fé religiosa, e se não teria contribuído, ao contrário, mais para os desviar, inspirando-lhes mais medo do que amor, mais curiosidade do que sentimentos bons e humanos.”


[1] O autor faz referência ao Livro dos Espíritos em uma nota, aqui traduzida pela equipe do IPEAK, inserida em sua Carta de um católico sobre o Espiritismo. Kardec recomenda essa brochura na Revista Espírita de novembro de 1860, em Bibliografia.
A brochura do Dr. Grand também consta na relação de obras queimadas no Auto de fé de Barcelona (ver Revista Espírita de novembro de 1861), e está disponível, em francês, no site: www.ipeak.com.br, no link:

[2] O Dr. Grand se refere ao livro do Sr. de Mirville, intitulado: Questões dos Espíritos, publicado em 1855, e que Kardec recomenda em seu Catálogo Racional, na seção: Obras diversas sobre o Espiritismo. (N.T)
Mensagem extraída de "Boletins Informativos", do IPEAK - Instituto de Pesquisas Espíritas Allan Kardec - www.ipeak.com.br

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

"O Dever" e "Tenhamos Paz"


          O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados. Quero aqui falar apenas do dever moral, e não do dever que as profissões impõem.

         Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração.

         Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio.

         O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? Onde termina? O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.

          Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.

          O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se inflexível diante das suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e escravo em causa própria.

           O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.

           O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da sua obra resplandeça a seus próprios olhos.                                                                                                                                                 Lázaro. (Paris, 1863)

Extraída de O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, Instrução dos Espíritos, item 7.

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Tenhamos paz

“Tende paz entre vós.” – Paulo. (1ª Epístola aos Tessalonicenses, 5:13.)
          
         Se não é possível respirar num clima de paz perfeita, entre as criaturas, em face da ignorância e da belicosidade que predominam na estrada humana, é razoável procure o aprendiz a serenidade interior, diante dos conflitos que buscam envolvê-lo a cada instante.

       Cada mente encarnada constitui extenso núcleo de governo espiritual, subordinado agora a justas limitações, servido por várias potências, traduzidas nos sentidos e percepções.

    Quando todos os centros individuais de poder estiverem dominados em si mesmos, com ampla movimentação no rumo do legítimo bem, então a guerra será banida do Planeta.

        Para isso, porém, é necessário que os irmãos em humanidade, mais velhos na experiência e no conhecimento, aprendam a ter paz consigo.

       Educar a visão, a audição, o gosto e os ímpetos representa base primordial do pacifismo edificante.

   Geralmente, ouvimos, vemos e sentimos, conforme nossas inclinações e não segundo a realidade essencial. Registramos certas informações longe da boa intenção em que foram inicialmente vazadas e, sim, de acordo com as nossas perturbações internas.

              Anotamos situações e paisagens com a luz ou com a treva que nos absorvem a inteligência. Sentimos com a reflexão ou com o caos que instalamos no próprio entendimento.

     Eis por que, quanto nos seja possível, façamos serenidade em torno de nossos passos, ante os conflitos da esfera em que nos achamos.

      Sem calma, é impossível observar e trabalhar para o bem.

     Sem paz, dentro de nós, jamais alcançaremos os círculos da paz verdadeira.



Extraída da obra: O Pão Nosso, cap. 65, Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier.